terça-feira, 15 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Shawn James – 11/10/24 – Carioca Clube/SP

Muitos o conheceram depois da inclusão de sua música “Through the Valley” no jogo Last Of Us Part II, no começo da pandemia, mas o Shawn James, cantor de blues/folk nativo de Chicago, Illinois têm estado na ativa desde 2012, impressionando tanto fãs quanto críticos ao redor do mundo com sua voz incrível. Aqui no Brasil, sua primeira apresentação veio em 2022, voltando em abril do ano passado, no Fabrique Clube. Agora, em outubro de 2024, o americano voltou para terras tupiniquins, trazendo 6 de 12 apresentações da perna latinoamericana de sua nova turnê, “Muerte Mi Amor Tour” para a nação verde-amarela, passando por São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte e pelo Rio de Janeiro. A “gira” começou em São Paulo, em uma sexta-feira, dia 11, no Carioca Clube. Veja como foi.

Perto das 19:00, horário de abertura das portas, já havia uma fila decente do lado de fora da casa, dobrando a Cardeal Arcoverde. Dentro da casa, pessoas corriam de um lado para o outro, tentando garantir um lugar perto do palco. Mais ou menos umas 19:40, a luz começou a pipocar, ficar meio instável. Em várias regiões da cidade, começou uma chuva forte, derrubando a energia de vários lugares. Quase uma hora depois, nada do Shawn no palco. Ele só foi subir às 20:45, mais de uma hora depois de acabar a luz.

Logo de cara, os fãs enlouqueceram, gritando e batendo palmas, mas assim que Shawn pegou no violão, dava para ouvir até um cílio cair no chão. Foi só o nativo de Chicago começar “Six Shells (The Outlaw’s Anthem)”, com sua voz poderosa ecoando pelo Carioca como fortes trovoadas que a galera acordou de novo. Inicialmente, até havia um coro singelo o acompanhando, mas acabaram deixando a cantoria só para James. O músico até tentou agradecer o público no final na música, mas não deu nem para ouvir o que ele tinha a dizer, por conta do volume absurdo dos gritos dos fãs.

“The Curse of the Fold”, por sua vez, foi cantada inteira a plenos pulmões, por uma massa de fãs que estava claramente maravilhada, estavam vidrados pelo Shawn. Esse apreço foi retribuído pelo cantor, que disse que “não há lugar melhor no mundo que São Paulo”, logo antes de iniciar “When the Stones Cried Out”, que também foi recebida de maneira tão calorosa quanto a sua antecessora. 

Shawn mostrou estar incrivelmente grato pelo apoio dos Brasileiros, apontando que o show que fez na capital paulista no ano passado, no Fabrique, havia sido o maior de sua carreira, então, com o show daquele domingo, São Paulo estaria quebrando seu próprio recorde. Ele falou que não tinha palavras para descrever o apoio que recebia do pessoal daqui, dizendo que genuinamente adora o país. Seria chover no molhado dizer que vindo dele, parecia ser algo verdadeiramente genuíno, diferente de muitos artistas. “The Thief and the Moon” e “Eating Like Kings” deram sequência ao show, cada uma ocasionando um mar de aplausos. A sintonia entre James e o Carioca Club, quase lotado, era espetacular, ele tocava com um sorriso no rosto, pulando pelo palco, e os fãs iam verdadeiramente à loucura. “Eating Like Kings” veio com a história comovente de sua origem: composta originalmente por Baker (Gravedancer), um dos melhores amigos de James, ela é o resultado emocionante de estar lutando no Afeganistão pelo exército americano.

Entre conversas com quem estava lá, destacou também “I Want More”, de seu mais novo álbum, “Honor and Vengance”, de novembro de 2023 e tocou “Pendulum Swing”, de “Deliverance” (2014). Era incrível que não importava a música, os fãs cantavam junto. Honrando o halloween, a chamada “spooky season”, foi executada “Burn the Witch”, que o cantor admitiu ser uma de suas favoritas. Mostrando seu carisma, soltou um “vamo, caralho!” e chamou alguém (que este que vos escreve não identificou) de arrombado. Troçando os xingamentos por elogios, introduziu sua banda de apoio e todo o time por trás dessa turnê, tour managers, técnicos de som e até sua mulher, que aparentemente estava encarregada de fazer sua segurança.

O bloco “plugado” de seu show foi encerrado com “Orpheus”, que abriu as portas para “Muerte Mi Amor”, faixa que dá nome à turnê e foi a primeira de 6 consecutivas a ser tocada de maneira acústica. “Muerte” foi prefaciada com um discurso um tanto deprimente, com Shawn falando que já havia terminado o último disco, quando começou a pensar sobre sua própria morte, criando a letra da música. No palco, havia só ele e o baixista, que havia assumido o violão, criando um clima um pouco mais intimista. O baixista saiu do palco, deixando só James, claramente surpreso com o apoio do público, falou que tocaria mais algumas músicas que não estavam no setlist. A primeira dela foi “That’s Life”, clássico do Frank Sinatra.

Para realmente enfartar seus fãs, Shawn tirou uma dobradinha absurda da manga, “The Guardian (Ellie’s Song)”, famosa por conta de sua inclusão na segunda parte do The Last of Us e um cover arrepiante do “The Number of the Beast”, hino absoluto do heavy metal. A energia naquele momento foi indescritível. Não há como fazer jus à o que foram aquelas duas músicas, especialmente escutar um clássico do metal na voz de Shawn James. Veja:


“Midnight Dove”, composta para sua irmã, que à época batalhava contra o câncer, foi seguida por “Through The Valley”, e desculpe meu palavreado, mas puta que pariu, caralho, porra, vai tomar no cu, que música bonita. Veja também. Não tem nem porque tentar descrever. Mantendo a energia lá no alto, os fãs gritavam “Shawn, eu te amo! Shawn, eu te amo!” e ele, segurando uma dose de cachaça, trazida pelo baixista, que voltava ao palco, virou como se não tivesse amanhã.


