terça-feira, 17 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Deep Purple – 13/09/2024 – Espaço Unimed/SP

O mês de setembro tem a tradição de oferecer grandes apresentações, especialmente em São Paulo, que nas duas primeiras semanas teve três shows do Sepultura no Espaço Unimed, Therion no Carioca Club, Circus Maximus no Hangar 110, Deep Purple no Espaço Unimed e TesseracT no Carioca Club. Ao longo do mês, os fãs de Rock e Heavy Metal poderão ainda prestigiar os shows do Raven na Jai Club e o icônico guitarrista Eric Clapton, que se apresentará em duas noites no Vibra SP e Allianz Parque, respectivamente.

Na ocasião, fomos conferir o Deep Purple, que retornou a São Paulo após um ano da sua apresentação no festival Monsters of Rock ao lado do Kiss, Scorpions, Helloween e entre outros. Reconhecida como uma das grandes referências do chamado Rock pesado e a única da Santíssima Trindade ainda estar na ativa, a banda sempre demonstrou um carinho especial com o Brasil. Ao todo, os ingleses já realizaram 27 shows no país, sendo que o primeiro foi em 1991, quando Joe Lynn Turner ainda era o vocalista. Em todas as suas visitas, a banda sempre atraiu um grande público, e o último, ocorrido no dia 13 de setembro, não foi diferente.

Ao entrar no local, por volta das 20h30, deparamos uma atmosfera agradável. A maioria do público, com idades entre 40 e 60 anos, já dominava uma boa parte das pistas, ansiosos para assistir mais uma apresentação da banda na capital paulista. Mas quem pensa que os shows do Deep Purple são frequentados apenas por fãs mais velhos, está muito enganado. Jovens, alguns acompanhados dos pais, tios e avós, também estiveram lá para rever a banda ao vivo ou para assisti-los pela primeira vez.

Com o palco totalmente pronto e a casa completamente lotada, o início iminente foi indicado às 21h46, quando o telão de LED atrás da bateria de Ian Paice se iluminou com imagens cativantes do novo álbum, =1, lançado em agosto passado. Os fãs logo pegaram seus celulares pensando que o show começaria nesse instante, porém tiveram que esperar mais alguns minutos. O início, de fato, veio às 22h10 com os dois pés com “Highway Star”, escolha mais do que apropriada para abrir o espetáculo em alto nível e que deixou todos extasiados logo nos primeiros minutos. “A Bit on the Side”, a primeira do novo álbum ser executada na noite, e as antigas “Hard Lovin Man” e “Into the Fire”, ambas do In Rock (1970), vieram na sequência.

Os membros, que já estão com uma certa idade – com exceção do Simon McBride, que tem 45 –, mostraram neste começo de show que continuam em plena forma. Ian Gillan interagia com o público de forma constante, agradecendo com um “obrigado” aqui e acolá, fazendo piadas e agitando sua pandeirola em certos momentos. No entanto, ainda há aqueles que anseiam por um retorno ao seu estilo vocal do passado. Antes de expressar essa crítica, é importante frisar dois aspectos. Primeiro, Gillan já está prestes a completar 80 anos, o que torna inviável que ele consiga alcançar os mesmos agudos de antes. E o segundo, e mais crucial, é que ele é capaz de encarar duas horas de show com tranquilidade, o que é uma conquista e tanto. Por essas razões, devemos ter a maior admiração (e respeito) por este que é um dos maiores vocalistas de todos os tempos, que inspirou diversos cantores, por exemplo Bruce Dickinson, do Iron Maiden.

Roger Glover e Ian Paice constituem uma das melhores cozinhas do planeta, se não a melhor. É fascinante observar como Paice consegue juntar influências do jazz, blues e Rock no seu universo bateristico. Assistir à sua performance ao vivo, desta vez de uma forma mais próxima, foi uma experiência extraordinária não apenas para mim, mas também para os entusiastas da bateria. Simon McBride trouxe um peso e vitalidade à banda. Com uma personalidade ímpar, ele executou impecávelmente as linhas criadas por Ritchie Blackmore e Steve Morse, que deixou o grupo em 2022 para ficar ao lado da sua saudosa esposa, que na época enfrentava um câncer terminal.

