Um dos pioneiros do Metal extremo no Brasil e América Latina, iniciando a atividade em meados dos anos 80, o Vulcano já deixou sua marca, tendo importante destaque na história do Metal nacional, mas apesar desse glorioso passado, a banda, apesar de alguns anos de "hibernação", não se prendeu a esses tempos idos, e segue em frente, lançando novos álbuns (inclusive com vários lançamentos num espaço relativamente curto!), alcançando novas conquistas e angariando novos fãs.
Conversamos com Zhema Rodero, membro fundador e uma das lendas vivas do Metal brasileiro, para nos contar um pouco de história, falar sobre os recentes lançamentos e muito mais. Confira a seguir!
Road
to Metal: A Vulcano é considerada por muitos como a primeira banda de Metal
extremo do Brasil/América Latina por ter surgido bem no começo dos anos 80. O
fato de ser pioneira num terreno em que o Brasil veio a se tornar uma das
fortes referências mundiais (incluindo grupos como Sarcófago, Sepultura e
Krisiun) é algo a que se orgulhar ou você pensa que as bandas que surgem hoje tem
mais apoio?
Zhema: Claro! Temos esse sentimento de orgulho por sermos reconhecidos como uma
referência. É certo que surgimos em uma época diferenciada onde quase tudo era
novidade, e de certa forma isso contribuiu para nos posicionar entre os
pioneiros. Atualmente existem outras condições que propiciam mais oportunidades
à todos, porém essas oportunidades são as mesmas para todas as bandas, por isso
eu acredito que não se pode viver do passado. Não renego o passado de maneira
alguma, mas também não fico preso nele.
Road
to Metal: Falando em reconhecimento internacional, a banda foi confirmada na
12ª edição do festival Maryland Deathfest em maio de 2015 em Baltimore (Estados
Unidos). Como se deu o convite e quais as expectativas para essa apresentação
por lá?
Zhema: Eu recebi um convite do Evan, um dos organizadores, em junho e
tentei emendar uma turnê maior por lá, porém eles queriam exclusividade, ou
seja, nos contratariam para apenas aquele festival, não poderemos tocar nessa
época em outros shows por lá. Mas não vejo nenhum problema afinal o MDF é o
maior festival de bandas “out of mainstream” no Estados Unidos. Tocaremos ao
lado de Sodom, Bulldozer, Napalm Death, Metal Church, Master, etc, etc... a
expectativa é muito grande e vamos preparar um ótimo repertório para esse evento.
Road
to Metal: A banda vem numa sequência de vários lançamentos, sendo que "The
Man, The Key, The Beast", lançado ano passado foi muito bem aceito tanto
pela mídia especializada quanto pelos fãs. Além disso, o relançamento de
material mais antigo do grupo. Atualmente, a banda vem divulgar “Wholly Wicked”,
segundo álbum em apenas dois anos. Conte-nos um pouco sobre o disco: como foi
compô-lo, qual sua temática, quem trabalhou na produção, etc.
Zhema:“Wholly Wicked” é um álbum excelente, intenso e poderoso sonoramente
falando. Ele tem um tema central que está implícito no título. Eu vinha
trabalhando no “The Man, The Key, The Beast” desde janeiro de 2013 e em Abril
ele foi lançado. Na mesma semana do lançamento nós viajamos para a Europa para
a “Thunder Metal Tour”.
Quando voltamos em junho, tive a sensação que estava
ocioso demais e comecei a trabalhar nas músicas que viriam a ser o “Wholly
Wicked”, porém em uma organização que fiz em minha garagem achei uns textos que
haviamos escrito há pelo menos uns 14 anos atrás e comecei a trabalhar neles
também e quando me dei conta eu estava com dois álbuns prontos! Começamos a
gravar em janeiro e no começo demorou um pouco pois eu estava gravando dois
álbuns ao mesmo tempo e isso estava me prejudicando, então foquei no “Wholly
Wicked” e depois no “The Awakening an Ancient and Wicked Soul”.
Road
to Metal: Se você fosse fazer uma avaliação de todos os anos de carreira, que
decisões gostaria de ter tomado de forma diferente e que talvez mudassem a
história da banda?