Continuando com a sequência de hits, Bill Withers foi homenageado com “Ain’t no Sunshine”, novamente linda, com uma energia indescritível. Shawn até estendendo a parte do “I know, I know, I know”, vendo o ânimo dos fãs. O violinista já estava pra lá de maluco, virando uma lata de cerveja, soltando o cabelo e batendo cabeça que nem louco. Estava um clima de festa mesmo, bem descontraído. Com a banda toda já no palco e seu bloco acústico para trás, tocou “Flow”, uma das favoritas dos fãs, julgando pelo número de celulares que foram ao ar para registrar o momento.

O Chris Cornell é um dos melhores vocalistas da história, ele tinha um timbre de voz único, uma intensidade ímpar, e nunca, ninguém vai chegar no nível dele, nem sequer superá-lo. Mesmo assim, (desculpe minha vulgaridade), puta merda, como esse Shawn James canta. “Like a Stone” coube na voz dele como uma luva. Ele tem um pouco da mesma intensidade e do drive natural do Cornell. Ouvir uma música tão clássica, em uma versão tão diferente ser cantada a plenos pulmões por mil fãs apaixonados não tem preço, é mais que especial. Sei que parece que estou com preguiça de escrever, mas nada faz jus à performance de Shawn James, veja só você:


Deixando um pouco do melhor para o “final” - como se o show inteiro já não estivesse um arregaço de bom - executou as enérgicas “The Wanderer” e “Blood From a Stoner”, ambas incrivelmente enérgicas, dava quase para abrir mosh. Transbordando carisma, pegou novamente a garrafa de cachaça e virou um pouco na goela de cada músico de apoio.

Para o Bis, o americano nem saiu do palco, só soltou o violão e pegou, pouco tempo depois. “Voltaram” com uma versão de “Bad Moon Rising”, do Creedence Clearwater Revival, ainda não lançada, que estão tocando só nessa turnê e 2 autorais, “Hellhound” e “Haunted” de “On the Shoulders of Giants” (2016) e “The Dark & The Light” (2019). “Hellhound” foi introduzida com uma pequena amostra das habilidades do baterista irlandês, acompanhado do violinista, já doidasso das ideias. James, incentivando o público a “enlouquecer” naquela sexta à noite, começou o riff, banhado em distorção, criando um peso até inesperado. Apesar de uma falta de cantoria, seria chover no molhado dizer que quem esteve lá se divertiu, batendo palmas, trocando “oooos” no refrão e até batendo cabeça.


Com uma lata de cerveja na mão e o público na outra, gritou “one more”! Levando a galera à loucura, “Haunted” foi a faixa que teoricamente fecharia a noite. Foi um frenesi generalizado, gente pulando, copos de cerveja indo ao ar e “o caralho a quatro” - a energia estava animal, justifica mais um último palavrão, vai. Agradecendo a presença e energia de todos, ao som de gritos de “mais um! mais um!”, anunciou “Hunger”, música originalmente do projeto dele com sua banda, Shawn James and the Shapeshifters. “Hunger” tem dois pés fincados no southern rock, com partes que quase beiram o punk. Foi certamente um ponto alto da noite e o melhor jeito de fechar o show, com a energia lá em cima. Acentuando ainda mais o espírito punk, o violinista nem esperou a música terminar para “meter o louco” e moshar do palco, recebido pelos braços do público.


Vou falar a verdade, não estava esperando que fosse um show incrível. Vi um monte de vídeos dele ao vivo, em estúdio, todo material Shawn Jamestico que tinha para consumir, eu consumi. Um dos comentários que eu mais vi nos vídeos do YouTube foi “his voice turned me gay” (a voz dele me fez virar gay), e mesmo com os comentários sendo 100% na zoeira, dá para entender tranquilamente. A potência que o Shawn James tem é algo para ser estudado pela NASA. A presença de palco dele nem se fala. O repertório, perfeito, sem erros. Quem não foi, perdeu um dos shows do ano, e olha que sou metaleiro chato.





Realização: Agência Powerline



Shawn James - setlist:

Six Shells (The Outlaw’s Anthem)

The Curse of the Fold

The Stones Cried Out

The Thief and the Moon

Eating Like Kings

I Want More

Pendulum Swing

Burn the Witch

Orpheus

Muerte Mi Amor*

That’s Life*

The Guardian (Ellie’s Song)*

The Number of the Beast*

Midnight Dove*

Through the Valley*

Ain’t No Sunshine

Flow

Like a Stone

The Wanderer

No Blood From a Stone

Bis

Bad Moon Rising

Hellhound

Haunted

Hunger

domingo, 13 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Living Colour – 12/10/2024 – Tokio Marine Hall/SP

Poucas bandas têm um som tão característico e tão impactante quanto os nova-iorquinos do Living Colour e sua mescla flamejante de rock, punk, soul e funk. Atualmente composta por Vernon Reid na guitarra, Corey Glover no vocal, Will Calhoun na bateria e Doug Wimbish no baixo, o quarteto realizou sua décima passagem pela capital paulista com um show eletrizante no Tokio Marine Hall, uma das maiores casas de show da “cidade da garoa”, com capacidade para aproximadamente 4 mil pessoas. A gira atual não passaria só por terras tupiniquins, mas também pelo Chile e pela Argentina, ambos “queridinhos da banda”, contando com 4 e 8 visitas, respectivamente. Aquele sábado, feriado, prometia ser mais uma apresentação histórica, recheada de clássicos.

