segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Entrevista - Forgotten Tomb: Depressivo, Gélido e Influente


O Forgotten Tomb surgiu em meado dos anos 2000 na pacata cidade italiana de Piacenza, onde seu mentor e líder Herr Morbid iniciava o que viria a ser chamado de Depressive Black Metal.

Uma sonoridade distinta, mas que carregava muita influencia do Doom Metal, aliado aos momentos mais frios do Metal negro.

Passados quinze o FT se consolidou no estilo, se tornando referencia para muitas bandas mundo a fora, e construindo uma bela base de fãs.

Conversamos com seu criador o guitarrista/vocalista Herr Morbid, que nos fala sobre a possível vinda da banda ao Brasil, novo disco, o que acha do termo Gothic, influencias e muito mais!

Confira agora mesmo:


Road to Metal: O Forgotten Tomb está na ativa há quinze anos, onde pratica um Black Metal com influencias de Gothic e Doom. Como surgiu esta mescla, e vocês imaginariam que chegariam tão longe com uma sonoridade tão oriunda?

Herr Morbid: Nós nunca tivemos qualquer influência gótica e eu, pessoalmente, desprezo tudo associado a esse termo, exceto o álbum do Paradise Lost "Gothic" e Type O Negative (o que não era "gótico" para mim de qualquer maneira). "Gothic" na minha visão significa mulheres vestidas como Morticia Addams, vocais operísticos femininos e teclados orquestrais, e nunca teve nada disso.

O FT foi um dos criadores do que é hoje em dia chamado de Depressive Black Metal, porém o fato é que eu desprezo o que as pessoas querem dizer com essa definição nos dias de hoje também. Nós originalmente misturamos coisas Black Metal como Burzum, Manes, e Thorns com o antigo Doom/Death precocemente assim como Paradise Lost e Katatonia, o tradicional Doom Metal, como Black Sabbath e Saint Vitus e Dark-Wave dos anos 80, como Joy Division e Sisters Of Mercy. Ao longo dos anos temos implementado algo do clássico Hard Rock, e as influências alternativas dos anos 90 e de Sludge em nosso som. Eu acho que o sucesso veio junto, porque estávamos sendo muito originais quando começamos este som peculiar e as letras eram diferente do seu habitual "Satanás", "florestas", "Viking", "montanhas" e besteiras como essa. Nós introduzimos a miséria urbana e letras temáticas e psicológicas, fodidos pensamentos no Black Metal. Eu também acho que nós tivemos a coragem de evoluir álbum após álbum e para incluir novos elementos, sem esquecer o passado...

RtM: Em 2012 vocês lançaram seu sexto álbum da carreira, “...And Don't deliver us from evil”, que mostra o lado Doom mais presente, com inserções mais sombrias e climas mórbidos. Como foi o processo de composição do mesmo?

HM: O álbum nasceu de um momento muito atormentado da minha vida e ele mostra isso. As letras das músicas são muito extremas e a música propriamente dita, foi uma boa mistura de FT e novos elementos "Love’s Burial Ground " (FT-era), como os riffs de groove e andamentos.

Os elementos Darkwave estavam presentes também, como na canção "Adrift". Ele foi muito agressivo, mas mantivemos uma atmosfera muito estranha e mórbida. Eu também gostei do vasto uso de guitarras acústicas. O álbum inteiro parecia muito frio e sem esperança, mas também muito furioso.

Ultimo lançamento da banda, que apresenta influencias que vão do Darkwave ao Black Metal
RtM: Já existe material novo sendo composto? Se sim, ele seguira a linha dos dois últimos trabalhos?

HM: O novo álbum foi gravado e será lançado nos próximos 2-3 meses pela Agonia Records. Nós gravamos com o produtor norueguês Terje Refsnes (Carpathian Forest, Geena, Novembre) e fomos para uma abordagem mais old-school para o som, tudo soa muito natural e direto, em comparação com os últimos dois álbuns que foram mais frios e um pouco mais produzidos.

Este é menos mecânico e mais orgânico, soa muito "ao vivo" de alguma forma. Estilisticamente as peças de groove foram aumentadas embora haja também algumas batidas da explosão da velha escola e nossas linhas de guitarra base clássicas e melancólicas. Parece muito dos anos 90 em um sentido amplo, ou seja, ele recebe influências de Alternative Metal, bem como Black Metal dos anos 90, tudo soa muito anos 90 sobre este novo álbum. Ao mesmo tempo, na mixagem conseguimos soar muito atuais em comparação ao o que a música oferece nestes últimos tempos.

Herr Morbid
RtM: Ouvimos rumores que o FT virá ao Brasil, isso é verdade? Se sim, o que os fãs podem esperar? Pois é sabido que a banda tem muitos seguidores pela America do Sul.

