quarta-feira, 22 de março de 2023

Entrevista - Leo Mancini: 62 shows em 31 datas!


Leo Mancini é aquele tipo de músico que não para de produzir, estando envolvido em diversos projetos ao mesmo tempo. Essa característica parece vir desde seu início na música, pois aos 9 anos já aprendia violão, inclusive tendo aulas com sua irmã, e depois o próprio ensinando amigos e colegas de escola.

Leo foi desenvolvendo sua técnica, construindo uma bela carreira, como músico, compositor e produtor, tendo trabalhos com bandas como Tempestt, Shaman, Noturnall, Spektra, Wizards e um projeto solo com releituras acústicas de clássicos do Rock e Pop, além de acompanhar artistas como Jeff Scott Soto e no momento desta entrevista estava fazendo o 19° show da tour de Paul D'ianno pelo Brasil, tocando com o Noturnall e na banda de apoio do ex-vocal do Iro Maiden.

Aproveitamos a passagem de Leo pelo RS para falar sobre essa extensa tour de 31 shows por vários estados do Brasil, e claro, sobre os seus demais projetos. Confira!

RtM: Fala Leo! Só tenho a te agradecer por essa oportunidade de te entrevistar. Você é um músico que já está há muito tempo na estrada, tocando com várias bandas. Spectra, Wizards, essa tour com o Noturnall e está também com o Jeff Scott Soto. Como é pra ti lidar com tudo isso em termos de agenda, tuas aulas e carreira solo?

Leo Mancini: Fala irmão, tudo bom cara? É assim, o Wizards eu voltei pra banda na pandemia que a gente estava ali enclausurado, né? Então estávamos fazendo o álbum. Cada um fez na sua casa. Foi uma coisa bem remota mesmo, mas a gente se falava direto e tal. E aí, quando passou tudo, pintou uns convites de shows. Eu já tinha gravado com eles há muito tempo atrás, né? Em 2010. Lançamos o álbum “The Black Night”, mas não chegamos a tocar ao vivo naquela época.

Só agora que comecei a fazer shows com o Wizards, e temos o Abril Pro Rock logo mais, então, por enquanto a agenda não está muito complicada. Estou com o Spektra também. Já estamos gravando e compondo o álbum novo. E já temos algumas coisinhas de shows para fazer agora no começo do ano. A agenda não está muito complicada. 

Eu tenho o meu trabalho autoral, autoral não né, são de releituras dos anos 80 e 90, que são acústicos, que eu faço bastante eventos em São Paulo.

Vira e mexe, pinta eventos assim para empresas ou eventos sociais. Estou bastante movimentado em relação a isso. E é isso aí irmão (risos), tem a agenda com o Jeff também. Às vezes pinta uma turnê, porque tipo, ele tem vários trabalhos pra gente tentar acertar tudo durante o ano, então por enquanto tá rolando.


RtM: E agora essa tour com o Noturnall, com vários shows em pouco tempo. 

LM: O Noturnall, o Thiago me chamou para fazer essa turnê. Como o meu começo de ano estava bem tranquilo, eu aceitei fazer a turnê com eles. Não é uma volta, a gente está conversando, mas no primeiro momento eu estou como uma participação especial na banda. 

Eu já fui do Noturnall, já fiz três álbuns, DVD dos caras e fiquei super feliz de fazer um som de novo com o Thiago, que fazia tempo que a gente não tocava junto com os meninos. 

RtM: Um ponto que eu não poderia deixar de citar foi o que eu conversei contigo pessoalmente, que eu te vi ao vivo pela primeira vez com o Shaman, na segunda formação da banda, onde não tínhamos um público tão grande no evento. Mas tu tocou com uma alma, uma garra absurda. 

Aí depois te vi agora na turnê com Paul Di'Anno, com a casa lotada e tu estava na mesma garra, na mesma fissura, na mesma emoção. Cara, como surge isso em ti? Como é pra ti lidar com isso, sabe? Porque é visível para quem está te olhando, que não importa se tem 20 pessoas ou 5000.

LM: Ah, cara, música pra mim é uma coisa que transcende. O lance do público, que, na verdade não é quantidade de público para mim, é o que o público está passando pra gente. 