Don Airey, autor da abertura de “Mr. Crowley” (Ozzy Osbourne), destacou-se com dois solos delirantes de teclado. No segundo e último, ele fez questão de homenagear o nosso país com trechos de “O Trenzinho Caipira” (Villa Lobos), “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso) e o hino nacional brasileiro, onde o público fez a sua parte cantando animadamente.

Boa parte do reportório reuniu músicas do recém lançado = 1. Todas elas, sem exceção, foram bem recebidas. "Lazy Sod", "Portable Door" e "Bleeding Obvious" foram intercaladas com a ‘bluesy’ “Lazy” (com Gillan mandando ver na gaita) e a envolvente “When a Blind Man Cries”, que com a ajuda da iluminação, deixou o clima da música ainda mais bonito. “Anya”, do The Battle Rages On (1993) e que ao vivo soou ainda mais pesada, foi a surpresa do setlist. Da fase com Steve Morse, escolheram apenas “Uncommon Man”, do álbum Now What?! (2013) que foi dedicada ao saudoso Jon Lord e antecedida por um estupendo solo do Simon. 

Antes de encerrar o primeiro bloco, a banda pós a casa abaixo com “Space Truckin”, anunciada com um arrepiante solo vocal do Gillan, que colocou as quase oito mil pessoas para cantar o refrão. Foi lindo ver todos ali soltando os ‘Come On, Come On, Come On’. Essa atmosfera recíproca continuou em “Smoke On The Water”, onde todos cantaram não só a letra, mas também o riff de guitarra, considerado por muitos guitarristas o melhor de toda a história do Rock. Embora ignorada por uns e por outros devido à sua ampla popularidade, ela provocou uma catarse coletiva e um fervor impressionante. 

A instrumental “Green Onions” abriu caminho para a também clássica “Hush”, de autoria de Joe South, mas que ficou mais famosa com a versão do Deep Purple. Com seu andamento dançante, alguns não se excitaram de chacoalhar o esqueleto. O ponto final veio de forma emblemática com “Black Night”, que ao vivo ganha um toque especial com o público bradando o tradicional ‘ô, ô, ô’ em cima dos riffs iniciais, encerrando assim mais um show histórico.  

O Deep Purple sabe, como poucos, proporcionar apresentações ao vivo de extrema qualidade. O som que emanava do palco, elevada pelo excelente sistema de som do local, era genuíno, como sempre foi desde a época do Made In Japan. No entanto, o espetáculo foi muito além disso: foi uma verdadeira lição de música. Que Dio os abençoe com saúde abundante, para que possamos desfrutar de seus shows ao vivo com mais frequência.




Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Mercury Concerts

Mídia Press: Catto Comunicação 


Deep Purple

Highway Star

A Bit on the Side

Hard Lovin' Man

Into the Fire

Uncommon Man

Lazy Sod

Lazy

When a Blind Man Cries

Portable Door

Anya

Bleeding Obvious

Space Truckin'

Smoke on the Water

***Encore***

Green Onions/Hush

Black Night

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Sepultura – 08/09/2024 – Espaço Unimed/SP

Celebrating Life Through Death, que em tradução livre significa Celebrando a Vida Diante da Morte, marca o final da trajetória da maior banda de Heavy Metal do Brasil de todos os tempos, o Sepultura. Anunciada no final do ano passado e iniciada em março deste ano, a turnê vai além uma mera celebração à vida, como sugere o nome, mas também uma homenagem a um legado de quatro décadas. Para selar o sucesso dessa primeira fase, prevista para terminar em 2025, a banda atraiu milhares de fãs em uma sequência de shows realizados nos dias 6, 7 e 8 de setembro no Espaço Unimed, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo, com os ingressos esgotados.

A Road To Metal marcou presença no domingo, 08 de setembro. O tempo ensolarado, mas nada quente, motivou algumas pessoas a deixarem suas casas mais cedo e aguardarem em uma fila reduzida até a abertura dos portões, abertas meia hora antes do programado. O ressinto começou a ficar cheio próximo do início do show do Sepultura, mas já havia um público expressivo para o show do Black Pantera, iniciado pontualmente às 18h30, antes de seus compatriotas subirem ao palco.

Formado pelos irmãos Charles (guitarra e vocal) e Chaene Gama (baixo e vocal), juntamente com o baterista Rodrigo “Pancho” Augusto e há dez anos na estrada, a banda vem ganhando forte notoriedade e ascensão dentro da cena. Conhecido pela mistura de Punk, Metal, Hardcore e letras que abordam temas como racismo e descriminação social, o trio tratou de esquentar bem os motores com um show visceral. O set trouxe os principais momentos do seu novo álbum Perpétuo, lançado em maio desse ano, com "Provérbios", "Mahoraga" e "Sem Anistia". 

