Brujeria faz apresentação enérgica e celebra legados de Juan Brujo e Pinche Peach na capital Paulista
Apresentação, que fez parte da turnê em memória dos vocalistas que faleceram em 2024, contou com baixista do Carcass e filho de Juan Brujo
A Fabrique Club, localizada na Zona Oeste de São Paulo, recebeu, no último dia 11 de outubro, um dos shows mais especiais e simbólicos da banda de Deathgrind Brujeria, no que foi parte da sua 13ª passagem pelo Brasil. Desta vez, o grupo estadunidense (e com total alma mexicana) se apresentou como parte da turnê que celebrou a memória e o legado dos vocalistas Pinche Peach (1966-2024) e Juan Brujo (1968-2024), que faleceram em julho e setembro do ano passado, respectivamente, por complicações cardíacas.
O evento, produzido pela Estética Torta, não teve banda de abertura e contou com uma Fabrique Club consideravelmente cheia e com total energia por parte do público, que foi guiado pelos clássicos da banda em 17 faixas, com foco nos três primeiros discos: “Matando Güeros” (1993), “Raza Odiada” (1995) e “Brujerizmo” (2000), Houve, também, uma música do disco “Pocho Aztlán” (2016).
O quarteto, que tinha como destaque as presenças de John Christopher Lepe (El Sativo) na bateria e de Jeff Walker (El Cynico), do Carcass, no baixo, foi enérgico ao longo de todo o show, seja na execução instrumental, seja no contato com o público, feito principalmente pelo vocalista Henry Sanchez (El Sangrón), que discursou, dançou, fez pequenas atuações e danças em determinadas e fez a “mediação” dos cigarros trazidos por parte dos fãs para os membros, antes de “Consejos Narcos”. Da mesma forma, Sangrón fez ótimas execuções vocais que firmaram o legado de Brujo e Peach naquela noite.
A sinergia entre banda e público gerou, nos pouco mais de 40 minutos de show, um ambiente que com certeza simulou o México e que tornou a noite mais especial. Por consequência, houve muitos coros e picos de intensidade por toda a pista e nos moshes abertos no centro dela.
Quarenta minutos de legado e de uma “Fabrique Mexicana”
As luzes da Fabrique apagaram momentaneamente às 19h55. No palco, apenas um tripé com um dos coletes de Juan Brujo e uma a cabeça que muito lembrava a da capa de “Matando Güeros”. E a iluminação voltou com três músicas introdutórias que transformaram o local em um verdadeiro ambiente mexicano para aquele show: “El Perro Negro”, do cantor e ator Antônio Aguilar (1919-2007); “El Rey”, de Vicente Fernández Jr. (1940-2021); e “Satanas”, de Publio Martínez.
Eis que a gravação inicial de “Brujerizmo” começou a tocar, marcando a entrada dos membros do Brujeria. O primeiro foi El Sativo (bateria), filho de Juan Brujo, seguido de El Criminal (guitarra), El Cynico ou, simplesmente, Jeff Walker, do Carcass (baixo) e, por último, El Sangrón (vocal). Os últimos segundos de expectativa, somados com a euforia da entrada dos músicos e o riff de guitarra da faixa em questão foram os ingredientes essenciais para um boom de cantos e de pessoas na roda que se formou no centro da pista da Fabrique Club.
“El Desmadre” fechou a primeira dobradinha de um álbum, o “Brujerizmo” (2000), com toda a sonoridade Deathgrind poderosa proposta no álbum. Já “Hechando chingasos (Greñudos locos II)” trouxe os ânimos de volta à roda e ao bate-cabeça, que pelo ritmo de quem estava nela naquele momento, serviria facilmente como um exemplo de entropia. Esta dinâmica “aleatória” de parte dos fãs seguiu com a música “Anti-Castro”, faixa com críticas ao regime cubano e com destaques para pessoas que fugiam do país caribenho em barcos de pneu, buscando uma nova vida em outros países como o México. A sonoridade brutal de Groove Metal e Deathgrind chegou com tudo em “Vayan Sin Miedo”, que gerou gritos eufóricos a partir do riff tocado por El Criminal e cadenciado por El Cínico (Jeff). Isso refletiu em um mosh pit mais insano na pista e com gritos em nome da faixa nos refrões.
