Foram cerca de 4 anos trabalhando no álbum "The Beloved Bones: Hell", primeira parte de uma obra que será dividida em duas partes (A próxima será o "Divine"), e finalmente o disco se materializa, e se Mário Linhares e Glauber Oliveira, os principais mentores deste trabalho, falarem que este é o seu melhor álbum, não será aquela mera frase clichê muito ouvida quando alguém lança algo novo. (English Version)
Lembro que Mário Linhares comentou há muitos meses atrás, que buscava uma evolução, e que certamente o novo trabalho surpreenderia a todos, e "The Beloved Bones: Hell" traz grandes mudanças, primeiro, na parte sonora, mas nada "descaracterizante", você vai encontrar a personalidade da banda, como no timbre vocal de Linhares; segundo, na temática, que parte para um lado mais real e sombrio.
Começando sobre a parte sonora, o álbum teve a produção e mixagem feita pelo guitarrista Glauber Oliveira, que fez um excelente trabalho, encaixando as peças sonoras nesta complexa obra, onde temos um Metal pesado e sombrio, que traz emoções e nuances diversas, passando por trechos progressivos, sinfônicos e até beirando o Metal mais extremo.
O uso de orquestrações, percussões, corais e instrumentos diversos, como violinos e até acordeon, enriqueceram soberbamente os arranjos. Finalizando, a banda foi buscar no suéco Tony Lindgren (responsável pela masterização de álbuns de grupos como Kreator, Angra, Katatonia, Mirath e Sepultura, só para citar alguns), que tem feito grandes trabalhos no seu Fascination Studios, e um disco onde a banda buscava excelência e vinha trabalhando há tanto tempo, não poderia de forma alguma economizar em uma parte tão importante, e valeu a pena, pois o álbum soa muito, muito bem.
Sobre o conceito, baseado em uma experiência própria, Mário Linhares escreveu essa peça, um solilóquio (monólogo, discurso em que uma pessoa fala consigo mesma), onde o indivíduo, nesta primeira parte ("Hell"), trilha por onze estágios mentais, situações que provavelmente todos passamos por alguma, momentos difíceis, de frustrações, como uma doença, uma violência, dependência química ou uma insatisfação profissional.
O álbum se chama "The Beloved Bones", porque procura responder a uma pergunta simples: "Qual é a pessoa que você mais ama?". A resposta mais óbvia seria "Eu mesmo", então é daí a inspiração para o título. A ideia central em "Hell", é como o EMOCIONAL e o RACIONAL se confrontam, se comportam e progridem, definindo o EU, o qual trilha pelos 11 estágios.
Essa jornada pelos 11 estágios se inicia com o lamento do violino na intro de "The Beloved Bones", faixa título que abre o álbum, onde o Racional, surge do âmago do EU e bate de frente com o Emocional. Uma sonoridade pesada, de melodias sombrias, onde é preciso destacar já os detalhes nos arranjos, como as orquestrações e trabalho de vozes, e percebe-se um Linhares mais interpretativo, e driblou o tempo e outras dificuldades (pois passou por problemas de saúde um tempo atrás), com experiência e reeducação de sua voz, fazendo um grande trabalho.
As músicas vão se completando, e o peso e tonalidades mais baixas e sombrias são a tônica, e vamos enveredando por essa viagem musical, e fiz questão de enfatizar no título desta resenha que este é um álbum "Instigante e Cinematográfico", porque vamos experimentando as emoções do confronto do indivíduo da história consigo mesmo, e o clima sombrio traduz essas emoções conflitantes, desesperadoras e libertadoras.
Sombrio, carregado de emoções, belo e complexo, mas não significa que é um álbum que fique relegado a um nicho de ouvintes, pois possui melodias, refrãos e riffs memoráveis (grande trabalho de guitarras, algo imprescindível em um álbum de Metal), e, mesmo que o ideal seja ouvi-lo por completo, acompanhando as letras, é perfeitamente plausível simplesmente apreciar as músicas individualmente, e em um álbum com uma qualidade tão alta, é também possível destacar os "picos", ou destaques, como em um filme mesmo. É difícil comentar destaques, e traduzir tudo o que você ouvirá no álbum, pois são muitos detalhes a descobrir, ouso então, lhes dar alguns "spoilers":
Já falei da abertura, com aquele lamento do violino, e a explosão Pesada, sombria e sinfônica de "The Beloved Bones"; "Smile Back to Me", a parte que fala sobre a "Negação", é uma peça sinfônica sombria e com agressividade nas guitarras, bateria e vocal,"King for a Moment", que é a que fala da fase da "Fuga", e onde está uma das minhas performances preferidas de Linhares, com o vocalista passa por vocais operísticos e até guturais, e aquela frase, que também está na música anterior, "There's no turning back to where once you called heaven", que ficou grudada na minha mente por dias, assim como as melodias, destacando ainda os diversos climas dela, com trechos beirando o Metal extremo.
