sexta-feira, 12 de abril de 2013

Entrevista: Nosferatu - A Saga Continua!



Falar da banda Nosferatu que é oriunda de Campinas (no interior de SP) é algo totalmente interligado ao meu amor pelo NWOBHM.

O líder, fundador e eterno batalhador Hussein Salim leva á sério aquele velho ditado “metal till death”....Após mais de quinze anos de batalhas, ele nos dá amostras de que o Nosferatu ainda tem muita lenha para queimar e não vai parar tão cedo.

Confira com exclusividade nossa entrevista com ele, recheada de bom humor e ao mesmo tempo desabafo sobre a realidade nem sempre fácil que os músicos brasileiros enfrentam.

RtM: Quando você se interessou pelo metal? Qual seu primeiro contato?
Hussein: Saudações Fernanda e a todos os leitores do Road to Metal.
O primeiro contato que eu tive com o Metal foi quando eu tinha 6 anos. Uns tios meus escutavam pop rock/rock’n’roll e sempre apareciam com alguns discos, mas foi brincando de esconde-esconde na casa do meu vizinho que eu acabei descobrindo o pote de ouro hehehe.

Eu fui me esconder no quarto do irmão dele, e como eu era ” xeretão”  acabei fuçando nos discos, aí lá tinha disco do Jaspion, Changeman e uns dois ou três do Iron Maiden. Eu fiquei chocado na mesma hora, aquelas capas despertaram o meu interesse. O ápice foi a capa do “The Number of the Beast”.

Eu venho de uma família a qual minha mãe sempre me obrigava a ir à missa aos domingos de manhã, eu achava isso um saco, aí quando eu vi aquela capa com uma caveira controlando o diabo e esse controlando o homem não deu outra kkkkkkk

Meu tio tinha uma fita cassete com algumas músicas do “LiveAfter Death” gravadas, eu pedi pra ele gravar pra mim. O resto foi consequência, quando eu tinha uns 12/13 anos que eu comecei a correr atrás mesmo de material e a partir daí o amor pela música aumentou cada vez mais e eu já estava amaldiçoado! hehehe!


RtM:  Como surgiu a ideia de formar a banda, e quais são as principais influências para o som produzido. E o que você diria que o Nosferatu traz como novidade em suas composições?
Hussein: A banda foi formada por mim e pelo meu amigo David Bellini (que voltou a tocar conosco ano passado, mas precisou sair novamente por motivos pessoais) quando estávamos aprendendo a tocar.
Cada um tinha a sua guitarra e a gente ficava treinando o dia todo, se não estávamos treinando estávamos ouvindo som hehe!!!Então era inevitável montarmos uma banda.

A gente via vídeos (na época fitas vhs) de bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Judas Priest, sepultura etc... e ficávamos imaginando se algum dia a gente conseguiria fazer o mesmo.
Em 99 arrumamos um batera e logo após um baixista e começamos a ensaiar.
Sobre a questão das influências eu vou responder por mim, a idéia da banda sempre foi tocar heavy metal tradicional na linha de bandas como Iron maiden (antigo), Judas priest (antigo), Black Sabbath, Mercyful Fate etc... e bandas dos anos 80 em geral.

Teve um período que a banda acabou e estávamos cogitando a possibilidade de tocar death metal, mas acabamos descartando essa ideia.
Hum, novidade? Bom, não sei se a gente traz alguma novidade musical, as músicas simplesmente surgem.


Quando aparece alguma melodia na minha cabeça eu tenho que correr gravar em algum "radinho" ou mp3 senão eu acabo esquecendo hehe!
Já aconteceu de alguma coisa surgir na minha cabeça e eu estar no ônibus voltando pra casa, aí eu fico cantando aquela melodia bem baixinho pra chegar em casa, passar pra guitarra e gravar hehe!!

Enfim, apesar de termos influências das bandas citadas a gente tenta criar uma identidade própria, sempre respeitando certos princípios dentro do estilo tanto ideológico quanto musicalmente.
  
RtM: Nos conte sobre as mudanças de line up e o porquê das mesmas ocorrerem.
Hussein: Isso é sempre um problema que venho enfrentando desde o começo da banda.
O motivo principal é falta de interesse e comprometimento. Às vezes a pessoa entra na banda achando que vai ser uma coisa e depois vê que não é tão fácil como imaginava e acaba desanimando.

Tem uns que os gostos musicais e a ideologia não batiam e na maioria dos casos o pessoal arrumava namorada mandona hehehe! Eles não sabiam administrar a situação, esqueciam completamente do compromisso e se deixavam levar, então foram levados hehehe!!

Isso acaba desestruturando demais porque se perde muito tempo tendo que passar as músicas com os novos integrantes. É um processo muito entediante e trabalhoso.