Chegando no Tokio, o bairro inteiro estava apagado, escuridão para todos os lados, menos a própria casa, que estava completamente acesa. Sair na rua - completamente apagada - no final do show, que estava previsto para COMEÇAR às 22:00 seria algo complicado, mas aí é uma história à parte. Mesmo assim, já havia uma quantia decente de pessoas na parte de fora da casa, esperando para ver o Living Colour ao vivo e à cores. Lá dentro, era aquele esquema típico dos shows da Toplink, estande de merchan no saguão (que curiosamente contava com exemplares do disco acústico do Angra) e um pequeno palco perto da entrada da pista, com alguns equipamentos para outra banda assumir e tocar alguns covers no final dos shows.

Por volta das 20:40, subiu ao palco o Black Pantera, acompanhados por palavras do Mano Brown pelo PA. Para quem ainda não conhece, são um power trio mineiro composto pelos irmãos Charles e Chaene Gama (guitarra/voz, baixo respectivamente) e o baterista Rodrigo Pancho. Foram uma escolha certeira para abrir para o Living, visto que a influência dos nova-iorquinos no som do Black Pantera é palpável, fora o fato de ter uma noite em uma das maiores casas de show de São Paulo só com músicos negros. Quem já foi em algum show deles, sabe bem como é, um show objetivo, direto, com uma energia incrível, mas também recheado de interação com os fãs. 

Desde o meio do ano, seguem com a turnê de seu quarto álbum, “Perpétuo”, e foi ele o foco do repertório. Das 13 músicas, só não foram do último disco as já clássicas “Padrão é o Caralho” e “Fogo nos Racistas” e as enérgicas “Dreadpool Zero”, “Boto pra Fuder” e “Recolução é o Caos”, que começou com Chaene tocando a introdução de “Anesthesia (Pulling Teeth)” no baixo. Das do disco novo, vale destacar “Provérbios”, que começou a noite com tudo, a linda “Tradução”, dedicada às mães presentes e “Fudeu”, que foi prefaciada por “September”, aquela, do Earth, Wind and Fire pelo sistema de PA. 

No geral, mostraram porque são uma das bandas nacionais que mais crescem nos últimos tempos; não só fizeram um show muito bom, direto ao ponto, mas também esbanjaram uma presença de palco absurda, interagindo bastante com os fãs e se divertidndo visivelmente, tocando com um sorriso no rosto, pulando, batendo cabeça.

Os headliners assumiram a casa um pouco atrasados, mas nem tanto, às 22:10, ao som da marcha imperial do Star Wars. Começaram com “Leave it Alone”, destaque de seu terceiro álbum, “Stain” (1993). Não se passaram nem 2 minutos, já dava para sentir a energia incrível que tomava o Tokio Marine Hall. Som incrível, galera animada, banda tão animada quanto, evidentemente felizes no palco. Tem tanta banda que toca parecendo que precisa bater ponto e ir embora, cumprir tabela, mas o Living Colour com certeza não é uma delas.

Seguiram com a volta para o passado, tocando “Desperate People”, de seu primeiro trabalho, “Vivid” e novamente destacaram “Stain” com a dobradinha de “Ignorance is Bliss” e “Bi”, que começou com uma troca de “everybody” entre Glover e os fãs. Foi só o Will Calhoun começar aquela introdução no cowbell que a galera já sabia o que ia rolar, “Ausländer”, mais um petardo diferenciado, banhado de efeitos, do “Stain”. “Never Satisfied” fechou a sequência de “Stain”, abrindo as portas para “Funny Vibe”, de “Vivid”, que mostrou claramente as habilidades incríveis da banda. Calhoun é um relógio na bateria, Doug Wimbish, que teve seu primeiro show com a banda aqui na capital paulista, no Hollywood Rock, toca as linhas de baixo complexas como se fossem músicas de punk e Vernon Reid e Cory Glover nem se fala, um Deus da guitarra com um estilo próprio e um vocalista que mesmo beirando os 60, ainda chega nos mesmos agudos que chegava no auge dos anos 90.

“Sacred Ground”, lado B de “Collideøscope” (2003) deu sequência à festa, que contava com um Tokio Marine Hall quase cheio. A groovadíssima “Open Letter (To A Landlord)” veio à seguir, esfregando na nossa cara o fato de que Cory Glover, aos 59, canta melhor do que muito jovem por aí. Depois dessa performance incrível, até os proprietários de imóveis que estavam presentes começaram a viver de aluguel. Glover descreveu o baterista como a nona, décima e décima-primeira maravilha do mundo, e o solo de bateria que eles fez realmente explicou o porquê.

“Flying” terminou com um pedido de aplausos para o Vernon Reid. Quando o público parou, Glover mostrou seu carisma e disse, “dont stop, dont stop”, brincando com o público. O vocalista passou a tocha para Doug Wimbish, que além de baixista da banda, também gravou diversos artistas no começo da cena do hip-hop nova-iorquino, oferecendo uma pequena medley com músicas da época, White Lines (Don’t Don’t Do It), do Grandmaster Flash e Melle Mel, “Apache”, da The Sugarhill Gang e “The Message”, de Grandmaster Flash e o Furious Five.

A folia continuou, agora de volta ao rock, com “Glamour Boys”, cantada junto pelo público. Mostrando toda sua versatilidade, foram da quase pop “Love Rears Its Ugly Head” para “Time’s Up”, rápida e objetiva, com cheiro de Bad Brains com uma facilidade absurda. Ambas foram recebidas calorosamente pelos fãs, que cantaram “Love Rears” junto, a plenos pulmões e ficaram vidrados pelos solos de derreter o rosto que Vernon Reid fez em “Time’s”.

