quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Entrevista: Dynahead - Complexidade e Feeling

Dynahead está em processo de divulgação de seu disco "Youniverse"

A admiração que a equipe Road to Metal tem bela banda brasiliense Dynahead não é a toa. Um grupo que com apenas dois discos já se destaca por uma sonoridade verdadeiramente única, ao mesmo tempo que mescla inflências que vão do Heavy Metal, passando pelo Thrash, pisando firme no Metal Progressivo, além de elementos como o Jazz e a música brasileira, numa sonoridade tão complexa, mas que nos capta justamente pelo feeling.

Não é fácil uma banda misturar técnica com groove. Mas a banda formada por Caio Duarte (Vocal), Pablo Vilela (Guitarra), Diogo Mafra (guitarra), Diego Teixeira (Baixo) e o recem chegado Deth Santos (Bateria) mostra que isso é possível, desde sua primeira gravação, passando pelo debut album “Antigen” (2008) (aclamado internacionalmente) e agora o segundo e mais recente trabalho, “Youniverse” (2011), que segue a proposta da banda com novos elementos e maior complexidade e peso.

Na entrevista que segue, Caio Duarte nos conta um pouco sobre a banda, dando uma geral na carreira e falando sobre a nova formação, novo disco e a cena brasileira, entre outras coisas, como seu trabalho como produtor. Confira!


RtM: Vamos começar pela fase atual. “Youniverse” saiu este ano, numa ótima versão digipak e, à exemplo do primeiro trabalho completo, tem obtido grandes e positivas impressões. Qual é o atual momento da banda em relação ao disco? Estão em turnê, tem alguma nova música de trabalho, etc?

Caio Duarte: Saudações aos leitores, e muito obrigado por nos receber! Estamos naquele bom e velho processo de divulgação do disco. Infelizmente não é um lance assim tão estruturado, pois no mercado de hoje é meio impossível de se falar em turnês ou música de trabalho sem que se esteja, digamos, 'pagando o preço'. Assim vamos buscando meios de continuar tocando e espalhando nossa música, colhendo os frutos pouco a pouco.

RtM: Na época do lançamento do debut “Antigen” (2008), a banda declarou que o álbum tem um eixo em comum, mas que não pode ser visto como conceitual. Essa mesma declaração serviria para “Youniverse”?

Caio Duarte: Não seria o caso, pois o 'Youniverse' é um álbum conceitual pra valer. Ele não segue uma narrativa com personagens, mas as músicas obedecem a uma ordem natural e se interrelacionam diretamente.


Disco tem recebido criticas positivas de fãs e mídia especializada em todo o mundo


RtM: A faixa “Circles” não ganhou um vídeo clipe comum, e sim um filme. Como veio essa idéia, e a banda pretende repetir essa experiência em lançamentos futuros?

Caio Duarte: É um desejo nosso que o trabalho do Dynahead seja uma experiência além da música. Sempre falamos sobre fazer versões audiovisuais de músicas nossas, como uma forma de surpreender e aumentar a profundidade do trabalho. Infelizmente uma banda de classe trabalhadora como nós não pode se dar a tantos luxos, mas quando surgiu a oportunidade de inserir uma música da banda em um filme experimental, não pensei duas vezes. Sinceramente torço para que no futuro possamos fazer mais e mais experiências como essas.


RtM: No canal do Youtube da banda encontramos alguns vídeos sobre o processo de gravação de “Youniverse”. É notável a integração do grupo e o interesse de todos pelo disco. Dá para sentir o tesão que toda a banda sente ao falar desse grande trabalho. É isso que toda banda precisa para ter sucesso na criação de um disco?

Caio Duarte: Com certeza! Outra coisa importante é respeito mútuo, e manter a mente aberta às experiências e idéias mais loucas de todos. É um privilégio trabalhar com músicos tão talentosos e criativos, por isso procuramos sempre explorar tudo o que cada um pode oferecer.


RtM: Quem acompanha a carreira do Dynahead foi pego de surpresa com a saída de Rafael Dantas, que foi brilhantemente substituído por Deth Santos. Como foi esse processo de transição? E qual o perfil de um músico do Dynahead? Acredito que o ecletismo é uma peça fundamental, certo?

