terça-feira, 26 de maio de 2009

Entrevista: Herege Alçando Voos



Depois de um bom tempo sem entrevistas, o Road to Metal volta em grande companhia, com a banda brasileira Herege. Os caras tocam à anos um Heavy Metal tradicional para derrubar paredes e dar muito torcicolo por onde passam. Surgido no interior do Rio Grande do Sul, a banda agora reside em Santa Catarina e possui alguns lançamentos, inclusive com seu álbum de estréia recebendo ótimas críticas da mídia especializada (nota 9 na Roadie Crew, número 121).

A banda é formada Dennis Lima (vocal), Dalton Castro (guitarra), Nestor Rodriguez (guitarra) Rodrigo Dantas (baixo) e Mauricio Velasco (bateria). Quem responde as questões pela banda aqui são o Dalton e o Rodrigo, que nos falam sobra a trajetória da banda, desde sua origem em Cruz Alta/RS até a atual fase com a repercursão fantástica de "Herege", primeiro álbum da banda.

Sem mais delongas, é um prazer ter como entrevistada mais esta grande banda que está alçando voos e já alcançou patamares que poucas bandas fora do eixo RJ-SP conseguem.


Road to Metal:Primeiro, obrigado por aceitar responder a algumas questões sobre a Herege.
Podem falar como, onde e com quem a banda surgiu?

RODRIGO: A Herege surgiu em setembro de 2001, numa cidade decadente e conservadora do interior do RS chamada Cruz Alta. Eu tinha 15 anos, já havia começado uma vida sexualmente ativa e estava adentrando ao “mundo” das drogas, no entanto havia fracassado na minha primeira tentativa de ter uma banda e fazer algum barulho mais ou menos bem tocado. Ou seja, a santíssima trindade estava incompleta, havia sexo e drogas, mas estava faltando o tocar rock n’ roll.

Eu e o Selvino (guitarra) continuamos vagabundeando pelas ruas e tocando juntos após o término da Dark, nossa primeira banda. Havíamos decidido que o nosso negócio era a tosqueira, que deveríamos tocar punk-hardcore e desistir de tocar músicas trabalhadas. Só que para isso precisávamos de um batera que também estivesse a fim disso.

O Maurício era meu colega de escola e, certa vez, havia me dito que tocava batera. Então fizemos um ensaio com ele para tocarmos alguns covers de Ramones. No entanto, na metade do ensaio, não nos agüentamos e começamos a tocar Metallica e Black Sabbath. As músicas saíram melhores do que pensávamos. Daí o Mauri disse que conhecia um vocalista e que poderia convidá-lo para um próximo ensaio. O vocalista era o Dennis. Ainda me lembro muito bem da primeira vez que ouvi a voz dele cantando... “Breaking the law”... finalmente havia conhecido um vocalista.

A partir de então, começamos a tirar alguns covers e, mais tarde, a fazermos músicas próprias.

Éramos novos, imaturos, estávamos tocando bem e nos divertindo. Foi um bom começo...

RTM:Atualmente a banda passou por reformulações no seu line-up. O que causou a saída do vocalista Dennis de Lima?

Dalton – A saída do Dennis foi algo passageiro por questões particulares, profissionais, alguns desentendimentos também. Bom, isso é o suficiente sobre sua saída, e como disse foi algo passageiro. Agora sobre sua volta (risos): a 2 meses atrás voltamos a trocar idéias e decidimos fazer um ensaio (como no velhos tempos) pra ver o que ia dar. O resultado já era esperado, Dennis voltou a ser o nosso vocalista! Questões de amizade de longa data; o fato de ele estar cantando demais, com pegada e muito feeling influenciaram diretamente sua volta.

Vocês podem conferir isso nos vídeos do show da sua volta no John Bull Pub nesse mês de abril aqui em Balneário Camboriú, o show inteiro está disponível no youtube no canal “metalherege”.


RTM:Vocês já possuem 3 demos e um relançamento em formato EP. Como vocês percebem a evolução/mudança em relação ao seu álbum de estréia?