Com o show já chegando ao fim, tocaram aquela música, a famigerada, a icônica, a mais pedida (não a do Raimundos), “Cult of Personality”. Foi só a introdução começar, que um mar de celulares foi ao ar, e justificavelmente, foi um momento digno de ser registrado. Quem nunca viu isso acontecer ao vivo ainda não viveu direito. Ouvir “Cult of Personality” ao vivo deveria ser obrigatório por lei. Pensa numa música boa, pensa numa energia incrível, pensa numa banda que replica o instrumental perfeitamente, pensa num público envolvido. Foi isso que rolou naquele sábado.

Antes de irem embora, falaram que viram o Black Pantera na passagem de som e acharam incrível, então queriam dedicar um último som a eles. Para fechar a noite, foi escolhida a “Type”, faixa enérgica, pé na porta, sem massagem, vinda também do “Time’s Up”, de 1990. Fecharam o show com chave de ouro, com uma energia ímpar.

No geral, mostraram porque são um dos maiores. Repertório muito sólido, som perfeito, presença de palco absurda, banda de abertura acertadíssima, público envolvido. A única reclamação que pode ser feita realmente é o horário. Não tem necessidade de fazer algo tão tarde assim, especialmente com a cidade toda apagada, tornando a saída um perigo. Bom, deixando isso de lado, o show em si foi incrível, inacreditavelmente bom. Produção e banda estão de parabéns! Baron, já pode trazer eles ano que vem de novo…


Texto: Daniel Agapito 

Fotos: Belmilson Santos 


Realização: Top Link Music


Black Pantera - setlist:

Provérbios 

Padrão é o Caralho

Dreadpool Zero

Boom!

Perpétuo 

Fogo nos Racistas

Tradução

Fudeu

Black Book Club

Sem Anistia

Candeia

Revolução é o Caos

Boto pra Fuder


Living Colour - setlist:

Leave it Alone

Desperate People

Ignorance is Bliss

Bi

Ausländer

Never Satisfied

Funny Vibe

Sacred Ground

Open Letter (to a Landlord)

Solo de Bateria

Flying

White Lines (Don’t Don’t Do It) / Apache / The Message

Glamour Boys

Love Rears Its Ugly Head

Time’s Up

Cult of Personality

Type

sábado, 12 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Destruction – 06/10/2024 – Carioca Club/SP

No dia 6 de outubro, a capital paulista recebeu a tão aguardada apresentação da lendária banda alemã de Thrash Metal Destruction, em uma noite que celebrou seus 40 anos de carreira. A expectativa era alta, especialmente com a presença do Sextrash, um ícone da cena nacional, que infelizmente não pôde se apresentar nem em São Paulo e nem em Belo Horizonte.

A coincidência das eleições no domingo trouxe um clima caótico à cidade, e a proximidade do show da banda Lucifer acabou dividindo a atenção dos fãs de Heavy Metal. No entanto, em uma reviravolta de última hora, os paulistanos do Válvera assumiram a abertura do evento, oferecendo um set curto, mas energético, que levantou o público e preparou o terreno para o espetáculo principal, com direito a moshes tímidos e uma atmosfera de grande expectativa.

Formada por Glauber Barreto (vocal e guitarra), Rodrigo Torres (guitarra), Gabriel Prado (baixo) e Leandro Peixoto (bateria), a banda - que mistura vários gêneros do metal - soube escolher perfeitamente as músicas do setlist, com canções dos álbuns “Cycle of Disaster” (2020) e “Back to Hell” (2017), e trazendo ainda uma música nova que fará parte de seu próximo álbum. Com toda a certeza o Válvera saiu dali com novos fãs.


Válvera - Setlist

The Skies Are Falling

Bringer of Evil

The Damn Colony

Reckoning Has Begun

Nothing Left to Burn

Demons of War


Previsto para subir ao palco às 20h15 (antes de sabermos da apresentação do Válvera), o Destruction iniciou sua performance às 20h35. Embora a casa não estivesse lotada, estava quase cheia, e a atmosfera prometia uma noite memorável. Ao som de “Curse the Gods”, a energia no ar era palpável, como se o local pudesse desabar a qualquer momento. Um mosh pit se formou bem no meio da pista - e permaneceu ali até o fim do show -, enquanto os fãs se uniam em gritos de ‘hey, hey’, sinalizando que aquela seria uma apresentação inesquecível.

“Invincible Force” deu sequência ao set, e em “Nailed to the Cross” o som do público parecia ser até mais alto do que a própria banda.

A seguir, o vocalista e baixista Schmier saudou o público, compartilhando seu amor pelo Brasil.  Revelando a conexão especial que a banda tem com São Paulo, ele anunciou que na noite estava sendo gravado o próximo clipe da banda, o que foi outra decisão em cima da hora. Schmier também comentou que a próxima música, "Mad Butcher", tinha um significado especial para ele, pois foi o primeiro riff que escreveu. Esse anúncio fez com que a roda de mosh se intensificasse ainda mais, refletindo a empolgação do público e a importância daquela noite na trajetória da banda.

“Life Without Sense” e “Release from Agony” mantiveram a energia. A banda puxou um coro de “We’re Destruction! We’re Destruction”, que o público prontamente atendeu e, Schmier, avisou que a próxima música será o videoclipe, a ótima “Armageddonizer”, do álbum Day of Reckoning de 2011.

“Total Desaster” e um solo de guitarra, que iniciou com Damir Eskic, mas que teve a participação de Martín Fúria também, foram bem recebidas, assim como “Eternal Ban” que veio na sequência.

O último single da banda, “No Kings No Masters”, foi anunciado por Schmier com os dois dedos do meio levantados e como uma dedicatória a todos os políticos.

