Estava finalizando esta matéria na semana da partida de Pit Passarell, fundador do Viper, que me fez pensar na importância da semana anterior desse evento para a cena Heavy Metal paulista de 2024. Quando um fundador de uma banda se vai, o legado deixado para outros continuarem uma história lutando para que aquilo não acabe foi uma grande reflexão. O Raven voltando com 50 anos de estrada e Pit Passarell partindo aos 56 anos.
Quem compareceu na tarde de domingo (22/09) para conferir o show da turnê meio século do Raven, “All Hell’s Breaking Loose”, acertou na escolha. O evento escalou 4 bandas undergrounds antecedendo uma banda internacional, algo que vem sendo debatido entre expectadores e a imprensa que faz a cobertura desses shows, que é justamente as bandas de abertura. Ficou nítido como o evento cresce em todos os aspectos: o público de todas as gerações (conduzidos boa parte pelas bandas de abertura), retorno ao palco de bandas que não estavam tocando para continuarem sua história na cena (sendo três com mais de 20 anos de estrada), casa cheia de verdade, som de palco excelente para todos os envolvidos, som mecânico totalmente agradável no intervalo das bandas, horários das apresentações dentro do limite, logística excelente para chegar e acesso as dependências (bares e banheiros) sem muitas complicações.
Iniciando os trabalhos no meio da tarde puxado pelas mulheres, a banda Blixten de Araraquara/SP, formada em 2013 e liderada pela carismática vocalista Kelly Hipólito e a baterista Larissa – acompanhadas de Aron (baixo) e Eurico (guitarra) – executaram um Hard Heavy Metal muito honesto em 40 mínutos de apresentação, destaque para “Like Wild”,“Stay Heavy”,“Black Diamond” e “Powerflow”. A banda tem uma energia muito boa, carisma e potência vocal. Teve tempo ainda do vocalista Pedro, da banda Living Metal, fazer uma jam com quarteto.
A segunda banda é uma das veteranas da cena. O Clenched Fist, com 24 anos de estrada, mostraram que o tempo é fundamental para manter a estrutura do underground viva, reflexo de músicas cantadas pelo público que sabe exatamente quando a banda começou. Destaque para “Spirit of Death”,“Bang Your Head” e “Codex Gigas”, onde Vagner está cantando muito bem ao lado de Luiz (baixo), Herton (bateria) e o veterano Juninho Metal (guitarra), que desempenharam um instrumental cortante. O pessoal está empolgado com próximo disco “Máquina Letal”, que com certeza será mais um marco na estrada da banda.
Em seguida, o Conquistadores, de Osasco/SP e que está a bastante tempo sem lançar material novo - 11 anos -, entraram e continuaram a saga das bandas retornando aos palcos, nessa ocasião estavam quase 6 anos sem tocar, mas isso não atrapalhou em nada na estrutura da banda. Descarregaram do disco “À Beira da Loucura” de 2013, abrindo com “Morte aos Falsos, seguindo com “Lutar e Conquistar”,“Poder e Glória”,“Com Sangue se Paga” e “Inimigo da Noite”. Fizeram uma apresentação poderosa e com a expectativa de produzirem algo aguardado já algum tempo pelo público.
Outra que voltava a se apresentar e tem grande prestígio na cena foi o Comando Nuclear. Praticamente 5 anos sem estar nos palcos, recuperou o tempo e antecipou o Raven com a responsabilidade de fazer um show à altura da história da banda. Não deixou por menos, músicas como “Unidos Pelo Metal”, “Caçada Mortal aos Falsos”, “Sombras do Passado”, “Ritual Satânico” e a “Resistir”, que traz uma letra que reflete o que representa todas as bandas e o evento, elevou o patamar do som e fechou as bandas de abertura com muita energia.
Enfim, o Raven entra com público totalmente aquecido para os 50 anos lotado até a porta! É impressionante como a banda é uma festa pronta, tanto para quem já assistiu no passado quanto para quem estava tendo a oportunidade de vê-los pela primeira vez. Os irmãos John Gallagher (vocal/baixo) e Mark Gallagher (guitarra) tem uma sintonia e um carisma que ultrapassa fronteiras, dando aquela entrega total como se fosse o primeiro ou último show de suas vidas. A energia renovada na bateria de Mike Heller traz tudo isso à tona, todos sentem isso ao assistir o Raven.
Abriram com “Destroy All Monsters” para testar o som do palco, retornos, iluminação, potência; tudo excelente! Não podia se esperar outra sonoridade de uma banda que sempre prezou pela qualidade das gravações dos discos na discografia desde o primeiro disco “Rock Until You Drop”, de 1981. A voz de John Gallagher estava excepcional, cantando para valer com microfone muito bem ajustado ao corpo como sempre faz nas apresentações, tendo liberdade para tocar e soltar agudos bem colocados coordenando com partes agressivas, sempre olhando para o público que devolvia o entusiasmo de revê-los e poderem assistir de tão perto. O instrumental e a composição bem trabalhada das músicas de estúdio que sempre foram o carro chefe da banda desde o início é totalmente fiel quando é executado ao vivo; as mudanças de tempo e andamento para outros os riffs, os contratempos de bateria, a qualidade e peso do baixo Rickenbacker totalmente sincronizados. Destaques para “Hell Patrol”,“The Power”, a mais recente “All Hell’s Breaking Loose”,“Surf The Tsunami”,“Turn of The Screw”, a ovacionada “Rock Until You Drop”,“Faster Than The Speed of Light”,“On and On” do Stay hard,“Break The Chain”e“Chain Saw”. Fizeram algo que está faltando nas bandas hoje em dia, tocar um cover: “Rock Bottom” (UFO), “Symptom of The Universe” e “Supernaut” (Black Sabbath), “Victim of Changes” (Judas Priest),“Breadfan” (Budgie) e Seek and Destroy foram emendadas numa homenagem aos clássicos.
Enfim, uma noite para entender como a força da música tem a importância de fazer com que as pessoas não desistam dos seus objetivos. Toda aquela atmosfera combinou com as bandas que subiram no mesmo palco com o público que também era formado por bandas que estão tocando ou paradas. O Raven ainda influencia músicos e público a continuarem vivendo a música, seja tocando ou curtindo, passam a sensação de que estão realizados por chegaram aos 50 anos em plena forma musical, determinação, resistência, muita vitalidade ao vivo e gravando discos, acredito que deixaram isso na sua passagem pelo Brasil. Fico com uma frase que ouvi na noite do guitarrista Juninho Metal (Clenched Fist), que também remete uma homenagem ao Pit Passarell do Viper: “Cara, eu toco guitarra desde 1984... Não podemos parar, a gente precisa continuar”.
Texto: Roberto "Bertz" (Fanzine Pandemia)
Fotos: Roberto Sant'Anna (Roadie Crew)
Realização: Caveira Velha Produções
Raven - setlist
Destroy All Monsters
Hell Patrol
The Power
Surf the Tsunami
Turn of the Screw
All for One
Rock Until You Drop
Faster Than the Speed of Light
Inquisitor
All Hell’s Breaking Loose
On and On
Break the Chain
Seek and Destroy
Chain Saw
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