terça-feira, 26 de agosto de 2025

Cobertura de Show: The Aristocrats – 22/08/2025 – Carioca Club/SP

 The Aristocrats retorna ao Brasil com técnica e humor no Carioca Club

Na sexta-feira, 22 de agosto, o Carioca Club, em Pinheiros, recebeu a volta do The Aristocrats ao Brasil após quase dez anos de ausência. O trio formado por Guthrie Govan (guitarra), Bryan Beller (baixo) e Marco Minnemann (bateria) trouxe a The Duck Tour para São Paulo em uma noite que mesclou virtuosismo, improviso, histórias curiosas e muito carisma no palco. A produção foi assinada pela Sellout Tour.

O público compareceu em peso. A casa estava cheia, embora não lotada, e a presença de tantos fãs evidenciou a força de uma banda instrumental que, mesmo fora do circuito mais conhecido, conquistou uma base fiel no país.

O repertório privilegiou o novo álbum Duck, lançado em 2024, com faixas como Hey, Where’s My Drink Package?, Aristoclub e Sittin’ With a Duck on a Bay. Também houve espaço para músicas do trabalho anterior, You Know What...? (2019), e para composições já consagradas, como Get It Like That e Desert Tornado.

Entre uma execução impecável e outra, a banda manteve constante diálogo com o público. Bryan Beller contou, por exemplo, a história por trás de The Ballad of Bonnie and Clyde. Após o fim de uma turnê pela América do Sul, teve instrumentos roubados nos Estados Unidos. Embora a polícia tenha prendido os responsáveis, nada foi recuperado, e dessa experiência nasceu a faixa. O público reagiu com vaias aos “bandidos” e risos diante do bom humor do baixista, que transformou uma perda em memória compartilhada.

O momento mais arrebatador da noite veio com o solo de bateria de Marco Minnemann, que emocionou ao misturar técnica, força e musicalidade, chegando a inserir a icônica 20th Century Fox Fanfare em meio à sua performance.

O The Aristocrats é reconhecido por seu ecletismo. Do rock progressivo ao jazz fusion, passando por pitadas de heavy metal e referências ao humor de Frank Zappa, o trio costura estilos de maneira natural, sem esforço aparente. A mistura, que poderia soar cerebral em outras mãos, ganha leveza e se apresenta como pura diversão.

Formada em 2011, a banda nasceu quase por acaso em uma jam session durante a NAMM Show, em Anaheim. De lá para cá, construiu uma discografia que reflete a soma das influências individuais dos três músicos, que já dividiram palco com nomes como Steve Vai, Joe Satriani, King Crimson e Steven Wilson. Ainda assim, suas composições são sempre apresentadas como “músicas dos Aristocrats”, com identidade própria e espaços abertos para improvisos.

Comparado à última passagem por São Paulo, quase dez anos atrás, o retorno mostrou um público maior e mais engajado. Quem saiu de casa em plena sexta-feira encontrou um espetáculo de altíssimo nível, divertido e inspirador. A noite transcendeu o virtuosismo, revelando a música em sua expressão mais livre e inventiva.




Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Sellout Tour 



The Aristocrats – setlist:

Swan's Splashdown (Perrey & Kingsley cover) 

Hey, Where’s My Drink Package?

Aristoclub

Sgt. Rockhopper

Sittin’ With a Duck on a Bay

Spanish Eddie

The Ballad of Bonnie and Clyde

Flatlands

Here Come the Builders

This Is Not Scrotum

Get It Like That

Desert Tornado

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Entrevista - Eclipse: Erik Martensson fala sobre a trajetória da banda e a volta ao Brasil: "Mal posso esperar para tocar rock and roll com vocês!"

Por Gabriel Arruda 

Fotos: Paula Cavalcante

Erik Martensson é um dos músicos mais capacitados do hard rock na atualidade. À frente do Eclipse, banda que rapidamente se tornou referência no gênero nos últimos anos, ele conquistou fãs com composições marcantes que unem a energia do hard rock a melodias envolventes. Além de vocalista e guitarrista, Erik também é produtor e compositor, talento que lhe rendeu o título de “novo Desmond Child” graças à sua habilidade em criar músicas empolgantes, seja com sua própria banda, seja em projetos como o W.E.T. (ao lado de Jeff Scott Soto e Robert Säll, do Work of Art) e o Nordic Union (com a voz experiente de Ronnie Atkins, do Pretty Maids e Avantasia). 

Antes de desembarcar no Brasil para se apresentar com o Eclipse no próximo sábado, dia 30, na Hard N’ Heavy Party, Erik bateu um papo descontraído que você confere a seguir:

A gente não poderia começar essa conversa sem falar da vinda do Eclipse, um ano depois da apresentação no Summer Breeze. No seu caso, Erik, é a segunda vez participando da Hard N' Heavy Party, mas a primeira com o Eclipse. Quais são as expectativas para esse show, que será o primeiro internacional do novo Manifesto?

Erik: Bem, eu estou super empolgado por estar de volta ao Brasil, para começar tomando caipirinhas, conhecendo todas as pessoas maravilhosas, encontrando amigos e tocando um pouco de rock and roll.

No show do Summer Breeze do ano passado, notei que muita gente estava assistindo vocês — ainda mais considerando que foram a primeira banda a tocar no dia em um dos palcos principais. Muitos, inclusive eu, já conheciam a banda por causa do Carlos, da Animal Records. Mas, por ser um festival com tantas atrações, também houve quem conhecesse vocês ali pela primeira vez. Esse forte apelo dos brasileiros já era sentido nos shows na Europa e nos Estados Unidos, mas eu sei que havia a ambição de sentir isso aqui no próprio Brasil. Podemos dizer que foi um sonho realizado?

Erik: Com certeza! Nós queríamos tocar na América do Sul desde que começamos a banda. E finalmente aconteceu no ano passado depois de receber aqueles comentários clássicos de 'come to Brazil' em todos os posts que fazemos nas redes sociais. Foi super empolgante fazer parte do festival Summer Breeze, e havia tantas bandas incríveis lá. E foi engraçado ver tantas bandas suecas no festival também. Tinha, acho que o The Night Flight Orchestra, o HammerFall, o Dark Tranquillity também, se não me engano. E ainda tivemos alguns amigos dinamarqueses do King Diamond (Mercyful Fate) tocando também. Então foi ótimo.

