Por Paula Butter
A Road To Metal bateu um papo descontraído com Jack Grisham, grande personalidade do punk rock horror e vocalista do T.S.O.L, e ficamos sabendo um pouco mais deste carismático californiano que inspirou várias bandas da atualidade
A entrevista aconteceu às vésperas do show da banda em São Paulo, no dia 29 de novembro de 2025, juntamente com outra banda épica, o Adolescents.
Jack Grisham é um músico daqueles do qual você nunca esquece, carismático, sincero e disposto a responder às mais difíceis perguntas, sem perder o bom humor. Começamos com o básico, sobre seu entusiasmo ao voltar para o Brasil e qual sua relação com o público brazuca, e a resposta veio com um sorriso sincero e muitos elogios ao país e especialmente às pessoas. Ele disse que conhece muitos brasileiros que surfam com ele, e são muito bons no esporte e nas conversas, e em suas palavras atrapalhadas “muito intensas” no melhor sentido. Relatou também algumas vindas ao Brasil em grandes eventos e que sempre gostou muito da experiência.
Com relação aos shows do T.S.O.L. e das outras bandas das quais fez parte, ele disse que as horas mais cansativas são as longas viagens que uma turnê demanda, ainda mais nesta fase da vida, mas que ainda se sente feliz e enérgico em cima do palco. Relatou ainda (com muitas risadas), que recentemente excursionou com alguns músicos alemães e fizeram juntos alguns shows em Berlim, que fica bem longe da Califórnia, e apesar da diferença cultural e linguística, foi muito divertido.
Figura centrada nas questões sociais e políticas da atualidade, deixou claro que a fase atual do True Sounds Of Liberty está mais madura e focada em agradar aos fãs. Ao falar sobre o novo álbum da banda A-Side Graffiti, ele relata que trata-se de um apanhado de inspirações, como em uma arte feita em grafite, dele e dos integrantes da banda, em suas palavras “Fizemos canções que remetem ao que gostamos, como filmes de horror, histórias engraçadas, homenagens, inclusive tem uma dedicada ao grande Bowie, clássicos de horror, reinvenção de antigos hits, vamos fazer o que temos vontade e é isto, com certeza resultou em um ótimo álbum”.
Jack também contou um pouco sobre a versão de “Sweet Transvestite”, que gravou com Keith Morris do Circle Jerks. Além disso, também foi produzido um videoclipe com animações para lá de irreverente e um certo humor negro. A música original fez parte do clássico “The Horror Picture Show” de 1974, e rendeu boas risadas durante sua explicação sobre refazer este clássico, juntamente com o amigo Keith. E pode-se perceber que ele realmente colocou sangue e suor nesta faixa, tanto que a pergunta sobre a releitura de “What a wonderful World” ficou só na pauta.
Inclusive, a banda pretende executar algumas das novas canções no show de São Paulo, juntamente com os clássicos, é claro. Aproveitando a descontração, arrisquei a pergunta sobre o set list no Brasil e se teríamos a chance de ouvir alguma canção do quarto álbum da banda “Revenge”, que ficou famoso em 1986. Porém, Grisham mostrou-se sincero em dizer que esta época não se encaixa mais na dinâmica atual da banda, falou que não se sentiria confortável em executar as canções deste álbum, mesmo porque na época, a formação da banda era outra, e não tem motivos para reviver este momento passado, e ainda afirmou que o pensamento engloba todos os músicos da banda. Atualmente, a cortesia chama atenção nas pessoas, é muito gratificante entrevistar alguém que consegue falar sobre uma fase pessoal ruim com elegância, este é Jack Grisham.
A fim de mudar os ares da questão anterior, o assunto foi a cena do punk na Califórnia, tanto décadas atrás, quanto em 2025. Segundo o vocalista, a troca de integrantes entre as bandas é constante, e no final todos acabam se encontrando e sem mágoas, tudo muito natural, surgem projetos aqui e ali, participações em shows e tudo certo, como se fosse uma grande família. Nesta parte da entrevista, surgem nomes como Bad Religion, dentre outros gigantes do punk californiano.
Enfim, a grande pergunta: “O Punk ainda tem alguma relevância social atualmente? Para você, o que é ser Punk em 2025?”. A questão o pegou em cheio, mas após uma pequena pausa, Grisham começou a falar no sentido mais humano da palavra. Ele disse que apesar de estarmos em uma época “politicamente correta”, o preconceito ainda existe, algumas vertentes do punk não aceitam mudanças de estilos, roupas ou modo de vida, são muito radicais, enquanto que a maioria continua achando que o punk é somente contracultura, e não se encaixa nas lutas sociais da atualidade, outros pensam ser somente uma “modinha” que insiste em continuar entre nós. Em vez de preconizar a união, o movimento acaba incentivando a desunião entre os fãs do estilo. E segundo, Jack, isto não pode acontecer, os fãs de punk precisam se unir, e também aprender gentilezas, dizer “Bom Dia” ou “Olá” para o vizinho, o colega ao lado no show de sua banda favorita, enfim, não julgar, mas sim acolher. E independente do estilo de música, a união contra as desigualdades é mais importante do que a roupa ou o som que o outro ouve. Então, para resumir, o punk atual precisa de gentileza, de informação, de acolhimento e principalmente de união.
Bom, recado dado, vamos para o final, carreira e planos futuros. Jack falou com orgulho que não possui redes sociais em seu nome pessoal, pois acredita que as pessoas conseguem fazer amizades pessoalmente e não só através das telas. Contou o dia em que conheceu um “cara que usava sapatos sem meias” e disse: “No começo achei estranho, mas no final das contas, acabamos nos encontrando eventualmente e viramos colegas. E sabe de uma coisa? Eu também passei a não usar meias (risadas) e me sinto ótimo com isto”.
Grisham, que também é escritor e já concorreu ao cargo de governador da Califórnia, falou que no momento está escrevendo outro livro. Segundo ele, estar sempre trabalhando em algo é muito importante para se manter ativo, independente do que for, mas no momento seu foco são os shows deste ano e seu futuro livro.
E o mais importante, o recado final do músico foi: “Continuar fazendo o que gosta, independente do que seja e sempre tentar ser uma pessoa melhor e mais gentil, sem comprometer sua identidade, isto é ser punk”.
A banda T.S.O.L. vai se apresentar em São Paulo, juntamente com o Adolescents, no dia 29 de novembro, no Cine Joia.
Os ingressos estão disponíveis através do site da Fastix: https://fastix.com.br/events/adolescents-eua-t-s-o-l-eua-em-sao-paulo


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