quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Testament: Thrash Com Alma e Grito de Guerra

Shinigami Records (Nac.) / Nuclear Blast (Imp.)

Por Amanda Misturini 

Ícones do thrash metal da Bay Area, o Testament retorna após 5 anos com seu décimo quarto álbum de estúdio, Para Bellum, lançado pela Nuclear Blast Records. O título deriva da expressão latina Si vis pacem, para bellum — que significa “Se queres paz, prepara-te para a guerra”.

O álbum reflete a indignação sobre o rumo em que a humanidade vem caminhando referente às suas criações e desenvolvimento. Para Bellum é a definição que o Testament encontrou, de forma urgente, em gritar ao mundo o caos implementado pela velocidade em que a modernidade tem avançado como suas novas tecnologias têm mudado a forma de agir e pensar da sociedade.

Tal qual uma verdadeira aula de thrash metal e calibrado no mais alto nível de sofisticação, com forte presença da atmosfera black metal - evidenciada pela união das referências de Eric Peterson e Chris Dovas -, cada faixa tem sua personalidade, a fim de agradar a todos os gostos, do fã mais raiz ao mais moderno da banda.

Sem dó nem piedade e com a bateria rasgando o silêncio da expectativa pela nova obra em “For the Love of Pain, Chris Dovas, com toda a sua potência e técnica surpreendente, deposita sua identidade marcante e fortes referências de black metal junto de Eric Peterson, com quem cultivou uma estreita relação durante todo o processo das novas composições.

Os vocais atuais de Chuck Billy, anteriormente apreciados em Infanticide A.I e Shadow People, agora impressionam com um gutural sombrio e poderoso, rememorando obras aclamadas da banda no final dos anos 1990 como “The Gathering”.

“Infanticide A.I”, primeiro single do novo álbum, lançado em 21 de agosto deste ano, denuncia a indignação pelos tempos atuais terem sido inundados pela utilização desenfreada de inteligência artificial em diversas esferas da sociedade. Um grande exemplo é a belíssima arte de capa pintada novamente por Eliran Kantor, reflete a essência do álbum como um todo e, especialmente, desta faixa.

Segundo single lançado em 12 de setembro, “Shadow People” possui ótima cadência de ritmo muito característica de um thrash bem estruturado. Equilibrado entre velocidade rápida e moderada, com ótimos riffs, pausas e um foco especial no solo, é uma música que proporciona a todos os instrumentos terem seu brilho e destaque durante todo o andamento.

Para os fãs do velho Testament(o), a essência de clássicos atemporais como “The Ballad”, “The Legacy” e “Return to Serenity” é resgatada na quarta faixa Meant to Be. Ela inicia com dedilhados sutis, antecipando a força que estaria por vir. Ter uma música como essa no álbum demonstra o cuidado em acrescentar uma pitada de cada elemento que moldou a identidade da banda em uma única obra, como um respiro sem abandonar o peso e emoção que ela carrega da metade para o final da faixa, apresentando um solo marcante e muito feeling.

High Moon inicia sem dó nem piedade com os guturais destruidores de Chuck Billy, anunciando o que seria uma das faixas mais pesadas do álbum.

A receita perfeita para um thrash metal de qualidade é encontrada nessa música: cadência, peso, o baixo de Steve DiGiorgio trazendo a atmosfera obscura, a combinação técnica de Alex Skolnick e Eric Peterson nos riffs marcantes e a precisão da bateria de Chris.

Witch Hunt é o convite ideal para um Wall of Death de respeito. Começa com riffs velozes e técnicos, seguidos por um gutural em ascensão que provoca o sentimento de destruir tudo o que vem pela frente. Uma das faixas que revela a verdadeira essência do Testament: crua, veloz, visceral e pesada. Arrisco dizer que a maior demonstração da atmosfera black metal do álbum está presente nessa composição, com a bateria quase que ininterrupta no pedal duplo e riffs que a acompanham de forma perfeitamente sincronizada.

Com um vocal mais limpo que as duas faixas anteriores, Chuck Billy explora uma região média e limpa com drives rasgados em Nature of the Beast, lembrando bastante a época de Dark Roots of Earth. Possui grande presença de elementos modernos como a sensação de um ritmo mais dançante e melodias bem distribuídas. Essa faixa possivelmente poderá agradar os fãs mais recentes.

Room 117, também com perceptível influência moderna, explora muitas melodias do início ao fim, vocais em uma região média-aguda mas com peso característico mais acentuado no refrão. A combinação criativa da cozinha com os solos traz uma harmonia excelente na metade da música.