Zhema: É dificil responder isso, acredite! Eu estou satisfeito com o
VULCANO nos dias de hoje. Afinal eu tenho dúvidas de como seria se eu tivesse aceito
um convite da Godly Records USA para lançar um álbum inédito através deles em
1987. Esses caras foram os responsáveis pela implantação da RoadRunner na
América naquela mesma época. O que poderia ter acontecido? Não sei! Então
voltando a primeira parte de sua pergunta, eu penso que não pararia a banda por
14 anos, continuaria a fazer álbuns e então estaríamos atualmente como uma
discografia bem maior. Agora se isso ia mudar a banda, não sei!
Road
to Metal: Claro que a essência continua, mas quais seriam as principais
diferenças do Vulcano do início de carreira e o dos dias atuais?
Zhema: Éramos cinco jovens com muita vontade e pouco habilidade, hoje somos
quatro senhores com a mesma vontade, porém com muita habilidade.
Road
to Metal: Qual a sua opinião a respeito da cena atual do Metal brasileiro? Há
muitas discussões sobre o público, produtores e até bandas darem mais valor a
grupos de fora, e inclusive algumas bandas mudando o direcionamento para seguir
tendências e inclusive copiando algumas bandas de fora.
Zhema: Esta cena um tanto desgastada com relação ao prestígio que se dá
para bandas Brasileiras e bandas estrangeiras se traduz na bilheteria dos
Promotores de shows. Por algum motivo que realmente eu não compreendo já vi promotor
trabalhar duro, preparar um festival de bandas nacionais, fazer a divulgação, colocar
dinheiro do bolso, pedir dinheiro emprestado pros pais para bancar a
divulgação, fazer e refazer as contas e finalmente ficar na expectativa de
juntar pelo menos 200 pessoas, pois esse é o “break even point” que não dará
lucro, mas também não trará prejuízo.
Chega o dia e a hora do evento e não
aparecem essas 200 pessoas. Prejuízo e contas para pagar. Se esse mesmo
promotor contratasse um músico estrangeiro, por exemplo, o baixista de uma
banda “das” antigas que só tocou em um álbum apenas e que viria sozinho, chegando
aqui montava uma banda com músicos brasileiros que tocam em bandas “cover” e
manda um repertório da banda que ele tocou, pronto! Sucesso! Casa cheia! Isso
eu não entendo!
Olha esse fato que aconteceu comigo, fui assistir um festival de Metal em São Paulo, cinco bandas autorais e muito boas por sinal, ao terminar o evento paguei minha comanda, estou saíndo do local e vejo uma enorme fila, muito grande mesmo, esperando para entrar. Tinha mais gente na fila do que tinha no evento. Nesta fila uns três amigos de Santos, então eu disse... “chegaram atrasados...” um me respondeu: “não, viemos ver o "Cover do Metallica" ”. Dá para entender?
Olha esse fato que aconteceu comigo, fui assistir um festival de Metal em São Paulo, cinco bandas autorais e muito boas por sinal, ao terminar o evento paguei minha comanda, estou saíndo do local e vejo uma enorme fila, muito grande mesmo, esperando para entrar. Tinha mais gente na fila do que tinha no evento. Nesta fila uns três amigos de Santos, então eu disse... “chegaram atrasados...” um me respondeu: “não, viemos ver o "Cover do Metallica" ”. Dá para entender?
Road
to Metal: Ainda quanto ao que citamos de algumas bandas seguirem tendências,
abrindo mão de uma identidade, alguma vez houve pessoas que tentaram sugerir ou
convencer vocês de adotar mudanças na sonoridade ou outros aspectos a fim de
atingir outros mercados ou ser mais "vendável"?
Zhema: Não cara isso nunca aconteceu, mesmo porque o VULCANO sempre foi uma
banda independente. Nunca tivemos uma gravadora, um empresário ou um contrato.
Sempre fomos independentes, mesmo os álbuns lançados pela Rock Brigade, no
início e Cogumelo em seguida, foram produções independentes licenciadas para
essas empresas.
Essa coisa de preparar um banda para o sucesso é uma armadilha
porque, ou você tem um talento e gosta do que faz ou você tem talento e não
gosta do que faz ou você não tem nenhum e nem outro.
Não se cria talento e quem
tem talento não precisa estar sob o comando de empresários ou produtores, etc.
É muito mais fácil uma banda mediana, mas que realmente gosta da música que
está fazendo, chegar a um relativo sucesso do que uma banda virtuosa “fake”.