RODRIGO: Em nossas demos, principalmente na Metal World (2004), buscávamos soar como bandas clássicas do Heavy Metal e fazíamos de tudo para nos afirmarmos com uma fiel representante do estilo. Quando surgiu a idéia de gravarmos o nosso primeiro disco, em meados de 2006, não queríamos e não precisávamos mais ficar afirmando “somos uma banda de Heavy Metal!!!” e nem soar como outra banda. Queríamos fazer um som original. Em 2007 gravamos “Herege”, que foi lançado há apenas alguns meses. Acho que conseguimos uma sonoridade Heavy Metal original, sem repetir velhas receitas. Atualmente estamos a compor músicas para o segundo álbum, o qual pretendemos gravar em 2010.

De 2006, quando compomos o “Herege”, até hoje, muitas coisas mudaram em nossas vidas, e isso também se reflete no som. A forma como estamos compondo as novas músicas é bem diferente de como fazíamos antes: compomos juntos; não queremos soar como ninguém, apenas como nós mesmos, o que faz ser dissipada preocupação de nos encaixarmos em algum estilo e ampliado o leque da nossa criatividade.

RTM:Esse primeiro fullleght traz 10 faixas (contando a introcução) de puro Heavy Metal oitentista. Qual as influências sonoras e vivenciais da banda?

RODRIGO: Sonora é o Rock em geral, não só dos anos oitenta. Vivencial é a “santíssima trindade” à qual me referi na primeira pergunta. Como somos uma banda independente, todos trabalhamos e nos envolvemos em outras coisas que não somente a Herege, mas que são tão rock n’ roll quanto se ter uma banda. Por exemplo, curso História na UFSM; trabalho na recepção do Restaurante Universitário; estou abrindo um comércio de bebidas onde haverá várias atividades-exposições-intervenções artísticas; escrevo contos; gosto de cozinhar; curto ler Nietzsche, Foucault, Caio Fernando Abreu, Milan Kundera; Anaïs Nïn, dentre outros tantos filósofos e literatos; mantenho várias relações poligâmicas; já fui e sou taxado de várias coisas: pós-moderno; anarquista; bicha; drogado; tarado; poser; esquizofrênico; ninfomaníaco; playboy; pé rapado; filho da puta; egocêntrico; manipulador; inspirador; compreensivo; rebelde sem causa; rebelde com causa; cult... No final das contas, ninguém pode dizer realmente o que sou, nem mesmo eu, pois não sou apenas um, ninguém é. Isso tudo influencia nas atividades da banda, que são muito mais do que o tocar e compor, pois dão o tom de um viver artístico e simbiótico.

RTM:Quais as faixas que tem merecido maiores destaques, tanto pela midia quanto pelos fãs?

RODRIGO: Cada resenha que sai dá destaque para uma música diferente. Mas acho que “Last day of the Führer” é a que faz mais a cabeça dos bangers de plantão, enquanto “Free yourself” tem um maior efeito naqueles que curtem uma linha mais hard.

RTM:Quem surgiu com a idéia da capa e da temática de guerra, ditadura? Como vocês mesmo dizem no site, fogem de temas mais fantásticos se concentrando na realidade, o que creio ser um ponto forte da banda.

RODRIGO: Se não me engano, a capa foi idéia do próprio artista que a produziu. Quanto à temática, aconteceu o seguinte: em 2006, o Dalton deu a idéia de fazermos um disco conceitual. Só que isso exigiria muito de nós, pois as músicas deveriam manter uma continuidade. Optamos então por fazermos um disco que abordasse certos temas, ou seja, um disco temático com um cunho politizado, pois achávamos (e ainda achamos) que a maioria das bandas de Metal que têm surgido por aí só falam de fadas e dragões ou então de trevas e espadas. Outra coisa que pesou bastante na escolha/abordagem dos temas foi o lance do marxismo, pois naquela época eu estava bem envolvido com militância de esquerda organizada e tudo o mais, e isso é bem visível em alguns trechos.


RTM:Como é o processo de composição na banda?

RODRIGO: Eu escrevo as letras e todos contribuem para a parte musical, seja com os riffs principais, seja com levadas de batera ou com linhas de vocal.

RTM:Agora sobre os novos integrantes. Como vocês encontraram o novo guitarrista argentino Nestor Rodrigues, quais seus antecedentes e o que se pode dizer sobre ele?