“Havana Syndrome” tem um começo marcado por riffs melódicos para depois revelar um thrash pesado e cadenciado, muito bem produzido e equilibrado com vocais rasgados. É uma música que explora tonalidades mais agudas na voz de Chuck e ainda consegue entregar uma estrutura forte e com muita identidade.

“Para Bellum”, faixa-título que encerra a obra, possui a mesma influência moderna das anteriores sem deixar a essência raiz de lado. Longa introdução, seguida de um vocal extremamente visceral e brutal durante toda a extensão da música, devidamente explorada e depositada por Chuck Billy. Com ritmos variados, estrofes pesadas, ponte e refrão entregam muita velocidade utilizando a tradução em latim como elemento expressivo na letra. A música ainda navega nos refrões entre o instrumental do black metal ao mesmo tempo do thrash e finaliza com o dedilhado que assina o fim dessa guerra, o cessar do sofrimento e da angústia moderna. Para Bellum encerra de forma sutil, demonstrando total equilíbrio entre o fim e o início apoteótico da primeira faixa.

Um álbum extraordinário do início ao fim, na medida certa e para todos os gostos, que agrada desde o fã mais raiz ao mais recente. Testament ainda tem muita lenha para queimar e agora, mais do que nunca, com uma máquina na bateria que resgata a energia necessária para continuarem produzindo obras-primas como Para Bellum.

Fred Kowalo


Cobertura de Show: Wacken Open Air – 02/08/2025 – Schleswig-Holten/GE

Rainning or Muddy – o tempestuoso último dia do Wacken

O público acordava cedo em uma manhã chuvosa, talvez os céus estivessem tristes pelo último dia de celebração dentro do Holy Ground. Desta vez não consegui participar do metal yoga, mas já tinha em mente shows épicos para o desfecho do festival.

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Destruction 13:45 Louder Stage

Destruction trouxe uma aula de thrash clássico sob chuva e lama. O setlist no Wacken 2025 foi implacável e certeiro: “Curse the Gods”, “Invincible Force”, “Nailed to the Cross”, “Mad Butcher”, “Life Without Sense”, “Diabolical”, “Total Desaster”, “No Kings No Masters”, “Destruction”, “Bestial Invasion” e “Thrash ’Til Death”.

Nayara Sabino

Os riffs vinham cortantes e precisos, o vocal rasgando sobre o som pesado como o melhor que o thrash metal tem a oferecer. O público, ainda acordando para a lama, foi arrastado sem alternativa — a energia é contagiante desde o primeiro acorde. Mesmo enfrentando um palco escorregadio, a banda manteve firmeza, e o mosh cresceu conforme as músicas mais pesadas subiam, criando conexão instantânea entre banda e plateia.

Nayara Sabino
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Floor Jansen 15:15 Harder Stage

A apresentação solo de Floor Jansen se destacou por sua versatilidade e repertório generoso. Ela trouxe canções de várias fases de sua carreira — After Forever, ReVamp, Nightwish e material solo — costurando momentos de intensidade com outros mais líricos.

Nayara Sabino

Destaques do show incluíram “Nemo”, “Spider Silk”, “Amaranth”, “Energize Me”, “7 Days to the Wolves”, “While Love Died” e “Face Your Demons”. Cada faixa trouxe um sabor diferente, mas todas unidas pela presença de palco impressionante de Floor, dominando o Harder Stage mesmo com chuva e vento.

A performance mostrou tanto a técnica vocal refinada quanto empatia com a plateia — momentos de silêncio entre músicas, abraços coletivos nas letras mais conhecidas e catarse quando ela subia no registro mais alto.

Nayara Sabino
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*W.A.S.P. 17:45 Harder Stage

Um show histórico: pela primeira vez na história, W.A.S.P. abriu o concerto já com“I Wanna Be Somebody”,  que veio em sequência de um solo de bateria do nosso caríssimo Aquiles Priester música que normalmente fecha shows, introduzindo imediatamente a energia que viria.

Nayara Sabino

Eles tocaram o álbum de estreia W.A.S.P. (1984) na íntegra, com músicas como “L.O.V.E. Machine”, “The Flame”, “B.A.D.”, “School Daze”, “Hellion”, “Sleeping (in the Fire)”, “On Your Knees”, “Tormentor” e “The Torture Never Stops”. Blackie Lawless anunciou que algumas dessas músicas provavelmente não serão mais tocadas ao vivo, tornando esse show uma despedida especial.

