TesseracT imerge fãs em show de repertório vasto e “escalada” de energia do público em São Paulo
Apresentação no Carioca Club foi a primeira de duas marcadas para a capital paulista e focou tanto na divulgação do mais recente disco, “War of Being”, quanto em passagens por outros discos do repertório do quinteto
O retorno da banda britânica de Metal Progressivo e djent TesseracT ao Brasil não somente encerrou uma expectativa mútua para fãs que viram a banda na última passagem e para quem viu pela primeira vez, como marcou uma verdadeira escalada de ânimos e energia da plateia em pleno Carioca Club, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, no último dia 14 de setembro. Esta foi a primeira de duas apresentações previstas na capital paulista - sendo a segunda no Fabrique Club, na região da Barra Funda - que encerrou a turnê latinoamericana. O evento em questão foi organizado pela Liberation Music e também contou com a banda de Metalcore There’s No Face na abertura.
O TesseracT, formado em 2003 na cidade de Milton Keynes, no sudeste inglês, fez de sua primeira apresentação um show baseado na divulgação de seu mais recente álbum, “War of Being” (2023), lançado pouco mais de seis meses após a primeira passagem da banda em solo brasileiro - com apresentação no mesmo Carioca Club -, e com o incremento de músicas de boa parte do repertório de EPs e álbuns lançados desde 2010. Tal situação se diferenciou do show do dia seguinte, que teve foco no EP “Concealing Fate”, o primeiro lançamento da banda.
Com um Carioca Club praticamente lotado e com uma boa quantidade de pessoas presentes desde a abertura dos portões, o público, muito por conta de uma pequena diferença de estilos musicais e focado na apresentação principal, não se mostrou muito agitado com a abertura e, durante o show principal, teve uma verdadeira escalada de ânimos, iniciada nos coros vocais, passada por momentos de pulos e cantos e que atingiu seu ápice durante o bis, com as faixas do primeiro EP da banda que levaram o público ao delírio, garantindo até mesmo rodas intensas na pista.
There’s No Face
O quarteto paulista de Metalcore, composto por Rafael Morales (vocal), Matheus Silvério (guitarra), Thiago Silva (baixo e backing vocal) e Rodrigo Kusayama (bateria), iniciou a apresentação pontualmente no Carioca Club às 19h. O setlist, composto por seis faixas, trouxe o melhor do repertório dos 15 anos de banda, baseado no EP “Escolhas” (2012), o álbum de estreia, “Contra/Senso” (2024) e em demais singles.
O vocalista foi o último a entrar, após a introdução da banda, feita com os membros à espera. O quarteto começou com tudo, com a faixa “Hamurabi”, em meio a ótimas notas distorcidas da guitarra, os cantos de Rafael Morales e o refrão melódico muito bem executado por Thiago. No entanto, a ótima energia da banda entrou em contraste com o resguardo do público que, aparentemente mais pautado ao Metal Progressivo e o djent (carros-chefe do TesseracT), não entrou no mesmo ânimo durante a faixa - situação que acabou por prosseguir na maior parte da apresentação de abertura.
Uma das tentativas de animar o público, por parte do There’s No Face, ocorreu na faixa seguinte, o single “Quebre o Silêncio”, quando o frontman da banda chamou o público para pular e sugeriu: “Não precisa guardar energia para o TesseracT”. Os pulos dos membros não foram cativados, o que não mudou a energia dos mesmos e o peso da faixa, que contou com um ótimo riff inicial e boa transição entre guturais e trechos mais líricos de voz.
A banda puxou o setlis para o EP “Escolhas”, representado pela faixa de abertura do lançamento de 2012, “Enquanto Você Espera o Bem” que, além de mais uma iniciação animada, contou com um poderoso breakdown ainda no primeiro minuto da faixa. Já em “Imensidão”, single lançado em 2019 e com um ótimo refrão com teor sentimental e reflexivo, Rafael Morales fez outra tentativa de animar a pista com um pedido sem sucesso de abertura de uma roda na pista. Apesar disso, houve agradecimentos por parte dele e da banda pela presença do público, que ocupou pouco mais da metade da pista, durante o show de abertura.
