segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A Sorrowful Dream: Dark Metal com Alma e Paixão



Fundada em 1996 no interior do Rio Grande do Sul (Sapucaia do Sul), e agora radicada na capital, a Sorrowful Dream passou por diversas fases e trocas de formações, lançando nesse tempo diversos trabalhos oficiais, como Demo-Tapes, CD-Demos, participações em compilações e dois full lenghts, evoluindo e agregando novos elementos, mas fiel a sua proposta inicial, de criar uma música unindo o peso, melodia e melancolia, inspirada nos principais nomes que surgiram na Europa dentro do Gothic e Dark Metal, passando por elementos do Death e Black, utilizando-se de orquestrações, vocais femininos e violinos.

Somente em 2009 veio o primeiro full lenght, "Toward Nothingness", sendo muito bem recebido, trazendo novas músicas e algumas composições de trabalhos anteriores, em um registro que a banda e fãs já mereciam.

Em 2015 chegou a vez do segundo full lenght, lançado no final do ano, tendo uma apresentação especial de lançamento no Teatro CIEE em Porto Alegre, dia 17 de outubro, onde a banda apresentou "Passion" ao público.


"Passion" apresenta o ponto alto do grupo, apresentando uma evolução com relação ao anterior, algo que a banda sempre buscou em sua carreira, não poderia ser diferente. Um trabalho elaborado, repleto de emoções, beleza e melancolia. A começar pela capa, que vem em digipack, com uma bela gravura (criada por Tric Jonathas) representando o conceito do álbum, que a banda explica (em folheto que acompanha o álbum, o qual também inclui explanações a respeito de todas as músicas) não ter sido intencional compor um trabalho conceitual, porém os temas recorrentes nas letras e certa relação entre as músicas, pode-se considerar "Passion" uma obra dessa estirpe.

Em 10 faixas, incluindo o prelúdio com "Prolusion", a banda põe pra fora uma música que, percebe-se por todo o trabalho de composição, foi feito por quem realmente ama e acredita no que faz, e trata isso como arte, como expressão de sentimentos, e conseguem passar essas emoções ao ouvinte.

O Dark Metal, acho que é uma denominação mais abrangente aos componentes da música da A Sorrowful Dream (Gothic, Black, Death, etc), que seguiu agregando novos elementos, pela evolução natural como músicos, e pessoas,  o que foi compondo e fortalecendo a personalidade da banda, e a cada canção vamos descobrindo esses elementos, viajando com o grupo por todas essas emoções expressas, com doses de originalidade e ousadia.


Bom, seguimos com as faixas, aproveitando também as explanações da banda a respeito de que se refere cada canção, e claro, música está sujeita a interpretação pessoal de cada um, muitos sons e palavras podem tocar as pessoas de diversas e diferentes maneiras.

O prelúdio junta-se a "Amálgama", tema que traduz a paixão em sua forma mais mundana, ótimo tema, um dos destaques, originária de poema do mesmo nome, tendo trechos em português e inglês, é uma música com peso e melancolia, que já impressiona e gruda na mente, com belo trabalho de vozes, onde se destacam os vocais de Éder, que em vários momentos do álbum me lembra bastante Fernando Ribeiro (Moonspell), destaque também pera a beleza e melancolia dos arranjos de violino (um dos instrumentos que mais transmitem esse sentimento de melancolia) e piano; "Entwined", aborda os relacionamentos, orquestrações e incursões mais suaves se juntam ao peso das guitarras, além das diversas vozes, limpas, femininas, guturais, transitando pelo Doom e Gothic Metal; 

"Silent Words", uma música de transição, ainda se referindo a relacionamentos, destaco aqui os ótimos riffs, e a bela melodia de guitarra que se junta a voz de Éder e Josi no refrão, além dos trechos mais acústicos, uma balada praticamente, mas com trechos extremos; depois temos "Ephemeral", que conforme a banda apresenta, é uma música polifônica, com diversas vozes representando estados diferentes de personalidade e consciência, começa com melodias limpas, para depois ganhar peso, não esquecendo jamais das melodias profundas e melancolia que marcam as canções da banda.

"A Lullaby For Lunatics" é outros grande destaque, trazendo doses de originalidade, com a mistura de tango ao Dark Metal do grupo, nem sempre esses experimentos podem dar certo, mas aqui encaixou perfeito, de certa forma são duas formas de música que possuem como característica a melancolia. Muito bom.


"Solo Awakening" se aproxima do conceito de paixão como sacrifício, e aqui destaca-se o belo trabalho vocal de Josi, mesclando voz natural ao canto lírico, que tem em contraponto vocais guturais, com a música transitando por passagens mais arrastadas e mais intensas com trechos mais rápidos; "In Hebetude", que significa "estar em letargia", trata do contraste do mundo real e o "eu", em outra canção com bastante peso e intensidade.

"Only Blood Knows", é ponto crucial na paixão, onde os indivíduos percebem que esse caminho se encontra neles próprios. É bastante intensa, também  iniciando num andamento lento, iniciando com melodias quase etéreas, e a voz grave de Éder, quase num tom de narrativa, surge em uma interpretação carregada de emoção e teatralidade, tendo ao fundo o peso das guitarras e cozinha, além da companhia da voz suave de Josi, sempre acrescentando ainda mais beleza a esta peça repleta de variações instrumentais, em trechos mais etéreos, permeados pela melancolia dos violinos e piano, aos trechos mais pesados.


"Passion" é a conclusão do percurso, retomando ambos os sentidos da "Paixão", o mundano, ou a paixão amorosa, e o do sentido de sacrifício, doação.  Um gran finale carregado de belas melodias, peso e melancolia, destacando o brilhante desempenho nos vocais, principalmente com Josi e Éder "duelando", transmitindo muito feeling, em interpretações impecáveis, algo bem teatral. O instrumental traz peso e melodia bem dosados, destacando as belas melodias criadas por Mari Vieira ao teclado, e a cozinha de Tuko e Ricardo, com peso e precisão, sentando a mão sempre que a canção pede, os riffs abafados, pesados e soturnos das guitarras. Trilha perfeita para o tema cantado.

 Uma coleção de canções que agradarão a todo fã de bandas do estilo, que sentem saudades de grandes momentos de grupos como Theatre of Tragedy, Tristania e outros tradicionais nomes pioneiros do gênero, em um álbum carregado de melancolia, peso, melodia, beleza e música feita com paixão e alma.

Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação

Banda: A Sorrowful Dream
Álbum: "Passion" (2015)
País: Brasil
Estilo: Dark Metal
Produção: Sebastian Carsin e Ricardo Giordano 
Selo: Independente
Assessoria: War Gods



Canais da Banda:

Éder A. de Macedo (voz) 
Josie Demeneghi (voz) 
Aurélio Martins (guitarra)
 Lucas Vargas (gui/violino) 
Mari Vieira (teclados) 
Geovane "Tuko" Lacerda (baixo) 
Ricardo Giordano (bateria)

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