Nayara Sabino

O encore incluiu clássicos como “The Real Me”, “Forever Free”, “The Headless Children”, “Wild Child” e “Blind in Texas”. O Harder Stage tremeu com a entrega da banda e o público cantou cada refrão, lama e chuva transformadas em pura celebração.

Nayara Sabino
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*Within Temptation 19:15 Faster Stage

Within Temptation apresentou um setlist equilibrado entre clássicos e músicas recentes, incluindo “We Go to War”, “Bleed Out”, “Faster”, “In the Middle of the Night”, “Stand My Ground”, “Wireless”, “Shot in the Dark”, “Angels”, “Paradise (What About Us?)”, “Don’t Pray for Me”, “Supernova”, “Lost”, “The Reckoning” e encores como “Our Solemn Hour”, “Shed My Skin”, “Ice Queen” e “Mother Earth”.

*Wacken Press

Sharon den Adel comentou sobre o mundo estar menos empático antes de tocar “Stand My Ground”, conectando o público à mensagem de seu último álbum. Também destacou seu apoio à Ucrânia, mencionando a colaboração com o músico ucraniano Alex Yarmak e o videoclipe gravado em Kyiv, reforçando que a música pode ser ferramenta de mobilização e solidariedade.

*Wacken Press

O show combinou poderosas paisagens sonoras, sintetizadores e guitarras densas com momentos de emoção, reforçando o compromisso da banda com causas humanitárias e sociais.

*Wacken Press
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Gojira 21:00 Faster Stage

Gojira foi o concerto que me fez descobrir a banda ao vivo. O entrosamento dos membros era impressionante: riffs pesadíssimos, timbres graves que rasgavam o ar, pausas dramáticas e como o baterista que vos escreve, a bateria de Mario Duplantier, precisa e brutal, com fills complexos mesmo no palco lamacento.

Nayara Sabino

Músicas como “Stranded”, “Silvera” e “Flying Whales” foram destaque, cada uma reforçando a fusão entre técnica e impacto emocional. O público respondeu com entusiasmo, mesmo lutando contra a lama. Perdi minhas anotações nesse show, engolidas pelo chão enlameado — mas a energia e a intensidade ficaram gravadas na memória.

Nayara Sabino
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King Diamond 23:00 Louder Stage

O encerramento da noite não poderia ter sido mais teatral. King Diamond trouxe cenários macabros, iluminação dramática e vocal inconfundível. O setlist incluiu “Halloween”, “Sleepless Nights”, “Welcome Home” e outros clássicos. O público cantou em uníssono, vivendo cada refrão como ritual.

*Wacken Press

O palco refletiu o peso histórico de King, desde seus dias com o Mercyful Fate, e sua presença de palco magnética transformou o Louder Stage em um espetáculo de horror e heavy metal memorável.

*Wacken Press
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Machine Head 23:00 Faster Stage

Sob forte chuva, Machine Head dominou o encerramento do Faster Stage — verdadeiros mestres da noite. Em cada pausa entre músicas, eles tinham a plateia nas mãos, construindo tensão antes de explodir em riffs e grooves pesados.

O setlist incluiu “Imperium”, “Ten Ton Hammer”, “CHØKE ØN THE ASHES ØF YØUR HATE”, “Now We Die”, “Is There Anybody Out There?”, “ØUTSIDER”, “Locust”, “BØNESCRAPER”, “Declaration”, “Bulldozer”, “From This Day” e “Davidian”.

O som era denso e grave, mas claro, mesmo sob chuva e lama. Cada faixa foi executada com precisão e intensidade, culminando em “Davidian”, que encerrou o festival com fúria controlada e energia máxima.


Com toda a certeza o Wacken é e sempre será um festival único.

Não importa a chuva, a lama, o sol ou poeira da edição, sempre se entrega o melhor do heavy metal em rock n’ Roll no Holy Ground. Todos felizes e unidos pelo som que amam e fazem parte do seu dia a dia com seus artistas favoritos em momentos épicos. Mal posso esperar a edição 2026. 

Nayara Sabino

Texto: Lukka Leite

Fotos: Nayara Sabino (*exceto onde indicado)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Destruction – setlist: 

Curse the Gods

Invincible Force

Nailed to the Cross

Mad Butcher

Life Without Sense

Diabolical

Total Desaster

No Kings No Masters

Destruction

Bestial Invasion

Thrash 'Til Death


Floor Jansen – setlist: 

Wolf and Dog

Noise

Invincible

Storm

Spider Silk

Amaranth

Energize Me

7 Days to the Wolves

While Love Died

Face Your Demons

Nemo

Fire


W.A.S.P – setlist: 

I Wanna Be Somebody

L.O.V.E. Machine

The Flame

B.A.D.

