Com pouco mais de três anos na
ativa os paulistas do Capadocia chegam para mostrar algo novo ao Metal
nacional, mostrando muita influência da música brasileira em seu som, assim
como ares modernos, além de uma sonoridade bem particular.
Prestes a iniciar uma turnê com o
Cavalera Conspiracy, batemos um papo com o líder e baterista Baffo Neto, que
nos conta sobre o lançamento do primeiro disco, a sonoridade diversificada e a
grande oportunidade de tocar junto com os irmãos Cavalera.
Confira agora mesmo:
Road to Metal: Vocês irão sair em
turnê com o Cavalera Conspiracy, qual expectativa para esses shows?
BAFFO NETO - Olá. Muito prazer e muito obrigado pela
oportunidade de estarmos fazendo esta entrevista. É uma honra para nós, que
somos uma banda nova, sair em turnê com os irmãos Cavalera. Somos fãs,
entendemos o valor da oportunidade que estamos tendo e somos muito gratos por
isto. Quanto à expectativa para a turnê, esperamos achar um público já não tão
novo e por isso, relativamente difícil de agradar, então o chicote tem de
estralar forte para podermos passar pela aceitação deles.
RtM: Como rolou o convite para
tal oportunidade? Pois certamente é uma grande chance de divulgação, certo?
BAFFO NETO - Sim, é uma excelente oportunidade. Foi meio
que assim: Ano passado ainda a Gloria Cavalera tinha manifestado ao nosso
agente Alex Palaia da GW Entertainment, que é o representante do Soulfly e do
Cavalera Conspiracy na America Latina, o interesse em trazer o Cavalera de
volta ao Brasil e América do Sul em Setembro deste ano em uma tour que fosse
relativamente extensa. Como na América do Sul é um pouco complicado de fazer
isto devido ao alto custo de logística, nosso agente recorreu a nossa manager
Damaris Hoffman, da Hoffman & O’Brian, para examinar algumas opções e me
chamaram para a conversa também. Eu disse que poderia ajudar a conseguir shows
para a banda e que eu gostaria muito de tocar com eles em alguns dos shows caso
isto acontecesse. Depois de muita conversa conseguimos colocar em pé uma das
mais extensas Turnês de uma banda de Heavy Metal pela América Latina já
realizada até hoje, e aqui estamos nós, tocando em vários destes shows.
RtM: O Capadocia se prepara para
lançar seu primeiro disco. E o que podemos notar na sonoridade da banda é uma
boa diversificação sonora com inclusões de ritmos brasileiros. Como vocês
chegaram a tal sonoridade?
BAFFO NETO - Foi uma mistura de conclusões. Ha muito
tempo eu venho tentando desenvolver uma sonoridade equilibrada considerando
quem eu sou de onde eu venho, e para onde quero ir e ainda sigo firme e forte
neste caminho. Este disco é uma conclusão primaria desta busca que ainda está
longe de seu fim. Na medida em que o tempo vai passando e o mundo mudando, a
música também muda acompanhando o mundo e da maneira que eu entendo, é dever do
artista traduzir sua música para o seu tempo e por isto, a busca não para e as
mudanças sempre acontecerão até que encontremos nossa própria linguagem
atemporal e certeira, o que creio eu ser o ápice de qualquer artista. A
sonoridade do Capadocia hoje é fruto do momento que vivemos hoje e de que
vivemos nos anos passados.
RtM: Será a primeira vez de vocês
em Porto Alegre/RS, o que podemos esperar deste show?
BAFFO NETO - Cara, sempre quis tocar no Bar Opinião. O
Lugar carrega muita história e eu mesmo pude acompanhar várias bandas em vários
shows internacionais que ajudaram a escrever esta história e poder tocar nesta
casa, nesta cidade em uma condição tão honrosa é realmente um privilégio, algo
para ser considerado como um presente. Vocês podem esperar uma banda defendendo
seu caminho, mostrando seu trabalho e tocando um Metal peculiar, diversificado
e contagiante. Esperamos firmemente que esta seja apenas a primeira de muitos
outros shows. Aqui em São Paulo se tem
uma ideia muito boa de Porto Alegre, todos querem tocar em Porto Alegre, mas a
distância e o alto custo operacional dificultam demais a ida de bandas menores,
de bandas do underground de todo o país que sonham em tocar no Sul. Estamos tendo este privilegio e não vamos
deixar por menos. Podem acreditar.
RtM: Vocês são uma banda
relativamente nova (formada em 2011), porém com músicos experientes. Conte-nos
um pouco da história do Capadocia.
