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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Entrevista - Eclipse: Erik Martensson fala sobre a trajetória da banda e a volta ao Brasil: "Mal posso esperar para tocar rock and roll com vocês!"

Por Gabriel Arruda 

Fotos: Paula Cavalcante

Erik Martensson é um dos músicos mais capacitados do hard rock na atualidade. À frente do Eclipse, banda que rapidamente se tornou referência no gênero nos últimos anos, ele conquistou fãs com composições marcantes que unem a energia do hard rock a melodias envolventes. Além de vocalista e guitarrista, Erik também é produtor e compositor, talento que lhe rendeu o título de “novo Desmond Child” graças à sua habilidade em criar músicas empolgantes, seja com sua própria banda, seja em projetos como o W.E.T. (ao lado de Jeff Scott Soto e Robert Säll, do Work of Art) e o Nordic Union (com a voz experiente de Ronnie Atkins, do Pretty Maids e Avantasia). 

Antes de desembarcar no Brasil para se apresentar com o Eclipse no próximo sábado, dia 30, na Hard N’ Heavy Party, Erik bateu um papo descontraído que você confere a seguir:

A gente não poderia começar essa conversa sem falar da vinda do Eclipse, um ano depois da apresentação no Summer Breeze. No seu caso, Erik, é a segunda vez participando da Hard N' Heavy Party, mas a primeira com o Eclipse. Quais são as expectativas para esse show, que será o primeiro internacional do novo Manifesto?

Erik: Bem, eu estou super empolgado por estar de volta ao Brasil, para começar tomando caipirinhas, conhecendo todas as pessoas maravilhosas, encontrando amigos e tocando um pouco de rock and roll.

No show do Summer Breeze do ano passado, notei que muita gente estava assistindo vocês — ainda mais considerando que foram a primeira banda a tocar no dia em um dos palcos principais. Muitos, inclusive eu, já conheciam a banda por causa do Carlos, da Animal Records. Mas, por ser um festival com tantas atrações, também houve quem conhecesse vocês ali pela primeira vez. Esse forte apelo dos brasileiros já era sentido nos shows na Europa e nos Estados Unidos, mas eu sei que havia a ambição de sentir isso aqui no próprio Brasil. Podemos dizer que foi um sonho realizado?

Erik: Com certeza! Nós queríamos tocar na América do Sul desde que começamos a banda. E finalmente aconteceu no ano passado depois de receber aqueles comentários clássicos de 'come to Brazil' em todos os posts que fazemos nas redes sociais. Foi super empolgante fazer parte do festival Summer Breeze, e havia tantas bandas incríveis lá. E foi engraçado ver tantas bandas suecas no festival também. Tinha, acho que o The Night Flight Orchestra, o HammerFall, o Dark Tranquillity também, se não me engano. E ainda tivemos alguns amigos dinamarqueses do King Diamond (Mercyful Fate) tocando também. Então foi ótimo.

Nos últimos anos, o Eclipse tem tocado nos principais festivais, e este ano a banda passou bastante tempo na estrada fazendo shows pela Europa. Como foi essa experiência e o que mais marcou vocês nessa turnê?

Erik: É realmente um privilégio poder ver o mundo viajando e tocando música. Não são muitas as pessoas que têm a sorte de viver essa experiência, e nós nos sentimos muito sortudos por isso. Conhecer o Brasil, conhecer o Japão, os Estados Unidos, toda a Europa… Viajar é incrível, exceto ficar sentado nos aviões, isso não é divertido. Mas passar um tempo em lugares diferentes e tocar rock and roll é maravilhoso.

Megalomenium II, lançado no ano passado, é o mais recente trabalho do Eclipse. Quem acompanha a banda sabe que vocês costumam lançar discos regularmente, mas desta vez foi de um ano para o outro, já que o primeiro Megalomenium saiu em 2023. O que motivou vocês a lançarem um novo álbum tão rapidamente?

Erik: Na verdade é um disco duplo, então, para nós, é o mesmo álbum. Nós escrevemos todas as músicas, já tínhamos todas prontas antes de começar a gravar. Então, para a gente, é realmente o mesmo disco, mas queríamos fazer esse álbum duplo. Só que sabíamos que seria um suicídio comercial lançá-lo todo de uma vez, especialmente com o streaming, porque isso significaria que pelo menos 16 músicas seriam completamente esquecidas nas plataformas. Por isso decidimos dividir e lançar com um ano de diferença. Foi uma quantidade enorme de trabalho fazer esses dois discos. E, agora, provavelmente vamos esperar um pouco para que os fãs tenham tempo de absorver e ouvir as músicas.

Falando ainda sobre o álbum, ele é muito especial e traz músicas que facilmente tocariam em qualquer rádio de rock, como Apocalypse Blues, The Spark — que é a minha favorita —, Falling to My Knees e Still My Hero, que é uma homenagem ao seu pai. Mais do que um ótimo trabalho, ele mostra que o Eclipse não é uma banda parada no tempo, pois está sempre experimentando coisas novas. Como líder da banda, como é compor cada álbum sem que ele soe igual ao anterior, mas ainda agradando os fãs que esperam ouvir algo no estilo que já amam?

Erik:  Sim, cada álbum é diferente porque você evolui como pessoa a cada vez que faz um novo disco. E alguns fãs acham que ‘Ah, vocês soam completamente diferentes agora de quando me apaixonei pela banda, eu amo o primeiro disco’, enquanto outras pessoas adoram o fato de estarmos sempre mudando. Mas nós não podemos escrever o mesmo álbum repetidas vezes, precisamos encontrar novas formas de fazer música para manter o interesse tanto para nós quanto para os fãs. Nunca se sabe o que esperar de um novo disco. Nós ainda não começamos a compor o próximo, então não tenho nenhum plano de como ele vai soar. Pode ser um álbum acústico, pode ser um álbum de metal… não tenho nenhum plano até agora. Vamos ver para onde a inspiração nos leva este ano.

Este ano foi lançado o quinto álbum do W.E.T., Apex. Por ser uma banda que não faz shows ou turnês, o público sempre espera ansiosamente por um novo trabalho. Pelo que sei, você também é o responsável por coordenar tudo — o próprio Jeff já me disse que você é a força criativa e o motor do W.E.T., uma espécie de mestre de cerimônias. Como é para você assumir esse papel e manter o projeto tão relevante, mesmo sendo uma ideia da Frontiers Records?

Erik: Sim, tudo começou como uma ideia da Frontiers Records. Eu já conhecia o Jeff antes da Frontiers nos juntar, querendo que fizéssemos um disco. Eu fui convidado para escrever algumas músicas para ele e, depois, me pediram para produzir o álbum inteiro. E eu não gosto muito desses projetos com vários compositores espalhados, onde cada música soa diferente, porque acaba parecendo apenas um projeto. Nós não queríamos isso, queríamos que soasse como uma banda. Então decidimos, junto com o Robert Säll, que é o guitarrista e também a força criativa por trás do W.E.T., escrever todas as músicas juntos, com o Jeff também, para manter tudo bem consistente. Mantivemos isso ao longo dos anos, e acho que esse é um dos motivos do sucesso do projeto. Nós realmente nos esforçamos para criar uma identidade própria.

This House of Fire é a música que mais ouvi esse ano até agora (risos).

Erik: E essa é uma música que entrou de última hora. O álbum já estava sendo mixado e eu pensei: ‘Precisamos de mais uma música animada, algo cativante’. Então, eu tinha várias ideias diferentes que já havia escrito antes e simplesmente as juntei, como um colagem, e criei essa música. Foi tipo: ‘Essa é a música perfeita para o disco, nós realmente precisamos dela’. Então, foi um acréscimo de última hora ao álbum.

Muitos não sabem, mas Apex marca o encerramento desse projeto tão especial, certo? 

Erik: Eu não tenho certeza, também não sei. Mas, de qualquer forma, é um bom disco.

Existe a possibilidade de, no futuro, você e o Jeff criarem um novo projeto no mesmo molde? Algo como um “Martensson & Soto”?

Erik: Claro, eu adoro trabalhar com o Jeff, ele é um grande amigo meu. E tocar algumas músicas do W.E.T. ao vivo com a banda de verdade, não apenas o Jeff fazendo músicas do W.E.T. no set dele, mas sim a banda completa do W.E.T. se apresentando. Seria ótimo, eu adoraria.

Você está sempre compondo e produzindo música , imagino quantas ideias deve ter guardadas no seu HD. Quando está compondo, o que você prioriza como mais importante? E, na sua visão, como decide qual ideia é ideal para o Eclipse, para o W.E.T. ou para o Nordic Union?

Erik:  Eu não tenho tantas ideias guardadas no meu drive quanto você possa pensar. Tenho algumas ideias meio bobas no meu celular, mas eu meio que componho um álbum de cada vez. Normalmente, quando é hora de trabalhar com o Eclipse, nós escrevemos músicas para o Eclipse, esse é o foco principal. Mas, claro, às vezes escrevemos uma música e pensamos: ‘Ah, isso não soa como Eclipse, soa mais como uma música do W.E.T. ou do Nordic Union’, e vice-versa. Se estou compondo para um álbum do W.E.T., posso acabar escrevendo algo que soa muito como Eclipse, então deixo guardado para o Eclipse. Mas, no geral, componho um álbum por vez.

A prioridade, ao produzir e compor um álbum, é a composição em si. A música é a base de tudo. Se você não tem boas músicas, não há motivo para gravar nada. Existem muitos discos com músicas ruins demais. Lembro que, quando criança, às vezes comprava discos com duas músicas boas e o resto muito chato, e eu não entendia por que eles colocavam tantas músicas ruins. Então, eu sempre tento, o máximo que posso, manter a qualidade das músicas o mais alta possível ao longo de todo o álbum.

