Diante de inúmeras dificuldades dos últimos dias, uma incerteza pairava no ar sobre a realização ou não do show do Hangar na cidade de Santo Ângelo, região noroeste do Rio Grande do Sul, na noite de 19 de março.
Uma semana antes do show, o local que receberia a banda e seus fãs teve as portas fechadas. Diante da iminência do cancelamento do show (e, lhes garanto, que as conseqüências não são poucas quando isso acontece), o mesmo manteve-se, mas com local alterado.
Porém, quando tudo parecia acertado, poucas horas antes do show o local que deveria suportar a “locomotiva” Hangar não apresentava condições mínimas para isso (não havia palco montado e o local, como um todo, mostrava-se muito aquém do mínimo necessário).
Com profissionalismo, a banda aceitou a proposta de se apresentar em um terceiro local, dessa vez bem localizado e com alguma estrutura para eventos musicais (este que vos escreve e mais alguns amigos ajudaram a banda a preparar o novo local do show). Entretanto, não sem conseqüências, já que os shows de abertura tiveram que ser cancelados (para frustração das bandas, especialmente da Drunk Vision, que se deslocou de Florianópolis de carro).
Mas a grande surpresa foi de que o show do Hangar deveria, então, ser um show acústico. Assim aconteceu, não antes de vários “fãs” questionarem a “qualidade” do evento, já que o esperado era show com guitarras distorcidas e muito peso na turnê Infallible Tour 2010 - 2011 que voltava à região com show completo (e com seu Infallibus).
Um bom público compareceu, mesmo com um pouco de frustração pela mudança da proposta de show. Porém, isso foi se dissipando música à música, até o momento que ninguém mais reclamava ou lembrava da proposta inicial (show “tradicional” e mais aberturas).
A verdade é que o público da região (pessoas de várias cidades se deslocaram para conferir a banda) saiu satisfeito com o que viu. Também pudera, pois a banda formada por Humberto Sobrinho (vocal), Eduardo Martinez (guitarra), Nando Mello (baixo), Fábio Laguna (teclados) e Aquiles Priester (bateria) é sinônimo de qualidade e simpatia.
Nesse clima que o grupo se apresentou com um setlist acústico, que incluía canções do álbum de trabalho da banda “Infallible” (2009), recentemente relançado com faixa bônus e DVD, além de canções da fase inicial da banda (ainda com Mike Polchowicz nos vocais) e, para surpresa de muitos, vários covers de bandas que são influências do quinteto.
No destaque, o baterista Aquiles Priester: considerado um dos melhores do mundo!
A banda subiu ao palco passando pelo público, arrancando aplausos de todos os presentes. Para começar, a inesperada “One More Chance”, seguida de duas grandes canções do álbum “Infallible”: a bela “Solitary Mind” (que mostrou toda sua simplicidade admirável) e “Infallible Emperor 1956”, uma das mais rápidas músicas do disco e que ficou ótima na sua nova versão.
A primeira grande surpresa e que mostrou que a banda estava disposta a tocar músicas de todos os discos (o que pouco acontece nos shows “plugados”) foi “Angel of Stereo”, do “Last Time” (1999), primeiro álbum da banda, relançado em 2004 com DVD.
A versão original conta com Mike Polchowicz nos vocais (atualmente na Venus Attack). Assim, foi muito curioso ouvir Humberto interpretando a música, além de todo um novo arranjo criado para a mesma, com bastante swing e feeling. Uma dos grandes destaques da noite.
A cada canção, o público ovacionava a banda, mostrando que soube muito bem compreender a situação constrangedora que precedeu o evento (Aquiles Priester explicou a situação a todos logo no inicio da apresentação) e valorizar o trabalho desse quinteto e sua equipe.
Com certeza, passava pela cabeça de muitos a ideia de que, sendo um set acústico, não teríamos canções pesadas e rápidas da banda e esperando, então, muitas baladas.
Grande engano. Ouvir canções agressivas e dinâmicas como a clássica “The Reason of Your Conviction” e “Forgive the Pain” com certeza fizeram da noite algo muito especial, já que tais versões não possuem gravações oficiais, raramente sendo apresentadas nesse formato.
Fábio Laguna (Teclados), Humberto Sobrinho (Vocal) e Eduardo Martinez (Violão)
Inesperadamente, a banda começou a incluir versões para clássicos do Rock que influenciam o grupo. A primeira delas foi “Rainbow in the Dark”, clássico de Dio e já conhecida dos shows da banda (mas que ali foi executada acusticamente).
