Veteranos do chamado “rock torto” finalmente desembarcaram em terras tupiniquins para uma apresentação elétrica em pleno domingo
Não é fácil ser fã do Converge no Brasil, não é fácil. Com mais de 30 anos de atividade e uma base de fãs considerável por aqui, o vocalista, Jacob Bannon, revelou em entrevista à Roadie Crew que “ninguém nunca me perguntou sobre nossas oportunidades no exterior”. Após anos e anos suplicando por uma apresentação dos nova-iorquinos, os fãs da nação verde-amarela finalmente acharam que teriam a chance de ver a tão cultuada banda em 2020, junto do Sick of it All, mas aí veio a pandemia. Depois de dois anos agonizantes de silêncio da produtora, o show foi adiado para o dia 27 de abril deste ano, dia do Summer Breeze, mas por conta de problemas com o guitarrista, Kurt Ballou, adiaram novamente para o dia 10 de novembro, domingo de ENEM. Nunca foi fácil…
A apresentação ocorreria no Cine Joia desta vez, tradicional casa localizada no centro da capital paulista. De acordo com Matthew Heafy, vocalista do Trivium, também é um lugar com “uma das paredes mais peculiares do mundo”. As portas se abriram às 19:00, com o MEE previsto para subir às 20:00 e os headliners às 21:00. O horário é complicado, mas como já disseram os pensadores contemporâneos Bruno e Barreto, “ir trabalhar amanhã é o cacete, hoje é só farra, pinga e foguete”.
Quando os paulistas do MEE subiram no palco, o clima virou. As pancadas que eles apresentam ao vivo são indescritíveis. A energia deles em estúdio é uma coisa, já é absurdo. No palco, multiplicam por 10. Dava para ver que os caras deixavam tudo no palco, estavam tocando com um fervor que não dá para fazer jus só com texto.
A casa ia enchendo aos poucos, e dizer que quem estava lá curtiu o show seria chover no molhado. Os pits gigantescos que rolariam no Converge ainda não haviam aparecido, mas havia uma parcela de fãs dedicados no meio da pista que as vezes ameaçava começar uma “bacueirazinha”.
O público batia cabeça, fazia two-step, até sambava conforme o som da banda ia metamorfoseando. Eles conseguem mesclar a brutalidade do hardcore com a experimentação e caos controlado do hardcore metalizado dos anos 2000 com a força dos breakdowns do ‘core moderno com maestria. Bom, resumindo, veja os caras ao vivo; eu mesmo não era muito fã do material gravado, mas depois do show, caralho.
Ao som de “Hello There”, do Cheap Trick, a atração mais aguardada da noite subiu no palco, após quase uma hora de intervalo do último show. Bannon e seus amigos vieram correndo para o palco, ocasionando gritos dos fãs. Nem precisaram nem começar os primeiros acordes de “Eagles Become Vultures” que um pit absurdo já surgiu no meio da pista. Nessa hora, estava do lado de dois bombeiros, e a cara que eles fizeram na hora foi impagável. Se alguém pegasse aquilo fora de contexto acharia que é atividade criminosa, briga de torcida organizada.
Como se os fãs já não estivessem elétricos o bastante, meteram logo “Dark Horse” (não é o “Meu Nome é Júlia”), destaque de “Axe to Fall”, de 2009. Era stagedive atrás de stagedive, era gente saindo na mão, se jogando. “Under Duress” não deixou a peteca cair, e em “Heartless”, o público já estava na mão da banda, gritando o nome deles, batendo palma no ritmo da música, apesar do vocalista não ter dirigido nem um simples “boa noite” ao povo; nem o incrivelmente clichê “São Paulo”.
A loucura não parava, a dobradinha da própria “Axe to Fall” e “You Fail Me” despertou algo primal, visceral nos fãs, culminando no estrago que foi “The Love We Leave Behind”. Para ter uma ideia, já na sexta música, os bombeiros que estavam do meu lado sumiram e foram correndo para a roda. Mais melancólica por natureza, “The Love” teve seu refrão cantado a plenos pulmões pelos presentes, e havia horas que parecia ter mais gente em cima do palco para cantar junto do que na pista. Chegou uma hora que Bannon simplesmente jogou o microfone no público e foi isso. Repito, era stagedive atrás de stagedive, tinha até gente pulando junto, de dois em dois. Sinto pena real de quem ficou na grade, porque o tanto de pézada na nuca que tomaram não tá escrito.
Fica até difícil escrever de show assim sem ficar um texto chato, repetitivo, porque o show foi isso, uma folia sem fim. Os fãs se jogavam como se amanhã não fosse segunda-feira e a galera não tivesse que trabalhar, Bannon cantava com uma força que parecia que ele ia explodir (vale destacar que ele era preocupantemente magro, só não voava por falta de aerodinâmica), o Ben Koller batia na bateria como se ela tivesse matado a mãe dele, Jeff Feinburg (baixista) ajudava com uns gritos do fundo da alma. Era uma energia animal.
Para não deixar passar em branco, rolou “Predatory Glow”, “Hell to Pay”, “Bitter and Then Some”, “Reap What You Sow” e “Cutter”. Um dos últimos pontos altos da noite foi a agressiva “Worms Will Feast/Rats Will Feed”, também do disco de 2009.
Bannon só foi falar com o público depois de sei lá quantas músicas, quando, ao ouvir um coro pedindo “The Saddest Day” (que havia sido tocada à pedidos dos fãs no Chile e na Argentina), perguntou se o público ainda estava lá com eles e anunciou que só tocariam mais duas músicas. Essas últimas duas não poderiam ter sido melhor-escolhidas: “I Can Tell You About Pain” e “Concubine”. Não vou nem tentar descrever o que foi “Concubine” ao vivo, só veja o vídeo.
Depois dela, brevemente desceram do palco, mas voltaram para fazer aquele bis que não pode faltar. O vocalista agradeceu bastante a presença de todos, dizendo que estava muito feliz de finalmente poder tocar no Brasil, elogiando o público. Como se ninguém esperasse, anunciou aquela última música que faltava, que todo mundo queria ver, “The Saddest Day”. Foi com ela que o show acabou, com o público em êxtase.
No geral, foi um show com uma energia ímpar. O Converge demorou para vir, mas quando veio, valeu a pena. Pelo que pareceu, os caras estavam curtindo no palco, então é de se esperar que venham novamente, mas com essas bandas com público nichado, nunca se sabe. Caso não vierem mais, a sua única passagem ficará marcada nos livros de história como um dia incrível, onde a banda tocou todos seus hits e os fãs foram à loucura. Só o horário mesmo que complicou muito, um show acabar depois das 22:30 em um domingo à noite quebra as pernas, mas, isso dá para relevar.
Texto: Daniel Agapito
Fotos: Tamires Lopes (Headbangers News)
Realização: Agência Powerline
Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia
MEE - setlist:
Electric Blanket & Chicken
Bargain
Depression
Dobre
Pidgeon Standard
Koro Syndrome
Day of Demolition
Weight
Saturated
Converge - setlist:
Eagles Become Vultures
Dark Horse
Under Duress
Heartless
Axe to Fall
You Fail Me
All the Love We Leave Behind
Predatory Glow
Hell to Pay
Bitter and Then Some
Real What You Sow
Worms Will Feed/Rats Will Feast
I Can Tell You About Pain
Concubine
Bis
The Saddest Day
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