Na maioria dos casos, você conta com o apoio do Magnus Henriksson. Eu sempre vejo vocês dois como o Roland Orzabal e o Curt Smith, do Tears For Fears — uma dupla que nunca se separa para fazer música. Qual é o segredo dessa parceria, que dura desde 1999?

Erik: Eu acho que, em primeiro lugar, nós realmente amamos música. Nós começamos a tocar não porque queríamos ser famosos ou gravar discos, mas porque simplesmente queríamos tocar música. Nós nos conhecemos bem jovens e crescemos ouvindo as mesmas bandas, mesmo tendo crescido tão longe um do outro. Acho que nós nos complementamos muito bem e… nós adoramos tomar cerveja juntos. Ele é como um irmão para mim, e não consigo me imaginar fazendo música sem ele.

O Eclipse tem uma boa quantidade de discos lançados. Qual disco você recomendaria primeiro para quem não conhece a banda?

Eu acho que todos são bons. Acho que todos os discos soam como o Eclipse, de uma forma ou de outra. Eu gosto muito do Wired, de 2021. Não posso dizer que o último álbum é o melhor, porque preciso de alguns anos depois do lançamento para ter o distanciamento necessário entre os discos. Normalmente as pessoas dizem que o último é o melhor, mas você nunca sabe até passar alguns anos. Então, vou esperar antes de recomendar o mais recente e recomendo o Wired (risos).

Não menos importante, gostaria de saber quais são as suas bandas favoritas, as principais influencias tanto como musico e compositor e se você tem o habito de ouvir musica no seu tempo livre. Eu sei que você veio da escola do Thrash e do Death Metal. Como essa transição para o Hard Rock?

Erik: Eu sempre ouço de tudo. Eu tenho um irmão três anos mais velho e ele tinha muitos discos: ele teve o primeiro do Mötley Crüe, o primeiro do W.A.S.P... O primeiro disco que comprei com meu próprio dinheiro foi o The Last Command, do W.A.S.P., em vinil. Eu mudo o que escuto o tempo todo, mas ainda assim o hard rock clássico é, de longe, o meu favorito. O AC/DC é a maior banda do mundo, mas também é uma das minhas bandas favoritas. Eu adoro! Ouvi thrash por muitos anos, tive uma banda cover de Slayer em que tocávamos apenas músicas do Slayer por alguns anos. E, bom, eu escuto muita música. Tenho uma coleção enorme de vinis e CDs, então praticamente ouço música o tempo todo.

Qual é o segredo para ter tantas bandas boas na Suécia, o país que originou Europe, ABBA e as outras bandas como H.E.A.T, Crazy Lixx, Ghost e Nestor?

Erik: Acho que um dos motivos é que nós temos escolas de música gratuitas, então qualquer pessoa pode frequentar sem pagar, e isso é uma parte importante. Também acho que há uma longa tradição  de música folclórica na Suécia, desde a Idade Média.

Além disso, acredito que boas bandas inspiram outras bandas. Quando eu era criança e vi o Mötley Crüe, eu não pensei: ‘Eu posso fazer isso’, porque, para mim, eles poderiam muito bem ser de Marte. Mas, quando você vê uma banda local tocando, você se inspira. É como tipo: 'se eles  conseguem fazer ótimos discos, talvez nós também possamos'. Isso é algo inspirador. Boas bandas inspiram pessoas a formar boas bandas também, pelo menos é assim que eu vejo hoje em dia.

Esse ano eu vi mais bandas suecas - Opeth, Europe, H.E.AT, Dynasty, Sabaton - do que bandas de outros países.

Erik: Tem mais uma coisa também: a Suécia é bem fria e escura durante metade do ano. O verão é ótimo, mas o inverno é muito escuro e frio, então não sobra muito o que fazer além de tocar música. Vamos ver no futuro. Agora todo mundo fica no celular, então talvez as pessoas passem a assistir Netflix ou ficar no Instagram e parem de compor músicas (risos).

Fazendo um balanço sobre sua trajetória, você tem vinte discos lançados, somando tudo com Eclipse, W.E.T., Nordic Union e Ammunition. Olhando para trás, o que mais te orgulha dessa caminhada? E, olhando para frente, qual ainda é o grande objetivo que você quer alcançar na música?

Erik:  Essa é uma pergunta difícil.  Acho que tenho orgulho de ter mantido meu interesse em compor e fazer a música que amo, o hard rock melódico e o rock, porque se eu quisesse ser bem-sucedido e ganhar dinheiro com isso, provavelmente teria seguido para algo mais pop ou outro estilo. Mas sempre me mantive fiel a esse pequeno gênero musical simplesmente porque o amo demais. Acho que tenho orgulho de ter continuado fazendo isso, de ainda estar fazendo e de conseguir viver disso, além de termos tido a coragem de seguir nossos próprios corações e escrever a música que amamos. 

Para finalizar, quais os planos do Eclipse para o futuro?

Erik: Agora é hora de sair em turnê e, claro, ir ao Brasil e aproveitar nosso catálogo de músicas e esse último álbum duplo. Vamos curtir isso por um tempo, apenas tocando ao vivo e sem passar tanto tempo no estúdio - embora eu fique no estúdio o tempo todo, já que meu trabalho diário é mixar discos de rock. Mas acho que precisamos passar bastante tempo na estrada juntos e ver o que acontece no futuro. Pela primeira vez, não temos um plano de dois anos, está tudo em aberto. Então, vamos ver o que acontece.


domingo, 29 de junho de 2025

Entrevista: Roy Khan – Redescobrindo O Seu Amor Pelo Metal

Por Amanda Vasconcelos

Fotos: Amanda Vasconcelos (Roy Khan) e Caike Scheffer (Roy Khan e Edu Falaschi)

Roy Khan é um daqueles vocalistas que merecem uma posição de destaque no cenário do Metal – e de forma mais do que merecida –, sendo capaz de conquistar até os menos sensíveis com seu timbre angelical e elegante.

Afastado dos holofotes desde sua saída do Kamelot, em 2011, o norueguês vem reconquistando espaço desde que se reuniu novamente com o Conception. No entanto, foi após sua participação no show de Edu Falaschi, em janeiro do ano passado, em São Paulo, que Khan percebeu o quanto ainda pode ir além. A partir dessa experiência, decidiu investir em uma promissora carreira solo.

Essa nova fase começa oficialmente no próximo dia 5 de julho, com um show imperdível em que ele apresentará o clássico The Black Halo na íntegra, acompanhado por uma orquestra sinfônica.

Em meio aos ensaios, o vocalista conversou com o Road to Metal sobre esse novo momento da carreira. Confira a entrevista!


O que te levou a voltar a compor e cantar? Foi mais como um insight, um chamado interno ou você sentia falta da música no geral?  

RK: Bom, mesmo durante a minha pausa, eu ainda tocava um pouco de piano e compunha algumas músicas. Mas só quando me reconectei com o pessoal do Conception, em 2016, que realmente senti que era algo que eu queria muito fazer de novo, que é voltar à cena do metal.

Acho que foi uma combinação de um chamado interior e de sentir falta disso tudo. Ainda sou muito apaixonado por isso. Eu sou um pouco como um cavalo de circo. No fim das contas, eu meio que sabia que isso acabaria me puxando de volta. Então, aqui estou eu.

A sua forma de cantar através dos anos se transformou, e hoje além de transmitir mais leveza, é tão pessoal que dá a sensação de que você está conversando diretamente com quem te ouve. Esta transformação foi intencional considerando quem você é hoje ou ocorreu naturalmente com o tempo?

RK: Obrigado! Eu realmente aprecio o fato de que as pessoas percebam o meu canto e a minha performance como algo pessoal. Sempre foi importante para mim que tudo o que eu canto e escrevo seja algo que tenha um significado para mim. Acho que isso torna muito mais fácil interpretar de forma convincente. E, claro, minha voz muda com o tempo, minha mente também muda com o tempo – e tudo isso se reflete na forma como eu canto e me apresento.

Em relação ao seu processo criativo, há algum contexto que o favoreça a inspiração (momento, hora do dia, ambiente, humor)? Ele passou por mudanças ao longo de cada projeto?

RK: Ah, boa pergunta. Às vezes, as ideias simplesmente surgem do nada enquanto estou fazendo algo totalmente diferente, aí eu preciso tomar cuidado para anotar ou gravar. Mas quando marcamos uma sessão de composição, sempre tentamos nos afastar da vida cotidiana. A gente se isola numa cabana nas montanhas para garantirmos que não haja distrações e que estejamos em um ambiente que proporcione espaço para a criatividade. E isso sempre foi assim, basicamente.

Suas composições de forma geral, são com base em coisas que você acredita, vivências pessoais, histórias que te marcaram ou apenas é conduzido pela sua inspiração momentânea?

RK: Como eu disse, tudo o que eu escrevo e canto é muito mais fácil de interpretar de forma convincente se eu realmente acreditar naquilo ou tiver algum tipo de conexão pessoal com o tema. Ao mesmo tempo, a inspiração do momento é importante, mas isso não é algo com o qual se possa contar sempre. Então, o ideal é estar em um ambiente, em uma situação, que seja inspiradora de alguma forma.

Tem algo muito bonito na forma como suas músicas acolhem. Você pensa nisso – em quem vai ouvir – quando compõe? Já ouviu algum relato de fã que te emocionou?

RK: Obrigado! É, eu realmente penso em como tudo que eu escrevo pode ser percebido pelo ouvinte. E eu tenho várias experiências de fãs que ouviram minhas músicas e elas realmente significaram algo em suas vidas. Tenho várias cartas em casa de pessoas dizendo que minhas músicas salvaram suas vidas e que também significaram algo em relacionamentos com outras pessoas. E isso, realmente, faz todo esse trabalho duro valer muito a pena.