Nos últimos anos, o Eclipse tem tocado nos principais festivais, e este ano a banda passou bastante tempo na estrada fazendo shows pela Europa. Como foi essa experiência e o que mais marcou vocês nessa turnê?

Erik: É realmente um privilégio poder ver o mundo viajando e tocando música. Não são muitas as pessoas que têm a sorte de viver essa experiência, e nós nos sentimos muito sortudos por isso. Conhecer o Brasil, conhecer o Japão, os Estados Unidos, toda a Europa… Viajar é incrível, exceto ficar sentado nos aviões, isso não é divertido. Mas passar um tempo em lugares diferentes e tocar rock and roll é maravilhoso.

Megalomenium II, lançado no ano passado, é o mais recente trabalho do Eclipse. Quem acompanha a banda sabe que vocês costumam lançar discos regularmente, mas desta vez foi de um ano para o outro, já que o primeiro Megalomenium saiu em 2023. O que motivou vocês a lançarem um novo álbum tão rapidamente?

Erik: Na verdade é um disco duplo, então, para nós, é o mesmo álbum. Nós escrevemos todas as músicas, já tínhamos todas prontas antes de começar a gravar. Então, para a gente, é realmente o mesmo disco, mas queríamos fazer esse álbum duplo. Só que sabíamos que seria um suicídio comercial lançá-lo todo de uma vez, especialmente com o streaming, porque isso significaria que pelo menos 16 músicas seriam completamente esquecidas nas plataformas. Por isso decidimos dividir e lançar com um ano de diferença. Foi uma quantidade enorme de trabalho fazer esses dois discos. E, agora, provavelmente vamos esperar um pouco para que os fãs tenham tempo de absorver e ouvir as músicas.

Falando ainda sobre o álbum, ele é muito especial e traz músicas que facilmente tocariam em qualquer rádio de rock, como Apocalypse Blues, The Spark — que é a minha favorita —, Falling to My Knees e Still My Hero, que é uma homenagem ao seu pai. Mais do que um ótimo trabalho, ele mostra que o Eclipse não é uma banda parada no tempo, pois está sempre experimentando coisas novas. Como líder da banda, como é compor cada álbum sem que ele soe igual ao anterior, mas ainda agradando os fãs que esperam ouvir algo no estilo que já amam?

Erik:  Sim, cada álbum é diferente porque você evolui como pessoa a cada vez que faz um novo disco. E alguns fãs acham que ‘Ah, vocês soam completamente diferentes agora de quando me apaixonei pela banda, eu amo o primeiro disco’, enquanto outras pessoas adoram o fato de estarmos sempre mudando. Mas nós não podemos escrever o mesmo álbum repetidas vezes, precisamos encontrar novas formas de fazer música para manter o interesse tanto para nós quanto para os fãs. Nunca se sabe o que esperar de um novo disco. Nós ainda não começamos a compor o próximo, então não tenho nenhum plano de como ele vai soar. Pode ser um álbum acústico, pode ser um álbum de metal… não tenho nenhum plano até agora. Vamos ver para onde a inspiração nos leva este ano.

Este ano foi lançado o quinto álbum do W.E.T., Apex. Por ser uma banda que não faz shows ou turnês, o público sempre espera ansiosamente por um novo trabalho. Pelo que sei, você também é o responsável por coordenar tudo — o próprio Jeff já me disse que você é a força criativa e o motor do W.E.T., uma espécie de mestre de cerimônias. Como é para você assumir esse papel e manter o projeto tão relevante, mesmo sendo uma ideia da Frontiers Records?

Erik: Sim, tudo começou como uma ideia da Frontiers Records. Eu já conhecia o Jeff antes da Frontiers nos juntar, querendo que fizéssemos um disco. Eu fui convidado para escrever algumas músicas para ele e, depois, me pediram para produzir o álbum inteiro. E eu não gosto muito desses projetos com vários compositores espalhados, onde cada música soa diferente, porque acaba parecendo apenas um projeto. Nós não queríamos isso, queríamos que soasse como uma banda. Então decidimos, junto com o Robert Säll, que é o guitarrista e também a força criativa por trás do W.E.T., escrever todas as músicas juntos, com o Jeff também, para manter tudo bem consistente. Mantivemos isso ao longo dos anos, e acho que esse é um dos motivos do sucesso do projeto. Nós realmente nos esforçamos para criar uma identidade própria.

This House of Fire é a música que mais ouvi esse ano até agora (risos).

Erik: E essa é uma música que entrou de última hora. O álbum já estava sendo mixado e eu pensei: ‘Precisamos de mais uma música animada, algo cativante’. Então, eu tinha várias ideias diferentes que já havia escrito antes e simplesmente as juntei, como um colagem, e criei essa música. Foi tipo: ‘Essa é a música perfeita para o disco, nós realmente precisamos dela’. Então, foi um acréscimo de última hora ao álbum.

Muitos não sabem, mas Apex marca o encerramento desse projeto tão especial, certo? 

Erik: Eu não tenho certeza, também não sei. Mas, de qualquer forma, é um bom disco.

Existe a possibilidade de, no futuro, você e o Jeff criarem um novo projeto no mesmo molde? Algo como um “Martensson & Soto”?

Erik: Claro, eu adoro trabalhar com o Jeff, ele é um grande amigo meu. E tocar algumas músicas do W.E.T. ao vivo com a banda de verdade, não apenas o Jeff fazendo músicas do W.E.T. no set dele, mas sim a banda completa do W.E.T. se apresentando. Seria ótimo, eu adoraria.

Você está sempre compondo e produzindo música , imagino quantas ideias deve ter guardadas no seu HD. Quando está compondo, o que você prioriza como mais importante? E, na sua visão, como decide qual ideia é ideal para o Eclipse, para o W.E.T. ou para o Nordic Union?

