Celebrating Life Through Death, que em tradução livre significa Celebrando a Vida Diante da Morte, marca o final da trajetória da maior banda de Heavy Metal do Brasil de todos os tempos, o Sepultura. Anunciada no final do ano passado e iniciada em março deste ano, a turnê vai além uma mera celebração à vida, como sugere o nome, mas também uma homenagem a um legado de quatro décadas. Para selar o sucesso dessa primeira fase, prevista para terminar em 2025, a banda atraiu milhares de fãs em uma sequência de shows realizados nos dias 6, 7 e 8 de setembro no Espaço Unimed, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo, com os ingressos esgotados.
A Road To Metal marcou presença no domingo, 08 de setembro. O tempo ensolarado, mas nada quente, motivou algumas pessoas a deixarem suas casas mais cedo e aguardarem em uma fila reduzida até a abertura dos portões, abertas meia hora antes do programado. O ressinto começou a ficar cheio próximo do início do show do Sepultura, mas já havia um público expressivo para o show do Black Pantera, iniciado pontualmente às 18h30, antes de seus compatriotas subirem ao palco.
Formado pelos irmãos Charles (guitarra e vocal) e Chaene Gama (baixo e vocal), juntamente com o baterista Rodrigo “Pancho” Augusto e há dez anos na estrada, a banda vem ganhando forte notoriedade e ascensão dentro da cena. Conhecido pela mistura de Punk, Metal, Hardcore e letras que abordam temas como racismo e descriminação social, o trio tratou de esquentar bem os motores com um show visceral. O set trouxe os principais momentos do seu novo álbum Perpétuo, lançado em maio desse ano, com "Provérbios", "Mahoraga" e "Sem Anistia".
A melódica “Tradução”, interpretada por Chaene, foi um dos principais destaques, onde a maioria ascendeu as luzes dos celulares a pedido do baixista, que diferente do seu irmão, apresenta uma voz mais sublime de cantar. Antes de apresentá-la, ele comentou que escreveu essa canção em homenagem à sua mãe, dona Guiomar, que enfrentou muitas dificuldades devido ao racismo e que, aos 60 anos, ainda não se aposentou.
Quem já teve a oportunidade de ver a banda ao vivo, sabe muito bem o quanto os três são recíprocos com os fãs. Charles, e os outros dois membros, sempre interagia agradecendo, incentivando abrir (sem dó) os tradicionais circles pits e relembrando os tempos que faziam covers do Sepultura, demonstrando felicidade de estarem fazendo abertura para uma das “maiores bandas do mundo”. Cada pedido era prontamente atendido, exemplo disso foi na hora de “Fogo nos Racistas”, onde ‘front-man’ Charles solicitou que todos se agachassem e que levantassem somente na hora refrão. A música se tornou um clássico da atual década, que até quem não sabia direito a letra, cantou junto com a banda.
Do álbum Ascensão (2022), a qual rendeu participações em festivais como Rock In Rio, Lollapalooza, Knotfest e shows no exterior, extraíram a apelativa “Padrão é o Caralho”, “Mosha” e “Revolução é Caos”, antecedida pelo solo de baixo de “Anesthesia”, composto e imortalizado pelo saudoso Cliff Burton do Metallica. “Boto pra Fuder”, como o próprio nome diz, encerrou o incrível show dos mineiros de Uberaba botando pra fuder.
Igual os dois dias anteriores, o show de domingo também teve um pequeno atraso, mas que logo foi perdoado quando “War Pigs”, do Black Sabbath, e “Policia”, dos Titãs, surgiram no sistema de PA do Espaço Unimed por volta das 20h10. Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Greyson Nekrutman (bateria) iniciaram o show de forma arrasadora com “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World”, sequência inicial do álbum Chaos A.D. (1994). Desde a primeira música, o Espaço Unimed se transformou em um magnifico caos, com a maioria dos fãs erguendo os punhos e cantando o refrão em uníssono, onde Derrick permitia que as oito mil pessoas cantassem Resist depois do seu Refuse. Em “Territory”, os olhares se voltaram para o jovem Greyson, que conquistou rapidamente os fãs da banda ao executar uma das viradas mais icônicas da história do Metal mundial em perfeita intensidade.
A groovada "Phantom Self" trouxe a lembrança do Machine Messiah (2017) antes de sermos transportados para o ano de 1996. Após as amáveis palavras de agradecimento de Derrick, com seu jeito peculiar de falar português, a banda relembrou os principais momentos do Roots, álbum revolucionário que traz toda influência de música de brasileira, começando pela pouco lembrada "Dusted", que não era executada ao vivo há bastante tempo. "Attitude" proporcionou uma envolvência impressionante com a iluminação toda vermelha durante as linhas capoeiristicas e a imagem de um indígena nos telões de LED. "Breed Apart", grande surpresa do setlist e substituída por "Cut-Throat", que havia sido tocada na noite anterior, extremeceu o bairro da Barra Funda com o peso das guitarras do Andreas, que comparado as outras que eu o vi ao vivo, estava absurdamente alta.