Como você enxerga sua relação com os palcos? Sentiu que houve mudança de significado em relação à sua performance e entrega emocional?

RK: Sim, como em tudo na vida, acho que a idade e a experiência realmente te deixam mais confiante no que você está fazendo. E isso também se aplica a mim. Eu não sinto que o significado de se apresentar ou a entrega emocional – que sempre foram importantes para mim – tenham mudado. Tudo gira em torno de estar totalmente presente no momento e criar uma conexão especial com o público.

Como você sente o público neste retorno? Os fãs antigos conseguiram caminhar com você até aqui ou você acha que está trazendo um novo público nessa nova fase?

RK: O público é realmente o fator X, ele significa tudo quando se trata de fazer um show de sucesso. Se você não tem o público com você é meio difícil estar lá em cima, embora eu seja profissional e tudo mais, mas isso me afeta de alguma forma. Eu encontro muitas pessoas que me acompanham durante toda a minha carreira – ou pelo menos há muito tempo. E algumas delas trazem amigos, filhos… E é muito legal ver pessoas novas e jovens na plateia. Talvez a coisa mais legal seja ver todas as pessoas que descobriram o Kamelot depois que eu saí e achavam que nunca teriam a chance de me ver ao vivo. Ver que elas tiveram essa chance de me ver no palco me deixa feliz.

Sua parceria com artistas brasileiros como o Edu Falaschi e a banda Maestrick foi algo pontual ou você sente que pode ser o início de algo maior? Podemos esperar mais colaborações suas com músicos daqui?

RK: Sim, é meio engraçado eu ter essa conexão com o Brasil agora. Depois do show no Tokio Marine Hall no ano passado com o Edu Falaschi, a gente começou a conversar sobre fazer algo assim de novo em conexão com o 20º aniversário do The Black Halo.

O Edu é um cara incrível, um grande músico, um excelente compositor e uma pessoa super bacana e gentil. O mesmo vale para o pessoal do Maestrick. Na verdade, neste momento, estou em São José do Rio Preto ensaiando com o Maestrick, porque eles vão ser a minha banda nesse show do dia 5 de julho.

E sim, acho que vem mais coisa por aí. Talvez a gente componha algumas músicas juntos, talvez façamos mais shows juntos. Já tem alguns marcados para este outono. Então, sim, as coisas estão indo muito bem.

Sobre a sua carreira solo, tem algo que você gostaria que a gente, como fãs, soubéssemos desde já sobre esse projeto? E o que podemos esperar do que vem por aí?

RK: Esses primeiros shows em que estou apresentando músicas do Kamelot são, de certa forma, o pontapé inicial da minha carreira solo. E vem mais por aí! Haverá material novo, mais colaborações e... bom, quem sabe o que mais? Estou muito empolgado com tudo isso, e o meu conselho é: fiquem ligados, porque tem mais vindo aí.

O que você gostaria de dizer para quem vai estar na plateia te esperando no dia 05/07, ansiosos por esse reencontro – não só como o artista, mas como o Roy Khan em essência?

RK: Eu, pessoalmente, estou extremamente empolgado com isso. Estou muito feliz por ter essa chance de subir ao palco e cantar essas músicas que significam tanto para mim. Também sei que isso significa muito para muitos fãs, e sou muito grato ao Edu Falaschi por me dar essa oportunidade de tocar para um público como esse. Agora, espero que a gente grite junto, ria junto, chore junto e se divirta o máximo possível. Com certeza vou dar o meu melhor! E espero ver vocês lá no dia 5 de julho, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. Aí vou eu!


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Entrevista – Jeff Scott Soto: 40 Anos de Lutas, Conquistas e Rock 'n' Roll

Por Gabriel Arruda e Jessica Valentim

Foto: Divulgação

Jeff Scott Soto é um dos cantores mais reconhecidos na história do rock nos últimos quarenta anos, número que ilustra sua longa e intensa jornada musical. Embora alguns ainda não consigam identificar seu nome imediatamente, é bem provável que já tenham ouvido sua voz em algum momento, já que ele trabalhou com várias bandas e artistas influentes neste cenário.

Antes de começar sua turnê pelo Brasil ao lado de Eric Martin (Mr. Big), que teve início no último dia 02/05, Jeff bateu um papo com a equipe da Road To Metal sobre diferentes momentos e aspectos de sua trajetória. Prepare-se para uma leitura fascinante e agradável com esse verdadeiro ícone, que consideramos uma lenda viva e um autêntico trabalhador incansável.

Gabriel: Em março, foi lançado o novo álbum do W.E.T., intitulado APEX. Cada lançamento desse projeto é como uma longa espera, mas sempre compensa. Você acha que isso é verdade ou é apenas porque você e os outros estão ocupados com seus trabalhos principais?

JSS: É sempre impressionante perceber o quanto as pessoas realmente gostam do W.E.T. Acho que isso acontece, em parte, por causa do certo mistério que cerca o projeto. Como não fazemos turnês e quase nunca aparecemos juntos em público, fica essa aura de enigma. Isso lembra um pouco os tempos antigos, lá dos anos 70 e 80, quando a música se espalhava sem internet, sem redes sociais e sem essa troca instantânea que temos hoje. Naquela época, as coisas levavam tempo para se divulgar; as pessoas conversavam, comentavam e aquilo ia crescendo aos poucos, de forma natural.

Por essa razão, é surpreendente notar o impacto e o interesse que conquistamos atualmente, mesmo em um ambiente onde a tecnologia predomina e a forma como consumimos música transformou-se de maneira radical. Nós somos um exemplo claro de que ainda é viável desenvolver algo genuíno e espontâneo, sem depender dos métodos de marketing e visibilidade do passado - sem revistas, promoções em larga escala, e assim por diante. No final das contas, somos unicamente nós, artistas que se reúnem para produzir o estilo musical que acreditamos que os ouvintes que realmente adquirem nossos álbuns desejam escutar.

Gabriel: Gostaríamos de saber um pouco sobre como foi o processo de criação deste novo álbum. Como você é o único membro que não mora na Europa, imagino que tudo seja feito de forma remota, ao contrário de estarem todos juntos em um estúdio tocando.

JSS: O procedimento geralmente segue um padrão, começando sempre com Erik Martensson, que é a força criativa e o motor do W.E.T. Parte dessa dinâmica se deve ao fato de que ele é tão ocupado quanto eu, ao passo que Robert (Säll) possui uma rotina um pouco mais leve. Devido a estarmos sempre atarefados em horários diferentes, frequentemente precisamos esperar até que Erik consiga encontrar um espaço em sua agenda para que possamos iniciar o trabalho em um novo álbum do W.E.T.

De certa forma, ele é o organizador principal. Nós costumamos brincar que ele é o "mestre de cerimônias", como aquele indivíduo no picadeiro do circo que dirige toda a apresentação, e é exatamente isso que Erik realiza. Ele é o responsável pela composição, cria as melodias, grava as demos e me envia as faixas antes de eu iniciar a gravação vocal. Além disso, ele produz os álbuns e decide com quem vai colaborar na composição - especialmente nas músicas que não escreve com Robert -, supervisionando absolutamente todos os aspectos. Ele é o ponto inicial e final em todo o processo.

Quando ele me envia uma seleção de faixas, algumas das quais ainda precisam de letras, ele sempre grava uma demo, mesmo que esteja improvisando durante a gravação. Às vezes, ele toca uma música e acaba soltando palavras aleatórias que não fazem sentido, porque essa é a sua maneira de criar melodias. Ele não consegue simplesmente cantar “lá lá lá”, precisa usar palavras reais para moldar o som.

Por isso, frequentemente ele me manda algo como, por exemplo, em uma ocasião, o refrão da demo era "rock me Caroline". E eu pensei: “Como vou escrever uma letra a partir de ‘rock me Caroline’?” Acabei mudando totalmente o tema da canção, mas mantive os mesmos sons vocálicos, transformando em “my heart is on the line”, que possui uma sonoridade semelhante. Utilizo o mesmo ritmo e cadência da melodia que ele enviou, aproveitando alguns elementos, como os sons das vogais. Se ele não me tivesse mandado “rock me Caroline”, talvez eu tivesse escrito, por exemplo, “take it all the way”.

Assim, mesmo quando ele me manda letras improvisadas um tanto descartáveis, muitas vezes encontro inspiração nessas ideias para completar as minhas próprias letras. Isso acontece com várias das faixas que ele já me envia com uma base mais elaborada.

Jessica: Você tem títulos provisórios e engraçados para as músicas também?

JSS: Desde o início da minha trajetória. Recordo, até no estúdio ao lado do Yngwie Malmsteen, que utilizávamos as fitas originais, as conhecidas como "reel to reel". Naqueles tempos, gravávamos em estúdios de verdade, ao contrário de hoje em dia, quando tudo é feito em casa.

Lembro que as caixas das fitas traziam nomes bem peculiares, e às vezes eles colocavam esses títulos estranhos exatamente para que, se alguém encontrasse aquilo depois, não soubesse do que se tratava. Por exemplo, se alguém achasse uma fita e visse "Ah, esses são os rolos originais de Stairway to Heaven", isso poderia causar problemas, então eles usavam esses nomes engraçados para que ninguém prestasse atenção. As pessoas viam e pensavam "Ah, isso não significa nada", e deixavam passar.

Isso sempre ocorreu em todas as bandas em que estive envolvido. Sempre houveram títulos engraçados para as demos ou gravações. Com o Talisman, por exemplo, o Marcel costumava me enviar fitas cassete com demos que vinham com títulos estranhos e divertidos. Com o Sons of Apollo foi a mesma situação. É impressionante como todos acabam adotando essa abordagem similar.