Antes do encerramento da primeira parte do set, a banda “voltou no tempo” - como disse o vocalista -, com “Antichrist” e “Death Trap”, ambas do álbum Infernal Overkill de 1985.

Com uma breve pausa, a banda voltou com “Diabolical”, faixa do álbum de mesmo nome de 2022. A faixa instrumental “Thrash Attack” foi bem recebida pelos fãs, que apesar de não terem o que cantar, não deixaram de agitar, ou de tornar a roda ainda maior.

Schmier mencionou que faltava uma música muito conhecida e, foi subitamente interrompido por um fã que subiu no palco. Em uma interação de poucos segundos, ele contou ao gigante alemão que um grande fã da banda conhecido como “Big Hands” faleceu algum tempo antes. Schmier, apesar de parecer levemente nervoso, dedicou a fantástica “Bestial Invasion” a ele.

O hino “Thrash ‘Til Death” encerrou essa noite, que foi energia pura e realmente uma grande celebração dos 40 anos de carreira do Destruction. Com dezenas de passagens no Brasil ao longo dos anos, a recepção calorosa do público com certeza fará com que tenhamos muitos e muitos shows da banda por aqui.


Texto: Jessica Valentim 

Fotos: Gabriel Gonçalves (Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta 

Mídia Press: Lex Metalis Assessoria 


Destruction - Setlist

Curse the Gods

Invincible Force

Nailed to the Cross

Mad Butcher

Life Without Sense

Release From Agony

Armageddonizer

Total Desaster

Solo de guitarra

Eternal Ban

No Kings, No Masters

Antichrist

Death Trap

Bis

Diabolical

Thrash Attack

Bestial Invasion

Thrash ‘Til Death

domingo, 6 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Raven – 22/09/2024 – Jai Club/SP

Estava finalizando esta matéria na semana da partida de Pit Passarell, fundador do Viper, que me fez pensar na importância da semana anterior desse evento para a cena Heavy Metal paulista de 2024. Quando um fundador de uma banda se vai, o legado deixado para outros continuarem uma história lutando para que aquilo não acabe foi uma grande reflexão. O Raven voltando com 50 anos de estrada e Pit Passarell partindo aos 56 anos.

Quem compareceu na tarde de domingo (22/09) para conferir o show da turnê meio século do Raven, “All Hell’s Breaking Loose”, acertou na escolha. O evento escalou 4 bandas undergrounds antecedendo uma banda internacional, algo que vem sendo debatido entre expectadores e a imprensa que faz a cobertura desses shows, que é justamente as bandas de abertura. Ficou nítido como o evento cresce em todos os aspectos: o público de todas as gerações (conduzidos boa parte pelas bandas de abertura), retorno ao palco de bandas que não estavam tocando para continuarem sua história na cena (sendo três com mais de 20 anos de estrada), casa cheia de verdade, som de palco excelente para todos os envolvidos, som mecânico totalmente agradável no intervalo das bandas, horários das apresentações dentro do limite, logística excelente para chegar e acesso as dependências (bares e banheiros) sem muitas complicações.

Iniciando os trabalhos no meio da tarde puxado pelas mulheres, a banda Blixten de Araraquara/SP, formada em 2013 e liderada pela carismática vocalista Kelly Hipólito e a baterista Larissa – acompanhadas de Aron (baixo) e Eurico (guitarra) – executaram um Hard Heavy Metal muito honesto em 40 mínutos de apresentação, destaque para “Like Wild”,“Stay Heavy”,“Black Diamond” e “Powerflow”. A banda tem uma energia muito boa, carisma e potência vocal. Teve tempo ainda do vocalista Pedro, da banda Living Metal, fazer uma jam com quarteto.

A segunda banda é uma das veteranas da cena. O Clenched Fist, com 24 anos de estrada, mostraram que o tempo é fundamental para manter a estrutura do underground viva, reflexo de músicas cantadas pelo público que sabe exatamente quando a banda começou. Destaque para “Spirit of Death”,“Bang Your Head” e “Codex Gigas”, onde Vagner está cantando muito bem ao lado de Luiz (baixo), Herton (bateria) e o veterano Juninho Metal (guitarra), que desempenharam um instrumental cortante. O pessoal está empolgado com próximo disco “Máquina Letal”, que com certeza será mais um marco na estrada da banda.

Em seguida, o Conquistadores, de Osasco/SP e que está a bastante tempo sem lançar material novo - 11 anos -, entraram e continuaram a saga das bandas retornando aos palcos, nessa ocasião estavam quase 6 anos sem tocar, mas isso não atrapalhou em nada na estrutura da banda. Descarregaram do disco “À Beira da Loucura” de 2013, abrindo com “Morte aos Falsos, seguindo com “Lutar e Conquistar”,“Poder e Glória”,“Com Sangue se Paga” e “Inimigo da Noite”. Fizeram uma apresentação poderosa e com a expectativa de produzirem algo aguardado já algum tempo pelo público.

Outra que voltava a se apresentar e tem grande prestígio na cena foi o Comando Nuclear. Praticamente 5 anos sem estar nos palcos, recuperou o tempo e antecipou o Raven com a responsabilidade de fazer um show à altura da história da banda. Não deixou por menos, músicas como “Unidos Pelo Metal”, “Caçada Mortal aos Falsos”, “Sombras do Passado”, “Ritual Satânico” e a “Resistir”, que traz uma letra que reflete o que representa todas as bandas e o evento, elevou o patamar do som e fechou as bandas de abertura com muita energia.

