quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Matéria Especial: Passado e Futuro se Colidem nos 15 anos da NERVOSA Em Uma Coletiva de Imprensa na Galeria do Rock

Selma Alves

Por Bruno França 

Prestes a concluir uma turnê de sucesso que comemora os primeiros quinze anos de existência da banda, a NERVOSA retorna ao seu país de origem - o Brasil - para o fechamento de um ciclo, ao mesmo tempo que inicia um novo.

A Galeria do Rock, um dos maiores templos do Rock e do Metal não só do Brasil, mas da América Latina, hospedou uma coletiva de imprensa na noite que antecedeu o último show do ano da banda (marcado para o dia 5), no teatro do Sesc Bom Retiro.

A coletiva aconteceu no espaço recém-aberto da Arena Galeria, localizada no 5º andar, ao passo em que as integrantes estavam visivelmente governadas por uma animação com o evento.

Tendo iniciada precisamente às 19:27, Prika Amaral (guitarra e voz; líder), Helena Kotina (guitarra), Emmelie Herwegh (baixo) e Gabriela Abud (bateria) cumprimentaram todos os presentes e responderam várias perguntas dos jornalistas dos mais variados veículos, abordando sobre temas como a diversidade cultural ao redor do mundo, o poder da cena brasileira, o consumo da música nos dias atuais, as influências ao redor das composições dos álbuns, entre outros tópicos.

Abaixo, estão alguns dos temas abordados.


JANEIRO MARCA O ALVO: UM NOVO ÁLBUM

Passadas as devidas formalidades, a coletiva se iniciou não com um sussurro, mas sim com um estrondo: o anúncio oficial de que o próximo álbum está a caminho. A composição do sucessor de "Jailbreak" (lançado em 2023) está em níveis avançados, e é garantido que tenhamos novidades sobre ele já em janeiro do ano seguinte, na forma do primeiro single.

A canção mais recente, "Smashing Heads", foi feita como comemoração neste momento tão especial que o quinteto multinacional passa atualmente, sendo a primeira participação oficial da holandesa Emmelie Herwegh como integrante nas atividades do baixo e da brasileira Gabriela Abud assumindo a bateria, após a partida da búlgara Michaela Naydenova no começo do ano passado.

Carregando a característica de um zeitgeist, a faixa não estará presente no novo álbum, conforme confirmado pela fundadora e líder Prika Amaral.

Uma segunda bomba foi lançada em sequência: não haverá nenhuma participação especial.

Traçando um paralelo com as suas origens, o primeiro álbum da sua discografia, "Victim of Yourself", é o único que não possui participação especial de nenhum(a) outro(a) musicista. E tal característica será repetida no próximo lançamento.

Uma vez mais, a produção conta com o argentino Martin Furia, peça importante no patamar que a NERVOSA se encontra atualmente, seja pelos seus conhecimentos como guitarrista do DESTRUCTION, seja pela sua experiência como produtor que guia as integrantes enquanto mantém uma qualidade sonora mais polida do que a anterior.

Bruno França

DUAS CABEÇAS PENSAM MELHOR DO QUE UMA

Uma característica um tanto incomum que envolve a NERVOSA é o fato dela possuir duas baixistas. A grega Hel Pyre nem sempre pode estar participando dos shows por duas razões centrais: a mesma virou mãe recentemente, e as suas responsabilidades familiares entram em rota de colisão com as performances e as atividades da banda. 

Não obstante o fato dela ocasionalmente ser convidada para participar dos shows da lenda viva KING DIAMOND, como aconteceu numa turnê europeia recente, onde ela assume as tarefas de backing vocals e do teclado. Adicionalmente, a grega ainda realiza shows com a sua banda de Black Metal W.E.B., cantando enquanto também toca baixo.

A fundadora Prika se pronunciou ao se certificar de que, apesar das imagens promocionais recentes mostrarem tanto ela quanto Emmelie juntas, não é a intenção ter ambas simultaneamente no palco. Há um pouco mais de dois anos, Emmelie esteve disponível para preencher essa lacuna diante da indisponibilidade de Hel Pyre.