Caio Duarte: Foi um choque para todos, mas não chegou a ser triste pois o motivo foi bom, um passo importante para o futuro do Rafael. Ficamos preocupados diante da necessidade de substituir um baterista tão competente e que contribuiu tanto para criar o som da banda, mas tivemos a sorte de encontrar o cara certo na hora certa. Ele tem o ecletismo, a autenticidade e a personalidade tranquila que são essenciais para tocar com a gente. E ser tecnicamente foda não atrapalha também (risos)!


Nova formação em foto bastante descontraída


RtM: “Unknown”, a primeira demo, já mostrava um trabalho único, mas muitas criticas apontavam como uma banda que exagera na dosagem de vários estilos musicais. Isso em algum ponto chegou a preocupar vocês, o fato de muitos bangers não entenderem a proposta do grupo inicialmente?

Caio Duarte: Tanto não nos preocupa que de lá pra cá só aumentamos nosso experimentalismo (risos). Gostamos de confrontar essa mentalidade conservadora, o rock e o metal nunca foram provincianos! Todos os estilos musicais surgiram da experimentação, do ímpeto criativo. Infelizmente muita gente acha que esse trabalho não deve continuar, e que a função da música no século XXI é reproduzir os padrões do século passado, mas isso não passa de um pensamento colonial criado pelo mercado.


RtM: Ainda citando “Antigen” como vocês chegaram em James Murphy (Testament, Death) para fazer a mixagem ao lado da Dynahead? Um cara de fora auxilia ou atrapalha nesse momento tão importante para uma banda?

Caio Duarte: Conheci o James em fóruns pela internet, e fiquei surpreso com a qualidade do trabalho dele como engenheiro de som. Naquele momento foi crucial contar com o trabalho de alguém de fora, pois não sentia segurança para cuidar da masterização de um trabalho que já tinha tanto de mim. Aprendi muito de lá para cá e hoje sinto mais firmeza e confiança, por isso cuidei eu mesmo da masterização do 'Youniverse'.
Recentemente fiquei muito triste ao saber que o tumor cerebral do James, que havia sido contido anos atrás, está voltando. Ele é freelance e não tem plano de saúde, então sua família está fazendo uma campanha online para arrecadar fundos. Caso o leitor deseje ajudar com uma doação, pode obter informações neste link.


RtM: O mercado internacional soa muito mais receptivo para a sonoridade do Dynahead, certo? O que justifica essa triste realidade? Sendo você, Caio Duarte, um produtor, como você avalia o mercado musical nacional que ignora bandas excelentes e engole verdadeiras aberrações coloridas?

Caio Duarte: Muitas coisas justificam essa realidade, mas a principal é a submissão cultural do brasileiro à mídia e ao que vem de fora. A mídia pode fazer praticamente qualquer coisa vender se quiser: Agora são os coloridinhos, mas poderia ser qualquer outra coisa. A cultura popular é totalmente dominada pelo corporativismo.

Como produtor eu enxergo que existe música enquanto mercadoria: Os emos, duplas sertanejas, pop stars, são produtos fabricados e vendidos como sapatos ou brinquedos. Isso é música que movimenta a economia e alimenta famílias, e mesmo discordando muito dos mecanismos pelos quais isto é 'injetado' no gosto popular, não posso culpar um músico que toca algo assim para pagar as contas.

Mas também existe música artística, feita por paixão, criatividade: Antigamente esse nicho também era rentável, agora não é mais. O que me incomoda é que nesse universo ainda tem muita gente com mentalidade comercial, querendo ganhar dinheiro e colocando o mercado acima da música, o que no underground chega a ser estúpido. São essas pessoas que geram as modinhas, rivalidades, e a longo prazo afundam tudo.

RtM: É engraçado quando lhes pedem para citar influências que são abrangentes, já que os nomes vão de System of a Down, passando por Alice in Chains, Dream Theater e Pantera, além da música brasileira e do jazz. Na hora de compor existem bandas que de certa forma influenciam vocês diretamente, ou vocês não pensam nisso claramente?