Enfim, o Raven entra com público totalmente aquecido para os 50 anos lotado até a porta! É impressionante como a banda é uma festa pronta, tanto para quem já assistiu no passado quanto para quem estava tendo a oportunidade de vê-los pela primeira vez. Os irmãos John Gallagher (vocal/baixo) e Mark Gallagher (guitarra) tem uma sintonia e um carisma que ultrapassa fronteiras, dando aquela entrega total como se fosse o primeiro ou último show de suas vidas. A energia renovada na bateria de Mike Heller traz tudo isso à tona, todos sentem isso ao assistir o Raven

Abriram com “Destroy All Monsters” para testar o som do palco, retornos, iluminação, potência; tudo excelente! Não podia se esperar outra sonoridade de uma banda que sempre prezou pela qualidade das gravações dos discos na discografia desde o primeiro disco “Rock Until You Drop”, de 1981. A voz de John Gallagher estava excepcional, cantando para valer com microfone muito bem ajustado ao corpo como sempre faz nas apresentações, tendo liberdade para tocar e soltar agudos bem colocados coordenando com partes agressivas, sempre olhando para o público que devolvia o entusiasmo de revê-los e poderem assistir de tão perto. O instrumental e a composição bem trabalhada das músicas de estúdio que sempre foram o carro chefe da banda desde o início é totalmente fiel quando é executado ao vivo; as mudanças de tempo e andamento para outros os riffs, os contratempos de bateria, a qualidade e peso do baixo Rickenbacker totalmente sincronizados. Destaques para “Hell Patrol”,“The Power”, a mais recente “All Hell’s Breaking Loose”,“Surf The Tsunami”,“Turn of The Screw”, a ovacionada “Rock Until You Drop”,“Faster Than The Speed of Light”,“On and On” do Stay hard,“Break The Chain”e“Chain Saw”. Fizeram algo que está faltando nas bandas hoje em dia, tocar um cover: “Rock Bottom” (UFO), “Symptom of The Universe” e “Supernaut” (Black Sabbath), “Victim of Changes” (Judas Priest),“Breadfan” (Budgie) e Seek and Destroy foram emendadas numa homenagem aos clássicos.

Enfim, uma noite para entender como a força da música tem a importância de fazer com que as pessoas não desistam dos seus objetivos. Toda aquela atmosfera combinou com as bandas que subiram no mesmo palco com o público que também era formado por bandas que estão tocando ou paradas. O Raven ainda influencia músicos e público a continuarem vivendo a música, seja tocando ou curtindo, passam a sensação de que estão realizados por chegaram aos 50 anos em plena forma musical, determinação, resistência, muita vitalidade ao vivo e gravando discos, acredito que deixaram isso na sua passagem pelo Brasil. Fico com uma frase que ouvi na noite do guitarrista Juninho Metal (Clenched Fist), que também remete uma homenagem ao Pit Passarell do Viper: “Cara, eu toco guitarra desde 1984... Não podemos parar, a gente precisa continuar”.



Texto: Roberto "Bertz" (Fanzine Pandemia)

Fotos: Roberto Sant'Anna (Roadie Crew)


Realização: Caveira Velha Produções


Raven - setlist

Destroy All Monsters

Hell Patrol

The Power

Surf the Tsunami

Turn of the Screw

All for One

Rock Until You Drop

Faster Than the Speed of Light

Inquisitor

All Hell’s Breaking Loose

On and On

Break the Chain

Seek and Destroy

Chain Saw

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Choque: Lendas urbanas com um toque de Thrash/Groove

Por: Renato Sanson

Músico entrevistado: Mazera (guitarra)

São apenas dois anos de existência, mas com músicos experientes. Como foi formar o Choque?

Formar bandas nos anos 2000 era muito mais fácil, bastava abrir uma cerveja em um boteco, escolher uns covers e os ensaios começavam em uma semana, mas um trampo deste, autoral e com idéias concretas de riffs e musicalidade definida, é muito difícil, mas o começo foi em Dezembro de 2022 após o Knotfest em SP, eu (Mazera) e Alex Cole nos desafiamos em fazer um som. 

Então, em Janeiro de 2023 fiz 9 músicas, com riffs, bateria e baixo, entre elas “Terra do não”, “Funcionários da noite” e “Dr. Cuzão” que estarão no primeiro álbum, Alex gravou 8 demos (vocais) em 2023, devido a problemas pessoais ele deixou o vocal, mas aqui vai meu agradecimento ao Alex, pois foi ele que me apresentou “apenas” Black Sabbath, Stevie Ray Vaughan e Pantera, minhas maiores influencias. Seguindo em frente, ano é 2024 faço contato com o Rafael, acompanhava os trabalhos dele na 100Dogmas e Fractal, pensei, este vocal vai “fechar” com este som, e esta sendo “do caralho” , talentoso e brother daqueles! 


Houve uma coesão imediata. Isso sempre rende frutos.

Sim, parece que nos conhecemos há décadas, já mandou ver no vocal! E no baixo, tentei uns 5 “cabras”, por vários motivos ninguém queria, até que, surge o Adriano, baita guitarra aqui da cidade, e tatuador renomado no Brasil, topou assumir os graves do projeto, bateria temos alguns contatos, mas não temos baterista oficialmente, quem revisa a bateria nas músicas é Erik Corrêa.


A ideia lírica de trazer lendas urbanas, mesclada com temas ásperos em volta de protestos, casa muito bem a sonoridade. Como é buscar essas influencias?

Então, a resposta disso estava do meu lado, no meu passado e estará no futuro nosso, falar da cultura local, de coisas peculiares, às vezes engraçadas, outras obscuras fechou com a musicalidade do nosso som, e sinto muito orgulho em falar disso em português bem claro, letras com palavrões de desabafo, extravasar a raiva em letras é bom “pra caralho”, quem nunca mandou um “foda se”? 