A melódica “Tradução”, interpretada por Chaene, foi um dos principais destaques, onde a maioria ascendeu as luzes dos celulares a pedido do baixista, que diferente do seu irmão, apresenta uma voz mais sublime de cantar. Antes de apresentá-la, ele comentou que escreveu essa canção em homenagem à sua mãe, dona Guiomar, que enfrentou muitas dificuldades devido ao racismo e que, aos 60 anos, ainda não se aposentou.

Quem já teve a oportunidade de ver a banda ao vivo, sabe muito bem o quanto os três são recíprocos com os fãs. Charles, e os outros dois membros, sempre interagia agradecendo, incentivando abrir (sem dó) os tradicionais circles pits e relembrando os tempos que faziam covers do Sepultura, demonstrando felicidade de estarem fazendo abertura para uma das “maiores bandas do mundo”. Cada pedido era prontamente atendido, exemplo disso foi na hora de “Fogo nos Racistas”, onde ‘front-man’ Charles solicitou que todos se agachassem e que levantassem somente na hora refrão. A música se tornou um clássico da atual década, que até quem não sabia direito a letra, cantou junto com a banda. 

Do álbum Ascensão (2022), a qual rendeu participações em festivais como Rock In Rio, Lollapalooza, Knotfest e shows no exterior, extraíram a apelativa “Padrão é o Caralho”, “Mosha” e “Revolução é Caos”, antecedida pelo solo de baixo de “Anesthesia”, composto e imortalizado pelo saudoso Cliff Burton do Metallica. “Boto pra Fuder”, como o próprio nome diz, encerrou o incrível show dos mineiros de Uberaba botando pra fuder.  

Igual os dois dias anteriores, o show de domingo também teve um pequeno atraso, mas que logo foi perdoado quando “War Pigs”, do Black Sabbath, e “Policia”, dos Titãs, surgiram no sistema de PA do Espaço Unimed por volta das 20h10. Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Greyson Nekrutman (bateria) iniciaram o show de forma arrasadora com “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World”, sequência inicial do álbum Chaos A.D. (1994). Desde a primeira música, o Espaço Unimed se transformou em um magnifico caos, com a maioria dos fãs erguendo os punhos e cantando o refrão em uníssono, onde Derrick permitia que as oito mil pessoas cantassem Resist depois do seu Refuse. Em “Territory”, os olhares se voltaram para o jovem Greyson, que conquistou rapidamente os fãs da banda ao executar uma das viradas mais icônicas da história do Metal mundial em perfeita intensidade.

A groovada "Phantom Self" trouxe a lembrança do Machine Messiah (2017) antes de sermos transportados para o ano de 1996. Após as amáveis palavras de agradecimento de Derrick, com seu jeito peculiar de falar português, a banda relembrou os principais momentos do Roots, álbum revolucionário que traz toda influência de música de brasileira, começando pela pouco lembrada "Dusted", que não era executada ao vivo há bastante tempo. "Attitude" proporcionou uma envolvência impressionante com a iluminação toda vermelha durante as linhas capoeiristicas e a imagem de um indígena nos telões de LED. "Breed Apart", grande surpresa do setlist e substituída por "Cut-Throat", que havia sido tocada na noite anterior, extremeceu o bairro da Barra Funda com o peso das guitarras do Andreas, que comparado as outras que eu o vi ao vivo, estava absurdamente alta.

Após esse breve momento de nostalgia, que voltaria mais para o final, foi a hora de fazer um grande passeio pela fase Derrick. “Kairos”, do álbum homônimo e uma das mais icônicas dos seus 40 anos de carreira, é sempre presença garantida no setlist, bradada com muitos aplausos e coros, especialmente durante o refrão. Antes de “Means to an End”, que foi dedicada aos fãs, Andreas deu as suas primeiras palavras na noite, agradecendo todos os fãs, as bandas de abertura e a toda a equipe envolvida na turnê, ressaltando que a cena do Heavy Metal é a mais “verdadeira do planeta”.