Erik:  Eu não tenho tantas ideias guardadas no meu drive quanto você possa pensar. Tenho algumas ideias meio bobas no meu celular, mas eu meio que componho um álbum de cada vez. Normalmente, quando é hora de trabalhar com o Eclipse, nós escrevemos músicas para o Eclipse, esse é o foco principal. Mas, claro, às vezes escrevemos uma música e pensamos: ‘Ah, isso não soa como Eclipse, soa mais como uma música do W.E.T. ou do Nordic Union’, e vice-versa. Se estou compondo para um álbum do W.E.T., posso acabar escrevendo algo que soa muito como Eclipse, então deixo guardado para o Eclipse. Mas, no geral, componho um álbum por vez.

A prioridade, ao produzir e compor um álbum, é a composição em si. A música é a base de tudo. Se você não tem boas músicas, não há motivo para gravar nada. Existem muitos discos com músicas ruins demais. Lembro que, quando criança, às vezes comprava discos com duas músicas boas e o resto muito chato, e eu não entendia por que eles colocavam tantas músicas ruins. Então, eu sempre tento, o máximo que posso, manter a qualidade das músicas o mais alta possível ao longo de todo o álbum.

Na maioria dos casos, você conta com o apoio do Magnus Henriksson. Eu sempre vejo vocês dois como o Roland Orzabal e o Curt Smith, do Tears For Fears — uma dupla que nunca se separa para fazer música. Qual é o segredo dessa parceria, que dura desde 1999?

Erik: Eu acho que, em primeiro lugar, nós realmente amamos música. Nós começamos a tocar não porque queríamos ser famosos ou gravar discos, mas porque simplesmente queríamos tocar música. Nós nos conhecemos bem jovens e crescemos ouvindo as mesmas bandas, mesmo tendo crescido tão longe um do outro. Acho que nós nos complementamos muito bem e… nós adoramos tomar cerveja juntos. Ele é como um irmão para mim, e não consigo me imaginar fazendo música sem ele.

O Eclipse tem uma boa quantidade de discos lançados. Qual disco você recomendaria primeiro para quem não conhece a banda?

Eu acho que todos são bons. Acho que todos os discos soam como o Eclipse, de uma forma ou de outra. Eu gosto muito do Wired, de 2021. Não posso dizer que o último álbum é o melhor, porque preciso de alguns anos depois do lançamento para ter o distanciamento necessário entre os discos. Normalmente as pessoas dizem que o último é o melhor, mas você nunca sabe até passar alguns anos. Então, vou esperar antes de recomendar o mais recente e recomendo o Wired (risos).

Não menos importante, gostaria de saber quais são as suas bandas favoritas, as principais influencias tanto como musico e compositor e se você tem o habito de ouvir musica no seu tempo livre. Eu sei que você veio da escola do Thrash e do Death Metal. Como essa transição para o Hard Rock?

Erik: Eu sempre ouço de tudo. Eu tenho um irmão três anos mais velho e ele tinha muitos discos: ele teve o primeiro do Mötley Crüe, o primeiro do W.A.S.P... O primeiro disco que comprei com meu próprio dinheiro foi o The Last Command, do W.A.S.P., em vinil. Eu mudo o que escuto o tempo todo, mas ainda assim o hard rock clássico é, de longe, o meu favorito. O AC/DC é a maior banda do mundo, mas também é uma das minhas bandas favoritas. Eu adoro! Ouvi thrash por muitos anos, tive uma banda cover de Slayer em que tocávamos apenas músicas do Slayer por alguns anos. E, bom, eu escuto muita música. Tenho uma coleção enorme de vinis e CDs, então praticamente ouço música o tempo todo.

Qual é o segredo para ter tantas bandas boas na Suécia, o país que originou Europe, ABBA e as outras bandas como H.E.A.T, Crazy Lixx, Ghost e Nestor?

Erik: Acho que um dos motivos é que nós temos escolas de música gratuitas, então qualquer pessoa pode frequentar sem pagar, e isso é uma parte importante. Também acho que há uma longa tradição  de música folclórica na Suécia, desde a Idade Média.

Além disso, acredito que boas bandas inspiram outras bandas. Quando eu era criança e vi o Mötley Crüe, eu não pensei: ‘Eu posso fazer isso’, porque, para mim, eles poderiam muito bem ser de Marte. Mas, quando você vê uma banda local tocando, você se inspira. É como tipo: 'se eles  conseguem fazer ótimos discos, talvez nós também possamos'. Isso é algo inspirador. Boas bandas inspiram pessoas a formar boas bandas também, pelo menos é assim que eu vejo hoje em dia.

Esse ano eu vi mais bandas suecas - Opeth, Europe, H.E.AT, Dynasty, Sabaton - do que bandas de outros países.

Erik: Tem mais uma coisa também: a Suécia é bem fria e escura durante metade do ano. O verão é ótimo, mas o inverno é muito escuro e frio, então não sobra muito o que fazer além de tocar música. Vamos ver no futuro. Agora todo mundo fica no celular, então talvez as pessoas passem a assistir Netflix ou ficar no Instagram e parem de compor músicas (risos).

Fazendo um balanço sobre sua trajetória, você tem vinte discos lançados, somando tudo com Eclipse, W.E.T., Nordic Union e Ammunition. Olhando para trás, o que mais te orgulha dessa caminhada? E, olhando para frente, qual ainda é o grande objetivo que você quer alcançar na música?

Erik:  Essa é uma pergunta difícil.  Acho que tenho orgulho de ter mantido meu interesse em compor e fazer a música que amo, o hard rock melódico e o rock, porque se eu quisesse ser bem-sucedido e ganhar dinheiro com isso, provavelmente teria seguido para algo mais pop ou outro estilo. Mas sempre me mantive fiel a esse pequeno gênero musical simplesmente porque o amo demais. Acho que tenho orgulho de ter continuado fazendo isso, de ainda estar fazendo e de conseguir viver disso, além de termos tido a coragem de seguir nossos próprios corações e escrever a música que amamos. 