E mandar isso cantando é 1000 vezes mais gostoso! Teremos muito disso nas próximas.

Musicalmente, temos a vertente do Thrash/Groove. Podendo dizer sem medo, uma mistura entre Pantera e Raimundos. Essa era a ideia mesmo?

Incluiria Black Sabbath junto, foi minha primeira banda tributo, Raimundos me despertou as letras em PT com riffs viscerais e o Pantera foi aquele terremoto de magnitude 10 na meu play, Dimebag foi um absurdo na história do metal!


Até o momento, a banda lançou alguns singles para o publico ir se familiarizando. Conte-nos um pouco de cada faixa.

“Terra do não” fala da nossa jornada terrena, recebendo muito mais “não” do que sim em nossas vidas, iguais andarilhos, sem lar e portas fechadas em uma sociedade hipócrita.

“Cobrador de contas”, essa daria um livro, mas basicamente é dedicada aos “maus pagadores”, onde acham que se deram bem dando calote no seu compromisso, mas o cobrador de contas irá atrás de você, onde aproveitando o ensejo, entra na história um cobrador de contas famoso aqui da região nos aos 70 e 80.

“Nego da beira”, dedicada à comunidade da “Beira” que margeava o Rio Itajai-açu, na cidade de Rio do Sul nos anos 1940 até a década de 1980, mistura de realidade e ficção, onde uma criança negra cresce em um ambiente de extrema opressão racial e social.

“Revolução” fala de um mundo atual (outubro 2024), esta letra foi escrita em 2023.

O Debut está em fase de gravação. Já é possível esmerar uma possível data de lançamento?

Se tudo conspirar a favor, lançaremos em dezembro o Álbum com 8 ou 9 músicas.

O mesmo saíra em formato físico ou somente digital? Pergunto, pois sabemos das dificuldades do lançamento físico atualmente, mas é inegável uma crescente pela procura dos materiais físicos. Parece que o digital vem perdendo a graça e falta algo mais sério para consumir música. O que vocês pensam a respeito?

Já tirei música do vinil no final dos anos 90, seria muito “da hora” fazer um vinil, mas, o compact disc esta nos meus planos, com encarte e fotos (nostalgia total)!

Finalizando, gostaria que nos listassem os cinco álbuns que mais influenciaram a criação do Choque. Nos vemos em algum show por aí!

Agradecemos o espaço e interesse! Segue a lista de influências do CHOQUE:

1.       Pantera - Cowboys From Hell

2.       Pantera – Vulgar Display...

3.       Black Sabbath – Paranoid

4.       Raimundos – Lapadas do Povo

5.       Dio – Holy Diver

 

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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Eric Clapton – 29/09/2024 – Allianz Parque/SP



As contribuições de Eric Clapton para o mundo do rock são imensuráveis, e isso não deve ser surpresa para ninguém. Tendo tocado com o Cream, Derek and the Dominoes, The Yardbirds e muitos, muitos outros, dizer que o inglês sabe o que faz é chover no molhado. O Brasil é um país bastante visitado pelo “seo Érico”, que já fez 19 shows por terras tupiniquins, vindo praticamente de 10 em 10 anos, 1990, 2001, 2011 e agora em 2024.

A noite começou relativamente cedo, às 18:20, com uma performance brilhante de Gary Clark Jr., guitarrista nativo de Austin, Texas. Em atividade desde 1996, Clark tem desenvolvido um estilo próprio, misturando um pouco do bom e do melhor do blues e do rock, se tornado um dos grandes nomes do estilo nos últimos tempos. Mesmo já tendo recebido comparações com grandes guitarristas como Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, o texano apresenta uma sonoridade diferenciada, como pode ser vista claramente com “Maktub”, faixa que abriu seu show. 

No palco, o guitarrista esbanjava tranquilidade, tocando de maneira extremamente focada, mas ao mesmo tempo incrivelmente solto, leve, injetando uma boa dose de “feeling” em cada dedilhada, cada palhetada, executando seus solos perfeitamente, como em “When My Train Pulls In”, que impressionou a Allianz Parque, esgotado desde maio.

Sua banda de apoio também não ficou para trás, sendo composta por diversos músicos experientes. Os “grooves” impressionantemente complexos de J.J. Johnson, as linhas de baixo de Elijah Ford criando a base, a espinha dorsal das músicas, o suporte de King Zapata na guitarra, as vozes das irmãs de Clark adicionando camadas e camadas de profundidade; era a receita perfeita para um som suave, coeso, perfeito. 

O lado mais tradicionalmente blues foi mostrado com a enérgica “Don’t Owe You a Thang”, “When My Train Pulls In” e a emocionante “This is Who We Are”. O clima voltou novamente lá pro alto com “What About the Children”, gravada com Stevie Wonder para seu LP mais recente, que contou até com o público batendo palmas no ritmo da música, junto de Gary.

Depois de cada faixa, Clark agradecia o público com um singelo, porém simpático “thank you, São Paulo! Feeling good?”. Sua performance foi finalizada com “Bright Lights”, destaque de seu álbum “Blak and Blu” e “Habits”, já de “JPEG RAW”, disco lançado esse ano, sendo o trabalho que recebeu mais destaque no repertório, com 3 das 7 músicas vindo dele. A supracitada “Bright Lights” termina dizendo “you’re gonna know my name” (você conhecerá meu nome) e após a aula que ele deu em cima daquele palco, quem não o conhecia, conhece agora. 

Em uma hora, conseguiu mostrar a profundidade de seu repertório, indo de músicas mais animadas como “Don't Owe You a Thing” e “When My Train Pulls In” a faixas mais carregadas de emoção, como a linda “This is Who You Are” e “Habits”, que fechou o show. Não só foi um ótimo aquecimento para a performance de Clapton, como também deixou um grande “gostinho de quero mais”.