Mantida também na apresentação de domingo, “Sepulnation” elevou o nível da galera, que vibrou intensamente até a vez da envolvente “Guardians Of Earth”, presente no último disco “Quadra” (2020). “Mind War”, “False” e “Choke” finalizaram essa maratona de forma ligeira. Foi muito legal ver o entusiasmo de todos nessas três últimas, o que prova que há muita coisa boa pós fase Max Cavalera. O que desagradou durante esse momento foi alguns sem noção ascendendo cigarros de maconha, mas a equipe de segurança se mostrou rápida e imediatamente solicitou que apagassem para não causar nenhum tipo de transtorno.

“Escape to the Void”, resgatada do álbum Schizophrenia (1987), presentou os fãs mais ‘old school’ e preparou terreno para muitas “veiarias”, como destacou Andreas. Foi também a introdução a um dos momentos mais marcantes da noite e de toda a turnê com “Kaiowas”, onde a banda permite que alguns fãs, escolhidos pelo Antonio “Novato” Marques, da página Lado Direito do Palco, participem tocando percussão. Na ocasião desse show, e dos outros dois anteriores, músicos conhecidos da cena comandaram os batuques. O pessoal do Black Pantera, Desalmado, crew e a vocalista Karina Menasce, do Allen Key, foram os que fizeram participação no show de domingo. 

“Dead Embryonic Cells” e “Biotech Is Godzila” trouxe mais agressividade para o restante da apresentação, reativando os circles e mosh pits após épica “Agony of Defeat”. “Orgasmatron” (cover do Motörhead), “Troops Of Doom”, “Inner Self “e “Arise” também contribuíram para tal intensidade antes de partir para o bis com as manjadas “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, que encerraram o quase final de domingo de forma matadora. Mesmo sendo muito popular, é impossível não se empolgar com “Root Of Bloody Roots” ao vivo, criando uma atmosfera única que nos faz pular após o famoso anúncio “Sepultura do Brasil! 1, 2, 3 VAI”.


Aqueles que tiveram a chance de assistir ao Sepultura ao vivo, mesmo que apenas uma vez, sabe que a banda sempre entrega performances incríveis, e os shows dessa turnê não são exceção. A cada música, a banda era ovacionada, evidenciando a conexão entre os fãs antigos e os mais novos. É difícil aceitar que talvez essa seja a última vez que estaremos vendo a maior de Metal do Brasil de todos os tempos ao vivo pela última vez, mas prefiro encarar isso como um indicativo de grandes novidades para o futuro (muitos vão entender o que eu quero dizer). Se realmente estamos diante do desfecho dessa jornada de 40 anos, só nos resta agradecer por tudo que essa banda proporcionou não apenas ao Brasil, mas ao mundo todo.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Roberto Sant'Anna

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: 30ebr

Mídia Press: Trovoa Comunicação


Black Pantera

Provérbios

Padrão é o Caralho

Mahoraga

Sem Anistia

Perpétuo

Fogo nos Racistas

Tradução

Mosha

Revolução é o Caos

Boto pra Fuder


Sepultura

Refuse/Resist

Territory

Slave New World

Phantom Self

Dusted

Attitude

Breed Apart

Kairos

Means to an End

Sepulnation

Guardians of Earth

Mind War

False

Choke

Escape to the Void

Kaiowas

Dead Embryonic Cells

Biotech Is Godzilla

Agony of Defeat

Orgasmatron (Motörhead cover) 

Troops of Doom

Inner Self

Arise

***Encore***

Ratamahatta

Roots Bloody Roots

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Angra – 17/08/2024 – Espaço Unimed/SP

O chamado Angraverso, termo que refere as bandas com membros que já integraram o Angra, dominou os últimos três fins de semana de agosto. Nos dias 3 e 10, o vocalista Edu Falaschi e o guitarrista Kiko Loureiro fizeram grandes shows no Tokio Marine Hall em São Paulo, o mesmo aconteceu com o próprio Angra no Espaço Unimed, também localizado na região paulistana, no sábado passado (17/08). 

O Angra, por sua vez, apresentou um show acústico, projeto que a banda planeava há anos e que finalmente se concretizou em agosto do ano passado para CD e DVD, gravado no Ópera de Arame em Curitiba, e que estará disponível no mercado em breve. A turnê passou por algumas capitais brasileiras, incluindo Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba, além de Santiago, no Chile. Em todas as apresentações, assim como em São Paulo, contaram com as participações especiais de Vanessa Moreno e Kiko Loureiro.

