Nova formação, mas o mesmo espírito Heavy Metal oitentista |
Lendárias bandas da nossa cena nacional lutam e lutam por anos a fio, na busca de seu espaço e de um lugar na memória fonográfica, tornar sua música e seu nome imortal.
Pode ser que muitos nem conheçam, e eu mesmo não vivi a época, mas a Tailgunners, banda lá do início dos anos 90 que, com percalços na estrada, acabou por lançar apenas dois discos, mas ambos aclamados e não passando despercebidos (“Battlefield”, de 1998 e “Behind the History”, de 2001), até que os artilheiros voltam a atacar e de forma fulminante.
Recém lançado, “The Gloomy Night” (2013) vem agregar outro ótimo trabalho à trajetória da banda que, se não possui uma discografia extensa, jamais decepcionou, afinal, contou com vocalistas de gabarito, como Mário Pastore (ex-Acid Storm, Soulspell, Pastore) e Roddy B (Avenger), e sempre bem servida de instrumentistas, incluindo aí os fundadores e remanescentes irmãos Lennon (baixo) e Lely Biscasse (guitarra), além do batera Gustavo Franceschet.
No destaque, o baixista Lennon e o baterista Gustavo gravando o vídeo clipe "Gloomy Night" (assista aqui) |
Para completar o time, que precisaria de um ótimo guitarrista para fazer dupla com Lely e fazer jus ao legado do Tailgunners, o acerto foi feito com Raphael Gazal (ex-Pastore) e um ótimo vocalista, encontrado em Daniel Rock, que caiu do céu (aonde acharam esse cara?) e faz um trabalho fenomenal.
Primeiro single do álbum (download free aqui) |
São 11 faixas de puro Heavy Metal oitentista, o chamado tradicional, com a veia pulsante na New Wave of British Heavy Metal, sendo prato cheio para amantes de bandas como Iron Maiden e Saxon. Mas engana-se quem pensa que a banda é uma mera cópia mal feita da Donzela. Não, há muita qualidade nas composições do grupo, tanto é que na primeira audição, pelo menos metade do álbum vai ficar grudado na sua cabeça. E alguém em sã consciência faz Heavy Metal sem querer que isso aconteça?
O disco, muito bem produzido pelo recém chegado Raphael Gazal no Stage Dive Studio, embora possua uma capa simples (mas bem nobre, feita por Daniel Mattos), traz canções seminais de Heavy Metal, para ninguém botar defeito. E tem como colocar defeito em faixas como “Gloomy Night”, que abre o disco rápida e com o baixo à lá Steve Harris de Lennon no talo? Ou, ainda, em “The Vampire is Me”, primeiro single do disco, com riffs poderosos da dupla Gazal e Lely?
Temos uma sonoridade oitentista, mas sem soar datada, sem graça ou que pretenda agradar apenas os saudosistas de plantão. Uso afirmar, sem receio de errar, que este é um dos melhores discos puramente NWOBHM já feitos no Brasil e, disparado, o melhor disco do gênero que ouvi este ano (seguido de perto pelo novo do Hellish War).
Guitarrista Lely Biscasse |
Daniel Rock, novato na banda e desconhecido por este redator, fez seu dever de casa e foi além, pois cravou com personalidade sua voz macia na história da banda. As canções nascem e morrem nos ouvidos e você tem a certeza de que jamais outro vocalista poderia cantá-las tão bem.
“In My Eyes” traz uma faceta mais pesada da banda, mas sempre mantendo a essência: refrões grudentos, melodia e riffs secos; “Kill the Beast”, minha favorita, começa com a cozinha Gustavo e Lennon quebrando tudo e o melhor vocal de Daniel do disco, sem falar nos riffs cavalgados, deixando o terreno pronto pra bater cabeça; “Living in My World” é um prato cheio aos guitarristas, lembrando Running Wild, e é certamente onde a dupla Gazal e Lely mais “se solta”, tomando conta da música, destacando-a no conjunto da obra; ainda com destaque às guitarras, “My Reign” começa com riffs marcantes, logo invadidos pelo baixo evidenciado e vocais inspirados, com bastante nuances de variações (ouça a parte final e depois me diga se não se arrepiou).
Com "The Gloomy Night", banda volta com um dos melhores lançamentos do ano |
Como todo headbanger que se preze, a banda não podia deixar de trazer uma “Balada Heavy” e esta veio em “As the Same Side”, com dedilhados altamente influenciados pelo Accept (ainda bem!), vocais nota 10 e a participação da talentosa Barbara Wegher, que coloca sua bela voz em dueto com Daniel, no momento mais bonito do disco.
Apesar de apenas 3 discos, Tailgunners já marcou seu nome na história do Metal nacional |
O peso volta com “The Hunt”, outra destaque do álbum, com bons backing vocals, rapidez e, tornando-me repetitivo, ótimo refrão, sem falar que Lennon segue possuído e descarregando no baixo toda sua paixão pelo Metal. Seguem, para caminhar pro fim, “One of Them” (destaque para Daniel e a dupla de guitarras pesadas), “Fallen Tears” também te coloca a bater cabeça sem dó e, para fechar, a épica do disco, com 10 minutos exatos, “Vlad Tapes: The Impaler”, que, apesar de nesta altura o ouvinte já ter sido capturado por completo, vem mostrar, de uma vez por todas, que a banda voltou e tem muito o que ensinar para esta nova geração da música nacional, que muitas vezes ignora os pioneiros e aqueles que lutam há década pelo sonho de tocar Heavy Metal. “The Gloomy Night” é o meu disco do ano. Leu até aqui e não foi ouvir ainda? Vá e não precisa me agradecer depois.
Stay on the Road
Texto e Edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Tailgunners
Álbum: Gloomy Night
Ano: 2013
País: Brasil
Tipo: Heavy Metal (NWOBHM)
Selo: Independente
Formação
Daniel Rock
Lennon Biscasse (Baixo)
Lely Biscasse (Guitarra)
Raphael Gazal (Guitarra)
Gustavo Franceschet (Bateria)
Tracklist
1 - Gloomy Night
2 - The Vampire is Me
3 - In My Eyes
4 - Kill The Beast
5 - Living in My World
6 - My Reign
7 - At The Same Side
8 - The Hunt
9 - One of Them
10 - Fallen Tears
11 - Vlad Tepes: The Impaler
Ouça o single “The Vampire is Me”
Acesse e conheça mais sobre a banda
Um comentário:
Como eles conseguiram convencer o Steve Harris a tocar no álbum?
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