School Daze

Hellion

Sleeping (in the Fire)

On Your Knees
o
Tormentor

The Torture Never Stops

Bis

The Real Me

Forever Free

The Headless Children

Wild Child

Blind in Texas


Within Temptation – setlist: 

We Go to War

Bleed Out

Faster

In the Middle of the Night

Stand My Ground

Wireless

Shot in the Dark

Angels

Paradise (What About Us?)

Don't Pray for Me

Supernova

Lost

The Reckoning

Bis

Our Solemn Hour

Shed My Skin
(with Annisokay) (Christoph Wieczorek)

Ice Queen

Mother Earth


Gojira – setlist: 

Only Pain

The Axe

Backbone

Stranded

Flying Whales

The Cell

From the Sky

Another World

Under the Sun/Every Day Comes and Goes (Black Sabbath cover)

Silvera

Mea culpa (com Marina Viotti)

The Chant

Amazonia

L'enfant sauvage

The Gift of Guilt


King Diamond – setlist: 

Arrival

A Mansion in Darkness

Halloween

Voodoo

Spider Lilly

Two Little Girls

Sleepless Nights

Welcome Home

The Invisible Guests

The Candle

Masquerade of Madness

Eye of the Witch

Burn

Bis

Abigail


Machine Head – setlist: 

Imperium

Ten Ton Hammer

CHØKE ØN THE ASHES ØF YØUR HATE

Now We Die

Is There Anybody Out There?

ØUTSIDER

Locust

BØNESCRAPER

Bulldozer

From This Day

Davidian

Bis 

Halo

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Vltimas & Hate – 02/10/2025 – Burning House/SP

A Burning House, um dos redutos mais fiéis do metal underground em São Paulo, serviu um verdadeiro banquete para os fãs de metal extremo. No cardápio estavam os poloneses do Hate e o supergrupo Vltimas, que fez sua aguardada estreia em solo brasileiro. O evento reuniu admiradores sedentos por brutalidade em plena quarta-feira (02/10), para uma noite de peso e intensidade.

O Hate abriu a noite com uma apresentação que evidenciou por que é um dos nomes mais consistentes do death/black metal atual. Com o line-up formado por Adam “ATF Sinner” Buszko (vocal e guitarra), Dominik “Domin” Prykiel (guitarra), Tomasz “Tiermes” Sadlak (baixo) e Daniel “Nar-Sil” Rutkowski (bateria), os poloneses transformaram o palco em um altar de fúria e destruição. O som se manteve consistente e denso, sem espaço para distrações — tudo soava como uma máquina perfeitamente sincronizada.

O setlist percorreu diversas fases da banda, abrindo com “Sovereign Sanctity” e “Erebos”, que incendiaram o público logo nos primeiros acordes. Entre destaques como “Bellum Regiis”, “Rugia” e “Iphigenia”, o grupo alternou brutalidade e atmosfera, mantendo a plateia hipnotizada. Não à toa, foram ovacionados diversas vezes. O momento de respiro veio com “Interludium”, antes de encerrar com o peso absoluto de “Resurrection Machine” e “Hex”. Mesmo sendo a banda de abertura, o Hate dominou o palco com postura de headliner. Foi um show direto, intenso e sem artifícios — o tipo de performance que não apenas aquece o público, mas também conquista e deixa satisfeito.

Após a abertura do Hate, o Vltimas emergiu das sombras para encerrar a noite com uma performance devastadora. Essa foi a primeira vez que a banda, formada por grandes nomes do gênero, pisou em solo brasileiro, e não poupou esforços para transformar o evento em um verdadeiro ritual apocalíptico. Com energia visceral e execução impecável, o Vltimas não apenas fechou o show, como o elevou a um nível épico, conectando-se instantaneamente com o público ávido por doses brutais de metal extremo.

Formado por David Vincent (ex-Morbid Angel) nos vocais, Rune “Blasphemer” Eriksen (ex-Mayhem) na guitarra, Ype TWS no baixo, João Ribeiro na guitarra e Pawell na bateria, o supergrupo entregou um espetáculo intenso e técnico, transformando o palco em um verdadeiro inferno sonoro. A apresentação começou com “EPIC”, faixa avassaladora que explodiu como um vulcão em erupção, com os vocais guturais e ameaçadores de Vincent ecoando pela casa, reforçados por seu figurino à la Van Helsing.