Após esse breve momento de nostalgia, que voltaria mais para o final, foi a hora de fazer um grande passeio pela fase Derrick. “Kairos”, do álbum homônimo e uma das mais icônicas dos seus 40 anos de carreira, é sempre presença garantida no setlist, bradada com muitos aplausos e coros, especialmente durante o refrão. Antes de “Means to an End”, que foi dedicada aos fãs, Andreas deu as suas primeiras palavras na noite, agradecendo todos os fãs, as bandas de abertura e a toda a equipe envolvida na turnê, ressaltando que a cena do Heavy Metal é a mais “verdadeira do planeta”.
Mantida também na apresentação de domingo, “Sepulnation” elevou o nível da galera, que vibrou intensamente até a vez da envolvente “Guardians Of Earth”, presente no último disco “Quadra” (2020). “Mind War”, “False” e “Choke” finalizaram essa maratona de forma ligeira. Foi muito legal ver o entusiasmo de todos nessas três últimas, o que prova que há muita coisa boa pós fase Max Cavalera. O que desagradou durante esse momento foi alguns sem noção ascendendo cigarros de maconha, mas a equipe de segurança se mostrou rápida e imediatamente solicitou que apagassem para não causar nenhum tipo de transtorno.
“Escape to the Void”, resgatada do álbum Schizophrenia (1987), presentou os fãs mais ‘old school’ e preparou terreno para muitas “veiarias”, como destacou Andreas. Foi também a introdução a um dos momentos mais marcantes da noite e de toda a turnê com “Kaiowas”, onde a banda permite que alguns fãs, escolhidos pelo Antonio “Novato” Marques, da página Lado Direito do Palco, participem tocando percussão. Na ocasião desse show, e dos outros dois anteriores, músicos conhecidos da cena comandaram os batuques. O pessoal do Black Pantera, Desalmado, crew e a vocalista Karina Menasce, do Allen Key, foram os que fizeram participação no show de domingo.
“Dead Embryonic Cells” e “Biotech Is Godzila” trouxe mais agressividade para o restante da apresentação, reativando os circles e mosh pits após épica “Agony of Defeat”. “Orgasmatron” (cover do Motörhead), “Troops Of Doom”, “Inner Self “e “Arise” também contribuíram para tal intensidade antes de partir para o bis. As manjadas “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, como sempre, encerraram o quase final de domingo de forma matadora. Mesmo sendo muito popular, é impossível não se empolgar com “Root Of Bloody Roots” ao vivo, criando uma atmosfera única que nos faz pular após o famoso anúncio “Sepultura do Brasil! 1, 2, 3 VAI”.
Aqueles que tiveram a chance de assistir ao Sepultura ao vivo, mesmo que apenas uma vez, sabe que a banda sempre entrega performances incríveis, e os shows dessa turnê não são exceção. A cada música, a banda era ovacionada, evidenciando a conexão entre os fãs antigos e os mais novos. É difícil aceitar que talvez essa seja a última vez que estaremos vendo a maior de Metal do Brasil de todos os tempos ao vivo pela última vez, mas prefiro encarar isso como um indicativo de grandes novidades para o futuro (muitos vão entender o que eu quero dizer). Se realmente estamos diante do desfecho dessa jornada de 40 anos, só nos resta agradecer por tudo que essa banda proporcionou não apenas ao Brasil, mas ao mundo todo.
Texto: Gabriel Arruda
Fotos: Roberto Sant'Anna
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: 30ebr
Mídia Press: Trovoa Comunicação
Black Pantera
Provérbios
Padrão é o Caralho
Mahoraga
Sem Anistia
Perpétuo
Fogo nos Racistas
Tradução
Mosha
Revolução é o Caos
Boto pra Fuder
Sepultura
Refuse/Resist
Territory
Slave New World
Phantom Self
Dusted
Attitude
Breed Apart
Kairos
Means to an End
Sepulnation
Guardians of Earth
Mind War
False
Choke
Escape to the Void
Kaiowas
Dead Embryonic Cells
Biotech Is Godzilla
Agony of Defeat
Orgasmatron (Motörhead cover)
Troops of Doom
Inner Self
Arise
***Encore***
Ratamahatta
Roots Bloody Roots
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