Então às vezes você tem poucas pessoas que estão tão felizes de estar lá e que é só olhar na cara e saber que o pessoal tá curtindo. Cara, isso aí já é o máximo! Muito bacana isso. E quando tem muita gente é muito bacana também é muito legal. Mas entre poucas pessoas curtindo muito e muitas pessoas curtindo pouco, eu prefiro a primeira opção (risos).

RtM: Sem demagogia e deixando de lado aqui a minha imparcialidade como jornalista, mas na minha humilde opinião você é um dos melhores guitarristas do mundo! Técnica absurda, criatividade, melodia... Aí eu te pergunto: como é viver da música no Brasil? 

LM: Pra mim foi uma escolha muito cedo. Quando eu era bem molequinho, comecei a estudar guitarra. Eu já tocava violão desde os nove. Minha irmã me dava aula. Aí depois peguei a guitarra e eu amava aquilo. Não tinha internet, não tinha nada. Ficava escutando as músicas, tirando as coisas de ouvido, Ramones, Van Halen... Ficava tentando tirar as manhas em uns trechinhos que eu conseguia. Ali não tinha muita acessibilidade técnica. 

E como eu desenvolvi muito, ficava muito tempo a guitarra na mão eu comecei a ensinar alguns amigos de escolas. Então eu comecei a ensinar com 13 anos! As mães dos meus amigos de colégio me chamavam para dar aula para os próprios filhos. Comecei então a dar aula particular. Com 13, 14 anos eu ganhava um dinheirinho já e comecei a trabalhar com isso. Aí fui crescendo. Quando terminei o terceiro colegial eu já estava com uns 26, 27 alunos. Eu dava muita aula e comecei a trabalhar com isso muito cedo.

Mas também fiz vários cursos, fiz cursos com maestros e comecei a trabalhar. Dei aulas de música já muito cedo em escolas de música. Para mim trabalhar com música foi algo que foi acontecendo, foi vindo. 

Eu ganhava muito bem, eu morava com os meus pais, e eu só tinha que dar aula e ajudar em casa, já tinha dinheiro pra pagar as minhas coisas. Comprei um carro à vista. Depois comecei a tocar na noite e hoje em dia eu faço de tudo. Então eu canto, faço releituras, faço shows meus, eu tenho shows com as bandas de heavy metal, eu sou produtor musical.

RtM: E é possível ainda viver da música? Ou é um tabu muito grande?

LM: Bem, na música praticamente tenho cinco vertentes ali que me possibilitam bastante campo de trabalho. Por exemplo, pandemia dei aulas on line de percepção de violão, de guitarra porque tinha bastante aluno. Não passei perrengue, graças a Deus. Agora tenho muitos amigos que trabalhavam na noite e ficaram com muitos respaldos. O que eu sugiro para o pessoal é ampliar realmente o campo de trabalho na música, que é possível sim.

RtM: Atualmente você está numa turnê mega extensa com o Noturnall e o Paul Di'Anno. Como surgiu esse convite? 

LM: Cara. Sim, o Thiago no final do ano passado me chamou, perguntou se eu não queria fazer essa turnê de 31 shows. E eu com vontade de voltar à ativa no rock, porque eu estava tocando muito, fazendo muitos eventos fora do rock/metal, e estava com a minha mão meio parada para fazer shows, estava com a técnica meio esquecida ali, né? Eu falei poxa, uma oportunidade de eu voltar a tocar guitarra e desenferrujar, estudar. Aí ele me passou que iam tocar algumas coisas novas, né? E aí era a fase com o Mike Orlando. O Orlando é um monstro, muito técnico!

Então para tocar aquilo lá, eu comecei a estudar muito. Fiquei muitas horas estudando durante as férias. Minha esposa é argentina, eu fui para a Argentina e fiquei estudando lá umas quatro horas por dia, todo dia, porque eu tenho tendinite nos dois braços. Tenho tendinite crônica. Para chegar ao nível de tocar ao vivo as músicas antigas da Noturnall também, que não são fáceis e as novas tive que preparar muito minha mão para não travar. 


RtM: E Como foi o combinado para participarem da tour e serem a banda de apoio de Paul? Porque vocês pegaram essa situação meio que em cima da hora e o Paul não estava aqui para ensaiar também, o que dificulta um pouco.