“Praevalidus” e “Invictus” seguiram injetando riffs rápidos e peso, fazendo o mosh pit se transformar em um turbilhão, enquanto “Mephisto Manifesto”, mais cadenciada, evocava o melhor do black metal com solos gélidos de Blasphemer.

A intensidade não diminuiu. “Exercitus Irae” trouxe uma fúria mortal, como se a banda estivesse convocando um exército das trevas, e “Last Ones Alive Win Nothing” destacou a precisão cirúrgica de Pawell na bateria, com os bumbos soando como metralhadoras. A música é repleta de climas densos, e quem acha que David ficou deslocado apenas como vocalista engana-se, pois ele se mostra um grande frontman, que incorpora suas letras com intensidade e teatralidade.

Parecendo um terremoto, “Scorcher” e “Nature’s Fangs” chegaram misturando agressividade com momentos melódicos e perversos. O mesmo ocorreu em “Total Destroy!”, que serviu como um hino de destruição total, incitando o público a gritar e vibrar junto com a banda. Contudo, por volta das 23 horas, parte da plateia começou a deixar o local. Sem demonstrar qualquer abalo, o grupo seguiu com “Monolilith”, faixa que explorou texturas mais intensas, seguida por “Miserere” e pelo encerramento épico com “Diabolus Est Sanguis”, que finalizou o show como um verdadeiro ritual, com Vincent comandando o público como um sacerdote do apocalipse.

A banda deixou o palco rapidamente. Os fãs que permaneceram até o fim aguardaram um possível bis. Até mesmo o técnico de som manteve-se na mesa, já que o setlist indicava mais duas músicas, porém a apresentação havia sido oficialmente encerrada.

No encerramento da noite, ficou a certeza de ter presenciado um evento histórico para o metal extremo em São Paulo. O Hate reafirmou seu posto como um dos nomes mais sólidos do gênero, entregando precisão, densidade e carisma. O Vltimas, por sua vez, carregando o peso de um supergrupo e a responsabilidade de transformar expectativa em satisfação, selou sua primeira visita ao Brasil com um show devastador, que uniu grandiosidade e técnica sem perder a conexão visceral com os fãs. As performances potentes, diante de uma recepção calorosa e rodas intensas, coroaram a noite, lavando a alma do público que ansiava por esse momento. 


Texto: Marcelo Gomes

Fotos: Sandra Rosato

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Vênus Concerts / Caveira Velha Produções / Xaninho Discos 

Press: LP Metal World 


Hate – setlist:

Sovereign Sanctity

Erebos

The Wolf Queen

Bellum Regiis

Valley of Darkness

Luminous Horizon

Interludium

Rugia

Iphigenia

Wrists

Resurrection Machine

Hex


Vltimas – setlist:

EPIC

Praevalidus

Invictus

Mephisto Manifesto

Exercitus Irae

Last Ones Alive Win Nothing

Scorcher

Nature's Fangs

Total Destroy!

Monolilith

Miserere

Diabolus Est Sanguis


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Anette Olzon– 27/09/2025 – Vip Station/SP

Ex-Nightwish, Anette Olzon, entrega show solo emocionante e empolgante em São Paulo celebrando sua fase na banda finlandesa

Em 27 de setembro de 2025, após 17 anos da controversa tour com o Nightwish pelo Brasil, Anette Olzon subiu ao palco do VIP Station, em São Paulo, pela primeira vez em carreira solo. A apresentação foi marcada por nostalgia, reconhecimento e musicalidade — e, para muitos fãs, serviu para reposicionar seu papel dentro (e fora) da história da banda finlandesa.

A última passagem da vocalista pelo Brasil havia sido em novembro de 2008, quando realizou 10 shows com sua antiga banda. Aquela turnê dividiu o público entre os fãs da ex-vocalista Tarja Turunen e os que aceitavam a recém-chegada Anette. Foi uma época marcada por polêmicas, incluindo o famoso episódio em que Anette deixou o palco após vaias e desaprovação do público.

Quase duas décadas depois, a turnê solo de Anette foi anunciada com certa reverência: ela traria ao palco os clássicos da era em que integrou o Nightwish — os álbuns Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011). Pela primeira vez, em carreira solo, ela revisitaria esse repertório de maneira dedicada.