BAFFO NETO - Em 2006, quando ainda morava na Europa eu
decidi voltar para o Brasil e remontar minha antiga banda. Tentei de diferentes
maneiras, mas como meu parceiro Michel Gambini, hoje vocalista de uma banda
chamada Seita ainda morava em Amsterdam se tornou inviável manter as atividades
do grupo rolando como deveria e por esta razão entre outras eu decidi montar
uma nova banda. Saí na captura de músicos e descobri que, como eu sou do ABC
paulista, seria mais legal eu montar com uma rapaziada daqui também, porque o
background de quem cresce no ABC é um pouco diferente que dos paulistanos ou do
pessoal de outra região de São Paulo e seria mais fácil para mim me entender
com pessoas que tiveram a infância no mesmo lugar do que eu. Com esta ideia em
mente eu achei o Marcio Garcia, guitarrista que tocava em outra banda do ABC
chamada Post War. Depois nos acertamos com Gustavo Tognetti, que tocava no Skin
Culture e por coincidência tinha um estúdio de tatuagem em Santo André e por
último, recrutei o Palmer de Maria, que foi o baterista com quem eu montei
minha primeira banda, ainda com 14 anos de idade. Como tocamos juntos por
muitos anos, nos entendemos bem musicalmente e eu acho isto importante
considerando que a parte rítmica desta banda precisa ser bastante apurada. O
Palmer é uma baterista experiente, assim como o Marcinho Também é um
guitarrista bastante experiente. O Gustavo é o mais novo da banda, toca ha
menos tempo e que os demais e mesmo assim já é bastante eficiente e
convincente. Temos um time competitivo.
RtM: Atualmente vivemos uma era
digital assombrosa, que de certa forma prejudica o trabalho das bandas, mas
facilita a divulgação fazendo o som
chegar para todo mundo. O que vocês acham desse novo momento que a indústria
fonográfica vive?
BAFFO NETO - Este momento já não é novo, ele tem mais de
10 anos. Na real eu me posiciono da seguinte maneira: É o que é. Não adianta
chorar, reclamar, etc. E sim se adaptar a realidade dos dias de hoje, assim
como também precisaram se adaptar a realidade do CD quando foi lançado e
substituiu o Vinil. Os que conseguem, sobrevivem. Os que não conseguem,
sucumbem. A realidade atual da indústria não prejudica as bandas em termos de
carreira. Prejudica sim as gravadoras, o que é bem diferente. Cabe ao artista
conquistar ou não um espaço no coração do fã. Hoje o músico tem a possibilidade
de chegar junto ao ouvido do fã de música como nunca antes, só que esta
oportunidade é igual para todos. Você precisa achar sua maneira de se destacar,
só isso. A meu ver não ha nada de negativo no atual formato da indústria a não
ser o despreparo do artista ao lidar com isto.
RtM: Outro ponto que tem sido bastante
discutido é a certa falta de público nos shows, muitos culpam a internet por
isso, pois temos uma nova geração que de certa forma parece não interessada à
este contato. O que vocês pensam a respeito?
BAFFO NETO - Acho que o problema não reside na falta de
interesse nos artistas e sim na falta de artistas interessantes o suficiente
para arrancar um fã de Metal da frente do computador. Os shows de muitas bandas
estão indo bem tanto aqui no Brasil quanto ao redor do mundo. O underground se
encontra saudável e em forma razoável para grande parte da nova geração de
bandas tanto aqui no Brasil quanto fora. O que não funciona é o anacronismo de
muitos músicos e bandas por toda parte, que por não desenvolverem sua razão de
ser talvez até por não saber que disso se precisa, acham que o público deve
engolir seja lá o que for pelo simples fato de que ele se sentem bem tocando em
uma banda. O problema não é a evolução da tecnologia que teoricamente causa o
desinteresse das novas gerações. O problema é a inerente e ridícula
incapacidade de entender qual é o real problema. É fácil culpar uma situação pelo fracasso de
outra, mas tem o mérito quem resolve o problema, não quem aponta o defeito.
RtM: Para finalizar gostaria que
nos falassem de suas principais influencias e quais bandas têm acompanhado no
momento.
BAFFO NETO - No momento eu tenho escutado bastante o
Worst, o Project 46 e eu escutei alguma coisa do disco novo do Korzus no
estúdio deles que eu também gostei bastante. Estou sempre procurando bandas
novas que eu goste, de vez em quando eu acho, de vez em quando não. O Test é
uma banda hiper interessante também. Tenho escutado bastante o último disco do
Forka, que é du caralho também e bastante Black Sabbath. Tenho bastante influência
de música percussiva brasileira, porque eu toco bateria desde os meus oito anos
de idade... Pelo menos tento manjar um pouco. Acho que é isso.
Conheça mais a banda:
Entrevista/edição/revisão: Renato Sanson
Fotos: Divulgação
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