Gabriel: O W.E.T, como muitos já sabem, é um projeto que reúne membros do Work Of Art, Eclipse e do Talisman. Cada uma dessas bandas tem sua própria identidade. É complicado conciliar as particularidades de cada uma durante o processo de composição?

JSS: Primeiramente, essa ideia surgiu pela gravadora. O W.E.T é, essencialmente, um projeto que foi criado e gerido pela gravadora. Quando fomos reunidos, ficou a nosso cargo desenvolver o estilo musical e compor as faixas, mas a criação do W.E.T foi uma escolha da gravadora, que foi responsável por montar o projeto.

Conforme começamos, muitas pessoas começaram a ouvir e comprar nossas músicas, e naturalmente fomos formando nosso próprio público. Portanto, é lógico que queremos fornecer exatamente o que eles esperam de nós. Não temos intenção de fazer mudanças radicais; não pretendemos lançar um álbum de disco music na próxima vez, ou um de jazz. Temos consciência do estilo musical que os fãs do W.E.T aguardam e desejam ouvir, por isso tentamos não nos desviar muito da fórmula original que seguimos desde o início.

Entretanto, é compreensível que queiramos demonstrar desenvolvimento, sem nos repetir. Como não somos uma banda que está constantemente em turnê ou convivendo uns com os outros diariamente, também desejamos apresentar que há outras vertentes que podemos explorar dentro do que já estabelecemos, sem fazer mudanças drásticas, mas trazendo algo inovador.

Gabriel: O baterista Jamie Borger, que já trabalhou com você no Talisman e na sua carreira solo, além de ter feito parte do Treat, é novidade deste quinto trabalho. Como foi o processo para convidá-lo a se juntar a vocês?

JSS: Eu não estive envolvido de jeito nenhum, o que foi bastante peculiar. Descobri apenas na última hora. Quando Erik me manda as faixas para eu iniciar a gravação dos meus vocais, sempre são as versões demo dele. Ele registra todas as canções em seu estúdio, utilizando bateria programada. Não é como era antes; atualmente, temos tecnologia avançada, com bateristas reais gravando em estúdios, permitindo que você capture partes da performance deles e monte uma canção, depois podendo substituir por batidas reais.

Dessa forma, todas as faixas que gravei contavam com essas baterias de estúdio. Após isso, fiquei um bom tempo sem receber notícias do Erik. Eu tinha conhecimento de que ele estava fazendo a mixagem do álbum e trabalhando em videoclipes... até que, subitamente, recebo uma mensagem: "Quero que você ouça o álbum, já foi mixado. Me avise se quiser fazer alguma alteração ou ajustar algo."

Na segunda faixa, enquanto escutava, pensei: "Espera... esse não é o Robban. Não é o nosso baterista habitual no W.E.T." Imediatamente escrevi para o Erik: "Cara, essa não é a bateria do Robban." E ele respondeu: "Você está certo. Dou duas chances para você adivinhar." Mas eu precisei de apenas uma: "É o Jamie Borger." Reconheci na hora.

Tenho uma relação com o Jamie há muitos anos. Durante meus projetos solo, já compusemos juntos. Conheço bem seu estilo, sei como ele toca, como ele bate na bateria. Há algo muito particular na maneira como o Jamie toca; não consigo explicar exatamente, mas sabia que era ele. E então veio a surpresa: Jamie gravou todas as baterias do álbum. Eles não quiseram me informar até que tudo estivesse completo.

Jessica: Quero falar um pouco sobre a sua carreira como um todo. Muitos fãs ainda comentam sobre o álbum Eyes, de 1990. Aquele disco tinha um som cru, de hard rock. Por que só foi lançado um único álbum com esse projeto? Sempre foi pensado para ser algo pontual ou houve oportunidades perdidas no caminho?

JSS: Lamentavelmente, meu percurso profissional tem seguido um padrão similar. Vários projetos resultaram em apenas um ou dois álbuns, e então eu partia para novas jornadas. Isso se aplicou a quase todas as bandas com as quais colaborei — Eyes, Talisman, Soto, Sons of Apollo. Sempre que me uno a um grupo, me dedico por completo como vocalista, acreditando que essa será a minha banda final. Minha aspiração sempre foi levar o projeto adiante.

Contudo, ao longo dos anos, as coisas nem sempre ocorreram dessa maneira. Por exemplo, durante meu tempo com o Eyes, surgiram desavenças internas, não entre os membros da banda, mas relacionadas a negócios. Havia dificuldades com a gravadora e com a administração. Começamos a perceber que talvez aquilo não funcionasse. Você grava um álbum, sente que fez um bom trabalho, e acredita que será um sucesso, que o público vai recebê-lo bem. E quando isso não ocorre, você se questiona: 'Deveríamos fazer outro? Ou devemos seguir adiante?' Então, a gravadora aparece e diz: 'Não estamos mais interessados'. Aí você precisa buscar um novo contrato, persuadir outros a investir... há muitos desafios nesse caminho.

Há diversos elementos que afetam a permanência de uma banda. E naquele período, as coisas eram ainda mais complicadas, pois havia um modelo bastante rígido sobre como as operações deveriam ocorrer - do ponto A ao ponto Z. Muitas bandas, incluindo aquelas em que estive, nem chegavam aos pontos C ou D.

Em relação ao álbum do Eyes, a intenção era, sim, continuar e produzir mais. Contudo, logo depois gravei meu primeiro disco com o Talisman, e esse projeto me parecia mais estável, algo que realmente queria investir. Se o Eyes tivesse alcançado o sucesso, provavelmente eu teria permanecido com eles. Mas, como isso não aconteceu, optei por seguir em frente com o Talisman.

Jessica: Creio que agora seria um grande sucesso, pois é um disco bastante subestimado e há pessoas que apreciam ele.

JSS: Estou de acordo com você, eu também sou fã desse álbum. Dedicamos muito esforço e energia àquela produção. Nós mesmos cuidamos da produção do disco, mesmo que os créditos indiquem outra pessoa como responsável. Tudo que está nele foi feito por nós. Todos os vocais de apoio... eu contratei pessoas para ajudar a sobrepor as vozes, e a própria banda também contribuiu. Foi um processo espetacular, repleto de empenho e amor.

Infelizmente, não recebemos o suporte adequado da gravadora, nem contávamos com as pessoas certas para promover o álbum. Ele poderia ter sido comparado a outras bandas da época que estavam se destacando, mas isso não aconteceu. Não conseguimos realizar turnês devido à falta de apoio suficiente. Muitos pequenos fatores, quando somados, acabaram pesando bastante. E isso é uma das razões pelas quais não conseguimos continuar juntos da maneira que desejávamos, dadas as condições que tínhamos naquela época.

Jessica: E como você organiza seu processo de composição entre os diferentes projetos? O que te faz decidir se uma canção será destinada à sua carreira solo, ao W.E.T. ou ao Sons of Apollo? E como você mantém a identidade distinta de cada projeto, evitando que eles soem muito semelhantes entre si?

JSS: Para começar, eu normalmente não compus só por compor. Não sou o tipo de pessoa que se senta no quarto, entediado, para tocar violão ou teclado apenas para ver o que surge. Nunca escrevo músicas sem um motivo, sempre há uma finalidade clara para o que estou criando. Se estou trabalhando em uma canção, é porque ela possui um propósito específico, seja para um disco, um projeto, ou algo que estamos desenvolvendo no momento. Essa é, inclusive, a maneira mais simples de saber para onde aquela canção será direcionada: "estamos criando para este disco".

A única exceção a essa regra foi o primeiro álbum do Ellefson-Soto (anteriormente conhecido como E.E.S.). Naquela situação, foi o David que iniciou o processo. Ele estava colaborando com vários músicos ao redor do mundo e criando demos com diversos vocalistas, apenas para ter um repertório de músicas. Algo como: "Ah, essa faixa combina com esta banda, essa outra poderia funcionar com uma diferente, e essa aqui talvez eu reserve para um álbum solo meu." Esse era o seu modo de trabalhar.

Durante o período da pandemia, ele me contratou para interpretar uma dessas canções. Ele ficou tão satisfeito com o resultado que me convidou para gravar uma segunda. Daí, passou a ser três, quatro... até sete canções. Foi nesse momento que eu comentei: 'Ei, economize seu dinheiro. Para mim, é um privilégio e uma alegria compor e criar músicas com você. Continue me enviando as faixas, estou contente em participar'. Afinal, estávamos todos confinados em casa, sem expectativa de sair em breve. Assim surgiu o primeiro álbum, quando percebemos que já tínhamos a quantidade necessária para um disco inteiro.

Ele começou a ouvir as faixas e afirmou: 'Não quero que mais ninguém grave isso. Acredito que deveríamos lançar essas músicas como nossas'. Sentimos que havia algo especial ali, algo que merecia ser escutado com a nossa própria identidade, e não apenas como um material para outros artistas regravarem.

Agora, ao trabalhar no novo álbum, a abordagem mudou. Já sabemos como é colaborar juntos, então estamos focando em criar algo com a intenção clara de ser nosso, e não apenas músicas aleatórias que poderiam se encaixar em qualquer projeto.

Jessica: E você costuma ouvir música no seu tempo livre em casa? O que você gosta de ouvir e o que mais te inspira na hora de criar suas próprias músicas?

JSS: Muito, muito, muito raramente eu consigo encontrar tempo para escutar outras músicas. Geralmente acontece por acaso, quando estou dirigindo ou se escuto algo novo enquanto algum amigo me apresenta uma canção. No entanto, em casa, sozinho, fica bastante complicado. Estou sempre tão envolvido trabalhando em meu próximo projeto, e em seguida em outro, e em mais um... Se não estou no estúdio gravando algo, é porque terminei de gravar e já me preparo para a próxima gravação.

