quinta-feira, 10 de julho de 2025

Cobertura de Show: Best Of Blues And Rock – 15/06/2025 – Parque Ibirapuera/SP

Assim como no dia anterior, e durante toda a semana, a temperatura continuava em queda, trazendo um daqueles frios que nos obriga a nos enfurnar em camadas de roupa para ficar minimamente aquecidos. Mesmo assim, os fãs de classic rock seguiram firmes rumo ao Parque Ibirapuera para o quarto e último dia do Best of Blues and Rock, que teve como headliner o Deep Purple junto com a Judith Hill e os brasileiros do Hurricanes. Em comparação aos dias anteriores, este dia teve menos atrações – todas de excelente qualidade – proporcionando ótimas experiências para quem esteve presente.

O início das apresentações, diferente do dia anterior, aconteceu mais tarde, com os trabalhos começando pontualmente às 17h20. Formados em 2016 e com dois discos lançados, os gaúchos do Hurricanes carregam em seu caldeirão musical as influências do rock das décadas de 60 e 70. Mesmo diante de um público relativamente pequeno, a banda entregou um show enérgico e, ao mesmo tempo, emocionante – especialmente por parte do vocalista Rodrigo Cezimbra, que se destacou durante toda a uma hora que esteve em cima do palco.

O repertório foi uma mescla de faixas dos dois discos lançados pela banda, todas executadas com instrumentos característicos da época, como o baixo Rickenbacker, a guitarra Gibson SG e o órgão Hammond, além de duas vocalistas de apoio que deram ainda mais força às canções. Músicas como “Weary Hearted Blue”, com seu andamento climático, combinaram perfeitamente com o pôr do sol que surgia ao fundo; a bluesy “Through the Lights” e a melódica “Flower” – escrita em homenagem ao filho de Rodrigo Cezimbra – também se destacaram e conquistaram rapidamente o público. “Devil’s Deal” foi a mais aplaudida entre as 11 músicas selecionadas, apesar de um imprevisto com Leo Mayer, que teve uma corda da guitarra arrebentada logo no início da execução. Ainda a tempo, com o instrumento trocado, a banda fez questão de retomar a música do começo. “With a Little Help from My Friends”, cover dos Beatles, trouxe um clima de despedida afetiva, deixando todos com um sorriso no rosto.

Igual a Larissa Liveir, muitos também não tinham feito a lição de casa em relação a Judith Hill, onde ela e sua banda se apresentarem pela primeira vez no Brasil. No entanto, com uma pesquisa rápida, é possível descobrir que se trata de uma cantora com bastante experiência, com o nome ligado a trabalhos com Michael Jackson, Prince, Stevie Wonder, entre outros. Desde 2015, a cantora americana segue em carreira solo, sendo Letters from a Black Widow seu trabalho mais recente.

Com sua impressionante voz, Judith presenteou a plateia – que a essa altura já era bastante volumosa – com uma apresentação intensa e vibrante. Cada música, transitando entre o soul, funk e blues, deixou até os fãs mais roqueiros do Deep Purple boquiabertos, não só pelo talento da americana, mas também pela competência da banda que a acompanhava, demonstrando eficiência e entrosamento do início ao fim. Além de sua potência vocal, Judith também se destacou como guitarrista, mantendo o instrumento em mãos durante todo o show e mostrando grande habilidade.

Mais um ponto para o time do Best Of Blues And Rock por ter trazido um nome que ainda não é tão conhecido por aqui, despertando em nós, brasileiros, a curiosidade de descobrir talentos que raramente ganham espaço na mídia nacional. Em resumo foi um excelente show, daqueles que merecem aplausos a cada música.

O Deep Purple é uma daquelas bandas que sempre demonstrou um carinho especial pelo Brasil. A cada nova turnê promovida, o país entra na rota obrigatoriamente – somando, com o show realizado no Best Of Blues And Rock, nada menos que 15 visitas. É bem provável que, em uma dessas passagens, você, caro leitor, já tenha tido a chance de vê-los ao vivo. E sim, fui assistir aos ingleses por dois motivos. O primeiro é óbvio: trata-se de uma banda formadora de caráter, um verdadeiro pilar da "santíssima trindade" do rock, ao lado do Black Sabbath e do Iron Maiden. O segundo é o fato de ser a única banda no mundo que se apresenta de forma totalmente autêntica: sem overdubs, sem playback, sem bases pré-gravadas ou qualquer artifício técnico. Só músicos, instrumentos e verdade no palco.