O Brujeria continuou a apresentação com uma sessão de críticas e reflexões sobre a questão imigratória e do tráfico na fronteira entre México e Estados Unidos, a partir das populares “La migra (Cruza la frontera II)” e “Ángel de la frontera”. Na segunda música, inclusive, El Sangrón, como de costume, chegou a se ajoelhar e gesticular para os céus, rezando e suplicando pelo anjo mencionado na faixa.
A música “Chingo de Mecos” foi dedicada para as mulheres. Apesar do conteúdo explícito da letra, o maior destaque dos quase um minuto e 20 segundos da faixa foi a série de blast beats que El Sativo realizou de forma brutal na bateria, dando mais velocidade aos já rápidos riffs de guitarra tocados por El Criminal. “Christo de La Roca” veio em seguida, como uma espécie de “canto narrado” sobre um traficante que se autodenominou o “Cristo da cocaína”, além de potentes riffs e pedais duplos em momentos pontuais.
O quarteto se mostrou ainda mais animado em “Desperado”, com blast beats mais brutais após o primeiro minuto, além de uma dancinha feita por El Sangrón que também cativou o público. E tanto a banda quanto o público elevaram os ânimos novamente com “La Ley del Plomo”, com coros mais altos, um mosh totalmente insano e sonoridade poderosa da banda. Na sequência, a faixa “Colas de Rata” ainda teve o frontman do Brujeria simulando o uso de cocaína, na reta final.
Outras duas pedradas do álbum “Raza Odiada” foram tocadas antes da pequena pausa do show. A primeira, “Revolución”, foi a de maior teor político crítico do setlist, com os ataques ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) e seus governos nos anos 1990 e as referências elogiosas aos indígenas e ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), responsáveis pelos levantes em Chiapas.
Já a segunda foi a clássica “Consejos Narcos”, iniciada após um discurso em memória de Juan Brujo e Pinche Peach e uma sessão rápida de tragos em cigarros de maconha oferecidos pelos fãs após o sinal de El Sangrón - destaque para El Sativo, que chegou a fumar dois de uma vez, - e aprovados pelos membros da banda. O ato prosseguiu em alguns momentos da música, encerrados pela frase “Marijuana siempre si”.
A rápida pausa veio após as várias garrafas de água jogadas por El Cynico (Jeff Walker). O retorno, para os dois últimos triunfos veio a partir do áudio que inicia “Raza Odiada (Pito Wilson)”, uma narração de Jello Biafra que interpreta Pete Wilson e que simula as falas racistas e anti-imigratórias do político em questão, sendo respondido com ataques e ironias por Juan Brujo até o ato final de “matá-lo”. Cada resposta de Juan era gritada pelo público até o início da faixa, já com a banda de volta ao palco, que mostrou um som impecável em todos os pontos possíveis, acompanhada por mais cantos do público.
O ato final veio com a incontestável “Matando Güeros”, iniciada após El Sangrón repetir, por várias vezes, a pergunta “Matando quê?”, como um chamado para que o público desse seu último gás na pista. E a situação ficou ainda mais inflamada com o riff de El Criminal e, principalmente, quando o vocalista do Brujeria trouxe um facão para performar a faixa. A partir disso, os cantos da música se tornaram ainda mais altos e a roda, menos intensa nas últimas músicas, voltou com tudo e com a maior energia possível naquela noite. A felicidade do público foi tamanha a ponto de emendar danças malucas no final, quando “Marijuana”, uma paródia de “Macarena”, do grupo Los del Rio, foi tocada tanto para a apresentação dos integrantes, quanto para a finalização do show, que contou com El Sativo, filho de Juan Brujo, sendo ovacionado e mostrando o colete de seu pai, presente no suporte ao centro do palco, por uma última vez naquela noite.
Parte do público ainda ficou por mais tempo tempo para pedir autógrafos e disputar palhetas e baquetas dos integrantes do Brujeria, num ato que reforçou ainda mais a gratidão da banda e a admiração mútua entre eles e o público paulistano. A energia e os ânimos esbanjados no local, de alguma forma, também deram um ar que Juan Brujo e Pinche Peach estavam ali, em forma de espírito, para também celebrar um legado que ainda é mantido pela banda e por uma base de admiradores e fãs. E se depender de ambas as partes, existirá por muito tempo.











Nenhum comentário:
Postar um comentário