Portanto, de fato, não consigo ouvir outras músicas, sejam lançamentos recentes ou clássicos. Estou sempre com agenda cheia. É um “problema” interessante, sem dúvida, mas às vezes reflito se estou deixando de descobrir novas músicas e inspirações. Por outro lado, não sinto que estou perdendo tanto, pois continuo criando e trabalhando constantemente.

Jessica: Isso é fantástico! Você teve a oportunidade de colaborar com muitos músicos icônicos ao longo dos anos. Existe alguém com quem ainda não trabalhou, mas que gostaria de trabalhar?

JSS: Tenho uma lista grande de artistas com quem adoraria colaborar. Já mencionei isso em várias entrevistas, e tenho certeza de que ele já ouviu falar a respeito, mas não sei o que está impedindo. O Nuno Bittencourt é um dos meus guitarristas e compositores preferidos. Admiro o estilo dele, a energia que ele traz para suas canções. Gosto daquele ritmo, daquele toque funk e meio soul que ele insere em suas músicas. Imaginar nós dois escrevendo uma canção juntos seria algo que eu adoraria ver realizar-se. O Nuno é definitivamente um artista com quem eu quero fazer algo. Brian May também está nesta lista. Existem vários outros artistas com quem eu também gostaria de ter a chance de colaborar.

Jessica: Apoio totalmente essa ideia de trabalhar com o Nuno, seria realmente extraordinário. E com a popularização das plataformas de streaming, de que maneira você vê isso alterando sua relação com os fãs? Você sente que está mais próximo deles ou que houve uma mudança na sua interação de alguma forma?

JSS: É curioso que, antes de toda essa situação, eu me sentia mais próximo dos fãs. Eu costumava responder cartas que recebia, mantinha trocas de mensagens com muitos fãs ao longo do tempo. Hoje, com tudo se tornando tão acessível, eu acabaria passando o dia todo apenas respondendo mensagens, o que tornou isso inviável. Não é possível estar conectado com todos a cada hora, todo o dia, toda semana.

Portanto, eu seleciono meus momentos. Ocasionalmente, eu entro, interajo um pouco e depois me retiro. Percebi que, ao responder uma ou duas pessoas, as demais podem se sentir deixadas de lado. Então, surge aquele pensamento: "Que bobo, ele não me respondeu, por que respondeu àquela pessoa?" Não desejo que ninguém tenha a impressão de que estou favorecendo alguns em detrimento de outros.

Assim, atualmente, busco adotar uma postura mais reservada. Faço minhas publicações e deixo as coisas seguirem seu curso.

Jessica: Sim, considero que isso é uma decisão sábia.

JSS: Existe uma quantidade significativa de negatividade por aí, então é fundamental cuidar do que você expressa. Qualquer coisa que você diz pode se transformar em um título chamativo, algo que atrai cliques. A experiência de dar entrevistas atualmente é complicada, pois, como mencionei, você pode encerrar esse diálogo e, em cinco minutos, já pode haver uma manchete circulando, transformando uma simples afirmação em uma controvérsia ou escândalo.

É desgastante ter que considerar a maneira de comunicar o que você deseja, evitando comentários que possam comprometer você futuramente (risos).

Jessica: Exato, e é vital que você esteja equilibrado mentalmente, pois, se você se expõe a muitos comentários negativos, isso pode influenciar seu bem-estar. Então, no final das contas, muitas vezes não compensa.

JSS: Estou de acordo!

E como você se prepara para uma turnê? Você segue algum tipo de rotina vocal ou treinamento específico que ajude a manter sua voz em boas condições? Eu soube que você fará três apresentações no cruzeiro Monsters of Rock Cruise no ano que vem, em três dias consecutivos com três bandas distintas!

JSS: Três bandas diferentes farão duas apresentações cada, e como o cruzeiro terá uma duração de cinco dias, eu vou tocar em seis shows durante esse período. Sim, isso vai ser cansativo (risos), mas foi uma escolha minha. Neste ano, estou completando 60 anos, e quando eu estiver no navio, planejo celebrar meu aniversário com uma festa prolongada à bordo. Para mim, a única maneira de fazer isso é no palco, junto aos meus amigos. Então, eu avisei a eles: coloquem-me em quantos shows quiserem, porque quero transformar isso em minha festa pessoal.

Jessica: Isso é incrível. Será uma grande celebração (risos)

JSS: E será espetacular, pois os integrantes da banda Soto serão os músicos de apoio para o Ellefson e o Ellefson-Soto. Assim, eu sinto que estou tendo o melhor dos dois mundos, usando minha própria banda para tocar as músicas com o David, e ainda faremos o show do Soto, que é independente de tudo mais. Portanto, isso está fantástico. Estou realmente ansioso por isso!

Jessica: E como você cuida de si mesmo em uma situação como essa?

JSS: Descansando o máximo possível. É necessário reconhecer quando é hora de se calar, sabendo que, após o show, toda aquela conversa pode impactar negativamente o dia seguinte. Obviamente, é melhor evitar álcool, cigarro e drogas... Manter distância de tudo isso, especialmente durante a turnê e com várias noites de performances consecutivas. Não uso drogas e não fumo, mas, em geral, faço um esforço para beber menos, dormir cedo, me manter hidratado e falar o mínimo possível. E, claro, realizo meus exercícios vocais antes e depois do show. Muitas pessoas não percebem, mas, além de aquecer a voz previamente, é necessário também deixá-la descansar depois.

JSS: Não consigo acreditar que você está prestes a completar 60 anos, já que sua voz é tão boa que nem parece que você tem essa idade.

JSS: Estou me aguentando, realmente me segurando (risos).

Percebo que já não tenho a mesma energia no palco como nos meus vinte, trinta e até quarenta anos, mas continuo firme, segurando firme! E sim, minha voz já não é a mesma, não consigo fazer todas aquelas performances radicais. O Sons of Apollo, por exemplo, foi uma das primeiras tentativas concretas de demonstrar essa transformação, indicando que estou ajustando onde estou cantando.

Procuro evitar iniciar uma canção em um tom muito alto, pois, se você começa lá no topo, só tem como descer. Agora, se você começa em um tom mais baixo, ainda consegue elevar quando necessário, e isso ainda é possível. Contudo, você não precisa permanecer sempre no máximo, pode fazer variações, o que contribui para uma maior durabilidade em turnês e para cantar essas músicas ao vivo.

Certamente, tenho isso em mente enquanto envelheço. Seria insensato gravar faixas que não conseguiria apresentar ao vivo, apenas porque sou capaz de gravá-las no estúdio.

Gabriel: Em maio, você estará em diversas localidades no Brasil acompanhando Eric Martin (N.T.: a turnê começou no dia 02/05). Ao contrário das ocasiões passadas, você realizará um espetáculo que se concentrará totalmente na sua trajetória, que celebra quatro décadas. O que podemos prever desses shows?

JSS: Na verdade, eu já passei por isso no ano anterior. Realizei apresentações em algumas cidades brasileiras, mas não em São Paulo. Este foi, na verdade, o único lugar onde não consegui apresentar o espetáculo de 40 anos de carreira, porque fui escalado para o festival Summer Breeze, que exigia um repertório bem distinto do que eu estava tocando no restante da turnê. Por isso, preparei um setlist especial apenas para aquele evento.

Além disso, fiz uma apresentação em São Paulo, mas foi um tributo ao Queen, ou uma performance acústica, sempre trazendo algo diferente do que eu costumava apresentar por toda a América do Sul. Assim, este ano, ao conversar com Eric sobre a possibilidade de fazermos esse show juntos, a ideia foi realmente essa: já que seria uma celebração de nossas carreiras, escolhemos as faixas mais impactantes, aquelas que sabemos que o público anseia escutar. E foi exatamente isso que fiz: selecionei várias canções do repertório do ano passado e adicionei uma nova, aquela que você estava quase cantando antes, Gabriel, mas ainda não quero revelar qual é.

Quando anunciamos os shows com Eric, ficou evidente que em algumas dessas apresentações, especialmente as que realizaremos juntos, haverá uma quantidade menor de músicas do JSS e do Eric em comparação a um show solo completo de cada um. Foi nessa ocasião que recebi o convite para realizar meu próprio espetáculo de 40 anos do JSS no Manifesto.

Recebi a confirmação hoje, e quero dividir essa novidade com você em primeira mão: será o último espetáculo do atual Manifesto em São Paulo. Esse local possui uma rica história, muitos artistas notáveis já se apresentaram lá. E eu serei o último a subir ao palco antes da mudança para um novo espaço. Estou extremamente animado por finalmente levar o show de 40 anos para São Paulo, assim como para as outras cidades onde estaremos com Eric Martin.

Gabriel: Um dos momentos altos desta próxima turnê será o show que vocês dois realizarão com o Foreigner, uma banda icônica e pioneira do Melodic Rock e AOR. Esta será mais uma grande realização na sua carreira de sucesso, especialmente pelo fato de que você deve ter crescido ouvindo suas músicas. Quais são suas expectativas para essa ocasião tão especial?

JSS: Eu não carrego nenhuma expectativa, pois estarei ao lado do palco, cantando cada uma das músicas e simplesmente desfrutando. Estarei tão próximo de Lou Gramm, que é um verdadeiro ícone para mim tanto como vocalista quanto compositor. Tudo o que ele produziu em sua carreira e repertório ressoa em mim desde a minha infância.

No início do meu interesse pelo Hard Rock, esse gênero não me atraía. Eu não apreciava Heavy Metal. Durante minha juventude, meu foco musical era em R&B, Earth, Wind & Fire, Motown, Sam Cooke… Mas então surgiram artistas como Bobby Kimball, do Toto, Lou Gramm, do Foreigner, e Steve Perry, do Journey. É possível notar que eles também foram influenciados pelas mesmas músicas que eu ouvia, mas conseguiram colocar suas vozes em uma nova dimensão dentro do Hard Rock.

