segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Cobertura de Show: Siena Root – 02/12/2025 – La Iglesia/SP

O cenário underground da música psicodélica e stoner rock ganhou mais um capítulo inesquecível quando o La Iglesia, em São Paulo, recebeu a banda sueca Siena Root. Dois dias após sua apresentação como abertura para a banda japonesa Boris, eles fizeram sua estreia como atração principal na capital paulista. Antes de os nórdicos subirem ao palco, o protagonismo ficou por conta da banda brasileira Hammerhead Blues, um trio que tem se destacado no cenário nacional por sua mistura pesada de riffs psicodélicos e grooves marcantes. 

Formado por Otavio Cintra no baixo e nos vocais, Luiz Cardim na guitarra e William Paiva na bateria, o Hammerhead Blues entregou uma performance que serviu não só como aquecimento para o show principal, mas como um resgate de uma era especial da música. No setlist de oito faixas, o grupo mergulhou o público em uma viagem desde os primeiros acordes de “Hero / Roger's Cannabis Confusion”, uma abertura dupla que misturou riffs pesados e linhas de baixo groovy, com Otavio Cintra demonstrando um vocal expressivo e envolvente que comandou a noite. As canções “Age of Void” e “Traveller” seguiram em uma progressão crescente, destacando o trabalho preciso de Luiz Cardim na guitarra, cujos solos psicodélicos evocaram viagens, enquanto William Paiva mantinha o ritmo firme na bateria, criando uma base sólida que reverberou pelas paredes do La Iglesia. 


Destaques como “Windmill's Kiss” e “Moontale” trouxeram momentos alucinantes e jams que destacaram sua química no palco. Já “Around The Sun”, “Drifter” e o encerramento com “Thrill of The Moonrise” elevaram a intensidade, transformando o show em um momento inesquecível que deixou o público eufórico e ansioso pelo que viria a seguir com Siena Root. Foi uma apresentação cheia de energia e impactante; a banda entregou tudo e ficou clara sua fome de palco, o que reforçou a qualidade do Hammerhead Blues.

Na sequência, o Siena Root entrou no palco já em clima de festa. A atual formação, com Zubaida Solid (vocais e teclados), Johan Borgström (guitarra), Sam Riffer (baixo) e Love Forsberg (bateria), entregou o melhor rock psicodélico e stoner, contagiando o público e estabelecendo uma conexão imediata com os fãs. Desde a abertura com “We (Over the Mountains)”, já ficava claro que a banda sueca estava em plena forma, trazendo seu rock vintage carregado de groove e feeling. Não foi diferente em faixas como “Tales of Independence”, “Organic Intelligence” e “There and Back Again”, que ganharam versões cheias de nuances, mostrando tanto a força instrumental quanto o entrosamento impecável entre os integrantes.

Passeando pelo seu catálogo, foi a vez de “Dusty Roads”, uma bela balada que trouxe paz e contemplação em meio à viagem quase lisérgica que os suecos proporcionavam. Durou pouco. “Into The Woods” chegou com muita psicodelia e improvisos, fazendo a cabeça da galera. E tinha para todos os gostos: “Keeper of the Flame” e “Above the Trees” carregavam aquela vibe mais bluesy, criando uma dinâmica perfeita para a apresentação.

E o que dizer da trinca que veio a seguir? “Wishing for More”, “Time Will Tell” e “Coming Home” não deixaram pedra sobre pedra na parte mais pesada do show, trazendo à tona toda a sua influência do hard rock setentista e não deixando ninguém parado. O clímax veio com “Imaginary Borders” e “Root Rock Pioneers”. Esta última contou com a apresentação dos integrantes e encerrou de maneira apoteótica o show, com um duelo de teclado e guitarra ao estilo de “Lazy”, do Deep Purple.

A reação fervorosa do público, que pedia mais e mais, foi a prova do sucesso da apresentação, demonstrando o quanto a música do Siena Root ressoa com o público brasileiro. A retribuição da banda à recepção calorosa foi um dos pontos altos da noite. Visivelmente emocionados com o carinho e a energia trocada, os suecos decidiram estender a apresentação, presenteando os fãs com duas músicas extras que não estavam no setlist. A primeira foi “Outlander”, já conhecida pelos fãs mais dedicados e recebida com euforia. Contudo, foi a surpresa final, “Waiting for the Sun”, tocada sem aviso prévio, que selou a apresentação como lendária. São momentos assim que fazem uma apresentação deixar de ser apenas excelente para se tornar de fato espetacular, tudo acontecendo ali, em tempo real, diante de seus olhos. 

Em suma, o show do Siena Root foi uma aula de performance ao vivo, em que a excelência musical se uniu a uma entrega genuína com a audiência. A banda sueca mostrou ser uma força vital no cenário do rock contemporâneo, proporcionando um espetáculo que equilibra virtuosismo e alma. A felicidade evidente dos músicos, que se traduziu em um bis estendido, deixou claro o agradecimento sincero pela noite memorável proporcionada pelos fãs brasileiros.



Texto: Marcelo Gomes


Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Abraxas



Hammerhead Blues – setlist:

Hero / Roger's Cannabis Confusion

Age of Void

Traveller

Windmill´s Kiss

Moontale

Around Th Sun

Drifter

Thrill of The Moonrise


Siena Root – setlist: 

We (Over the Mountains)

Tales of Independence

Organic Intelligence

There and Back Again

Dusty Roads

Into the Woods

Keeper of the Flame

Above the Trees

Wishing for More

Time Will Tell

Coming Home

Imaginary Borders

Root Rock Pioneers

Bis

Outlander

Waiting for the Sun 

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