Quem foi ao show acabou se deparando com o mesmo repertório do ano passado. Muitos esperavam novidades, especialmente a inclusão de “Perfect Strangers”, aguardada por grande parte do público. Mas, mais uma vez, ela ficou de fora. Como não vieram de uma sequência intensa de shows, a banda teve mais tempo para se preparar, o que resultou em uma apresentação superior à do ano anterior. A abertura com “Highway Star”, seguida de “A Bit On The Side”, já mostrou toda a excelência dos músicos, com destaque para o baterista Ian Paice e o baixista Roger Glover, que seguem formando uma das melhores bases rítmicas do mundo.

A sequência de “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire” fez muitos se perguntarem, de imediato: como Ian Gillan lidaria com o desafio vocal dessas músicas? Com quase 80 anos, é natural que ele já não tenha a mesma potência de antes, mas ainda consegue sustentar um bom alcance dentro do que é possível, continuando sendo, até hoje, um dos vocalistas mais influentes da história do rock. Em vários momentos, demonstrou seu carisma agradecendo e interagindo com o público. 

Simon McBride, que vem substituindo o grande Steve Morse com maestria, teve o seu momento com um solo maravilhoso de guitarra, que abriu caminho para a majestosa “Uncommon Man”, tirada do álbum Now What?! e dedicada ao antigo e saudoso tecladista Jon Lord, conforme mencionou Gillan após o encerramento.

“Lazy Sod” é a prova de que a banda continua com sua criatividade aflorada. Ela, assim como “A Bit On The Side” e “Bleeding Obvious” – executada mais adiante – faz parte do trabalho mais recente, =1, lançado no ano passado. Além disso, a faixa também abriu caminho para um dos momentos mais hilários da noite com “Lazy”, outra pérola da carreira da banda, que levou um casal próximo deste repórter a dançar freneticamente. Nessa música, Don Airey, sempre bem-humorado, antecedeu a execução com um breve solo de teclado e brindou a plateia com uma cerveja – diferente das outras vezes, em que fazia o brinde com uma taça de vinho. Esse solo se estendeu após a calma “When a Blind Man Cries” – acompanhada por uma iluminação toda azulada – e “Anya”, que, para mim, foi o melhor momento do set. No segundo solo da noite, Don Airey homenageou o Brasil com “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, e ainda surpreendeu ao incluir a famosa introdução de “Mr. Crowley”, composta pelo próprio para o Ozzy Osbourne.

Antes de encerrar a primeira parte, veio uma dobradinha de sucessos do Machine Head, começando com “Space Truckin’” e finalizada com “Smoke on the Water”. Por mais que muitos já estejam cansados de ouvi-la, não tem jeito... É impossível não se render ao maior riff da história e ao refrão, que fez todo mundo cantar impulsivamente. O desfecho dessa apresentação marcante veio com “Hush”, antecedida pela instrumental “Green Onions”, e “Black Night”, que, como de costume, contou com os tradicionais “ô, ô, ô” acompanhando os riffs. Um final perfeito!

Usando as mesmas palavras da resenha do show do ano passado, o Deep Purple é uma daquelas bandas que você sempre quer ver de novo assim que o show termina. Apesar da idade avançada da maioria dos integrantes – com exceção de Simon, que é mais jovem – os músicos ainda demonstram um vigor jovial impressionante, que promete se manter por bastante tempo, tanto em futuros álbuns quanto em apresentações ao redor do mundo.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Mariana Dantas (Hurricanes, Judith Hill) / Bárbara Matos (Deep Purple)


Realização: Dançar Marketing 

Press: Marra Comunicação 


Hurricanes – setlist

Penny In My Pocket

Over The Moon

Waiting

Come To The River

Weary Hearted Blues

The Bird’s Gone

Flowers

Devil’s Deal

Thunder in the Storm

Through The Lights

With a Little Help From My Friends


Judith Hill – setlist

I Can Only Love You by Fire

Fire (Ohio Players cover)

Gypsy Lover

Runaway Train

Burn It All

Give Your Love to Someone Else

Dame De La Lumière

Flame

You Got It Kid

Cry, Cry, Cry


Deep Purple – setlist

Highway Star

A Bit on the Side

Hard Lovin' Man

Into the Fire

Uncommon Man

Lazy Sod

Lazy

When a Blind Man Cries

Anya

Bleeding Obvious

Space Truckin'

Smoke on the Water

Bis

Green Onions (Booker T. & the MG’s cover)

Hush (Joe South cover)

Black Night

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