A noite começou com a excelente banda curitibana Magistry, formada por Lya Seffrin (vocal), Leonardo Arentz (guitarra), João Borth (guitarra), Thiago Parpinelli (teclado), Leonardo Rivabem (baixo) e Johan Wodzynski (bateria). A apresentação aconteceu poucos dias após o lançamento do EP Venus Mellifera, sucessor de The New Aeon.

A banda cumpriu muito bem o papel de “opening act”, com uma sonoridade densa que transitava entre o sinfônico, o gótico e o metal pesado — um clima que casou perfeitamente com a proposta da noite. Lya Seffrin chamou atenção pela entrega dramática em suas interpretações, enquanto a banda demonstrava profissionalismo tanto na execução quanto na estética de palco. Destaque para uniformidade da banda no palco no quesito “dress code” mostrando o profissionalismo que a banda veio para mostrar.  Músicas como “Swing to the Circles of Time”, “Alchemy of the Inner World” e “Divine”, mostraram toda a força e dramaticidade interpretadas por Lya e Leonardo.

A recepção calorosa do público ao Magistry foi um ótimo prenúncio para o que estava por vir.

Com uma banda de apoio formada inteiramente por músicos brasileiros — Filipe Duarte (baixo e vocais), Sanzio Rocha (guitarras), Kiko Lopes (bateria) e Vithor Moraes (teclados) — os primeiros acordes de “7 Days to the Wolves” ecoaram, anunciando a entrada triunfal de Anette. Sorridente, ela saudou o público de São Paulo e, já no meio da primeira música, tirou os sapatos para se sentir mais "em casa". Dançando, batendo cabeça e sorrindo, deu início a uma performance vibrante.

O set list seguiu com “Storytime”, “Ghost River” e “Bye Bye Beautiful” — esta última, conhecida por ser uma provocação direta à ex-vocalista Tarja, foi cantada com empolgação pelos fãs do chamado “Team Anette”.

Surpresas como “Turn Loose the Mermaids”, “Meadows of Heaven”, “Rest Calm” e “Ghost River” emocionaram o público por serem faixas raramente ou nunca executadas ao vivo pelo do Nightwish. Durante todo o show, era comum ouvir o coro: “ANETTE, EU TE AMO!”

Em “Last of the Wilds”, Anette deixou a banda brilhar. Em diversos momentos, fez questão de elogiar e apresentar os músicos, com destaque para o baixista e vocalista Filipe Duarte, que assumiu os desafiadores vocais de Marko Hietala. Anette revelou que o grupo teve apenas um ensaio antes da turnê — o que só reforça a competência dos músicos.

“Eva” foi um dos pontos altos da noite. Em um momento quase acústico e intimista, com os músicos sentados em banquinhos, Anette entregou uma interpretação sensível e comovente. Em “Sahara”, Lya Seffrin retornou ao palco para um dueto surpreendente, que foi muito bem recebido. Mas foi em “The Poet and the Pendulum” que o ápice emocional do show aconteceu. Uma música que não se ouve apenas: sente-se. A interpretação de Anette foi arrebatadora, mostrando toda a sua versatilidade vocal e emocional. Foi um daqueles momentos que nos fazem pensar: “Já pagou meu ingresso”.

Ao anunciar “Meadows of Heaven”, o público brincou gritando “PASTORA! PASTORA!” — uma alusão ao caráter espiritual da canção. Anette explicou que a faixa é especial, especialmente para quem acredita em Deus e na imensidão dos céus.

Antes da última música, Anette convidou ao palco seu filho, Seth, criando um momento de intimidade e carinho. Ele entrou com uma bandeira do Brasil, arrancando aplausos e risos. Logo após, “Last Ride of the Day” encerrou o show com energia e emoção.

A voz de Anette permaneceu firme e expressiva durante toda a apresentação. O repertório equilibrou momentos épicos e baladas tocantes, agradando tanto os fãs do metal sinfônico quanto os que buscam performances mais emocionais. A conexão com o público foi constante e genuína.

O show de Anette Olzon em São Paulo foi, acima de tudo, uma noite de redenção — para ela e para os fãs. Mostrou que ela tem seu lugar nos palcos do mundo e que não deve nada à sua antecessora. O valor simbólico de ouvir ao vivo músicas que muitos julgavam esquecidas emocionou e reacendeu memórias.

Apesar das limitações naturais de uma produção dessa escala, a performance teve alma, entrega e propósito. Para os fãs de Dark Passion Play e Imaginaerum, foi uma verdadeira celebração. E para Anette, possivelmente, um novo começo.