Para finalizar, quais os planos do Eclipse para o futuro?

Erik: Agora é hora de sair em turnê e, claro, ir ao Brasil e aproveitar nosso catálogo de músicas e esse último álbum duplo. Vamos curtir isso por um tempo, apenas tocando ao vivo e sem passar tanto tempo no estúdio - embora eu fique no estúdio o tempo todo, já que meu trabalho diário é mixar discos de rock. Mas acho que precisamos passar bastante tempo na estrada juntos e ver o que acontece no futuro. Pela primeira vez, não temos um plano de dois anos, está tudo em aberto. Então, vamos ver o que acontece.


domingo, 24 de agosto de 2025

Cobertura de Show: Cradle of Filth lidera noite de atmosfera obscura ao lado de Uada e Tellus Terror

 


Cobertura por: Jéssica Valentim 
Fotos: Roberto Sant'anna
Local/Data: Carioca Club SP - 23/08/2025
Realização: NDP e Sob Controle 

No sábado, 23 de agosto, São Paulo recebeu o terceiro e último show em solo brasileiro do Cradle of Filth, um dos maiores nomes do black metal mundial. A apresentação integrou a turnê The Screaming of Americas, que divulga o mais recente álbum da banda, "The Screaming Of The Valkyries", lançado em março deste ano pela Napalm Records. 

Antes de encerrar a passagem pelo país na capital paulista, o grupo britânico já havia se apresentado em Limeira e Curitiba, seguindo agora para outras datas na América Latina. A noite contou ainda com a abertura dos brasileiros da Tellus Terror e dos norte-americanos da Uada, responsáveis por aquecer o público antes da performance principal.





Metal extremo nacional em destaque: Tellus Terror conquista o público

A Tellus Terror surgiu em 2012 em Niterói, Rio de Janeiro, e desde então se consolidou na cena do metal extremo brasileiro com sua proposta única de misturar sonoridades brutais a atmosferas sombrias e conceituais. 


O primeiro álbum, EZ Life DV8 (2014), rendeu elogios internacionais e colocou a banda em festivais ao lado de nomes como Behemoth, Belphegor e Krisiun. Em 2023, o grupo lançou seu segundo trabalho, DEATHinitive Love AtmosFEAR, que combina uma aura obscura e vampírica com o tema incomum do amor, explorando suas facetas mais intensas e contrastantes.


Pontualmente às 17h, a Tellus Terror subiu ao palco com sua formação atual: Felipe Borges (vocais), Maurício Belmonte e Victor Magalhães (guitarras), Gabriel Magalhães (baixo), Gabriel Filgueiras (bateria) e Rodrigo Boechat (teclados). 


Desde os primeiros acordes, a banda impressionou pela força técnica e pela presença de palco. O setlist, embora enxuto, passeou pelos dois álbuns já lançados e foi suficiente para conquistar o público (ainda tímido, com cerca de metade da ocupação da casa) e preparar o terreno para a atração principal da noite. 


Com sua sonoridade poderosa e identidade bem definida, a Tellus Terror se confirma como um nome a ser acompanhado de perto, especialmente por quem busca referências nacionais de qualidade no metal extremo. 

Setlist Tellus Terror
Amborella's Child
Absolute Zero
Darkest Rubicon
Psyclone Darxide
Empty Nails
Lone Sky Universum
Shattered Murano Heart
Sickroom Bed
Brain Technology Pt. II




Uada entrega intensidade e atmosfera sombria em São Paulo

Marcado para as 18h, o quarteto encapuzado subiu ao palco por volta das 18h10, sob uma introdução densa e obscura que já antecipava o clima da apresentação: um set repleto de peso, bem construído, melódico e carregado de atmosfera, fiel à proposta da banda de entregar um black metal melódico com harmonia e alma.


A ambientação seguiu um tom intimista e sombrio. Embora não parecesse haver a intenção de manter as identidades dos músicos em completo sigilo (à semelhança de grupos como Ghost, Sleep Token e até os primórdios do Slipknot), o uso de iluminação mínima, quase inexistente, reforçava a ideia de que a experiência deveria ser focada no som em si, sem distrações visuais além do logo projetado no telão ao fundo.

Um dos pontos altos foi o duelo de guitarras, com melodias que se complementavam em momentos instrumentais, criando camadas sonoras que arrebatavam a plateia. As constantes mudanças de andamento nas composições mantinham o público em êxtase, respondendo com gritos entusiasmados, headbangs e até mesmo tentando acompanhar os vocais. Muitos fãs vestiam camisetas da banda, evidenciando a devoção de quem aguardava a oportunidade de vê-los ao vivo no Brasil.


A apresentação foi alta, densa e poderosa, uma verdadeira imersão no universo criado pelo grupo. O setlist contemplou faixas marcantes da carreira, equilibrando atmosferas melódicas com passagens mais agressivas, o que reforçou a habilidade da banda em transitar entre delicadeza e brutalidade sem perder identidade.
Próximo ao fim, um incidente chamou atenção: o vocalista tropeçou e chegou a cair no palco. 

Longe de ser motivo de riso, a cena apenas evidenciou a entrega e intensidade da performance, já que o músico rapidamente se recompôs e seguiu sem deixar a energia cair. O episódio acabou funcionando como um detalhe humano em um espetáculo que se mostrou preciso e impactante.


Com essa apresentação, a banda confirmou o porquê de ser considerada uma das mais consistentes do black metal melódico atual, deixando claro que sua relação com o público brasileiro ainda tem fôlego para novos encontros.

Setlist Uada
Natus Eclipsim
Djinn
Blood Sand Ash
Cult of a Dying Sun
Black Autumn, White Spring




Show do Cradle of Filth celebra passado e presente da banda

Às 19h22, Dani Filth surgiu encapuzado no palco do Carioca Club, acompanhado pela atual formação da banda: Marek “Ashok” Šmerda e Donny Burbage nas guitarras, Daniel Firth no baixo, Martin “Marthus” Škaroupka na bateria, Zoe Marie Federoff nos teclados e vocais de apoio. 