Ao adentrar na casa, aproximadamente entre 20h e 20h30, encontramos uma boa quantidade de pessoas, aquecidas por uma boa seleção de músicas clássicas. Ao contrário dos shows convencionais, a pista comum foi composta por mesas e cadeiras, perfeito para um show desse nível. A área de pista premium permaneceu com a configuração padrão, com todos em pé. A produção do palco não incluiu telões, backdrop ou qualquer elemento extravagante, optando por uma estética mais intimista, com destaque para as velas nos candelabros.

Além de Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), o palco recebeu os talentosos Guga Machado (percussão), Davi Jardim (piano) e a pequena orquestra, que trouxe um toque extra de charme e brilho às músicas. Este time iniciou o show, com quinze minutos de atraso, com a clássica "Nova Era", que ganhou contrastes mais suaves comparado a versão original. A seguinte, "Make Believe", preservou algumas de suas características originais.

"Storm of Emotions", a primeira da fase Lione na noite, recebeu muitos aplausos, assim como "Gentle Change", uma das favoritas do vocalista, oriunda do período com o inesquecível Andre Matos. O italiano, que sempre se interagia com o público, foi bastante elogiado ao interpretar “The Bottom Of My Soul”, originalmente cantada por Rafael no álbum “OMNI” (2018). O líder e fundador da banda também teve os seus momentos de contato antes de apresentar “Reaching Horizons”, que recebeu uma atmosfera mais emocional com os arranjos orquestrais e que foi precedida pela também emocionante “Silence and Distance”.

Antes de seguir com o show, Rafael fez questão de apresentar os integrantes da orquestra da forma como Silvio Santos costumava apresentar os seus convidados. Essa homenagem provocou um misto de alegria, risadas e tristeza, pois o apresentador tinha falecido na madrugada daquele sábado, aos 93 anos, devido a uma broncopneumonia causada por uma infecção por Influenza (H1N1).

A segunda parte do show teve início com "Here In The Now", contando com a participação da maravilhosa Vanessa Moreno, uma das melhores vozes da MPB da atualidade. Seu solo vocal, que antecedeu uma das músicas mais bonitas do recente álbum, “Cycles Of Pain” (2023), deixou o público impressionado. Vanessa ainda emprestou a sua voz para a clássica "Wuthering Heights", originalmente composta por Kate Bush e popularizada pela versão do Angra com a voz do Andre Matos. Sendo uma canção notoriamente difícil e desafiadora, imagino que muitos ficaram apreensivos sobre como a Vanessa iria se sair. No fim das contas, ela se se saiu muito bem, assim como em "Tears Of Blood", onde apresentou a sua voz mais operística junto com o Lione.

Em "No Pain for the Dead", a banda contou com a participação do renomado Kiko Loureiro, que, assim como na sua apresentação solo da semana anterior, foi recebido com os gritos de "Tesouro". Sem dúvida, essa música será bastante executada na turnê que celebrará os 20 anos do álbum "Temple of Shadows", programada para ocorrer entre o final desse ano e começo do ano que vem. 

A faixa "Holy Land", com Rafael nos vocais, foi estendida com um solo do Kiko, que assim que terminou, fez questão de destacar que essa é uma das composições mais marcantes da carreira do Andre Matos, que teve o seu nome ovacionado por todos que estavam no Espaço Unimed após o comentário. Por ela ter elementos da música brasileira, Guga Machado se destacou com suas percussões vibrantes.

“Late Redemption”, uma das mais icônicas da trajetória da banda, teve Kiko interpretando as partes do grande Milton Nascimento. A última aparição do guitarrista da noite foi em “Rebirth”, que ao contrário do show anterior em BH, contou com as vozes da Vanessa Moreno. Para surpresa dos fãs, Lione fez uso de sua técnica operística nela, algo que ele normalmente não usa quando canta ela ao vivo. 

Após a apresentação da banda, “Bleeding Heart” convidou os fãs a levantarem as lanternas dos celulares, seguindo para o encerramento do show com a famosa “Carry On”, que se destacou por sua versão acústica mais melódica e envolvente.

O show não só atendeu um antigo desejo da banda e dos fãs, mas também proporcionou uma verdadeira viagem ao longo desses quase 33 anos de trajetória. O repertório cuidadosamente escolhido, onde cada música se encaixou perfeitamente na proposta acústica, evidenciou a versatilidade do Angra em lidar com diferentes tipos de formato. Mais uma vez, a banda brilhou em grande estilo e mostrou estar em seu melhor momento na carreira.


