O que me chamou imediatamente atenção na sonoridade da banda Norte Americana Sunrunner é que é muito orgânica, parecendo quase que gravada ao vivo, pois geralmente quando pensamos em Progressivo, principalmente atualmente, já imaginamos um som altamente técnico e polido, às vezes até demais, sendo que algumas bandas são só recomendadas aos aficcionados pelo estilo, mas aqui neste caso, a banda possui muita competência instrumental, e além dos tradicionais Guitarra/Baixo/Batera, utilizam-se de instrumentos étnicos, flauta e violino, mas, como eles mesmo explicam no seu release, a intenção é acrescentar vários elementos, mas sem deixar o som polido e pomposo demais, soando até um pouco cru, e o resultado neste terceiro álbum, e primeiro que ouço deles, "Heliodromus", acredito que ficou muito próximo desse "casamento" perfeito, desse lado mais técnico com o mais cru.
A gravação das guitarras, baixo e bateria, foi feita mesmo, primeiramente de forma analógica, ao vivo, e depois transferido para o processo digital, acrescentando tudo mais (demais instrumentos, overdubs, solos, vozes...), depois de mixado, voltaram para o analógico, com a masterização feita em fitas, então, veja que interessante o processo, que funcionou muito bem para chegar no que a banda queria e o trabalho ter essa sonoridade, bem "ao vivo", lembrando as bandas setentistas.
Falando em sonoridade setentista e as referências no som do trio Sunrunner, podemos perceber traços de bandas como Yes, Maiden, Jethro Tull, Purple e Sabbath. Lembrei muito do Jethro Tull porque é uma banda que também tem essa diversidade, os arranjos folk e experimentos que davam um tempero extra, mas também sempre teve uma certa crueza, e também dos primeiros trabalhos do Rush, que tinham aquela crueza, mas a gente percebia que a banda tinha uma qualidade diferenciada.
Essa influências e muitas surpresas positivas você vai encontrando durante a audição, e o álbum merece várias e atentas, e lhes afirmo, gosto mais dele a cada audição. Após a intro "Dies Natalis Soli Invicti" , temos "Keepers of the Rite", que mostra o lado mais Metal Old School, andamento acelerado,com direito até a guitarras dobradas e ótimos solos; "Corax" já mostra muitas dessas outras texturas, mas com uma base que remete imediatamente ao Sabbath, temperada por arranjos de violino, guitarras acústicas e um algo de Pink Floyd, em resultados muito agradáveis e surpreendentes, e aí em seguida "The Horizon Speaks" vem com mais um riff bem Sabbath, entrecortada por trechos mais progressivos, mudanças de andamentos e arranjos de flautas.
"The Plummet" tem um clima totalmente folk, desde os arranjos vocais e coros, toda ela acústica, destacando os arranjos de violino; depois desse momento acústico e folk, vem porrada com "Technology's Luster", onde o trio senta a mão num heavy com crueza, guitarras dobradas, tendo até seu momento mais melódico, mas o que manda mesmo é a pegada! Essa diversidade das faixas e todas as surpresas deixam a audição sempre intrigante, e tem aquela qualidade que cada vez fica mais rara, que é a de manter o interesse do ouvinte em todas as faixas.
E o que falar da faixa título? Já iniciei a frase de forma clichê, mas vamos lá. A primeira coisa que me veio a cabeça enquanto ouvia a música "Heliodromus" foi a frase que usei no título da resenha: "Viagem Heavy Progressiva", e é isso, é o que o release também tenta passar, una todas essas influências que citamos acima, o Sunrunner é uma soma de todas essas texturas e referências, e deixam correr solto, numa música criativa, com vários elementos, peso, passagens acústicas e progressivas, e tendo aquela pegada e crueza que muito faz falta atualmente. E além disso não é fácil manter o interesse em uma música de 21:13 minutos! E os caras conseguem!
Temos que citar também o conceito muito interessante das letras, que fala sobre os mistérios do Mitraísmo, religião nascida na época Helenística, no Mediterrâneo Oriental. E a banda conta uma coincidência interessante, pois durante a composição do álbum, examinando manuscritos de religiões pagãs encontraram a palavra "Heliodromus", que significa "Corredor do Sol" (Sunrunner), ou "aquele que te leva para uma jornada pelo universo", então frente a essa coincidência, foi impossível não escreverem a respeito.
Recomendo o álbum, que é inventivo, intrigante, tem essa sonoridade orgânica e ao vivo, percebe-se o feeling e o gosto do trio em produzir música, e esse ingrediente é o principal. Um trabalho que cresce a cada audição. Lembrando que a banda desembarca no Brasil em agosto para quatro shows (Confira a agenda AQUI), portanto, ótima oportunidade para conferi-los, pois tenho certeza que produzem um ótimo show.
Texto: Carlos Garcia
Informações do Álbum/Banda
Banda: Sunrunner
Álbum: Heliodromus (2015)
País: EUA
Estilo: Heavy/Progressivo
Selo: Minotauro Records
Shows e Imprensa Brasil: Eliton Tomasi (Som do Darma) eliton@somdodarma.com.br
Line-Up:
David Joy: Baixo e Vocal
Joe Martignetti: Guitarra e Vocal
Ted Macinnes: Bateria e Vocal
Track List
1) Dies Natalis Soli Invicti
2) Keepers Of The Rite
3) Corax
4) The Horizon Speaks
5) Star Messenger
6) The Plummet
7) Technology’s Luster
8) Passage
9) Heliodromus
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