Caio Duarte: No começo até que pensávamos, mas não fazemos mais isso... É muito limitante. Claro que sempre pinta um riff que a gente dá risada e fala "caramba, isso é muito X banda", mas nunca procuramos aludir a nenhum artista ou estilo. Compor assim se torna muitíssimo mais difícil e desafiador, mas é daí que surgem os momentos verdadeiramente criativos. Infelizmente isso não é muito valorizado no mercado, que confunde cópias bem feitas com qualidade, mas não nos impede de continuar desafiando o ouvinte.

RtM: Caio, você é conhecido pelo seu trabalho como produtor, tendo tido importante papel na produção dos discos da sua própria banda, além de outros nomes da cena brasileira. Como andam os trabalhos da BroadBand Productions? E qual álbum recente você gostaria de ter masterizado?

Caio Duarte: Ultimamente tenho trabalhado principalmente mixando e masterizando álbuns de bandas de outras cidades ou países. Já tive o privilégio de trabalhar com grandes bandas, e espero poder continuar fazendo isso por um bom tempo! Um disco que gostaria de ter masterizado é a versão em CD do último do Foo Fighters, "Wasting Light". O disco é brilhante, a mixagem maravilhosa, mas a masterização ficou tão exageradamente comprimida que a audição chega a ser dolorosa. Infelizmente as gravadoras têm exigido isso, o que é uma pena.


RtM: Quando quero apresentar o Dynahead para alguém que nunca ouviu a banda, mostro canções como “Layers of Days” e “Inception” que são fantásticas. Se alguém pedisse uma dica, quais são as músicas que melhor apresentam a sonoridade do Dynahead?

Caio Duarte: Acho essas bem representativas pois mostram duas facetas bem diferentes do nosso som: A "Layers of Days" mostra nosso lado direto, simples até, é bem pesada mas melodicamente inusitada. Já a "Inception" mostra um lado experimentalista, maluco e complicado, apesar de ter algumas partes quase 'comerciais'. Se fosse para juntar tudo em uma música só, diria que talvez a mais representativa seja a "Ylem".


Formação que gravou "Youniverse"


RtM: Sendo as músicas do grupo complexas, algumas deixam de ser executadas nos shows por isso, ou vocês compõem já pensando na possibilidade de tocá-las em um palco?

Caio Duarte: Nenhuma das nossas músicas são impossíveis, particularmente não sou muito fã da abordagem "Pro-Tools Metal" tão comum hoje... Mas não deixa de ser verdade que algumas dão muito trabalho (risos). Muitas vezes o que determina se uma música vai entrar no set list ou não são coisas como tempo de show, ou o quão bem ensaiada ela está. Gostamos de fazer shows intensos, por isso acabamos dando prioridade a músicas mais diretas... Mas quando pinta uma chance, é legal tocar um disco na íntegra por exemplo.

RtM: Quais são os planos do Dynahead para esse fim de ano e início de 2012?
Caio Duarte:
Continuar tocando, divulgando nosso novo álbum e levando o trabalho da banda para o máximo de pessoas possível. Também temos um videoclipe estreiando na TV, merchandise novo, entrevistas e muitas coisas para nos ocupar até o ano que vem. Estamos super empolgados para trabalhar em material novo, e se tudo der certo 2012 será um ano fantástico!


RtM: Obrigado pela entrevista e pela sua parceria Caio, que sempre se mostra bastante aberto a contatos. Gostaria de deixar um recado para os leitores do Road to Metal?

Caio Duarte: Sempre é um enorme prazer. Muito obrigado pelo interesse e por apoiar a patrimônio nacional, espero que tenham um sucesso cada vez maior! Ao leitor que tiver curiosidade, conheça, ouça, baixe e adquira nosso material no nosso site - www.dynahead.com.br - aonde você encontra também links para nossos canais nas redes sociais. Um grande abraço a todos, e força sempre!


Entrevista: Harley e Eduardo Cadore

Fotos: Divulgação


Acesse os links abaixo e conheça mais o grande trabalho da Dynahead:

Site Oficial

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Um comentário:

Deth Santos disse...

Obrigado pelo apoio galera!
Vocês são FODA!