Considerando que não é desejo da mesma sair, e respeitando esta decisão, Prika então decidiu que ambas fazem parte da família NERVOSA, tornando Emmelie Herwegh como também uma integrante efetiva.

Selma Alves

GOSTOS PLURAIS TORNAM A VIDA MAIS PRAZEROSA

Prevendo que a Prika seria bombardeada com a maioria (quase unânime) das questões, este repórter se prontificou em providenciar uma variada para que as outras membras também pudessem se expressar. Sendo assim, a primeira das duas perguntas realizadas foi direcionada à Emmelie (a primeira pergunta realizada em Inglês na conferência). Ao ser questionada sobre a visão estreitista a qual muitos possuem de que quem gosta de Metal "só pode gostar disso", a holandesa se pronunciou (em verbatim):

"Na minha opinião, as pessoas podem gostar daquilo que preferem. Então se é apenas Metal, tudo bem. Só que para mim, a música é mais do que isso. O Metal é o meu gênero preferido, é o que mais gosto de tocar, amo a comunidade como um todo e tudo a respeito.

Mas eu também recebo inspirações de muita música Pop, especialmente de artistas femininas. Para mim, elas são muito empoderadoras. Há também mulheres no Metal, mas tenho também ídolas na música Pop, as quais eu adoro e tenho como referência.

Por mim, cada um escolhe o que preferir. Não importa em abstrato o que cada um gosta, todos são livres para apreciarem aquilo que os agradam.

Não é uma luta ou uma competição, música se trata de ouvir tudo o que existe nela".

Bruno França

AS FERRAMENTAS DO TRABALHO: UM RESUMO SOBRE COMO OCORREM AS COMPOSIÇÕES

Durante o momento para a composição de material novo, Prika deixou claro que não é interessante ficar numa visão linear de apenas um "Thrash Metal cru".

Adicionalmente, acrescentou que todas as integrantes são muito bem-vindas para darem os seus pontos de vista e que possuem boa liberdade no ato da composição em si.

"Então a gente trás outros elementos, outras ideias, outras coisas. E não se fechar, não direcionar a sua inspiração, sabe?

Fazer a arte é você liberar ali a sua expressão, a sua... é não ter medo! Se eu quero cantar limpo, eu vou cantar limpo. Se eu quero soltar uma gutural, eu vou cantar gutural", explicou a líder.

Elaborando sobre a sua parte do processo, Gabriela se manifestou (em verbatim): "Eu espero que as pessoas realmente se conectem do jeito delas - não do jeito que a gente quer -, mas que chegue nelas. A letra. Tipo... a música tá foda, mas a letra... eu acho que ela tá mais foda".

Ou seja, a própria também está fazendo parte da escrita das letras do próximo álbum.

Ato contínuo, a baterista revelou que, por vir de uma escola mais moderna, traz algumas das suas influências vindas de GOJIRA e de LAMB OF GOD, por exemplo.

Selma Alves

UMA DÉCADA E MEIA EM RETROSPECTIVA

Quando Prika Amaral foi questionada sobre o show final que fecha a atual turnê, se teremos alguma participação especial, talvez a aparição de alguma integrante antiga, a membra fundadora revela que só percebeu a chegada dos quinze anos no final de 2024.

"Fiquei muito feliz que a gente conseguiu fazer o primeiro show de comemoração de quinze anos em São Paulo" (N. da R. = na primeira edição do DARK DIMENSIONS FEST, coincidentemente no aniversário da cidade, cuja cobertura foi feita por este repórter, disponível aqui na ROAD TO METAL).

Após contar que cinco shows foram realizados no Japão com setlists diferentes e que rolou a ideia de fazer shows em ordem cronológica, ela continua, (em verbatim):

"E aí casou de a gente fazer o último show deste ano (e último show da turnê) em São Paulo. Eu falei: 'vamos fazer esse show, só que bem elaborado e tal'. A gente vai estudar melhor como que a gente vai fazer, o que vai falar e tal. A gente construiu isso... e a gente vai tocar em um teatro, né? E lá no Sesc Bom Retiro é todo mundo sentado. 

Então fez muito sentido a gente fazer esse tipo de formato. A galera não vai poder ficar agitando muito (o que é uma pena), mas eu vou estar ali para a gente tocar as músicas, fazer um 'revival' da NERVOSA e contar a história também".

