quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Resenha de Show - Dave Lombardo: O Mestre!


Neste domingo que passou (30/08/2014), o Bar Opinião entalhou mais uma marca imortal na história do Metal de Porto Alegre. Recebeu a autoridade entidade maior da bateria do Thrash Metal mundial: Dave Lombardo!

Como era de se imaginar, diferente de um show, o público foi mais restrito. Na maioria, músicos querendo receber o bálsamo do conhecimento direto da fonte do mestre, havia uma pequena parcela de público que não esteve lá atrás de conhecimento, mas sim de estar perto daquele que embalou (embala) os finais de semanas etílicos. Músicos ou não, certamente todos fãs de Slayer e desejando, ao menos, pousar ao lado do mestre para congelar o tempo ao lado do ídolo.


A noite abriu com os músicos Eduardo baldo (Hibria), Renato Siqueira (It's All Red) e Francis Cassol (Scelerata), cada músico teve a oportunidade de executar algumas músicas. Três dos nomes de maior peso do Metal porto alegrense se fizeram presentes e tamanha foi à surpresa em constatar que, a apresentação dos “nossos guris” foi praticamente um show à parte. Eduardo representando o Hibria, trouxe o espírito do “Silent Revenge”, que ainda está exalando energia e pleno poder, claro que ninguém saiu ileso. Oportunizou a execução de “Deadly Vengeance” e “The Shelters On Fire” (esta do disco “Blind Ride”). Esbanjou técnica, velocidade e precisão.


Renato levantando a bandeira do It’s All Red, não deixou barato, trouxe uma pegada mais Heavy com as “Birth With a Líquid Desires” (que por acaso, é nome de uma obra de Salvador Dali) e “Poisonous”. No canto direito, Francis Cassol, disparava pancadas com requinte de um matador e a precisão de um “Sniper”. Brindou com “Breaking The Chains” e “Rising Sun”. Intercalavam as apresentações e entre uma música e outra, eles trocavam idéias rápidas com a platéia ou entre eles.




Ao final executaram um medley trazendo grandes clássicos do Metal mundial, dentre eles Metallica. A cena contemplada pelos presentes era de quatro baterias montadas no palco. Mais do que simples colegas de uma mesma paixão pela bateria, fizeram questão de transparecer amizade e admiração mútua. Cada um com seu kit particular, cada um com suas técnicas próprias, mas compartilhando o mesmo orgulho de anteceder a apresentação do mestre!

Chegada à hora, Dave assume o controle da situação se posicionando no kit de bateria com o logo da Ludwig. Entra no palco tranquilamente e sem muita vibração, ostentando a calmaria de quem já subiu no palco tantas outras vezes e tem muita noção de que, a pressa, agora não se faz necessária. Primeiramente iniciou um solo que mais lembrava uma “Jam” de combinações entre velocidade, técnica e força. Alguns minutos depois emendou em um Medley dos maiores sucessos do Slayer e dentre eles “Season In The Abyss”, “South Of Heaven”, entre outras. Porém quando começou a intro da “Raining Blood”, a realidade tocou os bangers presentes. Sim, o ser superior que gerou novos padrões dentro Heavy/Thrash Metal, estava ao alcance de um abraço. Após a marcante introdução musical, Dave continuou posicionado atrás da bateria, porém trocou as baquetas pelo microfone por um tempo.




Apresentou-se (como se fosse necessário), vez um breve apanhando geral de sua carreira e das bandas em que esteve presente. O Show musical havia estancado, por pouco tempo, para dar lugar ao show de simpatia e bom humor. Impressionante como a figura que consegue concentrar todo ódio e agressividade desse mundo, em uma compilação (na realidade em várias, uma de cada vez) pode ser tão gentil, bem humorado e simpático. Tanto que chegou ao ponto de deixar a plateia escolher em que língua queria se comunicar com ele, ofertou espanhol e inglês (em especial, a oferta do Espanhol vem acompanhada da nacionalidade cubana de Dave), brincou que, só não poderiam escolher Português.
- “Gosto de perguntas, muitas perguntas!” – finalizou.