Após esse momento que, de certa forma, homenageia uma das maiores lendas do Rock e Metal de todos os tempos, a banda manda a esperadíssima “Time to Forget”, uma das lindas baladas do grupo presente no disco de 2009 e que, nem preciso falar, soou perfeitamente no novo formato. Essa foi uma das mais ovacionadas pelo público que, muito satisfeito, não tirava os olhos da banda (exceto quando ia comprar cerveja).
Uma dobradinha de covers veio em seguida. A espetacular “Don’t Stop Believin’ (Journey)” surpreendeu (aliás, você já deve ter percebido que essa foi a palavra chave da noite), com um show especial de Humberto Sobrinho, que costuma cantá-la em seus workshops. Seguiu-se “Limelight”, não antes de ser anunciada como uma das músicas favoritas de Nando Mello (baixo). Perfeita!
“Dreaming of Black Waves” veio em seguida, provavelmente a música mais comercial da banda e, por isso, a canção de trabalho de “Infallible” (com vídeo clipe). A versão acústica agradou aos presentes, que também esperavam a banda (com certeza, muitas pessoas ali passaram a conhecer a banda através dessa música).
Ainda do mais recente trabalho, a linda e triste canção “Based on a True Story” emocoinou, para dar lugar depois à um dos maiores clássicos da banda, “a balada” do álbum “The Reason of Your Conviction”, “Call Me in the Name of Death”!
Um parágrafo especial para a mesma. Não apenas pelo estrondoso sucesso que obteve quando a banda ainda contava com Nando Fernandes como vocalista, amas também pelo grande trabalho que Humberto tem realizado na canção, colocando muito de si e cantando demais tanto nessa quanto nas demais músicas que contavam com outros vocais. Realmente, o Hangar não precisa se preocupar mais em ter o vocalista perfeito.
Com o show já encaminhando para o seu final, mais um cover, dessa vez da banda Van Halen. “Dreams” levou a galera à loucura, especialmente aqueles que, como a galera da banda, sabe “degustar” o bom e velho Hard Rock dos anos 80.
Mas, para os fãs que conhecem todos os discos e admiram a fase inicial da banda tanto quanto a atual, ouvir canções como “Inside Your Soul” e a emblemática (primeiro grande clássico popular da banda) “To Tame a Land”, ambas que contam com o vocal de Mike originalmente, valeram a noite toda, aumentando ainda mais a devoção à banda que, em nenhum momento perceptível, errou ou mostrou inabilidade. Os caras tocam com a alma.
Banda descontraída
Vale registrar a brincadeira de Aquiels priester que, ao anunciar “Inside Your Soul”, fez menção honrosa ao Mike, tentando imita-lo (com a voz mais aguda possível) anunciando a canção, o que para os fãs de sempre da banda, soou bastante nostálgico e uma prova da amizade e reconhecimento que a banda mantém com seu primeiro vocalista.
Após o show, o sempre interessante e descontraído momento para fotos e conversas com a banda, encerraram esse dia que, desde seu inicío, tinha tudo para dar errado, mas terminara como um momento inesquecível, uma noite agradável (rever os amigos ao som acústico do Hangar), provando que, antes de mais nada, é a cabeça no lugar e profissionalismo dos envolvidos que podem sempre contornar as condições adversas.
A galera do Hangar (tanto a banda, quanto a equipe) podem ter certeza de que, mesmo com os percalços (que a banda não deveria passar jamais), deixaram Santo Ângelo com a missão cumprida e se a canção “A Miracle in My Life” não foi executada, foi porque um milagre já havia se apresentado por lá: o da boa música.
Texto: Eduardo “EddieHead” Cadore
Fotos: Road to Metal
Set List
1 - One More Chance
2 - Solitary Mind
3 - Infallible Emperor 1956
4 - Angel of The Stereo
5 - Forgive the Pain
6 - The Reason of Your Conviction
7 - Rainbow in the Dark (Cover Dio)
8 - Time to Forget
9 - Dont Stop Believin (Cover Journey)
10 - Limelight (Cover Rush)
11 - Dreaming Of Black Waves
12 - Based on a True Story
13 - Call Me in the Name of Death
14 - Dreams (Cover Van Halen)
15 - Inside Your Soul
16 - To Tame a Land
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