Assim que Dani retirou o capuz, a plateia explodiu em aplausos e gritos, dando início a uma noite intensa.


O set foi aberto com “To Live Deliciously”, faixa do mais recente álbum The Screaming Of The Valkyries, lançado em março e foco principal da turnê. Logo em seguida veio “The Forest Whispers My Name”, recebida com enorme entusiasmo pelos fãs. Dani saudou São Paulo em meio a gritos, palmas e chifres erguidos ao alto.


A sequência prosseguiu com “She Is a Fire”, igualmente ovacionada por um Carioca Club completamente lotado. O aspecto visual, sempre marcante nos shows do Cradle of Filth, se destacou mesmo em um palco menor do que os grandes festivais que costumam receber a banda. A presença de cada integrante preenchia todos os espaços, reforçando a grandiosidade da performance.


Ainda do novo álbum, foi a vez da excelente “Malignant Perfection”, que soou poderosa ao vivo, embora desse a impressão de ser menos conhecida pelo público. O registro, aliás, merece destaque: é um dos lançamentos mais consistentes do ano e prova a vitalidade criativa do grupo.


Na sequência, Dani anunciou uma das antigas, a faixa título do primeiro álbum: “The Principle of Evil Made Flesh”, cantada em coro pelos presentes e carregada de nostalgia. Depois, a escolhida foi “Heartbreak and Seance”, do Cryptoriana - The Seductiveness of Decay, que manteve o equilíbrio da setlist ao alternar músicas recentes e clássicos da carreira, mantendo a atenção tanto de novos quanto de antigos fãs.

O ápice do show viria com “Nymphetamine Fix”, um dos maiores sucessos do Cradle of Filth. Executada com perfeição, arrancou gritos e registrou o momento em um verdadeiro mar de celulares erguidos. Sem dúvida, um dos pontos altos da noite. 

Em seguida, “Born in a Burial Gown” manteve a energia em alta antes da execução de “White Hellebore”, última representante do novo álbum no repertório.


Quando a banda deixou o palco, o público não deixou dúvidas de que queria mais. Sob gritos de “Olê, olê, olê, Cradle, Cradle”, os britânicos retornaram para o encore, iniciando com “Cruelty Brought Thee Orchids”, muito celebrada pelos fãs. Na reta final, Dani apresentou “Death Magick for Adepts”, precedida por uma breve introdução falada, dando um tom ainda mais sombrio ao momento.

Para encerrar, não podia faltar talvez o maior hit do grupo: “Her Ghost in the Fog”. Apesar de Dani já ter admitido em entrevistas que não gosta de tocá-la, a canção é uma das mais queridas pelo público e encerrou a noite com chave de ouro. 


Entre técnica apurada, peso sonoro e um visual macabro que continua sendo marca registrada, o Cradle of Filth provou mais uma vez porque segue como um dos nomes mais relevantes do black metal mundial.

Mas nem tudo é perfeito…
Algumas considerações, no entanto, precisam ser feitas em relação ao som apresentado. Talvez pelo fato de o Cradle of Filth estar acostumado a se apresentar em venues maiores e em grandes festivais na Europa, a performance em São Paulo acabou sofrendo com falhas técnicas que destoaram do porte da banda. A bateria, por exemplo, soava desbalanceada, com pratos e bumbos se sobressaindo em excesso, enquanto outros elementos se perdiam na mixagem.


O maior problema, entretanto, foi com o vocal de Zoe Federoff. Em diversas músicas em que ela assume trechos de lead vocals, simplesmente não era possível ouvi-la. A situação foi corrigida brevemente em “Nymphetamine Fix”, quando enfim sua voz apareceu em destaque, mas logo em seguida voltou a ser abafada. 

Apenas na última música, “Her Ghost in the Fog”, o público pôde escutá-la com a clareza que a ocasião pedia.

Essa falha foi especialmente sentida em “White Hellebore”, uma das principais faixas do novo álbum The Screaming Of The Valkyries, cuja atmosfera depende justamente dos vocais de Zoe para ganhar vida. Infelizmente, o resultado ficou aquém do esperado, prejudicando a experiência em momentos-chave do show.


Outro ponto a se destacar foi a reação do público, que em muitos momentos não parecia ser exatamente o público do Cradle of Filth. Em conversas com fãs mais antigos, ficou claro que parte significativa deles não se identifica com a fase mais moderna da banda, preferindo se manter fiéis apenas aos clássicos. 

É uma pena, pois o último álbum, The Screaming Of The Valkyries, é de fato um grande trabalho (ouso dizer, um dos álbuns do ano) e seus videoclipes são verdadeiras produções cinematográficas. Ainda assim, parece que muitos não deram a devida atenção às novas músicas, seja por desinteresse, seja por simples resistência às novidades.


Embora a turnê seja dedicada ao novo álbum, o setlist incluiu apenas seus singles, algo pouco comum em bandas com material fresco a divulgar. Esperava-se que, ao menos, essas faixas fossem conhecidas pelo público, mas não foi o que se viu. Para equilibrar, o grupo apostou em canções mais antigas e alguns dos hits indispensáveis. 

Mesmo assim, a resposta da plateia foi irregular, variando entre explosões de entusiasmo e momentos de frieza. Ficou a sensação de uma atmosfera dividida: um público que celebra o passado, mas que ainda não abraçou o presente.


Vale lembrar que uma banda com mais de três décadas de carreira merece ser ouvida em todas as suas fases. Por isso, fica aqui um apelo: dê uma chance aos lançamentos mais recentes dos seus artistas favoritos. O fato de ainda termos a oportunidade de receber material novo é um privilégio que não deve ser ignorado.



No fim, o Cradle of Filth entregou uma performance intensa e memorável, ainda que marcada por contrastes. Entre o peso da música e a divisão do público, ficou claro que a escuridão da banda segue viva, mesmo diante da resistência de alguns fãs.