Dalton – Foi mais ou menos assim: você chega a um lugar novo, acaba conhecendo pessoas novas, que por sua vez também conhecem pessoas que conhecem pessoas. Numa dessas conversas acaba surgindo sempre alguém que diz: “aquele cara lá toca guitarra muitíssimo bem”. Ai você pensa: preciso saber quem é essa figura. (risos). Resumindo: acabei conhecendo o Nestor no estúdio em que trabalhei um tempo atrás e lhe fiz a proposta de tocar conosco e aqui estamos. Sobre seus antecedentes, não sei de muitas bandas que tocou quando morava na Argentina, mas sei que fez parte de outras bandas aqui no Brasil e no momento tem em paralelo uma banda de Death Metal com influencias de Jazz (loucura não?) chamada Esophagos, inclusive o baterista Adriano Pereira é nosso técnico de som.

O Nestor sem sombra de dúvidas é uma excelente adição na Herege, sendo como músico, como um excelente amigo; um cara inteligente, responsável e a fim de fazer Heavy Metal custe o que custar! Obviamente formamos uma dupla e tanto de guitarras inclusive!

RTM:Vocês estão para divulgar o nome do novo vocalista, conhecido no noroeste do estado por Alex "Dickinson", devido ao seu timbre semelhante com o vocalista do Iron Maiden. O que isso modificará na banda, afinal um vocal diferente do antigo vocalista Dennis de Lima?

Dalton – Como em uma pergunta anterior, já explicitei que o Dennis voltou a ser nosso vocalista e creio que isso já saiu nos meios de comunicação nesse mês de abril. Não funcionou com o Alex, a principio parecia estar indo bem, fizemos o show na Orquídea Festival, e depois outros fatores que não quero mencionar aqui acabaram prejudicando a sua permanência na banda. O lance de ser comparado pelo timbre com Bruce Dickinson é algo que não iria nos ajudar, pois o mundo já tem um Bruce, e não daria atenção a um segundo Bruce. Enfim, temos Dennis novamente, estamos muito felizes com isso e acreditamos no seu talento, na sua identidade como vocalista e interprete. Agora é correr pros palcos pois a banda está mais do que completa.

RTM:Observei a apresentação em video de um show da banda e vocês contam com uma ótima presença de palco. O que os fãs podem esperar com os shows após esse grande passo com o álbum "Herege"?

RODRIGO: Mais do que nunca, atitudesompesadoentorpecidotesudo.

RTM:Quais os planos para divulgação nos palcos este ano? Alguma data já fechada ou previsão de novo material para 2009?

Dalton – Até alguns meses atrás estávamos com uma grande bagunça, o período em que o Dennis esteve fora e mais alguns probleminhas deixaram a gente com dificuldades para pensar na divulgação do nosso trabalho. Agora as coisas estão mais direcionadas a shows, shows e shows, divulgação pela internet ajuda, mas os metalheads querem ver o que você sabe fazer fora do estúdio também, ou seja: cara a cara no palco, banda e público! Compreende?

Tenho pra dizer que os últimos 2 anos foram meio tumultuados devido a mudanças de cidades (me refiro a mim, Dennis e Mauricio, pois abortamos aquela merda de cidade chamada Cruz Alta), trabalhos, estabilidades financeiras, contas a pagar e todas essas merdas do cotidiano proletário. Mas tenho pra dizer também que não importa o quanto você bate e sim o quanto você agüenta apanhar, e por essas palavras que se fazem os grandes homens que lutam por seus ideais e sonhos.
Em se tratando de um novo material: temos sim uma carta na manga, ou melhor: uma não! Várias! Já temos aqui em casa mais ou menos uns 12 esqueletos de músicas para lapidar e montar um novo álbum. O plano é gravar entre janeiro e fevereiro de 2010 o segundo disco, e lançá-lo no mesmo ano se o nosso bolso estiver de bom humor (risos).

RTM:A banda tem recebido ótimas críticas da mídia especializada, inclusive nova 9,0 na aclamada Rodie Crew. Como isso tem sido para vocês e quais os efeitos desse apoio da imprensa?

RODRIGO: Modéstia à parte, nós já esperávamos por boas respostas. Quando se despende todo um esforço (financeiro; psicológico; físico; intelectual...) para gravar um disco, o que se espera são boas respostas, do contrário, é melhor nem gravar nada.

A imprensa tem apoiado bastante. Talvez o maior efeito desse apoio tenha sido o de despertar a curiosidade da galera em conhecer a banda (disco, nós, shows...), o que já é muito importante para uma banda independente.

RTM:É isso então. Uma honra tê-los no Road To Metal e desejo sucesso a banda, que merece e que continue com essa potência. Valeu!

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