Faixas como Double Vision, Hot Blooded representavam o verdadeiro rock, algo que eu não costumava ouvir. No entanto, ao ouvir esses cantores, com seu “soul branco”, sua essência ao cantar rock, isso me abriu portas para Judas Priest, Iron Maiden e muitas outras bandas que vieram depois. Bandas como Toto, Journey e Queen me mostraram que é possível incorporar um estilo de canto diferente no Rock e criar algo inovador.

Estou super animado, porque de todas as maneiras possíveis, é realmente uma forma maravilhosa de fazer esse show. Estar ao lado desses caras, tocar com Eric e Spektra, que são meus irmãos há mais de duas décadas, vai ser um verdadeiro sonho realizado. Junto de meus irmãos, vendo um dos cantores mais icônicos que já conheci, cantando todas essas músicas e observando o público brasileiro, que é incrível. Tenho certeza de que será uma noite memorável; eu já sinto isso agora.

Gabriel: Sua ligação com o Brasil, reforçada pela colaboração com Carlos Chiaroni e a Animal Records, remonta a mais de vinte anos. Os fãs brasileiros sempre o acolheram com muito amor. Você acreditaria que essa relação teve um efeito profundo em sua vida pessoal ou profissional?

JSS: Com certeza, mil por cento sim. E lembrando do Carlos Chiaroni em 2002, ele foi o primeiro a me contatar e queria que eu fosse atuar no Brasil. Me lembro que eram duas apresentações, e eu pensava: ‘Bem, isso pode ser muito divertido, já que nunca estive no Brasil e não sei nada sobre o país ou sua cultura...’ Ouvi muitas coisas negativas. Naquela época, haviam tantas histórias ruins que me diziam: ‘sempre peça o pagamento adiantado’, ‘não ande sozinho’, ‘tenha alguém do seu lado’. Muitas preocupações começaram a me atormentar em relação à minha primeira viagem ao Brasil. Isso me causou um certo receio.

Na segunda parte, vinha o pensamento: ‘e se forem me enganar?’, ‘e se eu chegar lá e disserem: ‘ah, não podemos te pagar agora, vamos pagar quando você chegar’, ‘pagaremos após o show’, ‘pagaremos no caminho para o aeroporto’...’ Esses pensamentos ficavam me rondando, pois era isso que me diziam. Então, fui com um certo receio, sempre com um pé atrás, até perceber quem era Carlos, até conhecer BJ, Edu e todos aqueles que se tornaram minha família para a vida toda.

Minha primeira experiência no Brasil foi de um estado de ansiedade e receio, sempre olhando por trás, para então se transformar na sensação de ‘me sinto em casa’. Definitivamente, meus sentimentos e minha relação com o Brasil e com o povo brasileiro começaram naquele momento, e desde então só cresceram, como uma vasta floresta amazônica.

Jessica: As pessoas por aqui comentam que você deveria ter uma espécie de identidade brasileira (risos).

JSS: Estou me esforçando para isso (risos).

Jessica: Você deverá receber uma em breve. E eu gostaria de fazer uma pergunta, você mencionou o setlist, mas não sei se pode divulgar isso. Você vai tocar algo do Lost in the Translation?

JSS: É interessante que você pergunte isso, pois do lado do Eric Martin, a cada ano desde que este álbum foi lançado - e sempre que vou ao Brasil - eu executo a canção Soul Divine, porque realmente a aprecio muito. Eu costumava tocar Eyes of Love com frequência. Também tocávamos bastante Drowning.

Atualmente, como preciso eliminar algumas faixas, uma vez que meu setlist será reduzido, eu reflito: 'Ah, preciso tocar essa, e também essa, essa eu toco todos os anos... talvez devêssemos variar um pouco'. Mas estou considerando que talvez ela (Soul Divine) precise retornar ao set. Ainda não decidi, vou definir isso apenas quando chegarmos aos ensaios e perceber a vibe do setlist.

Jessica: Bom, eu sou fã desse álbum e também gosto muito do Prism, então qualquer canção dele seria incrível!

JSS: É uma escolha complicada, porque se você explorar demais o catálogo, pode acabar deixando de fora algumas faixas que são essenciais. Muitos esperam ouvir Look Inside Your Heart ou Believe in Me, mas não consigo incluir todas essas e ainda tocar Yngwie Malmsteen, Talisman, W.E.T. e Sons of Apollo. Se eu começo a pensar 'vou adicionar essa', então preciso remover outra. Portanto, é necessário ser muito cuidadoso ao formular um setlist. No entanto, ao mesmo tempo, é preciso assegurar que você está oferecendo ao público o que eles desejam ouvir.

Jessica: Você acha que "Believe In Me" é uma daquelas faixas que pode estar um pouco desafiadora para você no momento, ou você se sente tranquilo em relação a isso?

JSS: Durante uma apresentação ao vivo, há ocasiões em que, se eu não tiver descansado o suficiente ou se minha voz estiver um pouco comprometida... Porque, no palco, você só tem uma oportunidade para se apresentar corretamente, e se não fizer isso, seu erro ficará registrado na internet para sempre. Portanto, sou cauteloso ao interpretar essa e outras faixas semelhantes, caso não me sinta seguro e à vontade para isso. Se eu estivesse cantando para você agora, não teria dificuldades.

Contudo, durante as turnês, enfrentamos a falta de sono, as viagens, o cansaço, e tudo isso pode afetar o desempenho. Então, acabo adotando uma abordagem parecida com a de Freddie Mercury: se estiver em uma performance e perceber que não atingirei a nota desejada, procuro outras alternativas que se encaixem na música e sigo em frente.

Jessica: Por que você não entrega o microfone ao público e deixa que a gente cante 'Believe In Me' (risos)?

JSS: Só gosto de fazer isso quando tenho certeza de que eles realmente estão cantando (risos). Quando tocamos "I'll Be Waiting", deixo que eles assumam o vocal. É mais simples para mim cantar, mas o que eu quero mesmo é ouvir a audiência participando, pois é uma daquelas experiências que todos os artistas sonham quando são jovens: esperar pelo momento em que o público canta suas letras. É claro que valorizo esses momentos.

Jessica: Bom, estarei presente no show em São Paulo e vou tentar ficar na primeira fila, então pode contar comigo.

JSS: Incrível!

Jessica: Após tantos anos na estrada, o que você descobriu sobre si mesmo que te surpreendeu?

JSS: O que me choca é que ainda consigo cantar após todos esses anos (risos). Isso realmente é uma verdade, mas estou fazendo uma brincadeira. A vida na estrada pode ser desgastante, e a idade realmente vai afetando as coisas, tornando um pouco mais desafiador realizar algumas atividades. Quando há um peso constante que está te puxando para baixo e você tenta levantá-lo, eventualmente começa a ficar difícil. Portanto, como você sabe, estou quase completando 60 anos e ainda consigo fazer tudo o que quero. Isso é fantástico.

Jessica: E você já mencionou que raramente consegue encontrar tempo livre porque está sempre ocupado, mas além da música, o que mais te apaixonam ou quais são seus passatempos? Eu sei que temos algo em comum, pois sou fã dos Lakers, mas não sei se você consegue acompanhar os jogos ou se tem ido às partidas.

JSS: Eu realmente não disponho de tempo para assistir aos jogos e, sendo honesto, quando o Kobe ainda estava vivo e atuando, eu me esforçava mais para vê-lo ao vivo. Desde então, os Lakers têm estado um pouco irregular e, embora eu continue sendo um torcedor de coração, não vou me forçar a pagar preços exorbitantes para vê-los perder. Então, eu confio bastante no meu time e na minha cidade, mas, em certas situações, essa confiança não é suficiente para me motivar a gastar meu dinheiro arduamente ganho (risos).

Jessica: Com certeza, é bastante caro, especialmente agora que temos o LeBron e o Luka, e eu percebi que os ingressos estão com preços altíssimos.

JSS: E o mesmo pensamento se aplica para os shows. Acho uma loucura como estão cobrando das pessoas. Isso é apenas um ingresso normal, e ainda existe a opção VIP. Acaba-se gastando tanto dinheiro apenas para tirar uma foto com o artista favorito. Para ser sincero, isso é algo que nunca me deixou à vontade. Sempre estive muito próximo do meu público e das pessoas que acompanham minha carreira. Para mim, é estranho pedir que elas paguem para me dizer "oi". Isso parece um pouco esquisito.

Jessica: Tem algo que a Lady Gaga disse antes que é engraçado, que a gente paga pelos ingressos antes de você cantar. Então, como você vai fazer isso valer a pena? Ela disse que é tão estranho que a gente pague antes de você cantar.

JSS: Tenho sentimentos mistos sobre isso e entendo o ponto de vista, porque, claro, cada um tem seu tempo pessoal. Quando estamos em turnê, aquele espaço de tempo só para a gente é muito valioso. Às vezes, só quero relaxar, ficar tranquilo, sem precisar conversar. Mas aí vem o som, os encontros com fãs, os convidados, o show, depois o meet and greet... 

É muita coisa, especialmente para um cantor. Como mencionei antes, há o aquecimento e o desaquecimento, além de todas essas atividades acontecendo ao mesmo tempo. É difícil conseguir um tempinho para si nesse ritmo todo. Então, entendo que, se os fãs querem ter a chance de te conhecer, tirar fotos, conversar e tudo mais, eles precisam pagar por isso, porque estão ocupando esse pouco tempo que você tem. Acho que é assim que os artistas veem a situação: ao oferecer esse momento aos fãs, eles estão usando parte do tempo limitado deles e, por isso, cobram por isso. Essa é a percepção comum.