Nota: Após o show a tecladista Zöe Marie Federoff, que é casada com o guitarrista Marek Smerda, anunciou sua saída da banda. O fato da saída repentina e faltando vários shows para o fim da tour surpreendeu. A tecladista, em sua comunicação, pediu que respeitem sua privacidade e que não responderia a nenhuma pergunta.

Setlist Cradle of Filth
Intro
To Live Deliciously
The Forest Whispers My Name
She Is a Fire
Malignant Perfection
The Principle of Evil Made Flesh
Heartbreak and Seance
Nymphetamine (Fix)
Born in a Burial Gown
White Hellebore
Encore:
Creatures That Kissed in Cold Mirrors / The Monstrous Sabbat (Summoning the Coven)
Cruelty Br
ought Thee Orchids
Death Magick for Adepts
Her Ghost in the Fog


Agradecimentos: Tedesco Mídia 





sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Burning Witches: Revivendo a Santa Inquisição nos Dias Modernos


2025 é o ano que marca a primeira década de existência do poderio de nacionalidades multifacetária das BURNING WITCHES. Multifaces por terem integrantes da Europa e da América, solidificando o fato de que a língua não só do Metal, mas da música é universal. Com apenas dois anos após o último lançamento (THE DARK TOWER), outra característica traga por elas é que além de resgatarem o som old-school prevalente da música pesada dos anos 80 com bandas como DIO, ACCEPT, WARLOCK e até mesmo uma roupagem moderna do AOR (Album-oriented Rock), uma espécie de acordo coletivo é o fato da inexistência de um período longo entre um trabalho e o outro.

Como muitas coisas na vida, "panela velha é que faz comida boa”, por assim dizer. Esses “truques velhos” muitas das vezes provam ser os mais eficientes, por isso do renascimento atual com os sons do período supracitado. Com várias bandas surgindo ao redor do globo após um período de recessão metálica, as BURNING WITCHES colocaram algo da mesa que, em larga parte, possui uma liderança com a potência brasileira NERVOSA: uma participação crescente da posição feminina no Metal.

Um ocorrido impressionante é que enquanto a maioria das bandas solta o ápice das suas carreiras já no primeiro álbum, as Bruxas quebram este padrão e, com o passar da década, demonstram uma maturidade gradual no que tange os arranjos das suas composições, ou, no mínimo, mantêm a régua num patamar saudável, sem deixar a peteca cair. Voltando ao tempo após esta viagem num passado próximo, temos o sexto lançamento, batizado de “INQUISITION”.

Sem mais delongas, iniciemos a observação.


O CONVENTO É LIVRE PARA TODOS PARTICIPAREM: O PREÇO É A SUA ALMA

A abertura instrumental SANGUINI HOMINUM inicia na forma de um cântico, e como o título sugere, ele é totalmente proferido em latim. Assim que a bateria entra com a deselegância de Lala Frischknecht marretando impiedosamente o tambor como se ele estivesse devendo dinheiro a ela, o propósito central do início do álbum é construir hype e criar a impressão de que estamos numa igreja: porém, logo somos induzidos a crer que não se trata de uma igreja comum, já que a fantástica Laura Guldemond perfura seus ouvidos com um grito de agonia que domina os seus dois ouvidos, trazendo-a ao final.

 
Ok, antes de darmos continuidade, um esclarecimento precisa ser feito: sou completamente contra a fulanização de integrantes. A banda deve ser tratada como um todo, e elogios individuais têm o seu devido local em partes pontuais. No entanto, uma exceção precisa ser feita aqui, porque LAURA GULDEMOND É UM FENÔMENO. PONTO FINAL. Ao iniciar na BURNING WITCHES, sua entrada estava envolta de dúvidas, confusões e incertezas, já que substituir Seraina é tarefa para poucas. Os ventos do destino sopraram ao seu favor, já que Laura provou ser justamente uma dessas poucas.

Começando sem ser uma referência no gênero, os anos foram favoráveis a ela, pois a própria desenvolveu um grau de profissionalismo que beira o inumano. Como a personificação da versão feminina de Goku (da franquia de animes DRAGON BALL), Laura foi superando seus próprios limites com a passagem do tempo.

Pelo que me importo, os meus olhos e ouvidos são os melhores juízes existentes, e eles me informaram que A HOLANDESA É A MELHOR FRONTWOMAN DO METAL NA ATUALIDADE, pois quando eu faço um Ctrl+F para procurar outra que consegue rivalizá-la nos pilares técnica, carisma e performance (talvez beleza seja apropriado, para completar de vez o combo), meus resultados encontram apenas o seu nome.



Certo, com esse "fanboyismo" fora do caminho... o início é dado de vez com SOUL EATER, com uma crescendo que não ficaria fora de lugar como um alerta da chegada de uma ambulância, porque o peso sonoro presente é sim cenário de emergência: de ver se o seu corpo aguenta a pressão do quinteto. SOUL EATER apresenta similaridades com UNLEASH THE BEAST do álbum anterior na sua apresentação, seja por agressão, batida e velocidade. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, porém com uma produção impressionantemente limpa.

DEFENSORES DA FÉ? OU DEFENSORES DE UM PODER IMPERIAL?

Após uma abertura muito direta e "na sua cara", a próxima é SHAME, e é aqui que paramos para perceber a influência de Courtney Cox como nova integrante permanente. A estadunidense entrou após o lançamento de THE DARK TOWER, e no lançamento atual é que a sua forma de compor entra em campo. Primariamente focada em shred, e apesar da faixa atual ser um pouco mais lenta, SHAME tem uma boa porção de palhetadas rápidas (em especial no seu refrão), além de uma generosa contribuição de wah-wahs em seu solo e no seu interlúdio.

THE SPELL OF THE SKULL não é tão nova assim, e já fora tocada meses antes de INQUISITION surgir ao mundo. Lançada no ano passado (com direito a videoclipe!), a vibe oitentista vem ao seu esplendor aqui, ao ponto desta ser uma mistura com Hard Rock não tão diferente do que visto em WASP ao redor da sua composição.