LM: Sobre o Paul, eu já escutava os álbuns e a gente já era muito fã, e acabou sendo mais fácil tirar e fazer as coisas do Paul do que as coisas com o Noturnall. Até aí tudo bem. Aí quando foi chegando próximo da data dos ensaios e tal, a gente começou com uns problemas de ele pegar o avião pra vir pra cá. O Paul acabou perdendo dois voos nesse período. Estávamos preocupados se conseguiríamos ensaiar ou não. 

Foi bem complicado. No começo foi bem tenso mesmo, porque como a gente não tinha ensaiado e realmente ele não chegou em um estado de saúde muito bom tivemos alguns problemas lá no comecinho da turnê e a gente foi resolvendo ao longo dos shows. Nosso primeiro show foi tenso demais, deu muita coisa errada, tanto de parte técnica, como parte médica para ele.

RtM: Imaginamos mesmo que foi tenso, e logo após o primeiro show muitos comentários surgiram, até  temendo a continuidade da tour.

LM: Nossa! foi bem tenso, mas depois começou a melhorar e agora ele está bem! No começo nos perguntávamos se ele ia conseguir fazer metade da turnê pelo menos ou então a gente achava que não ia passar da primeira semana. E aí, cara, aqui no Brasil ele começou a ter mais atenção dos médicos e ele começou a melhorar de saúde. E ele está cada vez melhor!


RtM: Claro que alguns erros eles vão acabar acontecendo, ainda mais quando se pega uma turnê tão grande e tendo que ensaiar dois sets. Um do Iron Maiden e um set da banda que tu estás agora. Assim como os outros integrantes tem essa dificuldade. O set deles, mais o set do Paul Di'Anno e entrosar tudo isso. Nesse momento da turnê tu acha que estão no ponto ideal do entrosamento?

LM: Agora está tudo certo. Às vezes dá uma rateada porque você não está escutando muito bem a parte de retorno. Nesse último show eu senti algumas coisas de volumes para mim não estavam muito boas. Então você depende, por exemplo, do outro guitarra para escutar o que ele está fazendo para você fazer um duo ou nos grids, para todo mundo estar fazendo exatamente a mesma coisa. 

A única coisa que pode acontecer é ter que dar alguma modificada e uma passadinha de som, melhor, quem sabe? Mas de resto a banda tá muito legal, o Paul está super feliz, a gente também está super tranquilo. O Paul está cantando cada vez melhor, né? A gente fica muito feliz por isso. No começo foi muito tenso, mas agora está tudo certo. (Nota: Foi confirmada nova tour do D'ianno no Brasil ano que vem. Ele também permanecerá mais um tempo no país em tratamento de saúde.")


RtM: Finalizando, te agradeço pelo teu tempo. Sei que não é fácil estar ao meio de uma turnê e se disponibilizando a responder essa entrevista. Muito obrigado mesmo. Pra nós é uma honra ter as tuas palavras em nosso site e o espaço final é seu!

LM: Ahhh legal irmão, Obrigado! Eu que agradeço o espaço e a oportunidade de mostrar um pouco do meu trabalho. Cara, esse ano tem um álbum novo da Spektra que a gente vai terminar. Acho que até setembro finalizamos. 

Em relação ao Wizards também. O Christian fica compondo e está querendo gravar um outro álbum. Vamos ver aí como é que vai ser. A Noturnall está sendo uma experiência muito boa agora para voltar à técnica. De volta aos palcos com meu irmão Thiago, que eu gosto muito de fazer um som com ele, meu irmãozinho. E, cara, eu tenho meu trabalho de releituras os acústicos. 

Eu vou lançar um show ao vivo que eu fiz com orquestra Baccarelli na pandemia. Fizemos uma live na época e eles gravaram todos os canais. Eles me passaram tudo e eu produzi. O álbum será o “Acústico Hits In Concert”, com a orquestra de Baccarelli que é a orquestra de Heliópolis, que é muito bacana.

Logo mais vou lançar tudo isso aí e com o Jeff Scott Soto vou fazer algumas coisas também. É isso aí mano. Vamos trabalhando e te agradeço pelo belo espaço aí. Um abração para todos!


Entrevista conduzida por Renato Sanson
Edição e Revisão Final: Caco Garcia
Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal do Artista





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