domingo, 6 de janeiro de 2013

Entrevista: Soulspell - Ato II: "Sangue, Suor e Inspiração"




Apresentamos abaixo a segunda parte da entrevista com o Soulspell (acesse a primeira parte AQUI), sendo que neste segundo "Ato", temos mais especificamente a conversa com o criador do projeto, Heleno Vale, que fala sobre o mais recente lançamento, "Hollow's Gathering", um pouco do que envolve esse projeto pioneiro no Brasil, falando também do futuro e expectativas! Confira!

RtM: Primeiramente, queria repetir que o novo álbum está maravilhoso, e, para iniciar, gostaria que você falasse um pouco sobre a abertura, que é bem diferente, com a sereia fazendo um chamado no início, e depois o que vemos é uma verdadeira mostra do que é uma Opera Metal, pois “Hollow’s Gathering” é um verdadeiro turbilhão. Fale um pouco mais pra gente sobre essa grande abertura, sua composição, os coros fantásticos!

Heleno: Obrigado pelos elogios. Pessoalmente, eu acho que a abertura do Hollow’s Gathering, apesar de simples, é algo diferente do que qualquer banda já fez. Não é? Optamos por deixar de lado as introduções orquestradas para criar algo surpreendente e, ao mesmo, tempo, belo. A voz suave, delicada e maravilhosa da Lígia Ishitani se encaixou perfeitamente no discurso inicial da sereia Sybil. Dá pra sentir a lamentação do personagem na voz da Lígia. Eu arrepio sempre que ouço essa introdução e posso dizer que estou bastante orgulhoso do começo deste disco.

Quanto ao restante dessa faixa introdutória, eu considero que ela mantém um nível de qualidade muito bom até o seu desfecho e posso apontar alguns pontos fortes principais, como os teclados do Fábio Laguna, que é um monstro nacional (assim como o Gabriel Magioni), a bela voz e imenso talento de Daisa Munhoz, a melhor vocalista do Heavy Metal mundial, a gravação e produção dos corais pelos inúmeros vocalistas, produtor e mixagem. Ainda, pessoalmente, quero destacar o final desta música. Considero-o um dos trechos mais “arrepiantes” e tensos de todos os três discos (ultrapassando até mesmo meu final favorito até então, da música A Secret Compartment do disco anterior). 


O coral dos demônios, aliado à voz poderosa e altíssima do Mário Pastore no final, em meio aos contra cantos de Daísa Munhoz, Iuri Sanson e Jefferson Albert cria um clima único e com uma qualidade de vozes difícil de ser superada. Claro que eu espero que consigamos melhorar sempre e estamos todos trabalhando muito, desde já, para alcançarmos momentos ainda melhores e mais emocionantes em nosso quarto disco.


RtM: Deve ser compensador ter o trabalho pronto, lançado e estar recebendo tantas críticas positivas, tanto no Brasil como no exterior. Temos uma ideia de como as pessoas envolvidas devem ter trabalhado para que esse álbum se tornasse realidade, mas só você mesmo para saber. Os resultados e a repercussão até agora lhe deixaram satisfeito, os resultados são os que você esperava, ou ainda é cedo? Vi que em algumas lojas, o CD chegou a esgotar, tendo que ser reposto o estoque novamente.

Heleno: Sim. É impossível explanar em palavras meu orgulho e contentamento. O disco já teve que ser reposto em diversas lojas do Brasil e do exterior e este é certamente nosso disco de maior vendagem. Também se trata do nosso álbum com as melhores críticas e com o maior número de resenhas e entrevistas concedidas. Tudo isso aponta que estamos em evolução, o que nos anima para continuar firmes. Porém, a questão financeira ainda é um grande problema pra gente, pois ainda estamos longe de atingir algo compensador para os gastos envolvidos. Mas, como nunca vou fazer algo somente por dinheiro, muito pelo contrário, está tudo caminhando muito bem. 

Sobre as críticas, sempre há críticas que me deixam muito feliz, outras de onde consigo tirar conselhos muito bons para melhorar e outras que me deixam bastante triste, pois é nítido que foram feitas sem o devido respeito de ao menos escutarem o disco algumas vezes antes de escrever. É como se eu tivesse que resenhar uma obra de artes vendo seu desenho somente no computador. Não é a mesma coisa, né? Para resenhar um disco do Soulspell (e de outros projetos do tipo, claro) eu acredito que o profissional devesse escutá-lo diversas vezes, ler sua história, ver o desenho de seus personagens, etc. Infelizmente não é isso que é feito na maioria das vezes, desperdiçando assim pelo menos 50% do nosso trabalho.


RtM: “A Rescue Into Storm” e “To Crawl or To Fly”, foram as que me chamaram atenção mais rapidamente, e continuam entre as minhas preferidas, completando com a faixa de abertura, uma trinca bombástica! Acredito que você deva ter ficado satisfeito com essa abertura? Comente um pouco mais sobre elas, e, claro, a primeira aparição de convidado internacional no álbum, no caso Amanda Somerville.