Você irá notar os sinos, que vão estar presentes no decorrer das músicas, que seria uma espécie de guia pelo caminho. A dramaticidade na fase da "Vitimização" em "This Loathsome Carcass", mais cadenciada com muito peso e algumas percussões tribais. As melodias tem um algo de oriental. E também é onde temos a pergunta a ser respondida ao final: "Am I the Master of my life? (Eu sou o mestre da minha vida?); "Parasite", pesadíssima e muito agressiva, só poderia representar a "Raiva", foi também a primeira música apresentada. Beira o Metal extremo em momentos.
"Breaking Up Again", a "Súplica", onde o Emocional admite que não pode lidar com os problemas sozinho, mas novamente há um confronto. Temos uma bela e melancólica introdução ao piano e voz, para em seguida nos encontrarmos envoltos em um turbilhão, com passagens agressivas entrecortadas por trechos sinfônicos e progressivos; "Empowerment", uma parte crucial da jornada, a "Reflexão", , em uma peça musical sinfônica e vibrante.
As quatro músicas finais, são um ápice, com "Nihil Mind" (o equilíbrio) e seus diversos climas, grandes orquestrações e corais. Melodias marcantes nos vocais e guitarras e refrão memorável, além da surpresa do acordeão; em "Purple Letter" as guitarras com flanger abrem esta fase, que representa a "Coragem", a hora do personagem abandonar a velha vida. Trechos velozes e climas sinfônicos e cinematográficos vão se intercalando, destacando os belos vocais femininos em contraponto com os de Linhares.
"Sola Mors Liberat", a hora da "Decisão", momento que marca o fim de um ciclo, é traduzido em uma peça melancólica, onde temos um clima fantástico nos teclados. Note também a frase final, onde as palavras "My Friend" são ditas em dueto, representando a conciliação do Racional e Emocional. Destaque para o inspirado e melódico solo de guitarra ao final.
A belíssima balada "When Shadow Falls", com seu andamento meio "valseado", representa a "Liberdade", a reconciliação do Emocional e Racional. Percussões, violoncelos e guitarras acústicas dão a tônica deste, não poderia deixar de ser, final bem emocional.
Existem álbuns ambiciosos que se perdem em meio a produções pomposas e complexidade exacerbada, esquecendo o principal, que é compor grandes músicas, e e aí está o diferencial de "The Beloved Bones: Hell", um trabalho composto em prol da música, com grandes doses de musicalidade e feeling. Parafraseando o que falei no início, se a banda falar que este é seu melhor álbum, não será uma mera frase clichê. O Dark Avenger buscou evoluir, ousou e acertou em um álbum com alma e memorável.De arrepiar os pelos do braço!
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Dark Avenger
Álbum: "The Beloved Bones: Hell"
País: Brasil
Estilo: Heavy Metal, Progressive Metal
Produção e Mixagem: Glauber Oliveira
Conceito: Mário Linhares
Masterização: Tony Lindgren
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Em breve disponível na Die Hard e distribuição internacional a anunciar.
Line-Up:
Mário Linhares: Vocais
Glauber Oliveira: Guitarras
Hugo Santiago: Guitarras
Gustavo Magalhães: Baixo
Tracklist:
The Beloved Bones (Unconciousness)
Smile Back to Me (Denial)
King for a Moment (Fugue)
This Loathsome Carcass (Victimization)
Parasite (Wrath)
Breaking Up, Again (Craving)
Empowerment (Reflection)
Nihil Mind (Balance)
Purple Letter (Courage)
Sola Mors Liberat (Decision)
When Shadow Falls (Freedom)
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