Road
to Metal: Você ouve bandas recentes do cenário brasileiro e mundial? O que tem
chamado a atenção e quais bandas, pelo que você ouviu, tem tudo para fazer
história ao longo das décadas, a exemplo da Vulcano?
Zhema: Sim, eu procuro ouvir tudo que me chega em mãos ou que alguém me
apresenta como sendo interessante, mas sinceramente para minha coleção, meu
carro e meu “mp3 device”, continuam indo os de sempre. Tem muita boa, mas também
tem muita banda com construções musicais que não me agradam. Eu ainda sou
aquele que não aceitou a geração Metallica e depois Pantera. Não adianta, meus
ouvidos não se acostumam que esse estilo, sinto muito!
Road
to Metal: Foram 15 anos sem lançar material, até que a banda chegou em 2004 com
“Tales From the Black Book”. Por que decidiram lançar novo material nos anos
2000 e o que motivou que na sequência dos anos novos trabalhos viessem, como
“Five Skulls And One Chalice” (2009) e “Drowning in Blood” (2011)?
Zhema: No ano de 1999 o Soto Jr. Guitarrista no LIVE! e “Bloody Vengeance”
insistiu muito para uma reunião da banda novamente e chegamos a fazer isso
algumas vezes que culminou em alguns shows. Infelizmente ele morreu em 2001.
Hibernamos novamente, mas eu sempre achava que se uma banda quer retornar das
cinzas deveria mostrar um trabalho inédito, não poderia ficar vivendo de
história e então em 2003 eu comecei a escrever o “Tales from the Black Book” e
criei um selo para esse lançamento chamado “Renegados Records”. Ocorreu que o
álbum foi um sucesso com versões Brasileira, Chilena, Suéca e Alemã em vinil.
Os demais álbuns vieram como uma sequência natural das coisas, ou seja a
aceitabilidade do “Tales...” e a continuidade do VULCANO.
Road
to Metal: Considerando a experiência que a banda possui o que pode dizer que é
necessário para um grupo de Thrash/Death Metal conseguir um lugar ao sol neste
período em que há maior difusão da música via internet (bandas que mal lançaram
EP podem ser ouvidas em todo o mundo)?
Zhema: Shows, shows e shows!! Tem que tocar ao vivo para mais pessoas que
puder, porque é lá, em cima do palco, que você poderá mostrar sua verdadeira
música e empolgar a plateia que futuramente virão a se tornar seus fãs.
Road to Metal:
Há dois novos lançamentos previstos para este ano: “Live II - Stockholm
Stormed” e “The Awakening of an Ancient and Wicked Soul – A Trilogy”. O que podemos
esperar deles e o que você pode nos adiantar deles?
Zhema: O Live II contém o show inteiro na capital Suéca e mostra como soa o
VULCANO no palco. Um álbum energético, rápido, bem gravado e dá seu recado para
aqueles que ainda não puderam ver o VULCANO ao vivo. “The Awakening of an Ancient and Wicked Soul” é a
trilha sonora de um livro. Na verdade são três textos interligados
pelo mesmo assunto os quais foram musicados de acordo com suas propostas.
Musicalmente falando, este EP tem arranjos diferenciados explorando intervalos
de trítono tanto nos acordes como nas vozes dos instrumentos e mantendo-se na
mesma linha do “Wholly Wicked”, mesclado com sonoridades que me influenciaram
como guitarrista.
Road
to Metal: Agradecemos pela atenção e oportunidade. Deixamos este espaço para sua mensagem final nesta entrevista, na certeza de que não será a última.
Zhema: Também agradeço a oportunidade desta entrevista e acrescento que o
VULCANO está fazendo uma turnê Sul Americana de uma forma um pouco diferente da
convencional, estivemos em Lima e esta semana partimos para dois concertos no
Chile, vamos voltar ao Peru, Arequipa em novembro seguindo para La Paz e no
inicio do ano Assunción no Paraguay.
Este formato de turnê, “picado” foi o que
encontramos como melhor logística dado que também temos nossos trabalhos
normais. E a quarta turnê Européia começa dia 30 de Setembro próximo, até lá
esperamos que o Live II já tenha sido lançado e que o “The Awakening of an
Ancient and Wicked Soul” esteja na fábrica.
Agradeço também aos leitores por dispender um tempo na leitura desta
entrevista!
Keep Banging!
Entrevista: Carlos Garcia e Eduardo Cadore
Edição/Revisão: Carlos Garcia
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