Finalizo com um agradecimento ao produtor Eliel Vieira, da Estética Torta, pela ousadia de realizar um show tão necessário, celebrando dois discos incríveis e oferecendo ao público brasileiro a chance de vivenciar esse momento com uma artista que — agora é oficial — fez as pazes com seus fãs. Que venham mais turnês. E que não demore tanto para voltar, Pastora.


Texto: Anderson Bellini 

Fotos: Pri Secco

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta

Press: Acesso Music


Anette Olzon – setlist:

7 Days to the Wolves

Storytime

Ghost River

Bye Bye Beautiful

Amaranth

Rest Calm

Last of the Wilds

Eva

Turn Loose the Mermaids

Sahara (com Lya Seffrin)

The Poet and the Pendulum

Meadows of Heaven

Last Ride of the Day

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Cobertura de Show: The Sisters Of Mercy – 26/09/2025 – Tokio Marine Hall/SP

Em sua sétima passagem pelo Brasil, a banda britânica The Sisters of Mercy levou cerca de 4 mil fãs ao delírio em uma apresentação única, no último dia 26 de setembro, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. A turnê All Wires Red South America 2025 reforça o legado gótico e pós-punk do grupo, que estreou no país ainda nos anos 1990.

Mas antes, o público foi recepcionado por uma apresentação intensa do 3Pipe Problem, banda que já havia feito a abertura do The Sisters of Mercy em 2023. Com um set rápido, a banda cumpriu bem seu papel de preparar o terreno, criando uma atmosfera condizente com a estética sombria da noite. Além do material autoral, o trio incluiu no repertório uma versão de “Save A Prayer”, clássico do Duran Duran, que trouxe um respiro nostálgico e fez boa parte do público cantar junto. 


Com uma atmosfera carregada de fumaça, luzes indiretas e sombras intencionais, o The Sisters Of Mercy começou o show pontualmente às 22hrs, convidando o público a mergulhar na experiência. Desde os primeiros acordes de “Don’t Drive On Ice”, ficou claro que o objetivo da banda não era ser “vista”, mas sentida. O vocalista Andrew Eldritch, figura central e enigmática, manteve sua tradicional postura contida, praticamente sem interações com o público — marca registrada de suas performances ao longo das décadas.

O repertório misturou clássicos como “More”, “Lucretia My Reflection”, “Temple of Love” e “This Corrosion” — todos entoados em coro pela plateia — com faixas mais recentes e outras menos conhecidas, como “Here”, “Quantum Baby” e o cover “Giving Ground”, da The Sisterhood. A sequência de músicas soou mais pesada ao vivo, com guitarras densas e batidas eletrônicas bem encaixadas.


Os guitarristas Ben Christo e Kai foram os mais animados no palco, demonstrando sintonia com o público. Já a percussão ficou por conta da icônica caixa de ritmos Doktor Avalanche, operada por Chris Catalyst, quase invisível em meio à névoa que dominava o palco.

Apesar de o setlist ter poucas novidades em relação à última visita da banda em 2023, a entrega foi fiel à proposta: transportar os fãs para uma balada gótica dos anos 80 e 90. A sensação de nostalgia foi reforçada por um público que não buscava inovação, mas sim reviver momentos e mergulhar na ambientação sombria que só o The Sisters of Mercy sabe criar.


O encerramento, com “Never Land (A Fragment)”, “Lucretia My Reflection” e “This Corrosion”, selou a noite com intensidade e emoção. Para os fãs de longa data, missão cumprida. A banda entregou o que prometeu: uma noite intensa de rock alternativo/ pós-punk com a veia gótica bem representada. Transformou o Tokio Marine Hall numa grande balada gótica digna de Madame Club (famosa casa noturna de São Paulo especializada no estilo). 




Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Top Link Music


The Sisters Of Mercy – setlist:

Don’t Drive on Ice

Crash and Burn

Ribbons

Doctor Jeep / Detonation Boulevard

More

I Will Call You

Alice

Dominion / Mother Russia

Summer

Giving Ground (The Sisterhood cover)

Marian

But Genevieve

Eyes of Caligula

Here

Quantum Baby

On the Beach

When I’m on Fire

Temple of Love

Bis

Never Land (A Fragment)

Lucretia My Reflection

This Corrosion

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Entrevista: Ricky de Camargo - Requinte e Bestialidade Dentro do Espectro da Música Instrumental

 


- Olá Ricky. Obrigado pela sua gentileza em nos atender. Parabéns pelo lançamento do álbum “Beast Mode”, pois o material ficou de primeira...