A faixa mais longa do álbum, primeiro single e a que dá o nome ao próprio: chegamos em INQUISITION, mergulhando mais profundamente no Heavy Metal tradicional e recheada com variações de tempo. A "comissão de frente" dos instrumentos costuma ser mais prestada atenção em uma análise sonora, com a bateria sendo erroneamente vista por cima, só que é aqui que Lala é dona de um poder a ser reconhecido. Como uma técnica de futebol que comanda o seu time pelos bastidores, a suíça assume a função ao manusear o seu kit no que eu chamo de "brutalidade com finesse" através de um passeio em diferentes estilos dentro do universo do Metal: se canção demanda que o ritmo vá a uma posição mais rápida, tudo bem. Uma abordagem mais lenta? Sem problemas. Não é à toa que essa variedade a põe num patamar de competência reservado para poucas seletas.
 
Na metade do álbum, HIGH PRIESTESS OF THE NIGHT é o segundo single de INQUISITION e com uma pegada bastante groove e a mais "fora de lugar do álbum". Talvez por ter uma estrutura bem "básica" na sua composição, mas para quem quer apenas bangear sem se preocupar com a hora do Brasil, ela preenche esse propósito: com a agravante do solo virtuoso de Courtney para colocar um sorriso descontrolado no seu rosto, enquanto a sua cabeça funciona como um tipo de ventilador humano.


NÃO HÁ SALVAÇÃO A SER ENCONTRADA AQUI: TUDO O QUE RESTA É A DANAÇÃO

Mesmo voltada para um lado mais Thrash, BURN IN HELL me fez ter a seguinte certeza: a temática e a estética estavam me fazendo lembrar a cada minuto de THE EYE, do lendário KING DIAMOND enquanto eu ouvia o álbum. O conteúdo lírico ficou pesadamente voltado para o nome da banda em sua literalidade: "Bruxas Queimadas", o que finalmente ocorreu em seu sexto lançamento, encontrando um paralelo com o álbum de 1990 do dinamarquês.
 
A guitarra semi-acústica ao iniciar RELEASE ME estabelece uma mudança de ritmo, e a "riffagem" mais lenta que a acompanha revelam que é uma canção mais sentimental. A balada melódica se coloca como a tranquilidade que antecede a tormenta, e no segmento 3:34 é lançado o solo mais bonito ouvido até agora na opinião do redator: é como se os gritos de sofrimento da Bruxa que clama voltar à liberdade se manifestassem com a abertura de um portal que conecta a dimensão dos homens com um outro plano existencial.
Em uma alternância que parecia ser natural, IN FOR THE KILL possui uma investida mais agressiva na batida e na palhetagem, sem se importar se o ouvinte irá aguentar o massacre sônico que infesta seus canais auditivos, junto com uma sincronia entre todas as musicistas, funcionando de forma uníssona enquanto o "couro come". Esta é forte candidata em ser tocada nos próximos shows que virão para a formação de moshpits violentos, cuja imagem mais apropriada é a de um liquidificador girando de maneira desordenada, produzindo mais watts do que um grupo de hamsters jamais poderia alcançar nos seus sonhos mais selvagens. E claro, sem faltar a energia contagiosa que as Bruxas Queimadas exalam quando estão dominando o palco.
 
IN THE EYE OF THE STORM nos leva na parte final deste trabalho, mantendo a propensão de massacre audível que o ouvinte recebeu em seus ouvidos até agora, e seguindo também a linha mais "na sua cara" que a sua antecessora. O encerramento informal, MIRROR, MIRROR também já deu as caras antes, junto com THE SPELL OF THE SKULL. Ainda que em uma escutada imatura, observa-se que o encantamento das bruxas mergulha mais profundamente numa ambientação sonora dos anos 80, trazendo um ar de CHASTAIN durante a sua execução (porém com um nível de produção mais moderno, o que é algo que vem com o território em pleno 2025). O trabalho das guitarras gêmeas aqui está a pleno vapor: quando a sua alimentação precisa ser regrada com uma diversidade de nutrientes para o seu corpo funcionar de acordo, cada ingrediente funciona para um propósito específico, refletindo a sincronia entre Romana e Courtney.



"...E ASSIM SERÁ FEITO. AMÉM!"

MALUS MAGA fecha as cortinas como o encerramento, servindo como uma instrumental atmosférica, envolvida com sons vocais parecidos com a realização de uma magia sendo lida em um livro arcano, em oposição à abertura, SANGUINI HOMINUM. A conjuração de um feitiço com o propósito de finalizar uma espécie de ritual é um processo mundialmente conhecido como "Finite Incantatem" (Encantamento Finalizado, numa tradução livre do latim), servindo como um final em ordens teórica e filosófica com o tema abordado.

Em dez anos de existência, este já é o sexto álbum das Bruxas, tornando-as uma das musicistas bastante prolíficas da atualidade. Para além disso, o álbum foi composto durante períodos de turnês extensas, com pouco tempo para respirar o ar do abrigo. O fato de termos INQUISITION ser lançado envolvido com tantos compromissos é um testamento da qualidade bruta das musicistas internacionais.

Não nos enganemos: há sim momentos de repetição (o que não é tão incomum, num panorama geral), só que isso não afeta o produto geral.

INQUISITION certamente irá satisfazer o público existente das BURNING WITCHES assim como tem atração de sobra para os novatos da multidão. O tempo dirá se o mesmo é digno de entrar na categoria de "clássico". Mas até isso acontecer, estaremos ocupados demais nos imaginando inseridos na época da Santa Inquisição enquanto chutamos e socamos a oposição existente deste período histórico, com a feitiçaria das Bruxas Queimadas iluminando os nossos caminhos.

Texto: Bruno França
Selo: Napalm Records 

Faixas:
1) Sanguini Hominum
2) Soul Eater
3) Shame
4) The Spell of the Skull
5) Inquisition
6) High Priestess of the Night
7) Burn In Hell
8) Release Me
9) In For The Kill
10) In The Eye of the Storm
11) Mirror, Mirror
12) Malus Maga



quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Pesta: “The Inquisitor, Pt. I” Prepara o Terreno para o Novo Álbum

 


A banda mineira Pesta prepara terreno para um novo capítulo de sua trajetória com o lançamento de “The Inquisitor, Pt. I”, primeiro single de seu próximo álbum, “The Craft of Pain”. 