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: Amanda Vasconcelos 


Realização: Top Link Music


Angra

Nova Era

Make Believe 

Storm of Emotions

Gentle Change

The Bottom of My Soul

Silence and Distance

Reaching Horizons

Here in the Now (feat. Vanessa Moreno)

No Pain for the Dead (feat. Vanessa Moreno, Kiko Loureiro)

Holy Land (feat. Kiko Loureiro)

Late Redemption (feat. Kiko Loureiro)

Rebirth (feat. Vanessa Moreno, Kiko Loureiro)

Bleeding Heart

***Encore***

Carry On

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Cobertura de Show: Kiko Loureiro – 10/08/2024 – Tokio Marine Hall/SP

O icônico guitarrista Kiko Loureiro retornou a São Paulo no último dia 10 de agosto (sábado) para celebrar seus trinta e cinco anos de carreira no Tokio Marine Hall, que recebeu um expressivo público para aplaudir seus sucessos em uma noite marcada pelo frio intenso da cidade. A noite contou também com os shows dos guitarristas Luiz Toffoli e Gustavo Di Padua, que prepararam o terreno antes da atração principal. 

O curitibano Luiz, que esteve recentemente no mesmo local abrindo para os americanos do Symphony X, foi o primeiro a iniciar os trabalhos. Sua técnica irreverente e habilidade nas sete cordas foram admiradas e elogiadas pelos poucos sortudos que puderam testemunhar esse show.

O repertório curto contou com os principais momentos do seu álbum de estreia, “Enigma Garden”, que traz toda influência do prog metal moderno, com destaque para “Human”, o primeiro single desse trabalho, além da nova “Gates of Underworld”, que deve ser lançada em breve. Um dos pontos altos foi a execução de “As I Am”, clássico do Dream Theater, que fez a plateia balançar os pescoços com os seus riffs vibrantes. Ao final, Luiz expressou sua gratidão pela presença de todos e apresentou a sua banda, composta por Pedro Tinello (bateria), Marcos Janowitz (baixo), Léo Carvalho (teclado) e Cássio Marcos (vocal).

Logo em seguida foi a vez do Gustavo Di Padua, que entrou no palco com dez minutos de antecedência. Conhecido por suas colaborações com o saudoso Erasmo Carlos e por ter feito parte das bandas Aquaria, Glory Opera e Almah, o guitarrista carioca agitou o público com suas qualificadas composições, entre elas “Second Floor”, “Insight”, “The Stairs” e “Spiritual Lesson”, todas apresentando uma sonoridade mais roqueira e incorporando elementos da música pop, eletrônica e até da MPB. A apresentação ficou marcada pela apresentação de duas novas músicas que farão parte do próximo álbum: “Welcome to the Next Stage” e “Elephant” (título do futuro novo disco), que foram muito bem recebidas. 

Houve também uma bela homenagem às lendas do Rock com versões mais guitarristicas de “Paranoid” (Black Sabbath) e “Wasted Years” (Iron Maiden), onde uma parte do público participou ativamente fazendo os vocais enquanto Gustavo e sua banda as tocavam. Falando na banda, os músicos Marcus Filipe (guitarra), Thiago Fernandes (baixo) e Gabriel Triani (bateria) merecem destaque pelo incrível trabalho, tornando o show encantador, porém quem roubou a cena foi o Gabriel, que foi rapidamente confundido com o Dave Grohl (Nirvana, Foo Fighters). Mas a mensagem na sua camiseta, “Not Dave Grohl”, deixou claro que não era ele.

Finalmente, Kiko Loureiro fez sua entrada no palco de forma contagiante e acompanhado dos músicos Luiz Rodrigues (guitarra), Luigi Paraventi (bateria) e Thiago Baumgarten (baixo, Hibria), que substituíram o baterista Bruno Valverde e o baixista Felipe Andreoli, impossibilitados de comparecer por conta de compromissos com o Angra. 

Nessa primeira parte, Kiko destacou temas de sua carreira solo, especialmente o seu mais recente álbum, "Open Source" (2020), que foi lançado durante a pandemia. E nada melhor do que começar o show de maneira intensa com “Overflow”, que também é a faixa que abre o último trabalho. Kiko também relembrou músicas dos seus antigos álbuns, como “Pau-de-Arara” – famosa pela sua combinação de Rock com a música brasileira –, “Reflective”, do álbum “Sounds of Innocence” (2012), e a clássica “No Gravity”, responsável pelo início de sua trajetória solo e uma das mais apreciadas nesse começo, assim como “Vital Signs”, que fez o Kiko descer do palco para tocar mais perto do público. 