Ricky: Eu quem agradeço o convite. Sempre um prazer falar com vocês da Road to Metal.

- Como você pode descrever o trabalho na composição deste tipo de sonoridade?

Ricky: “Beast Mode” pra mim é um trabalho bem honesto. Pois tudo que há nele foi criado durante as gravações. Então, cada Riff, cada solo, baixos, guitarras. Tudo foi feito enquanto eu já estava no momento de gravação. Sem ideias pré-concebidas. Então, por esse fator eu considero que o resultado final ficou muito interessante, ao menos pra mim.

- Eu escutei o material diversas vezes e, só após várias tentativas, consegui captar parte das suas ideias. Os fãs têm sentido este tipo de dificuldade também?

Ricky: Rock Instrumental dificilmente se assimila de primeira. Acho que as primeiras audições são mais para curtir mesmo. E você vai começando a notar as coisas com a recorrência. Por natureza acaba sendo um estilo um pouco mais técnico a depender do que você quer trazer para o público. Então entendo que possa haver alguma dificuldade de entendimento. Mas nada que ouvir mais não resolva.

- Existem planos para o lançamento de “Beast Mode” no exterior, no formato físico? Tivemos contato até agora, apenas o formato digital nacional...

Ricky: Eu diria que é possível, mas depende de um estudo aprofundado de mercado, pois cada vez menos temos tido trabalhos físicos. Até mesmo notebooks hoje não vem mais com leitores de CD por exemplo. Então, talvez precise ser pensado em um modelo alternativo de físico, que condiga mais com a realidade atual. Eu vi um projeto bem legal recentemente que é um pendrive customizado com a arte do álbum. Você pluga, ele já executa as faixas. E você tem a possibilidade ainda de acrescentar os trabalhos anteriores como bônus. Mas é algo a ser discutido com a gravadora e agência.

- Adorei o fato de você trabalhar com o instrumental, mas isso não pode vir a atrapalhar você no mercado nacional?

Ricky: Eu conheço o público que eu tenho e do que eles gostam um pouco. Acho que quem sabe que quando vou lançar algo é instrumental majoritariamente. Então, não há surpresas. Se o seu público sabe que você está neste caminho, ele te apoia. Mas nada impede de inovar nos próximos.

- Como estão rolando os shows em suporte ao disco? A aceitação está sendo positiva?

Ricky: “Beast Mode” de todos os 4 trabalhos instrumentais que lancei até o momento é o que melhor recebe criticas do pessoal que eu converso após as apresentações. Na hora tem todo o momento de curtição, bate cabeça. Mas é depois que a galera esfria o corpo e descansando que você consegue pegar o feeling. Porquê nesse momento você vê a honestidade da pessoa falando mais alto. Desta forma você sabe quais faixas fazem mais sentido ter ao vivo, e quais não.

- Quem assinou a capa do CD? Qual a intenção dela e como ela se conecta com o título?

Ricky: Pra este álbum eu mesmo criei a capa. Estava um pouco cansado de tentar contato com artistas e não receber os retornos que eu esperava ou o combinado. Resolvi então dar uma chance para ferramentas de IA. Foi interessante, embora não acho que vá sempre usar, para este trabalho achei que resolveu bem a demanda.

- “Beast Mode” foi todo produzido por você, confere? Foi satisfatório seguir por este caminho?

Ricky: Eu gravei as guitarras e baixos. Enquanto isso a Giovana Teixeira gravou todas as baterias do álbum. Após isso deixei a cargo do meu amigo Giovanni Guazzelli a mix e master.

- Imagino que já esteja trabalhando em novas composições. Se sim, como está se dando o processo e como ele está soando?

Ricky: Sempre. Para o próximo álbum já temos 3 faixas bem encaminhadas. Elas irão contar com convidados como Edu Ardanuy, Roberto Barros, e Dallton Santos (sim, todos na mesma faixa). Já dá pra imaginar o que vêm por ai. Essa faixa em particular tem vocais também do meu amigo Adriano Cosmo, da banda Anderuvius. Ficou bem interessante, e chegamos a um resultado de 10 minutos com este prog metal.

- Novamente parabéns pelo trabalho e vida longa ao projeto solo de RICKY DE CAMARGO...

Ricky: Eu quem agradeço novamente e nos vemos em breve.