Um pouco atrasado, o nativo de Ripley e sua icônica Stratocaster preta subiram no palco do Allianz (que agora já estava bem mais cheio) por volta das 20:05, começando com dois pés na porta, logo com a clássica “Sunshine of Your Love”, do Cream. Apesar do frio de menos de 20 graus que fazia, a recepção de Clapton não poderia ter sido mais calorosa, com o guitarrista (que também estava com frio, usando dois casacos) tendo a letra de suas músicas cantadas a plenos pulmões. Fora os refrões sendo ecoados quase no mesmo volume da banda, um mar de celulares foi ao ar no segundo em que o icônico riff começou.

“Key to the Highway” de Charles Segar e a incrivelmente clássica “I’m Your Hoochie Coochie Man” de Willie Dixon seguiram, tão bem recebidas quanto. Fechando o primeiro “bloco” do show, “Badge” do Cream foi a última a ser tocada por Clapton antes dele sentar e pegar seu violão. Já mais confortável, começou uma sequência de músicas mais leves, devagar rs, aquelas para acender a lanterna do celular e “limpar a janela”: “Kind Hearted Woman Blues”, “Running on Faith”, “Change the World” e “Nobody Knows When You’re Down and Out”, uma das mais pedidas do Cifra Club. Na teoria, era um descanso para todos, inclusive os fãs, mas esse não foi o caso, pois todos seguiam cantando, ovacionando Clapton após cada nota que saía de seu violão.

Para as últimas três de seu bloco acústico, chamou ao palco Daniel Santiago, guitarrista e compositor brasiliense que também havia participado do show de ontem, no Vibra. Com Santiago, Clapton executou 3 faixas de sua carreira solo, “Lonely Stranger”, “Believe in Life” e “Tears in Heaven”, que certamente fizeram algumas lágrimas do público caírem. “Tears” também foi um dos pontos altos do show, com a energia de quem estava lá sendo realmente indescritível. O estádio estava iluminado por milhares e milhares de lanternas de celular.

Novamente portando sua arma letal, a icônica Stratocaster preta, voltou com “Got to Get Better in a Little While”, de seus dias no Derek and the Dominos. “Old Love” manteve a energia lá em cima, enquanto o icônico Robert Johnson foi destacado com “Cross Road Blues” e “Little Queen of Spades”, ambas com dois pés fincados no blues. Apesar das semelhanças entre ambas as músicas, o público mostrou poucos sinais de cansaço, ainda se engajando bastante com o inglês, mesmo com o carisma inexistente dele. O finalzinho da performance foi um dos pontos mais altos, a também icônica “Cocaine”, mais uma que foi cantada a plenos pulmões pelo povo.

Após afirmar veementemente que ela não conta mentira alguma, o inglês e sua banda saíram do palco, criando uma sensação de “nossa, será que voltam?” em absolutamente ninguém. Ter bis em todos os shows é algo que já está tão saturado que tira completamente toda e qualquer surpresa de um bis, mas isso já foge um pouco do escopo deste texto. Voltando ao palco menos de 2 minutos depois, fechou o show de uma vez por todas com “Before You Accuse Me” de Bo Diddley, tocada com uma guitarra com a bandeira da Palestina.

Como já era de se esperar, meio mundo gritou “Layla, Layla, Layla”, porém, foi em vão, o britânico virou suas costas e foi embora, sem dar satisfação alguma. Certos fãs persistiram, até que as luzes do estádio se acenderam - Layla deixou os fãs implorando de joelhos, mas suas mentes preocupadas não foram acalmadas.

Bom, convenhamos, o Eric Clapton já tem 79 anos, então não veremos ele correndo pelo palco feito o Axl Rose no auge ou subindo nas torres de som e se jogando a lá Sid Wilson; quem me dera chegar quase aos 80 com as habilidades e a coordenação do Clapton. Mesmo assim, trocar menos de 10 palavras com o público é complicado, não? Apesar disso, tecnicamente, o show foi absurdamente bom. Grande parte das músicas que foram excetuadas foram de forma quase perfeita, a banda de apoio do inglês estava ótima e a escolha do Gary Clark Jr. como ato de abertura não poderia ter sido mais acertada (Best of Blues, já pode trazer ele de novo no ano que vem, hein). 

Certos aspectos foram muito bons e outros nem tanto, como a falta imperdoável de “Layla”, mas, não podemos ter tudo. Contando com o fato de que o Clapton vem mais ou menos de 10 em 10 anos, esse muito provavelmente foi seu último show por aqui, visto que ele já está com 79 anos. Quem viu, viu, quem não viu, talvez não veja mais.


Texto: Daniel Agapito

Fotos: Move Concerts


Realização: Move Concerts

Mídia Press: Midiorama


Gary Clark Jr. - setlist:

Maktub

Don’t Owe You a Thang

When My Train Pulls In

This is Who We Are

What About the Children (cover Stevie Wonder)

Bright Lights

Habits


Eric Clapton - setlist:

Sunshine of Your Love

Key to the Highway

I’m Your Hoochie Coochie Man 

Badge

Kind Hearted Woman Blues*

Running on Faith*

Change the World*

Nobody Knows When You’re Down and Out*

Lonely Stranger (com Daniel Santiago)*

Believe in Life (com Daniel Santiago)*

Tears in Heaven (com Daniel Santiago)*

Got to Get Better in a Little While

Old Love

Cross Road Blues

Little Queen of Spades

Cocaine

Bis

Before You Accuse Me (com Daniel Santiago)

*acústico