A reta final da apresentação veio com as faixas “Contra/Senso” e “Motivo”. Na primeira, mais um ótimo misto de vozes de Rafael e Thiago, somados a um forte peso de todos os instrumentos; já na segunda faixa (a última do setlist da banda na noite), vieram as melhores interações com um público mais solto em meio a ótima condução da banda e um refrão resiliente: o acender dos flashes, em um belo mar de luzes ao meio da faixa, e um ótimo breakdown no final da faixa, antecedido de um único grito de uma fã do mezanino da letra em questão: “Contei as Horas pra voltar aqui”. Uma apresentação que mostrou que o There’s No Face segue em ótima qualidade - e digo isso por já tê-los visto em um show recente, da banda Alesana, no mesmo local - e que só não se tornou mais animado por conta de um “conflito” de gostos, envolvendo um público mais centrado ao estilo do TesseracT e, claro, em uma espera contida, mas ansiosa, pela banda principal.
Momentos antes de TesseracT
Durante a montagem do palco para a próxima apresentação, a expectativa ficou voltada aos leds instalados em volta do kit de bateria e nas extremidades frontais e traseiras do palco. Um dos roadies do TesseracT, inclusive, roubou a cena por conta da multifuncionalidade no palco, desde os testes de luzes até os de instrumentos de cordas - a guitarra, principalmente. Tudo isso enquanto, em momentos esporádicos, o público gritava em nome da banda.
Nos minutos finais antecedentes ao show principal, o ambiente se converteu nas luzes azuis e em muita fumaça de gelo seco no palco. Nas caixas de som, músicas de grupos e artistas renomados da Europa, como The Prodigy e Björk fizeram uma ambientação agradável para todos. Tudo isso até dar 19h59 e, pontualmente, o show começar no minuto seguinte.
TesseracT: uma viagem equilibrada ao repertório da banda
Às 20h, uma pequena introdução foi tocada enquanto os primeiros grandes gritos em nome da banda ecoavam pela pista e mezanino do Carioca Club. Aos poucos, os membros do quinteto entraram: Acle Kahney (guitarra), James Monteith (guitarra), Jay Postones (bateria), Amos Williams (baixo e backing vocal) e, por fim, Daniel Tompkins (vocal). Deles, Amos foi o único a entrar com capuz, enquanto Tompkins pintou sua face de vermelho, na altura dos olhos, fator que demorou a ser identificado devido a um sistema de iluminação que, aparentemente, foi feito para favorecer os leds e, assim, dificultou a visão dos membros da banda para quem estava mais ao meio ou fundo da pista e mezanino da casa, durante praticamente todo o show.
Após a introdução, o TesseracT abriu o setlist de 13 faixas com as ovações do público e a faixa “Natural Disaster”, que também inicia o mais recente trabalho da banda, o álbum “War of Being” (2023). Mesmo que nem todos pulassem, os gritos eram uníssonos e acompanharam Daniel Tompkins no início da faixa, prosseguidos das partes cantadas liricamente e em meio a belas linhas de Metal Progressivo poucos e movimentações “plasmáticas” dos LEDs instalados.
“Echoes” deu sequência à apresentação, formando a mesma dobradinha que ocorre no álbum anteriormente mencionado. O público fez seu papel de fã ao acompanhar a faixa com palmas e coros quando eram propícios, além de momentos de pulo coletivo no meio da faixa. Tompkins usou de muitas gesticulações com o braço que não segurou o microfone, o que incrementou sua performance à bela voz e junto a um instrumental impecável do restante da banda. Em seguida, a comemorada “Of Mind - Nocturne”, única faixa da noite a representar o álbum “Altered State” (2013), trouxe mais da versatilidade dos LEDs, com alternâncias entre o verde, azul e rosa, que acompanharam o show vocal e do instrumental ainda mais prog da banda. A finalização da terceira faixa veio com o frontman do TesseracT subindo na plataforma central montada para gritar os versos finais, gritados: “Wake me up!”, seguida de linhas seguidas (e poderosas) do baixo de Amos Williams, seguidas do acompanhamento das guitarras e bateria.
Daniel Tompkins fez seu primeiro discurso após as ovações pertinentes do público, reafirmando que a banda voltou como foi prometido em 2023, ano em que debutaram em solo brasileiro com shows em Curitiba e em São Paulo, no próprio Carioca Club. A faixa “Tourniquet”, com um ritmo mais calmo, veio na sequência, em um ode à força do amor que não somente foi representado na carga sentimental da letra, como no ambiente em luzes vermelhas que predominou o início da faixa - com direito á ótimas e destacadas linhas de baixo no final da faixa, novamente acompanhadas pelas guitarras de Acle Kahney e James Monteith e as fortes batidas nos pratos da bateria de Jay Postones.