RtM: Particularmente, você acredita que as bandas dos anos 80, que estão voltando agora fazem as coisas pelo dinheiro proporcionado com esses revivals ou acontece por amor à música em si?
Hussein: Acho que as 2 coisas, depende muito da situação.
Muita banda hoje em dia está cobrando um cachê que nos anos 80 jamais receberiam.
Manter uma banda tocando sem o devido apoio é um lance complicado, o tempo vai passando, a pessoa vai perdendo o pique na maioria das vezes, pois tem que ficar bancando os gastos, constitui família, arruma um emprego regular, no final das contas a banda acaba ficando em segundo plano.

Muita gente não vê isso e criticam as bandas (claro que algumas voltam exclusivamente pra aproveitar essa “moda” e tentar tirar uma grana, mas na maioria das vezes essas bandas estavam paradas por falta de estrutura e agora elas conseguem fazer shows com uma qualidade legal e tocar em outros estados, coisa que era muito complicado a 20/30 anos atrás.

Infelizmente é o que vai acontecer com muitas bandas atuais, pois agora não ganham o devido reconhecimento e o povo vai esperar elas acabarem pra galera começar a dar valor e pensar “nossa, em 2010 / 2011 etc... devia ser muito foda, meu tio viu a banda tal ao vivo.”
Não sei se eu consegui me expressar direito nessa questão, mas acho que deu pra entender hehe!!


RtM: Você é um grande admirador de filmes trash de terror e coisas relacionadas à isso. Isso serve de influência na hora de compor? Conte-nos mais á respeito.
Hussein: Eu assisto muita bagaceira, mas tenho preferência para os filmes gore italianos dos anos 70.
Nós tínhamos a intenção no começo em fazer letras baseadas em filmes e histórias de terror por causa da influência dos filmes, King Diamond, etc...

Mas aí as letras começaram a surgir em temas diversificados e achamos melhor deixar rolar senão ficaríamos muito presos a uma temática só.
Nossos temas variam muito, pra citar alguns, falamos sobre problemas do cotidiano, terror, guerras, missas negras, possessão etc...

RtM: Qual o próximo passo para o Nosferatu na sua opinião? Conte-nos os próximos planos.
Hussein: Gravar o nosso primeiro vídeo clipe oficial para a música “Blessed by Flames of Hell”, relançar o EP “ Returning to the Slaughter” pela gravadora da Malásia Hell Fire Records e terminar as gravações do nosso próximo CD “Satan’s Child”, que ficou enrolado todo esse tempo devido a “trocentos” problemas de formação, dinheiro etc... hehe! E claro tocarmos no máximo de lugares possíveis.



RtM: Vocês tiveram recentemente um Vinil lançado pelo Stef da conceituada Heavy Forces. Como foi o contato com o pessoal de fora?
Hussein: Foi através do myspace da banda. Eu tenho contato com um pessoal de uma banda da Grécia chamada Witchcurse e eles haviam lançado seus materiais pela Heavy Forces.

Um tempo depois o Stef entrou em contato conosco após escutar as nossas músicas no myspace.
Conversamos alguns meses e ele nos ofereceu a proposta para lançarmos o “Returning to the Slaughter” em LP, mas nós estávamos esperando a resposta do Ader da gravadora Dark Sun, pois ele nos disse que lançaria esse material.

Como nós tínhamos umas músicas novas eu conversei com o Stef se ele não tinha interesse de lançar um split nosso com o pessoal do Deathhammer (Noruega) enquanto a gente não resolvesse essa questão com o Ader.

No começo ele achou que não daria muito certo, mas após conversar com o pessoal do Deathhammer no Festival Keep it true eles entraram em contato conosco pra falar que o material sairia.
Nós estamos tendo uma boa aceitação com o novo material tanto aqui quanto fora do país.


8. Você acredita que muito do nosso atual cenário é algo manipulado pelo visual e não realmente pela sonoridade das bandas?
Hussein: Olha, atualmente está muito visual e pouco som. Muita “atitude” que não passa de uma moda passageira. Muito maluco “pseudoconhecedor” de tudo por causa de mp3.

Muita banda boa ofuscada por falta de apoio e panelas.
Aí vai uma frase clichê, mas é sempre bem vinda “O tempo vai desmascarar os falsos”.

RtM: Qual sua última aquisição de material? Existe espaço para outros estilos dentro da música além do metal?
Hussein: Recentemente eu adquiri um split 7 EP do Hellkommander e Farscape e o segundo play do Apokalyptic Raids. Bem, eu não fico preso apenas no Metal, dentre as vertentes do rock eu gosto desde Rock’n’Roll até Black Metal.

Gosto de alguma coisa flash back também, trilhas sonoras orquestradas de maestros como Ennio Monricone, Basil Poledouris, Fabio Frizzi etc...
Acredito que haja música boa e ruim independente de estilos.



RtM: Para quem não sabe, você possui um estúdio chamado Blue Note do qual é proprietário e também dá aulas de guitarra, além de estar terminando um curso de luthieria... Você consegue sobreviver trabalhando somente com a música?
Hussein: Bem, eu estou me virando aos trancos e barrancos, mas tá indo. Tem hora que você não tem tempo nem pra peidar, mas tudo bem hehehe!!!