Jessica: Então, por último, mas não menos importante, quais são seus três álbuns favoritos do Queen?"

JSS: Essa é a pergunta mais fácil que você pode me fazer! Não em nenhuma ordem, não está em ordem, porque são os três principais. O primeiro ou o terceiro poderia facilmente ser o primeiro. Innuendo, Queen II e A Night at the Opera.

Jessica: Uau! Innuendo? Isso é incrível!

JSS: Não vejo Made in Heaven como um álbum do Queen. Para mim, foi mais uma forma de homenagear o Freddie depois que ele faleceu. As músicas que eles fizeram ali parecem mais coisas que estavam sendo feitas só por fazer, como conversamos antes, tipo: Me entreguem as músicas que eu vou continuar cantando, vou seguir fazendo meu trabalho até o fim. Para mim, aquilo não teve a mesma essência. Já em Innuendo, dava pra perceber em cada faixa que eles estavam voltando às raízes, fazendo uma espécie de retorno ao que fizeram no passado. Era tudo o que amávamos no Queen: uma mistura do começo, do meio e do final com um toque moderno. Foi isso que me encantou naquele álbum. Pra mim, foi uma espécie de encerramento perfeito. E "The Show Must Go On" é, na minha opinião, a maneira ideal de dizer adeus.




sexta-feira, 18 de abril de 2025

Entrevista – Gonzo Sandoval (Armored Saint): bateria, fotografia e paixão pelo Metal

Foto: Divulgação

Por Jessica Valentim e Gabriel Arruda 

Formada em 1982, em Los Angeles, Califórnia, o Armored Saint segue firme até hoje, realizando shows ao vivo e lançando novos discos sempre que possível. A ascensão da banda no cenário do Heavy Metal mundial ganhou força anos mais tarde com o álbum Symbol of Salvation (1991), considerado até hoje uma obra marcante do gênero. 

Além das composições impactantes, os músicos do grupo também chamaram atenção individualmente, tanto que o vocalista John Bush, que integrou o Anthrax entre 1992 e 2005, e depois de 2009 a 2010, e o baixista Joey Vera, entre 2004 e 2005, foram convidados a fazer parte da lendária banda nova-iorquina, fortalecendo ainda mais o nome do Armored Saint e atraindo novos fãs para o seu som. 

Às vésperas de se apresentar no festival Bangers Open Air, que acontece nos dias 2, 3 e 4 de maio, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o baterista e membro fundador do Armored Saint, Gonzo Sandoval, bateu um papo com a gente. Na conversa, ele falou sobre a expectativa de retornar ao Brasil, sua preparação na bateria, a paixão pela fotografia e os próximos passos da banda.


O Armored Saint vai se apresentar na abertura do Bangers Open Air em São Paulo, no dia 3 de maio. O que os fãs podem esperar do show? Haverá alguma surpresa nas músicas que serão tocadas?

Gonzo Sandoval: Nós decidimos que vamos tocar o que há de melhor no repertório do Armored Saint, então vocês podem esperar que a maioria das nossas músicas mais conhecidas estará no setlist. Afinal, os sucessos são sempre os sucessos (risos).


Como você se prepara pessoalmente para uma turnê? Tem alguma rotina específica para se manter em forma para tocar bateria?

Gonzo Sandoval: Essa é uma excelente pergunta! Para os mais jovens, eu diria que o ideal é começar a se preparar meses antes, praticando a bateria sozinho, tocando as músicas e trabalhando na resistência antes de nos reunirmos com a banda para os ensaios. O Armored Saint é uma banda muito sortuda, pois não ensaiamos muito quando estamos juntos; geralmente fazemos apenas três ou quatro ensaios. 

Acredito que essa química entre nós é realmente especial, e percebi isso recentemente, já que em algumas das turnês que fizemos não tivemos muitos ensaios, inclusive nas últimas.

Todos nós mantemos nossas habilidades afiadas, mas no meu caso, em relação à parte física de tocar bateria, começo a me preparar bem antes e busco aumentar minha resistência. Assim, quando nos encontramos, tudo flui mais naturalmente e de forma rápida.

Você está com o Armored Saint há décadas. Como sua abordagem à bateria evoluiu ao longo dos anos?

Gonzo Sandoval: Estou com o Armored Saint há décadas, e posso dizer que minha abordagem à bateria evoluiu um pouco ao longo do tempo. Atualmente, estou utilizando a técnica AB com ABS, e tudo tem fluído muito bem. Fiz algumas alterações nos meus conjuntos de bateria e, no momento, estou tocando uma DDrum com um bumbo duplo de 22 por 20 polegadas, que produz um som incrível. Estou bastante satisfeito com essa escolha. 

Além disso, conto com o apoio de patrocinadores, como as baquetas da Scorpion Percussion e os pratos da Paiste, além do meu assento de bateria. Todos esses elementos são essenciais para o meu estilo único de tocar, que eu chamo de DRUMS OF THUNDER. Sou muito grato a todos eles! Em termos criativos, cada novo álbum traz desafios únicos. 

O John [BUSH] e o Joey [VERA] são muito criativos quando montam as demos e ideias, então as músicas exigem sempre algo novo de mim como baterista. A gente evita repetir fórmulas, cada disco é um reflexo de onde estamos musicalmente naquele momento.


Você também é apaixonado por fotografia. Pode nos contar um pouco sobre isso? Que tipo de temas você gosta de fotografar?

Gonzo Sandoval: Eu tenho uma grande paixão por capturar imagens em shows de Rock, mesmo que isso represente um desafio considerável. A iluminação varia constantemente, o que requer uma habilidade específica. Me sinto afortunado por contar com amigos talentosos na área da fotografia, como Neo Slowzauer. Igor Vidyashev, do RockXposure.com, é outro amigo e um mentor para mim. 

Minha motivação inicial para entrar no mundo da fotografia surgiu das câmeras menores. Quando a fotografia digital foi introduzida, decidi me aprofundar mais nesse campo. Em dado momento, pensei: "Sim, aprecio a fotografia, mas não quero estar preso em um quarto escuro". Eu evitava lidar com o processo de revelação de filmes em um ambiente cheio de produtos químicos e que exigia tempo. Entretanto, com a chegada da fotografia digital, é possível capturar uma imagem, visualizá-la e excluí-la em questão de segundos, o que me possibilitou experimentar e buscar composições criativas. 

Durante minha adolescência, tinha o sonho de desenhar e pintar, mas não sou muito talentoso nessas atividades. Quando peguei a câmera, percebi que podia registrar imagens de maneira similar a como se fosse um desenho ou uma pintura, apenas com um clique. A fotografia é uma arte ampla e cheia de inspiração, e eu realmente adoro isso. Aprendi muito com Igor, que mudou minha maneira de pensar e me estimulou a fotografar. 

A Canon me incentivou a explorar o universo da Nikon, e atualmente possuo uma D750 acompanhada de uma lente 24-120, que se tornou minha ferramenta de trabalho. A tecnologia evoluiu bastante, e compreender como ela funciona é fundamental para quem deseja ser fotógrafo nos dias de hoje. Não temos mais os tradicionais laboratórios fotográficos, mas sim programas de computadores que utilizamos para edição, como Photoshop e Lightroom, que nos auxiliam a criar fotos impressionantes e inspiradoras.

Você leva sua câmera em turnê? Se sim, tem alguma foto favorita que tenha tirado enquanto viajava com a banda?

Gonzo Sandoval: Eu frequentemente carrego minha câmera, mesmo que não a utilize sempre para tirar fotos. Contudo, quando participamos de festivais e eventos semelhantes, a experiência é extraordinária. Tocamos ao lado de diversas bandas que admiro, e ter a chance de obter um passe para capturar imagens desses artistas é verdadeiramente um privilégio e uma grande honra. 

Eu aprecio muito essa oportunidade e gosto de registrar momentos do rock and roll. Existem muitas fotografias disponíveis, mas sempre existem aquelas que se destacam, seja da banda ou de qualquer indivíduo que eu tenha retratado.


O Armored Saint tem uma torcida forte e fiel no Brasil. Você tem alguma experiência memorável de visitas anteriores aqui?

Gonzo Sandoval: Nós somos apaixonados pelo Brasil! No ano de 2018, visitamos São Paulo e outros lugares. Lembro que, naquela ocasião, um amigo nos auxiliou a viajar ao Brasil pela primeira vez e nos levou a um incrível restaurante brasileiro. Gosto muito de carne, e lá havia uma extensa seleção de bifes e pratos saborosos. 

A forma como eles servem os alimentos, fatiando na nossa frente, é uma experiência inesquecível. Além disso, os fãs são muito acolhedores e sempre compartilham suas experiências sobre o impacto das músicas do Armored Saint em suas vidas. 

É realmente emocionante sentir essa conexão, e nós, como banda, sentimos isso também ao nos apresentarmos lá. A recepção do público foi verdadeiramente impressionante! Estamos bastante ansiosos para retornar ao Brasil no dia 3 de maio para o Bangers Open Air. Faremos um show bem pesado no estilo do Armored Saint.

Você trabalhou com o produtor David Jerden em Symbol of Salvation, e ele faleceu recentemente. Como foi trabalhar com ele e como você acha que a influência dele moldou aquele álbum?

Gonzo Sandoval: David Jerden, que descanse em paz, eu te amo. Sim, ele faleceu há pouco tempo. Meu irmão e eu ficamos gratos por termos sido convidados para seu funeral, então estávamos presentes quando ele fez a transição para uma nova fase de sua existência; sua presença era realmente impactante. 