Heleno: Apesar de ter tentado equilibrar mais as faixas desse novo álbum, eu sempre me importo bastante com as três primeiras faixas, pois são as faixas que certamente serão escutadas pela maioria das pessoas que tiverem o primeiro contato com o Soulspell através desse álbum. Eu realmente acredito que todos os nossos álbuns até o momento possuem excelentes entradas com Age of Silence, Troy e Alexandria, The Labyrinth of Truths, Dark Prince’s Dawn e Amon’s Fountain e Hollow’s Gathering, A Rescue Into The Storm e To Crawl Or To Fly. Eu acho que todas essas faixas teriam espaço num disco ao vivo do Soulspell. 

Na verdade eu estou tentando produzir um vídeo clipe de A Rescue Into The Storm, pois adoro essa faixa e acho que ela seria perfeita para retratar o tema do álbum. Sobre a participação da Amanda Somerville, posso dizer que é uma das melhores vocalistas do planeta, ao lado da Daisa Munhoz e que ela sempre foi muito gentil e atenciosa comigo. É uma grande artista e uma excelente pessoa. Vou acompanhar todos os seus trabalhos pelo resto da minha vida e pretendo trabalhar com ela novamente, se ela quiser, pois acho que o talento dela é tão grande que ainda podemos explorar diversos outros aspectos de sua voz.

Amanda Somerville (Trillium, Avantasia, Epica, Kiske/Somerville)

RtM: Neste ACT III aparece um personagem, o aprendiz, interpretado por Emeka, e me parece que esse personagem terá um destaque nos capítulos que se seguem, estou certo?

Heleno: Ainda posso trabalhar muito a voz do Emeka, pois acredito que essa foi uma de suas primeiras gravações e que ele tem muito mais pra render pro Heavy Metal brasileiro ainda. Porém, não posso garantir que seu personagem vai ou não vai continuar na trama. Eu não quero dar detalhes do quarto capítulo da história nesse momento, pois ainda nem consegui postar no site a história da terceira parte. O fato é que o Emeka foi o segundo colocado no nosso segundo concurso para vocalistas, ficando atrás apenas do Pedro Campos e que ele tem muito talento a ser explorado ainda. É um excelente vocalista com um alcance de voz absurdamente alto. Quase nenhum dos nossos vocalistas possui o alcance de Victor Emeka.

RtM: E o que você poderia falar das participações dos grandes Tim Ripper e Blaze Bayley, conhecidos por suas passagens por Judas Priest e Iron Maiden, respectivamente?

Heleno: Eles não chegaram aonde chegaram à toa. Ambos tiveram participações brilhantes e extremamente interligadas à história do Soulspell. Eu pedi ao Tim Ripper que desse uma interpretação única, exclusiva e diferente de tudo que ele já havia feito para esse personagem tão místico e especial que seria a sagrada árvore morta. Eu precisava de algo diferente e especial. O resultado final me surpreendeu muito, com uma atuação impressionantemente forte e muito bem caracterizada. Os fãs mais fiéis devem arrepiar o tanto que eu arrepio no último refrão dessa música, sabendo o que a letra significa (a melhor letra que já escrevi, em minha opinião). Sobre o Blaze Bayley, eu posso expor palavras análogas às sobre o Tim Ripper. O meu relacionamento profissional com ambos foi muito parecido e o resultado final tão bom quanto.

Tim "Ripper" Owens (Judas Priest, Iced Earth e outros)

RtM: Bom, seguindo adiante, você mencionou que em ACT III tentou “corrigir” algumas coisas que achou que poderia ter feito diferente com relação aos álbuns anteriores, agora, depois do álbum pronto e lançado, e tendo excelentes críticas, você acredita que conseguiu alcançar o resultado que queria? De cara pode-se notar que álbum também está mais veloz e melódico.

Heleno: Sim. Estou certo de que melhoramos em muitos aspectos com relação aos “erros” dos discos anteriores, porém agora eu quero corrigir os erros do disco atual (risos). É sempre assim, né? Um processo constante de evolução. Quando esse sentimento parar de acontecer comigo, eu acho que será a hora de parar, pois nada mais terei a contribuir para a música e para o Heavy Metal Nacional.


RtM: Neste ACT III, as participações internacionais vieram em peso, como foram os contatos com eles? Algum em especial foi mais complicado de conseguir a participação? Teve alguém que você chegou a contatar para este álbum, mas acabou não rolando?

Heleno: Todos foram processos de negociações bastante metódicos. Porém, se eu tivesse que apontar um mais complicado, o Blaze Bayley ganharia por décimos do Tim Ripper (risos). Mas é um processo bastante emocionante e gratificante quando dá certo. Estou bastante feliz com o time que montamos e pretendo montar um time ainda melhor para o quarto álbum. E, claro que houve contatos que ainda não puderam gravar neste disco, mas que certamente registrarão suas vozes em nosso próximo álbum!!!!

Heleno Vale

RtM: Legal!!! E certamente tem muita gente que você gostaria de ter em um álbum do Soulspell, mas cite aí 5 nomes que você gostaria que participassem de um próximo trabalho.