Por enquanto o estúdio está sendo alugado apenas para ensaios de outras bandas, mas em breve pretendo mexer com gravações, isso vai demorar um pouco, pois o investimento é um pouco alto.
De vez em quando eu alugo aparelhagem pra alguns eventos de pequeno porte.

RtM: O que lhe vem na cabeça ao pensar sobre sua banda daqui á dez anos? Você se vê fazendo isso? O que te motiva?
Hussein: Se eu não morrer até lá, com certeza! hehehe!! Mas falando sério, não sei o dia de amanhã, pretendo continuar sim, conseguir lançar mais materiais e cada vez mais poder melhorar a estrutura da banda ao vivo.
Bem o que me motiva? Eu passei metade da vida dando o sangue pra essa banda, sou teimoso, vou continuar hehehe.


RtM: Cite-nos os principais desafios de se manter fiel ao estilo NWOBHM , dentro de um país cuja a cultura beira aos limites do ridículo.
Hussein: Vivemos um underground dentro da própria cena underground.
Quase não se vê bandas do mesmo estilo ao nosso tocando som próprio por aí e na maioria das vezes tocamos com bandas de outros estilos.

Com isso, a maioria das pessoas que estão no evento olha com um olhar desconfiado, mas depois que vêm a proposta e que a coisa é séria acabam respeitando e curtindo.
Como você disse aqui é um país complicado em vários aspectos, automaticamente na maioria das vezes o que vem pra cá são outras vertentes mais comerciais e a galera não tem muito acesso ao tipo de som que fazemos.

Hoje com a Internet facilitou, mas ao mesmo tempo banalizou demais.
É muito fácil ver alguém que ontem tava com a camisa do Slipknot usando visual pintado a mão de banda que lançou uma demo gravada na casa da madrinha do baterista nos anos 80 (risos).
Muitos desses só querem saber de usar visual e ficar na farra e não entram no evento. 
Isso remete um pouco ao que eu havia respondido em outra pergunta. Mas concluindo, é complicado, os equipamentos são caros, o apoio é escasso etc...


RtM: Você acha que falta muito para nosso país se profissionalizar dentro do Metal?
Hussein: Com certeza!
Há um grande descaso por causa de donos de bares, mídia e uma parte do público.
Os donos de bares querem que as bandas toquem de graça, sendo que essas gastam com gasolina, cordas, equipamentos etc...

Eles vêm com aquela conversinha que é pra divulgar o trabalho, no começo as bandas estão no desespero pra tocar e acabam aceitando muita merda pelo simples prazer de tocar.
Um lance pra citar a falta de responsabilidade e profissionalismo foi o Metal Open Air que tacaram o público pra acampar no meio do bosteiro de cavalo e não acertaram a situação com várias bandas.
Enquanto continuar assim nunca vai melhorar.

Enquanto muitas bandas ficaram com aquela ideia de “ah somos tudo pião, tosqueira” sempre seremos tratados assim.
Eu sou da seguinte opinião, se você realmente ama o som que faz, que escuta, dê o sangue, é uma blasfêmia fazer a coisa porca.

Muitos “heróis” dessa nova mulecada que ficam com essa ideia de pião fazem o som certinho e os bobos ficam lá tocando tudo mal-feito.
Estudem os seus instrumentos, deem o sangue, a vida e se possível, a alma. Pratiquem o que pregam ou comam bosta até a morte. 
Desculpem o desabafo, mas é que fico meio puto com certas coisas.


RtM: Vi alguns vídeos e vocês fora do palco e shows são totalmente insanos! Conte- nos mais das suas principais diversões, e hobbies.
Hussein: heheeh!!! Obrigado. A verdade é que só tem retardado nessa banda.
O melhorzinho matou a mãe na dentada (Risos)
Mas falando sobre as performances no palco, bem nós tentamos dar 100%, muitas vezes as condições não são boas, mas a gente tem que se virar.

Sobre a questão dos Hobbies eu curto muito filmes de terror como havia dito e filmes em geral.
Quando posso vou ao cinema, gosto de ler, ir a shows e juntar os amigos pra fazer um churrasco e falar besteira hehehe!!!

RtM: Bom, esse é o espaço para você agradecer e deixar os contatos e redes sociais. Adicione o que quiser aqui.
Hussein: Obrigado Fernanda e todo o pessoal do Road to metal.
Eu queria agradecer pelo espaço cedido.
Pra quem quiser conhecer mais sobre a banda é só entrar em contato através da comunidade no facebook http://www.facebook.com/pages/Nosferatu-Heavy-Metal/188280747885092?ref=ts&fref=ts
Tel: (19) 3223-3398 / 3388-1481
Valeu!

Entrevista: Fernanda Nascimento
Revisão:Carlos Garcia
Edição: Fernanda/Carlos


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