Quando perguntado sobre o começo da carreira, respondeu que começou bem cedo, em torno dos dezesseis anos. Gravou com o Slayer pela primeira vez aos dezoito. Comentou que bem no começo, usava pratos muito grandes e as vezes era preciso jogar uma camiseta por cima dos “Cymbals” para ajudar a catalisar um som mais coeso. Com o passar do tempo foi acertando e montando o kit conforme a necessidade sonora. Comentou sobre a organização da bateria conforme a afinação dos tons. Durante a noite, teve a delicadeza de um “lorde” para responder toda e qualquer pergunta direcionada. Quando questionado sobre as experiências ao lado dos Slayer, falou que ajudou a construir não só a identidade sonora da banda, mas também a identidade visual. Sendo ele o responsável pela logo do Slayer como todos nós conhecemos hoje. Traçou o nome da banda com movimentos, e isso deu origem à identidade gráfica do nome do grupo. Causou risos quando comentou que Kerry King queria batizar a banda de “Wings Of Fire”, porém o nome não foi bem aceito entre o grupo. Sobre as influências, Jimi Hendrix e Led Zeppelin ao lado de Cream ajudaram a construir a personalidade musical de Dave.




Falou um pouco sobre como é estar na PHILM e o quanto exige da capacidade, comparou tocar no Slayer como se fosse correr uma maratona. Movimentação intensa e cadenciada, já na Philm ele comentou que é algo mais polido e trabalhado, exige “algo mais”, segundo o músico. Expressou que não tem a mínima intensão de estar, novamente, em uma banda que possa significar concorrência com o Slayer. Deixou claro que não consome bebidas alcóolicas antes de se apresentar. Falou que após as apresentações até bebe, e que especialmente na noite de sábado iria ficar “drunk With caipirinha”. Porém foi enfático ao dizer:

 “... Isso não é saudável, álcool te faz perder velocidade. Quando você vê seus amigos morrendo porque bebem demais, você não consegue respeitar músicos que bebem.Meu conselho para músicos que querem ter uma longa carreira, mantenha-se saudável. Coma vegetais, consuma frutas e vitaminas.”. Então se presume que o “ficar drunk” de Dave, pode estar longe do que o imaginário ilustrou com o discurso do baterista.

Muito mais do que um workshop WorkShow, a noite foi ao limiar de uma entrevista coletiva, mas sim, houveram grandes momentos de inspiração e ensinamento. Ouvi alguém devolvendo um comentário final para Dave com um: “Thank you for sharing your knowledge With us...” e a entonação das palavras entregava, não só o código fonético desdobrado, mas gratidão. Nos momentos finais o músico se chegou à borda do palco quando alguém o questionou sobre a técnica dos pés. Muito bem humorado ele retornou para trás da bateria para buscar o banquinho e um dos pedais para demonstrar bem de perto o que iria indicar. Enquanto estava a caminho da bateria, sorrindo ao microfone, ficou repetindo:

“Technical foot... technical foot... technical foot... technical foot... hum!”




Chegou-se a beira do palco, posicionou o banquinho e o pedal e demonstrou a maneira que apóia o pé sobre o chão de maneira que não cause lesão e nem canse a perna. Indicou que o banco não pode ficar muito alto e nem muito baixo, basta controlar para que o joelho fique dobrado numa razão de 90º mais ou menos. Dave Lombardo atualmente preza pelo som natural da bateria e por um kit mais enxuto em função dessa busca (alias o kit de Dave, nesta noite, era o mais singelo. Talvez por causa desta nova filosofia sonora). O músico retoma seu trono sagrado do lado da bateria onde é supremo, e despeja outro medley para encerrar a noite, mas não antes de questionar sobre o que queriam ouvir. Precisaram um ou dois ensaios para um grupo perto gritar em coro:

 - “War Ensemble...”

Sim, claro! “War Ensemble” – Repetiu Dave levando a mão na cabeça em um riso acanhado. Como se estivesse pensando: Claro, como pude deixar passar essa! Assumiu a bateria pela derradeira da noite e fez o que sabe fazer de melhor mais uma vez. Pra encerrar, todos os bateristas subiram ao palco e promoveram uma chuva de baquetas.  Dave despediu-se do palco com os braços erguidos em aceno e largo sorrido no rosto. Por fim permaneceu na casa e tirou fotos e assinou materiais de todos (mas todos mesmo) que permaneceram até o final.




Às vezes passamos por momentos de grande significância emocional, que mal conseguimos transpor as lembranças em palavras ou caracteres. No dia 30 de agosto de 2014, algumas pessoas que cresceram com o pôster do Lombardo colado na parede, puderam trocar algumas palavras, fizeram fotos e receberam poucas dicas diretamente do ídolo. Momentos como esse atravessam a retina e se alojam diretamente no coração. Até criam um Backup na memória em caso de acesso rápido, mas nunca mais sai do coração de um fã. Obrigado Dave Lombardo, Parabéns Abstratti e parabéns Opinião Produtora.

Texto/fotos: Uillian Vargas
Revisão/edição: Renato Sanson

Um comentário:

Samyr disse...

Essa foi a melhor resenha que eu já li no Road To Metal! Parabéns!