Quase a meio do set, os fãs do Angra foram surpreendidos por um medley que incluiu “Carry On”, “Spread Your Fire”, “Nova Era”, “Morning Star”, “Evil Warning” e “Speed”. Este momento trouxe uma dose extra de adrenalina ao show, embora logo tenha sido abaixado quando chegou a vez de "Du Monde", introduzidas por lindas melodias de violão clássico. Para recordar a passagem do Megadeth, foram executadas a inspiradora “Conquer or Die!” e a poderosa “Killing Time”. Nesta última, Kiko assumiu os vocais e teve um desempenho satisfatório. Se fizesse uma leve torção nos lábios ou colocasse um palito entre os dentes, poderia até conseguir cantar como o seu antigo chefe, Dave Mustaine.

Ao contrário dos shows anteriores, o show de São Paulo teve a honra de receber convidados especiais. O primeiro a dar as caras foi o Lobão, renomado por sua irreverência no Rock nacional e uma grande influência na carreira musical do Kiko, conforme ele mesmo disse antes de executar o clássico "Mais Uma Vez", do álbum "A Vida É Doce" (1999), que ganhou uma nova roupagem com o som da guitarra do Kiko. 

Embora se tratasse de um espetáculo instrumental focado na guitarra, Kiko quebrou os padrões desse tipo de formato se movimentando constantemente de um lado para o outro do palco, interagia com o público, compartilhava pequenas histórias e recebia com muito carinho e bom humor o apelido de Tesouro, que foi ecoado várias vezes. Essa brincadeira resultou em um presente inusitado por parte de um fã: uma caricatura do Kiko com uma guitarra quadrada. 

Assim como no show em Curitiba e em outros shows, Kiko convidou uma pessoa da plateia para tocar na sua guitarra, e o escolhido foi Felipe Zarza, que, apesar do nervosismo, não fez feio diante das milhares de pessoas presentes, recebendo muitos aplausos e até elogios do dono da festa.

Após a execução de “Dream Like" (a favorita deste que vos escreve), foi a vez de Alírio Netto, um dos vocalistas mais admirados da atualidade, entusiasmar o público com a sua performance em “Rebirth”. Ele ainda voltou, após a enérgica “Dilemma”, em “Nothing To Say”, que teve a emocionante participação do baixista Luis Mariutti, que não dividia o palco com o Kiko há exatos vinte e cinco anos. 

Quase no fim, Kiko apresentou uma sequência de duas músicas do seu álbum inaugural, “No Gravity” (2005), e as escolhidas foram “Enfermo” e “Escaping”, esta última com a colaboração do guitarrista norte-americano Ron “Bumblefoot” Thal. A grande surpresa da noite foi o cover de “Stormbringer”, do Deep Purple, onde Kiko brilhou novamente ao cantar e chamar todos os convidados da noite ao palco, concluindo o show de uma maneira emblemática e descontraída.

Ao longo de seus trinta e cinco anos de trajetória, Kiko tem demonstrado ser um músico à frente do seu tempo. Suas destrezas com a guitarra, seu carisma e sua paixão pela música seguem impactando inúmeras pessoas, além de intensificar a admiração de todos que o acompanham há tantos anos. Em resumo, a apresentação se revelou uma verdadeira masterclass musical.


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: Dener Ariani 


Realização: Top Link Music


Luiz Toffoli

Grand Opening 

Human

I’m Alive 

Both Worlds 

As I Am (Dream Theater cover)


Gustavo Di Padua

Second Floor

Insight

The Stairs

Spiritual Lesson

Paranoid (Black Sabbath cover)

Wasted Years (Iron Maiden cover)

Welcome to the Next Stage

Elephant

2008


Kiko Loureiro

Overflow

Pau-de-Arara

Reflective

No Gravity

Vital Signs

Carry On / Spread Your Fire / Nova Era / Morning Star / Evil Warning / Speed

Du Monde

Mais uma vez (feat. Lobão)

Conquer or Die!