O retorno ao repertório do álbum de estúdio mais recente, “War of Being”, veio com “Sacrifice”, música que encerra a tracklist da produção em questão. O início lento e em teor eletrônico acompanhou a carga questionadora da letra e a iluminação mesclada entre o rosa dos LEDs e o amarelo dos refletores. Logo, a faixa levou uma condução mais animada e pautada na progressividade proposta pela banda, inclusive com mais um momento de destaque para Amos Williams e um ótimo (e ovacionado) falsete por parte de Daniel Tompkins.
A sexta faixa do TesseracT na noite, “King”, abriu as portas para o disco “Sonder” (2018). Seu início às escuras, acompanhado da primeira voz com efeito grave por parte de Daniel Tompkins - como se anunciasse algo -, logo deu caminho para o riff poderoso da faixa, com distorções mais evidentes na guitarra, porém ainda presas a uma linha lírica. Fãs de todos os lados acompanharam o refrão e foram assim ao longo da música. Foi nesta faixa, também, que uma das primeiras interações mais diretas aconteceu, quando o frontman da banda acendeu uma mini-lanterna e pediu os flashes da galera, algo que foi amplamente respondido (assim como no show de abertura) e retomou um ambiente bonito e iluminado no Carioca Club.
A faixa seguinte, “Legion”, firmou outra dobradinha do disco mais recente da banda. As nuances de Metal Progressivo e djent, praticamente alternadas ao longo da faixa, mostraram uma certa originalidade da banda e se tornaram melhores com o acompanhamento vocal por parte dos fieis fãs presentes. Depois, a pesada “Juno”, muito comemorada em seu início, fechou o primeiro grande bloco do show com tudo de melhor que os dois lados poderiam apresentar: linhas combinadas e poderosas dos músicos, grooves de baixo combinados com a voz de Tompkins, interações entre o frontman e o baixista, refrão mutuamente cantado, distorções de guitarra cativantes e muitas gesticulações ao final da faixa.
E quando o quinteto voltou (rapidamente), não só uma, como duas peças essenciais vieram junto.
Trata-se, claro, de faixas do primeiro EP do TesseracT, intitulado “Concealing Fate” (2010) e que também aparecem no álbum de estreia da banda, “One” (2011). Ambas apresentaram o melhor - e finalmente, em total predomínio nas faixas - do djent, para a alegria massiva daqueles que pularam e cantaram na parte frontal da pista e mezanino, e daqueles que, entre o meio e o fundo do local, fizeram moshes mais que inéditos para a noite.
Das seis partes do EP, a 2 e a 1, respectivamente, foram tocadas: “Concealing Fate, pt. 2 - Deception” foi amplamente comemorada a partir da percepção do início gravado da introdução e atenuada com o riff e distorções, seguida de um verdadeiro coro no verso “So my demons, your time has come”. Durante e após isso, o que se via na pista eram fãs extasiados, sendo o auge disso a formação de uma grande roda do meio para o final da pista, com diversos fãs entrando nela e batendo cabeça ferozmente durante as linhas distorcidas dos guitarristas - verdadeiros “maestros” daquele momento, junto ao baixista da banda. Tais detalhes, claro, levaram aos olhares de admiração pura por parte da banda, principalmente de Daniel Tompkins, que se viu em corpo estático por segundos e com os únicos movimentos vindos de uma cabeça que observava todos os cantos do Carioca Club.
A saída da banda, apesar de seguir o rito de agradecer e reverenciar o público, jogar palhetas e baquetas e até cumprimentar alguns fãs, não foi o suficiente para a maior parte do público presente que, baseado na continuidade do som ambiente e com o palco ainda aceso, pediu por mais um som e esperou um bom tempo por isso. Infelizmente, não ocorreu e, aos poucos, todos saíram do local. Era um sinal de que queriam mais e que aguentariam mais tempo de show e, claro, que mesmo com pouco de mais de um ano de diferença entre as passagens do TesseracT no Brasil e com o show do dia seguinte - pautado no primeiro EP do grupo -, a ansiedade e expectativa por mais uma vinda do quinteto para a capital paulista começou logo após o encerramento daquele show.
Nenhum comentário:
Postar um comentário