A faixa chega às plataformas na quinta-feira, 21 de agosto, e marca o início da contagem regressiva para o terceiro trabalho de estúdio do grupo, previsto para 16 de outubro de 2025.

O novo álbum sairá pelo selo norte-americano Glory of Death Records em vinil, reconhecido no circuito underground pela curadoria ousada e relação próxima com colecionadores. 

No Brasil, o lançamento acontece pela Gate of Doom Records em CD, gravadora paulista que recentemente se destacou por relançar títulos clássicos da Metal Blade no país.

The Craft of Pain” mergulha em temáticas sombrias da história da humanidade, abordando dor, sofrimento e violência por meio de figuras e eventos históricos. 

Arte por Ars Moriendee

O disco convida o ouvinte a refletir sobre os males estruturais da sociedade, como idolatria, ganância, racismo e megalomania, em um conceito que ecoa provocações filosóficas de nomes como o Marquês de Sade. 

Abrindo essa jornada, “The Inquisitor, Pt. I” apresenta peso e densidade característicos do proto-doom da Pesta, agora formada como quarteto após a saída do guitarrista Daniel Rocha. 

A nova faixa mantém a atmosfera densa e sombria que já se tornou marca registrada da Pesta dentro do doom, mas surpreende ao introduzir uma quebra de ambientação que intensifica a experiência auditiva. 

Essa variação dá mais dinamismo à composição, prende a atenção do ouvinte e cria uma sensação de expectativa pelo que ainda está por vir. Trata-se de um primeiro lançamento estratégico e eficiente, capaz de empolgar o público e despertar ainda mais ansiedade para a chegada do álbum completo.



Até a chegada do álbum, os fãs poderão acompanhar um cronograma de lançamentos que inclui ainda o segundo single, “Shadows of a Desire”, em 18 de setembro. Já no dia 16 de outubro, será revelado o disco completo, que conta com participações especiais, entre elas Wino em “Mirror Maze” e Rodrigo Garcia no violoncelo em “The Inquisitor, Pt. II”.

A tracklist apresenta dez faixas: “Rites of Enclosure”, “Masters of the Craft of Pain”, “Marked by Hate”, “Mirror Maze (Part. Wino)”, “In the End’s Drive”, “Thumbscrew”, “The Inquisitor, Pt. I”, “The Inquisitor, Pt. II (Part. Rodrigo Garcia no Violoncelo)”, “Canto XXI” e “Shadows of a Desire”.

Formada em Belo Horizonte, Minas Gerais, a Pesta é uma banda de Stoner Doom Metal que segue fortalecendo seu nome dentro da cena pesada. A atual formação conta com Thiago Cruz (vocal), Anderson Vaca (baixo), Marcos Resende (guitarra) e Flávio Freitas (bateria). Você pode ouvir a banda nas principais plataformas digitais.

Saiba mais sobre a banda clicando aqui.

Ouça no Spotify 

Texto: Jéssica Valentim 
Fotos: Divulgação e Lucas Hell



terça-feira, 19 de agosto de 2025

THE 69 EYES: CINCO RAZÕES PARA VER O SHOW NO BRASIL

Marek Sabogal

Direto da Finlândia, os ícones do Gothic Rock desembarcam esse mês no Brasil

Por Fernando Queiroz

Quando se trata de música acessível a várias tribos, o The 69 Eyes é um exemplo a ser seguido. Você vai encontrar fãs góticos, headbangers e até pessoas do rock mais casual possível! Na sua quarta passagem pelo país, o show no final de agosto é uma oportunidade perfeita para assistir a uma das mais icônicas bandas finlandesas. Listamos aqui cinco razões para você ver o show!

1) Gothic Rock para todos! O The 69 Eyes pode se considerar uma banda que passeia por vários gêneros perfeitamente, indo do gothic rock ao metal. Você vai encontrar, à primeira ouvida, uma clara influência de The Sisters of Mercy, em especial pela voz de Jerky 69, mas também um som mais pesado e flertando com o metal finlandês dos anos noventa.

2) Clima de balada! Quem já foi ou conhece a famosa casa Madame (antigo Madame Satã) em São Paulo está acostumado com o conceito de “balada gótica”, e o show do The 69 Eyes te proporciona essa sensação. Ambiente escuro, gelo seco, o clima “dark” é o diferencial do que você veria em um “típico show de metal”.

3) Formação mais sólida e longeva possível! Quem vê o show do The 69 Eyes percebe o entrosamento perfeito entre eles. Não para menos, desde seu primeiro álbum, a banda nunca trocou um integrante, então o que se tem em shows é exatamente a imagem que você tem da banda em qualquer ocasião! Aliás, uma banda passar mais de trinta anos sem trocar membros só pode querer dizer o quão bons são no que se propõe, não?

4) Setlist variado! São treze álbuns de estúdio, desde 1992, então o que não falta é música para apresentarem. Diga-se de passagem, eles têm uma discografia sólida, embora em tempos mais recentes tenham ido para um lado mais “eletrônico” — que também vale ser ouvido!

5) Destaques quando vieram! Duas das vezes que a banda esteve no Brasil foi em festivais, a última no Summer Breeze Brasil de 2024, e a primeira no Live n Louder, em 2005. Em ambos os casos, a mídia especializada sempre os colocou como destaques ou, no mínimo, gratas surpresas.

Todas as informações desse show imperdível em São Paulo, único no país, para diversos públicos podem ser vistos aqui!

SERVIÇO

Data: 31 de agosto de 2025 (domingo)
Abertura das Portas: 17h
Local: Fabrique Club
Endereço: R. Barra Funda, 1071 – Barra Funda, São Paulo – SP

Ingressos:
Meia Entrada / Solidária: R$ 200,00
Inteira: R$ 400,00