Lembro-me dele demonstrando interesse em ouvir a banda antes de nos ajudar a produzir nosso álbum Symbol of Salvation. Ele compareceu a um dos nossos ensaios e recordo que nós conversamos sobre bateria. Eu comentei que adorava o som poderoso, semelhante ao do AC/DC, algo grande e forte, bem impactante; esse era o tipo de batida que eu desejava. Ele disse que também gostava disso, e imediatamente criamos uma conexão. Ele nos levou a um processo de gravação no El Dorado Studio, que era o antigo estúdio de Marvin Gaye na Sunset Boulevard, em frente ao Cat and Fiddle. 

As coisas mudaram ao longo do tempo, mas aquele era o local. Ele nos permitiu acessar o estúdio e tocar as músicas que planejava gravar para nos ambientar, acho que começamos isso no primeiro dia, seguindo para o segundo, terceiro, quarto e no quinto dia já tínhamos registrado cerca de cinco músicas. Pensamos: 'uau, realmente estamos indo bem', e então ele nos disse que as faixas estavam bem gravadas e eram boas, mas não o suficiente. Assim, ele descartou aquelas cinco primeiras músicas e recomeçamos. 

As novas composições acabaram se transformando no que Symbol of Salvation representou. Achei isso uma ideia brilhante, pois estávamos convencidos de que estávamos progredindo, mas ele nos deixou nos familiarizar com o estúdio e nos fez acreditar nisso. Quando finalmente estávamos prontos, ele disse que era hora de começar a gravação do álbum. 

Para mim, isso representou uma preparação para o processo, como um aquecimento para produzir algumas músicas e avaliar nosso desempenho, com ele nos indicando que a jornada agora se iniciava em um nível mais elevado, o que achei incrível.

Olhando para o futuro, o que vem por aí para o Armored Saint depois do Bangers Open Air? Algum plano para novas músicas ou mais turnês?

Gonzo Sandoval: Você está ciente de que muitas novas músicas estão a caminho, e há bastante conteúdo do Armored Saint por vir. Estamos atualmente trabalhando em um novo álbum, e no próximo mês (N.T.: a entrevista foi feita em março), começarei a gravar cerca de cinco faixas. Portanto, estamos nos organizando e nos preparando para apresentar o que espero ser o álbum mais extraordinário do Armored Saint até hoje. Temos tido a sorte de lançar álbuns realmente bons, e cada um deles é único. 

Mas, incentivamos todos os fãs no Brasil a saírem e absorver um pouco do Armored Saint. Estaremos ocupados, e você pode ter certeza de que estamos muito animados com isso. Mantenha contato conosco através do Facebook, Instagram, perfis pessoais no Facebook e Instagram, e aproveite o show. Cuide-se e venha curtir um pouco do Armored Saint. Nós os amamos!




terça-feira, 15 de abril de 2025

Entrevista – Savatage: o reencontro com os palcos que os fãs sempre sonharam

Por Gabriel Arruda 

Savatage, uma das bandas mais icônicas do Heavy Metal mundial, que conquistou seu auge entre os anos 1980 e 1990, anunciou seu retorno às atividades no final do ano passado, após quase uma década de hiato. 

O primeiro show dessa aguardada volta acontece neste fim de semana, no festival Monsters of Rock, no sábado (19/04), no Allianz Parque, em São Paulo, seguido por uma apresentação no Espaço Unimed, na segunda-feira (21/04). 

Em meio aos ensaios, o guitarrista Chris Caffery atendeu rapidamente o Road to Metal para falar sobre esse momento especial e outros assuntos relacionados à trajetória da banda.


Sei que vocês estão no meio dos ensaios, se preparando para os dois primeiros shows deste retorno, que vão acontecer nessa semana no Monsters of Rock (19/04) e o outro no Espaço Unimed (21/4). Como estão os preparativos finais? Imagino que deve estar sendo divertido revisitar essas músicas depois de tanto tempo.

Chris Caffery: Os ensaios têm sido incríveis. Honestamente, nem parece que se passaram tantos anos desde a última vez em que tocamos essas músicas juntos. É como andar de bicicleta, sabe? A gente nunca esquece.


Essa será a segunda vez que vocês tocam no festival Monsters of Rock. Naquela ocasião, dividiram o palco com bandas como Megadeth, Slayer e Dream Theater. Que lembranças você guarda daquele show e também dos outros dois que fizeram aqui?

Chris Caffery: Todos os shows que fiz no Brasil foram incríveis. O Monsters of Rock foi uma experiência inesquecível. Me lembro das câmeras da MTV me seguindo pelo palco em um momento que eu joguei minha guitarra na direção de uma câmera, quase fui parar na plateia, mas acabei me segurando nela e caí de volta no palco. 

Lembro claramente dos caras do Manowar me olhando e dizendo: ‘Isso é metal!’. Os shows principais também foram incríveis. No último que fizemos – o de São Paulo, há alguns anos – foi absolutamente insano. Como eu disse, cada show no Brasil foi uma experiência única. Nunca vou esquecer.


O último show do Savatage foi no Wacken, em 2015. Confesso que fiquei com um pouco de inveja por não ter estado lá para vê-los ao vivo. Mas agora são os fãs de outros países que terão que esperar, já que vocês escolheram o Brasil como ponto de partida para esse retorno. Existe um carinho especial pelo nosso país?

Chris Caffery: Com certeza. O Brasil, junto com a Grécia e a Alemanha, é um dos três países que realmente consideramos como uma segunda casa. Claro, a lista é longa... temos muitos amigos e fãs incríveis na Itália, na Holanda e em tantos outros lugares. Mas esses três, em especial, sempre tiveram shows ao vivo com uma energia única e inesquecível.

O Savatage ficou fora dos holofotes por bastante tempo, mas a música da banda continuou conquistando novas gerações. Imagino que, com o surgimento desses novos fãs, também tenha crescido o desejo de voltar aos palcos, até porque muitos deles nem eram nascidos quando a banda estava ativa. Isso pesou na decisão de voltar?

Chris Caffery: Eu sempre tive a esperança de que voltaríamos a tocar. Parte de mim sabia que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. Eu costumava dizer às pessoas que, quando chegasse a hora certa, eu estaria pronto. 

E chegou a hora. Desde a última vez que subimos no palco, ganhamos muitos novos fãs, como você disse, muitos nem estavam vivos na época! Estou muito empolgado para rever os rostos familiares, mas também para conhecer os novos fãs dessa legião que nos acompanha.


O período mais marcante do Savatage foi entre os anos 80 e 90. A banda não viveu tanto a era da internet, das redes sociais e dos serviços de streaming. Como você enxerga a cena do Heavy Metal hoje em dia?

Chris Caffery: É engraçado, porque pra quem tem a minha idade, o Heavy Metal continua sendo uma parte essencial da vida. Claro, mudou um pouco entre os mais jovens, hoje existem muito mais opções de entretenimento do que quando eu era criança. 

Mas a música ainda é muito especial, ainda ocupa um lugar importante na vida de muita gente. Eu diria que talvez não seja mais um estilo de vida tão dominante quanto era nos anos 80, mas vejo muitos fãs jovens super dedicados, e isso é animador. 

Também tem muitas bandas novas excelentes por aí. E os músicos de hoje têm acesso a muitos recursos online, isso ajuda a nova geração a atingir um nível técnico impressionante desde cedo. Quando eu era jovem, se você não tivesse dinheiro para aulas, era praticamente impossível aprender. Hoje você encontra tudo online e de graça.


Na sua opinião, está melhor ou pior do que naquela época? Muitos músicos dizem que os anos 90 foram um período difícil para o gênero, mas foi justamente ali que a banda lançou "Edge of Thorns", talvez a música mais emblemática da carreira do Savatage. Como foi enfrentar a ascensão de outros estilos musicais naquela época?

Chris Caffery: Como eu disse, naquela época a gente precisava se virar para aprender. Ou você pagava por aulas ou passava 20 horas tentando tirar uma música de ouvido. Hoje você abre um vídeo no YouTube e alguém te ensina um solo em cinco minutos. 

E sim, os anos 90 foram diferentes. Nos anos 80, o Metal estava em alta, era moda. Já nos 90, vieram as camisas de flanela, nada de maquiagem, nada de spray de cabelo. O Metal saiu dos holofotes e voltou para o underground, de onde veio nos anos 70, com bandas como Black Sabbath e Led Zeppelin. 

A diferença é que nos anos 90 surgiram grupos como Metallica, Alice In Chains e Pantera, que tinham uma pegada mais crua, mais de rua, mais próxima das raízes. Foi um contraste forte com o estilo glam que dominava a MTV nos anos 80, como Guns N’ Roses, Whitesnake, Mötley Crüe e Bon Jovi.

Além dos shows de reunião, vocês estão trabalhando em um novo álbum, previsto para ser lançado ainda nesse ano de 2025. O que os fãs podem esperar? Será uma continuação da onde pararam ou pretendem revisitar toda a essência do Savatage?

Chris Caffery: Nosso objetivo é fazer um álbum do Savatage que seja realmente grandioso. Já se passou muito tempo, então queremos garantir que ninguém se decepcione. O Savatage tem uma história musical rica, com composições cheias de narrativa, vocais marcantes, contrapontos e queremos continuar explorando tudo isso. 

Vamos honrar o legado do Paul O’Neill e usar todas as influências que ele nos deixou. Claro que sentiremos falta dele como letrista e produtor, mas vamos fazer o possível para canalizar sua energia e entregar o melhor disco que pudermos.


Chris, não quero tomar mais do seu tempo. Sei que você está bastante ocupado. Muito obrigado pela atenção! Você gostaria de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros?

Chris Caffery: Quero apenas agradecer por estarem sempre com a gente. Vocês são uma das grandes razões pelas quais estamos voltando. Sentimos a falta de vocês, amamos vocês e mal podemos esperar para vê-los de novo!