Killing Time

Dreamlike

Rebirth (feat. Alirio Netto)

Dilemma

Nothing to Say (feat. Alírio Netto, Luis Mariutti)

Enfermo

Escaping (feat. Ron “Bumblefoot” Thal)

Stormbringer (Deep Purple cover, feat. Alírio Netto, Ron "Bumblefoot" Thal, Luis Mariutti, Lobão)

domingo, 25 de agosto de 2024

Cobertura de Show: Clutch – 18/07/2024 – Fabrique Club/SP

O Fabrique Club foi cenário de um evento há tempos aguardado e com muitas expectativas (atendidas, obviamente): o retorno dos norte-americanos do Clutch ao Brasil. Após um período de quatro anos desde o lançamento de seu último álbum, Book of Bad Decisions, e com uma pandemia que forçou o cancelamento de sua última turnê no país, o quarteto de Maryland voltou aos palcos brasileiros com a energia renovada. O que era pra ser uma quinta-feira comum, tornou-se um deleite para os fãs que ali estavam.

O show, que faz parte da turnê do álbum Sunrise on Slaughter Beach, contou com a abertura da Fuzz Sagrado, banda liderada por Chris Peters, ex-membro do icônico Samsara Blues Experiment. Formada em 2021 como um projeto solo de estúdio, a Fuzz Sagrado evoluiu em 2024 para uma banda completa, contando com Guilherme Bordin no baixo e Lucas Fursy na bateria. Mesmo que o público ainda estivesse chegando e a casa estivesse longe de sua capacidade total, a banda cativou com sua mistura de blues psicodélico e stoner rock, fortemente presentes em suas músicas.

Um momento divertido durante a apresentação da Fuzz foi quando o vocalista interagiu com a plateia pronunciando a palavra "gambiarra", referindo-se ao ajuste de cabos que estava sendo realizado pelo baixista durante a troca de faixas. Interação esta que aproximou a banda do público, pois mostrou um pouco da adaptação de Peters ao nosso país, logo que emigrou para cá ao fim de sua antiga banda. Embora o set tenha sido curto, foi suficiente para comprovar o talento dos músicos, entregando um show de abertura competente e virtuoso.

Logo que a Fuzz Sagrado finalizou seu show, houve um intervalo considerável enquanto o palco era preparado para o show principal pela equipe técnica. Diria que foi mais longo do que o normal, uma vez que os fãs, extremamente agitados, ansiavam pela entrada do Clutch. 

Quando finalmente o Clutch subiu ao palco, a energia atingiu outro patamar. A banda, que já provou ao longo de treze álbuns estar em sua potência máxima, não decepcionou em absolutamente nada. O Fabrique Club, agora completamente lotado, exalava a essência do Clutch: aquela ironia com uma verdadeira expressão de força e vitalidade, algo que poucas bandas conseguem manter após tantos anos na estrada. 

O vocalista Neil Fallon, com sua onipresença no palco foi um show à parte, comandando a plateia com maestria. A banda performou de maneira vigorosa, músicas de seu mais recente álbum, como "Slaughter Beach" e "We Strive for Excellence".  Quanto aos hits, sons como "A Shogun Named Marcus", "The Regulator" e "X-Ray Visions" levaram o público, eufórico, à loucura, assim como os encores, que foram escolhidos à dedo. As músicas "Eletric Worry" e o cover digníssimo de "Fortunate Son", concederam um desfecho épico e de tirar o fôlego.

A conexão do público com o quarteto transformou a apresentação em uma experiência inesquecível para fã nenhum botar defeito. Fallon, com sua entrega e voz poderosa , foi o destaque da noite, mas a banda como um todo mostrou porque é tão venerada por quem os acompanha em cada uma de suas fases.

Ficou evidente que cada minuto de espera havia valido a pena. O Clutch conseguiu, novamente, entregar um espetáculo à altura das expectativas, comprovando que a banda ainda tem muito a oferecer.


Texto & Fotos: Amanda Vasconcelos

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Agência Powerline

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Clutch

The Mob Goes Wild

Earth Rocker

A Shogun Named Marcus

Sucker for the Witch

Cypress Grove

Subtle Hustle

D.C. Sound Attack!

Escape From the Prison Planet

Spacegrass

Binge and Purge

A Quick Death in Texas

X-Ray Visions

Firebirds!

Slaughter Beach

We Strive for Excellence

The Regulator

***Encore***

Electric Worry

Fortunate Son (Creedence Clearwater Revival Cover)