Finalizando a pergunta, a natural de Bragança Paulista revela que teve um disco gravado nos Estados Unidos, além de outros pedaços de informações que o público talvez nem saiba: “vai ser meio que isso: um stand up, mas não 'comedy' [risos de todos].”

Selma Alves

A POTÊNCIA DO BRASIL DIANTE DA COMUNIDADE INTERNACIONAL

Ao ser questionada sobre a cena nacional e a importância do nosso país ao redor do globo, a resposta de Prika foi (em verbatim):

"A gente sabe que aqui tem lugares para tocar. É possível viver de música no Brasil, sim. É difícil - pra caralho - sim. Mas é possível. Porque a gente tem exemplo disso, né? Agora a gente tem festivais aqui. O BANGERS tem uma representatividade e uma importância enorme para a nossa cena. O que eles estão fazendo não é fácil, entendeu?

Eu sei que tem muitas coisas a melhorar e tal, tudo mais. Mas eu admiro todo mundo envolvido que fez isso acontecer, os que estão ali tentando segurar... Isso tem uma importância enorme, eu bato palmas e sou agradecida eternamente a eles, porque é uma coisa muito importante. É o maior festival de Metal que a gente tem atualmente no Brasil. Na América Latina, eu te digo, porque tem muitos festivais que a gente já tocou que não existem mais, sabe?

Então, assim... é muito importante isso. O Brasil tem uma importância na cena Metal enorme. Não só pelas bandas, sabe? Mas porque é referência.

Gente, o maior público do IRON MAIDEN é aonde?

[Todos]: 'No Brasil'.

Então. A gente tem um poder absurdo e a gente é admirado pelo mundo inteiro".

Selma Alves

O CONSUMO DA MÚSICA NO PASSAR DAS GERAÇÕES

Mantendo a mentalidade de fazer com que as outras integrantes possam compartilhar melhor os seus pensamentos, este repórter fez a sua segunda e última pergunta à grega Helena.

Considerando que a forma como consumimos música mudou drasticamente desde o período da adolescência (N. da R. = devido ao fato deste repórter e da guitarrista serem basicamente da mesma geração) até os dias de hoje, a grega foi questionada sobre o que ela acha deste "rito de passagem".

Helena então elaborou que existem aspectos positivos e negativos da época de outrora, assim como dos dias atuais. Poder pegar no celular e ter acesso a uma biblioteca quase interminável de discografias possui o fator "conveniente" ao entrar em determinados aplicativos para este fim, e é ótimo para poder expandir a sua biblioteca particular.

No entanto, ela admite possuir uma nostalgia de quando ia para as lojas de discos para poder interagir com outras pessoas de gostos similares, porque além de sair conhecendo uma banda nova, ela também voltava para casa com um amigo em potencial, então ela lamenta que o aspecto da socialização entre as pessoas teve uma grande queda atualmente.

Similarmente, ela confessa adorar os discos físicos. Ao estar com ele nas suas mãos, poder pegar nele, ver o encarte e a materialização do trabalho dá uma alegria diferenciada do que apenas escutar o som no seu aplicativo preferido, o que está gradualmente se tornando uma arte perdida, mas que ainda assim consegue viver na era moderna.

Bruno França 

TODAS AS COISAS BOAS NÃO PRECISAM CHEGAR AO FIM

Com a coletiva chegando ao seu fim, junto com o agradecimento vindo da Arena Galeria, pudemos perceber que a NERVOSA respeita o seu passado, seus antecessores e um amadurecimento profissional visível.

A noite estelar deixou uma leve chuva para acompanhar o terraço da Galeria do Rock, e a longa sombra do palco reflete a longa estrada a ser percorrida, ficando o desejo de que mais quinze anos sejam comemorados no futuro previsível.

Viver de banda autoral numa indústria que requer mudanças imediatas introduz o conceito do desafio constante, mas pela vivência na prática, as integrantes exalam confiança e segurança em suas falas e através da linguagem corporal, honrando o gênero que fazem parte e garantindo não só agradar quem já as acompanha, mas também fazendo com que os ouvintes novos se sintam confortáveis em casa.


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