Heleno: Eu não gosto de responder esse tipo de questão. Geralmente eu “escorregaria” dessa questão (risos). Mas, como a entrevista está tão maravilhosa, eu vou responder alguns nomes que vêm à minha mente neste momento. Antes gostaria de informar que não foi realizado contato algum e que nem mesmo houve uma avaliação dos estilos de personagens que teremos no próximo álbum, portanto não sei se poderemos convidar esses nomes já (mas um dia certamente eles serão convidados, pois sou muito fã de todos). Eu gostaria muito de ter conosco o Joacim Cans do Hammerfall, o Andi Deris do Helloween, o Timo Kotipelto do Stratovarius, o Andria Busic do Dr. Sin e o André Matos.

RtM: E quanto aos personagens interpretados pelos convidados internacionais, como você avalia a participação deles? Eles incorporaram os personagens da maneira que você idealizou? Como você procedeu para que eles conhecessem a história e realmente entrassem no clima dela? Pessoalmente, acredito que eles incorporaram muito bem a história.

Heleno: Sim. Todos tiveram algumas das melhores performances do disco quanto a incorporação dos personagens. Foi até uma surpresa pra mim, pois eu achei que os brasileiros fossem estudar mais que os gringos o material.

RtM: Quais os momentos mais difíceis que você passou para poder levar o projeto adiante? Sabemos que não é nada fácil realizar um projeto dessa grandeza por aqui!

Heleno: Todos (risos). Nada foi, é, ou será fácil para manter o Soulspell vivo. Quando você lida com muitos artistas ao mesmo tempo, você tem que ter muito jogo de cintura e o Soulspell nada mais é do que uma mistura de dezenas de artistas, cada um com suas particularidades. Particularmente as turnês foram muito complexas, principalmente a parte do nordeste que foi bastante traumatizante para todos nós, apesar do aprendizado. 

Os primeiros contatos para o primeiro disco também foram bastante complexos, pois o Soulspell não era nada, então era muito difícil negociar alguma coisa com artistas tão renomados. Agora eu acho e espero que as coisas estejam se tornando menos complicadas. Com certa experiência adquirida, consigo tomar certos atalhos que podem simplificar e viabilizar determinados fatores.

RtM: Pelo que você falou, a história teria sete partes. O quanto dessas partes você já possui idealizadas?

Heleno: Tenho todas as partes idealizadas. Ainda não sei se serão sete partes. Eu tenho sete resumos de partes escritas, porém posso facilmente transformar essas sete partes em cinco ou seis ou oito ou nove partes, portanto é impossível saber o que vai rolar. Vai depender muito do mercado, da aceitação do Soulspell, da minha situação de vida e financeira etc. Além disso o Soulspell é um projeto “família”, quando esse clima de família não existir mais, eu acho que devemos parar.

RtM: Tito Falaschi tem sido seu companheiro nessa empreitada desde o início. Gostaria que falasse um pouco sobre essa parceria que vem dando tão certo e se além do Soulspell você cogitam trabalhar em outros projetos juntos?

Heleno: O Tito Falaschi é mais que um produtor pra mim, é um professor e acima de tudo um amigo. Eu o considero a mente musical mais genial desse país e o quero ao meu lado no Soulspell durante todos os álbuns. Não cogitamos trabalhar em outros projetos juntos. Nosso relacionamento é interno ao projeto Soulspell e eu acho esse respeito, cumplicidade e reciprocidade maravilhosos. Acho que por isso que nos entendemos musicalmente tão bem. Há esse espaço para outros projetos e para a vida fora da música. Não vamos dar o passo maior que a perna.

Tito Falaschi
RtM: Bom, mais uma vez parabéns pelo projeto, obrigado a você, Heleno, e a toda a família Soulspell!! Pra terminar, fale sobre o finalzinho do álbum, que tem um gancho para a próxima parte. O que você pode nos adiantar sobre as “cenas dos próximos capítulos”?

Heleno: Antes de terminar eu gostaria de te dar os parabéns por estas perguntas tão conscientes, interessantes e bem estudadas. Eu dei mais de 20 entrevistas nacionais e internacionais sobre este álbum e esta é a que estou mais contente em responder.

RtM: Muito obrigado pelo elogio, agradeço em nome de toda o Road Team! 

Heleno: Bom, sobre o finalzinho do disco, os fãs mais fiéis devem ter reparado que se trata da voz de Padyal, personagem interpretado por Jefferson Albert convocando a libertação de um novo ser maligno para a nova parte da trama. Portanto, pode-se concluir dali que o grande Jefferson Albert, o maior talento revelado nos últimos anos no Brasil, ao lado de Daisa Munhoz, terá maior participação no álbum e que haverá uma nova voz “do mal”, forte, masculina ou feminina (não podemos descartar as vozes do mal femininas), participando da trama.

Entrevista e edição: Carlos Garcia
Colaboração: Renato Sanson
Fotos: Divulgação e Arquivo da banda






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