HM: No momento, estamos considerando uma pequena turnê no Brasil com um promotor, sabemos que temos uma forte base de fãs na América do Sul e estamos planejando isso há um bom tempo, mas os planos sempre davam completamente errados por um motivo ou outro.

Vamos torcer para que desta vez as coisas funcionem para que possamos trazer a nossa doença  musical por aí! Você pode esperar um bom setlist com músicas de todos os nossos álbuns e uma abordagem muito poderosa para o palco. Sem frescura, altos volumes, a atitude de” kick-ass” e muita bebida!

RtM: Vocês conhecem alguma coisa da cena Metal no Brasil?

HM: Bem, é claro que conheço coisas clássicas como o Sepultura e Sarcófago, e eu também gosto de Mystifier, Krisiun, Vulcano, Overdose, Ratos de Porão e The Mist. Eu sei sobre o Angra também, mas eu não gosto deles em nada. (risos)


RtM: Vocês são de um país que de certa forma o Metal Extremo não é tão forte, como é fazer uma sonoridade que vai na contramão? Quais dificuldades já encontraram nesse período?

HM: Eu prefiro dizer que a Itália não teria um gênero peculiar. Existem muitas bandas boas nos dias de hoje, abrangendo vários estilos de Metal, embora não temos uma cena que identifica a Itália. No passado, eu acho que nós tivemos uma "cena mais ligada ao oculto" com bandas como Death SS, Necromass, Mortuary Drape, Opera IX, Funeral Oration, mas ao longo dos anos as coisas mudaram um pouco, embora a maioria dessas bandas ainda estejam ativas.


Existem algumas bandas notórias de Power Metal da Itália, que eu não gosto, mas ainda existem também nomes dentro do Death Metal e do Grindcore  que são muito bons, enquanto no Black Metal existem alguns bons nomes, mas a maioria deles são muito underground.

Forgotten Tomb é bastante diferente do resto de bandas italianas, uma vez que tornou-se maior fora da Itália desde o início e fomos reconhecidos fora daqui também, então, como consequência  se tornou popular na Itália muito pouco tempo depois. Além disso, realizamos bastante tours em comparação com todas as outras bandas italianas de Black Metal. Para ser honesto, eu estou muito orgulhoso de que um monte de gente do exterior” ligar” a  Itália com o nome Forgotten Tomb, o que é uma grande realização pessoal.


RtM: No começo da carreira a sonoridade do FT era comparada as bandas Doloriam e Burzum, o que vocês acham disso? Gera algum tipo de desconforto essas comparações?

HM: Eu não tenho nenhum problema com isso, especialmente no que diz respeito ao Burzum, que eu ainda considero muito importante para o nosso som, musicalmente falando.

Quanto ao Dolorian eles eram “grandes”, o seu primeiro álbum em particular foi impressionante quando ele saiu e, provavelmente, até certo ponto subliminarmente algo que nos influenciou, mas apenas no primeiro álbum "Songs To Leave". Esse álbum foi uma original mistura de várias influências com algumas ideias novas jogadas com bom gosto e a atitude correta. Embora eu ache que "Springtime Depression", tenha definido nosso estilo melhor e realmente foi um lançamento que se destacou por sua vez, e influenciou centenas de bandas que vieram depois e acabou criando se um subgênero inteiro no Black Metal.


RtM: Para finalizar, gostaria que falassem um pouco de suas influencias e deixassem um recado aos leitores do Road to Metal. Mais uma vez muito obrigado.

HM: Nossas influências vêm de uma série de estilos musicais, tanto dentro do Metal quanto fora. Além dos clássicos do Black Metal da década de 90, e material especialmente “sinistro” como Thorns, Strid e Manes, eu diria que nós gostamos de coisas como o início do Paradise Lost, clássicos do Hard Rock dos anos 70 e 80, em seguida, o material de bandas como Celtic Frost e Venom, old Doom/bandas de Death Metal, muita música dos anos 90, como Alice In Chains, Fudge Tunnel, Buzzoven, Helmet, Eyehategod... Bandas Punk, material Crust, Darkwave, até mesmo um pouco de Pop e música eletrônica . 

Nós principalmente desprezamos toda essa coisa de Power Metal e 90% das coisas que saiu no Metal após o ano 2000, mesmo que você ainda possa encontrar alguns bons lançamentos aqui e ali.

Saudamos aos leitores da Road to Metal, confiram nossos lançamentos e esperamos velos na tour em 2015!

Entrevista/edição/revisão: Renato Sanson
Tradução: Nanda Viddoto/Marlon Mitnel


Acesse e conheça mais a banda:

Nenhum comentário: