terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Cobertura de Show: Loserville Gringo Papi Tour – 20/12/2025 – Allianz Parque/SP

Loserville Gringo Papi Tour transforma o Allianz Parque em caos coletivo com Bullet For My Valentine e Limp Bizkit

A tão aguardada edição do “mini festival” Loserville Gringo Papi Tour desembarcou no Brasil no último sábado, 20/12, reunindo nomes como Slay Squad, Riff Raff, Ecca Vandal, Bullet for My Valentine, que entrou como substituição após o cancelamento do Yungblud e o aguardado headliner da noite, Limp Bizkit.

A equipe do Road To Metal esteve presente e relata abaixo como foi a experiência do que se consolidou como o último grande festival de metal a encerrar o ano de 2025, marcando o calendário com peso, nostalgia e muita energia.


Slay Quad

O grupo californiano Slay Squad, que mistura hip hop, death metal e elementos industriais, foi responsável por abrir as apresentações do dia, enfrentando um calor intenso e um público que ainda chegava timidamente ao local.

O show teve início por volta das 16h10 e contou com cerca de 30 minutos de duração, encerrando-se às 16h40.

Ainda pouco conhecida por parte do público brasileiro, a banda chamou atenção pelo estilo agressivo de se apresentar, sobretudo pela energia constante de seus integrantes, que não economizaram na interação: ao longo do set, foram arremessados diversos itens de merch para a plateia, camisetas, palhetas e até um tênis, lançado pelo vocalista Brahim Grousse.

Riff Raff

O rapper americano Riff Raff, nome artístico de Horst Christian Simco, subiu ao palco às 16h55 para uma apresentação solo, sem banda de apoio. Com um setlist curto, figurino extravagante e pouco carisma, o artista teve dificuldades em prender a atenção do público, que também pareceu não compreender totalmente sua proposta de estética caricata.

O mini show durou cerca de 15 minutos, encerrando-se por volta das 17h10, deixando uma impressão morna e sem grande impacto na plateia.

Ecca Vandal

Em sua estreia em solo brasileiro, a artista sul-africana Ecca Vandal levou ao público presente uma energia e carisma distintos. Vestindo uma camiseta do Sepultura, com letras rápidas, muita dança e um forte “gingado”, a cantora que mescla punk e hip hop, conseguiu elevar o clima do festival, recuperando a energia que havia sido deixada pela atração anterior.

Com um setlist ainda curto, consequência da quantidade de artistas escalados para a noite, a apresentação teve cerca de 30 minutos, tempo suficiente para deixar uma excelente impressão em todos os presentes e marcar positivamente sua primeira passagem pelo país.

311

A banda americana 311 foi a primeira atração do dia a contar com mais tempo de palco e um setlist completo. Conhecida por mesclar rock alternativo, hip hop e reggae, a sonoridade do grupo é bastante familiar aos fãs de Sublime, por exemplo.

Liderada pelo vocalista Nick Hexum, a banda entregou uma performance que equilibrou momentos de energia, como em “Down” e “Come Original”, e com passagens mais melancólicas, destacando “Love Song”, cover do The Cure.

A sinergia entre os vocais de Hexum e Doug "SA" Martinez (DJ e também vocalista) evidenciou o entrosamento da banda no palco. A apresentação contou com 10 músicas e teve duração aproximada de 1 hora, sendo um dos pontos altos da tarde.

Bullet For My Valentine

A Bullet for My Valentine foi a primeira grande banda a se apresentar no dia. A participação do grupo galês veio após o cancelamento, por problemas de saúde, do artista Yungblud. Muitos fãs e inclusive este que vos escreve, consideraram a troca melhor do que o line-up inicial, algo que o Bullet For My Valentine fez questão de provar logo na primeira música.

A banda havia prometido executar na íntegra seu álbum de estreia, The Poison, lançado em 2005. Bastaram os primeiros acordes para ficar claro o porquê de o Bullet ter sido a melhor escolha possível como banda de abertura para o Limp Bizkit.

Logo nos primeiros segundos, entregando todo seu scream rasgado, Matthew Tuck, mais conhecido como Matt, incendiou o público com “Her Voice Resides”. A sequência veio com “4 Words (To Choke Upon)”, e nada acompanhou melhor a banda do que moshpits intensos, que surgiam por todos os lados. O público estava tão eufórico que sinalizadores vermelhos tomaram conta do espaço.

Sem dar tempo para respirar, “Tears Don’t Fall” entrou como uma verdadeira pedrada: muitos cantavam, muitos se jogavam no mosh, e muitos faziam as duas coisas ao mesmo tempo. Vale destacar que, mesmo após 20 anos do lançamento do álbum, a voz de Matt soa praticamente idêntica à de estúdio, sem oscilações. Os backing vocals de Jamie Mathias acompanham o frontman de forma magistral.

A sequência seguiu com “Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)” e “Hit the Floor”. Para dar um breve respiro após tantos pulos e rodas, veio a já clássica “All These Things I Hate (Revolve Around Me)”. Mas a calmaria durou pouco: em “Hand of Blood”, qualquer pausa foi deixada de lado. Sendo uma das faixas perfeitas para rodas punk, o que se viu foi um verdadeiro redemoinho de moshpits, novamente tingidos de vermelho pelos sinalizadores, um espetáculo tanto da banda quanto dos fãs.

Já se encaminhando para o final, “Room 409” e a faixa-título “The Poison” mantiveram o público em êxtase. A todo momento, Matt agradecia o público brasileiro, e a banda parecia tão empolgada quanto os fãs, que não viam o grupo no país desde 2022, quando passaram pelo Rock in Rio e um apresentação solo na Audio.

“Cries in Vain” sinalizou que a apresentação se aproximava do fim. A dobradinha final com “The End” e “Waking the Demon” encerrou o set, mas não a energia. Os fãs abriram a maior roda punk da noite até então, aquecendo definitivamente os motores para o headliner que viria a seguir.

Após aproximadamente 1h10 de apresentação, o Bullet for My Valentine mostrou toda a sua força e deixou claro o porquê de ter sido a escolha perfeita para a noite, reunindo fãs, incendiando o público e criando a atmosfera ideal para a sequência do festival.

Limp Bizkit

Todo o aquecimento e a energia deixados pelo Bullet For My Valentine vieram à tona quando o Limp Bizkit finalmente subiu ao palco. Com o estádio lotado e o público em êxtase antes mesmo da aparição dos integrantes, rolou uma singela e respeitosa homenagem ao ex membro Sam Rivers, faleceu em 18 de Outubro aos 48 anos.

Aos poucos, os membros da banda começaram a dar as caras e, logo nos primeiros segundos de “Break Stuff”, o público simplesmente não se conteve. Toda a energia que havia sido economizada durante as apresentações anteriores foi liberada de uma vez só, já no início do show.

Moshs, pulos, gritos, coros e muitos, muitos mesmos - sinalizadores tomaram conta do espaço. Era visível que o público parecia estar se guardando justamente para aquele momento e, como a própria música traduz, todos pareciam prontos para “quebrar alguma coisa”.

“Ladies and gentlemen, introducing the chocolate starfish and the hot dog flavored water”. A introdução marcante de “Hot Dog” trouxe ainda mais ritmo e energia ao palco, elevando o nível do show e mantendo o público em constante explosão.

Em “Show Me What You Got”, ficou evidente tudo aquilo que popularizou o Limp Bizkit: riffs marcantes, as rimas e o rap característicos de Fred Durst, além de DJ Lethal em plena ação, reforçando a identidade sonora de Nu metal, que consagrou a banda.

A sequência veio sem fôlego, com “My Generation” e “Livin’ It Up”, duas faixas que incendiaram ainda mais o público e transformaram o estádio em um verdadeiro caos controlado, com rodas, pulos e coros ecoando por todos os lados.

Para melhorar o que já estava bom, vieram “My Way” e, na sequência, “Rollin (Air Raid Vehicle)”, a faixa perfeita para quem quer cantar, dançar ou simplesmente se jogar no meio da galera enquanto se diverte sem pensar no amanhã.

“Re-Arranged” e “Behind Blue Eyes” vieram para acalmar os ânimos e dar tempo para todos respirarem, e incluo nisso tanto o público quanto a própria banda. Em seguida, com o estádio inteiro iluminado pelos flashes dos celulares, o clima se transformou em um verdadeiro momento de celebração coletiva durante “Behind Blue Eyes”.

Arrisco dizer que a canção ganha outra atmosfera na interpretação do Limp Bizkit, encaixando-se perfeitamente à proposta do grupo e, para muitos, inclusive este que escreve, tornando-se ainda mais impactante do que a versão original do The Who.

Após esse breve momento de celebração coletiva, a banda voltou a todo vapor com “Eat You Alive” e “Nookie”, recolocando o público em estado de caos e retomando a intensidade do show.

Em “Full Nelson”, tivemos uma das grandes surpresas da noite: uma fã, Bia Marcato, foi convidada a subir ao palco para cantar ao lado de Fred Durst. O momento chamou ainda mais atenção pelo talento e desenvoltura da fã, que mostrou muita atitude e conseguiu elevar ainda mais a energia da música, arrancando uma reação imediata do público.

Mantendo o nível e o ritmo da apresentação, veio “Boiler”. Na sequência, a banda surpreendeu com um pequeno trecho de “Careless Whisper”, de George Michael, cantado em coro por todo o estádio, enquanto alguns casais aproveitavam o momento para dançar e se divertir.

Acho curioso e até engraçado, como cada vez mais bandas e artistas do Metal, vêm utilizando esse clássico em suas apresentações. Esse tipo de pausa deixa o clima do show mais leve e descontraído e passa aquele recado implícito que todo mundo entende: metal não é só porradaria, também é amor e diversão.

“Faith” trouxe aquela vibe descontraída que o Limp Bizkit executa com maestria. Em seguida, veio um dos pontos mais altos da noite com “Take a Look Around”. Como o próprio Fred Durst brincou, era hora de “incorporar” Tom Cruise em Missão: Impossível.

A segunda metade da música reuniu tudo o que havia sido visto ao longo da apresentação: moshpits intensos, sinalizadores por todos os lados e o público completamente entregue. Em um momento tão inesperado quanto insano, um fã, quase em sincronia perfeita com o refrão, acendeu um rojão, que explodiu exatamente junto ao ápice da música.

Esse momento, aumentou ainda mais a sensação de loucura coletiva, elevando o clima do show, que já se encaminhava para sua última música.

Em “Break Stuff (Part 2)”, tivemos tudo o que já havia acontecido na abertura do show, porém em uma escala ainda maior e mais coletiva. O Limp Bizkit trouxe todos os artistas que haviam se apresentado anteriormente ao palco para acompanhar a execução da música, instaurando um caos absoluto e compartilhado, perfeito para encerrar a noite em altíssimo nível, após 1h40 de show.

O Loserville Tour Brasil cumpriu o que prometeu, entregando uma noite intensa, diversa e marcada por muita energia do início ao fim. Com apresentações que cresceram ao longo do dia e um encerramento caótico e memorável do Limp Bizkit, o mini festival fechou o ano em alto nível, deixando a sensação de missão cumprida para bandas e público.




Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: 30e


Limp Bizkit – setlist:

Break Stuff

Hot Dog

Show Me What You Got

My Generation

Livin’ It Up

My Way

Rollin’ (Air Raid Vehicle)

Re-Arranged

Behind Blue Eyes (The Who) — cover

Eat You Alive

Nookie

Full Nelson (participação da fã Bia no palco)

Boiler (com apresentação da banda)

Faith

Take a Look Around

Break Stuff (encerramento, com Slay Squad, RiFF RAFF, Ecca Vandal, 311 e Bullet For My Valentine no palco)

Cobertura de Show: P.O.D. – 13/12/2025 – Carioca Club/SP

Assim que foi anunciada a turnê do P.O.D. em conjunto com o Demon Hunter pelo Brasil, os fãs reagiram de forma intensa, especialmente os de São Paulo, onde, em poucos dias, os ingressos quase se esgotaram, o que possibilitou a inclusão de uma data extra para atender à grande demanda. O Carioca Club ficou abarrotado para a data original, realizada no dia 13, a qual encerrou com chave de ouro a turnê pelo país.

A responsabilidade de aquecer o público para uma noite tão aguardada coube ao Demon Hunter, banda norte-americana conhecida por seu metalcore cristão, que mescla com maestria a agressividade do metal com passagens melódicas e letras introspectivas. Logo na abertura, com “Sorrow Light the Way”, a banda demonstrou sua voracidade, com o vocalista Ryan Clark destacando-se como o coração e a voz do grupo. Sua habilidade de transitar entre vocais guturais potentes e um canto limpo e emotivo constitui a espinha dorsal do som da banda, apresentada com precisão ao longo da performance. Músicas como “Collapsing” e “Not Ready to Die” foram executadas com intensidade, fazendo o chão do Carioca Club tremer e preparando o público para o que viria a seguir.

O setlist do Demon Hunter foi uma viagem intensa, equilibrando faixas mais pesadas com momentos de maior profundidade emocional. A banda apresentou uma sequência de faixas marcantes, incluindo a sombria “The Heart of a Graveyard”, a visceral “Infected” e a cativante “Cold Winter Sun”, todas acompanhadas em coro pelo público. A performance coesa da banda, aliada à presença de palco carismática de Ryan Clark, garantiu o total envolvimento dos fãs. O encerramento com a poderosa “Storm the Gates of Hell” contou com o vocalista cantando no pit, próximo ao público, celebrando um verdadeiro hino e elevando a energia ao máximo, além de aumentar a expectativa para a atração principal da noite.

Quando o P.O.D. subiu ao palco, a atmosfera no Carioca Club atingiu um novo patamar de histeria. A banda, pioneira do nu metal e fortemente influenciada por elementos de hip-hop e hardcore, é reconhecida por suas mensagens positivas e pela intensa energia em apresentações ao vivo. O vocalista Sonny Sandoval, figura central e carismática do grupo, mostrou-se o principal motor da banda, com sua voz inconfundível e sua capacidade de estabelecer conexão direta com o público. O show teve início com “Southtown”, seguida por “Rock the Party (Off the Hook)” e “Boom”, sequência que rapidamente formou uma roda na pista comum, evidenciando que a banda mantém sua força e relevância. Durante a apresentação, Sonny exibiu a bandeira do Brasil com o nome P.O.D. ao centro, presente de um fã, gesto que reforçou a recepção calorosa do público brasileiro.


A noite foi marcada por momentos memoráveis e surpresas. Um dos pontos altos foi a execução de “Drop”, que contou com a participação especial de Ryan Clark, do Demon Hunter, promovendo a união das duas bandas em uma performance eletrizante. Sonny destacou que “tudo tem sua primeira vez” e ressaltou a importância de esse momento ter ocorrido em São Paulo. O P.O.D. também presenteou os fãs com a estreia ao vivo de “Lay Me Down (Roo’s Song)”, faixa do recém-lançado álbum Veritas, demonstrando que ainda há muito a ser explorado em sua discografia. Além de seu próprio repertório, a banda apresentou uma versão marcante de “Don’t Let Me Down”, clássico dos Beatles, e convidou fãs para cantar no palco durante “Murdered Love”, reforçando que não existe barreira e que todos fazem parte de uma família.

A reta final do show foi um verdadeiro espetáculo de nostalgia e celebração. Após a apresentação dos integrantes antes de “Afraid to Die” e um falso começo em “Sleeping Awake”, o P.O.D. engatou uma sequência de clássicos que incendiou o público. “Youth of the Nation” destacou-se como um momento especialmente emocionante, com jovens fãs convidados ao palco para cantar junto, simbolizando que eles são o futuro. Com a energia elevada, o grupo encerrou a noite com “Satellite”, faixa que não havia sido executada na data extra, e com a emblemática “Alive”, deixando a sensação de dever cumprido e a certeza de que, mesmo após décadas de carreira, o P.O.D. permanece como uma força vital e inspiradora na música. 

Ao final da noite, ficou evidente que a passagem do P.O.D. e do Demon Hunter pelo Carioca Club representou um marco para os fãs brasileiros. A combinação de casa cheia, performances intensas e uma conexão genuína entre bandas e público transformou a data original do dia 13 em um encerramento à altura de toda a turnê pelo Brasil. O Demon Hunter destacou-se não apenas como banda de abertura, mas como uma atração imponente, enquanto o P.O.D. entregou um espetáculo longo, consistente e significativo, reforçando sua relevância e sua mensagem positiva. Foi uma noite que justificou o sold out, o anúncio da data extra e deixou a sensação de ter participado de um momento especial, capaz de permanecer vivo na memória muito além do último acorde. 

Texto: Marcelo Gomes 

Fotos: Gabriel Eustáquio (P.O.D., para o Rock Brazil) / Gustavo Diakov (Demon Hunter, para o Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Estética Torta 

Press: Acesso Music 


Demon Hunter – setlist:

Sorrow Light the Way

Heaven Don't Cry

Collapsing

The Heart of a Graveyard

Infected

Not Ready to Die

Cut to Fit

Undying

Dead Flowers

Cold Winter Sun

My Heartstrings Come Undone

The Last One Alive

Storm the Gates of Hell 


P.O.D. – setlist:

Southtown

Rock the Party (Off the Hook)

Boom

Set It Off

Drop (com Ryan Clark do Demon Hunter)

I Got That

Lay Me Down (Roo’s Song) 

Soundboy Killa

Don't Let Me Down (The Beatles cover)

Murdered Love

Lost in Forever

I Won't Bow Down

Sleeping Awake 

Youth of the Nation 

Will You

Afraid to Die 

Satellite

Alive

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Cobertura de Show: T.S.O.L. & Adolescents – 29/11/2025 – Cine Joia/SP

T.S.O.L. e Adolescents fazem “noite californiana” com shows explosivos em São Paulo

Evento, que se tornou um show único por conta dos cancelamentos em outras cidades brasileiras, contou com público incansável nos bate cabeças e fileiras de clássicos das bandas estadunidenses

O dia 29 de novembro de 2025 não foi somente memorável para os flamenguistas, que se sagraram tetracampeões da Copa Libertadores da América com uma vitória em cima do Palmeiras. Em São Paulo, no Cine Jóia, localizado no Centro de São Paulo, fãs de Punk Rock presenciaram e fizeram parte, na mesma faixa de horário do jogo e pós-jogo, de uma “noite verdadeiramente californiana” com os shows das pioneiras bandas T.S.O.L. e Adolescents, no que se tornou um show único das bandas nesta passagem em solo brasileiro, contando também com a abertura dos brasileiros do Treva.

O evento, promovido pela New Direction Productions (NDP), ocorreu justamente no ano em que os álbuns de estreia das duas bandas, “Adolescents” e “Dance With Me”, lançados em 1981, completam 44 anos. E todo esse tempo de carreira foi amplamente celebrado com setlists de mais de 20 faixas, com boa parte delas focando nos álbuns de estreia e, ainda assim, sem deixar de passar por clássicos e outras músicas importantes de todas as fases e décadas das bandas.

O Cine Joia teve casa cheia a partir do segundo show e o público tornou o local um pedacinho da Califórnia por algumas horas. Se no show do T.S.O.L. os ânimos já foram altos na pista, com moshes, pogo e bate cabeças intensos, a situação se tornou ainda mais caótica (positivamente, claro) no show do Adolescents, com as mesmas características ampliadas e com o incremento de stage dives com participação feminina e até mesmo de um garoto que se tornou destaque tanto pelos pulos seguidos e seguros, quanto a de sua presença no degrau mais baixo do palco do meio para o fim do show, observando e sendo notado pelos membros da banda, no que pareceu uma verdadeira introdução ao Punk Rock

O clima amplamente animado foi suficiente para fazer com que Jack Grisham, vocalista do T.S.O.L., e Tony Reflex, do Adolescents, expressassem sua impressão positiva com o público através dos gestos no palco, parados ou não, e pela faceta impressionada do início ao fim, encarando o mar de fãs em um Cine Joia lotado

Confira mais detalhes dos shows abaixo:


Treva

A banda paulistana Treva teve a responsabilidade de abrir o evento, que começou às 18h45 com as entradas de Felipe Ribeiro (guitarra e vocal), Gian Coppola (bateria), Felipe Skid (guitarra) e Eduardo Moratori (baixo). Eles iniciaram o show em meio a uma introdução, com punhos para o alto e os instrumentistas de frente de costas para o público, virando rapidamente para a galera na primeira faixa.

Havia quantidade pequena de fãs no Cine Joia, que chegavam aos poucos ou chegaram mais cedo para ver tudo, o que não foi empecilho para que, nas sete faixas tocadas, os membros do Treva entregassem tudo de si em uma sonoridade e repertório que incrementaram elementos do Rock, do Punk Rock e do Blues Rock.

A banda trouxe músicas como “Novo Amanhã”, “Meu Sofrer”, “O Passado que Se Tem” e “Onde Morre o Sol”, em performances enérgicas ao longo do show. Um dos grandes destaques ocorreu já na reta final, com “Renasce em Dor”, com boa cadência e letra pautada em superação, além de uma pausa no meio da faixa para que levantassem os punhos para o alto por segundos. 

Junto a isso, discursos de grande impacto vieram em doses, com destaque para as falas de Felipe antes da última música, indicando que “Onde o Treva estiver, sempre haverá um acolhimento para todos”, agradecendo os funcionários e produtores do local e evento e terminando com uma reflexão positiva e motivacional em contexto político-social: “(...) As coisas mudam. As coisas mudaram pra pior em 2013, pioraram muito em 2018 e começaram a melhorar a partir de 2022 (...)”. 

Por um todo, o Treva fez uma abertura impactante, que agradou os que vieram mais cedo e que bota a banda com um grande potencial para a cena nacional dos próximos anos.

T.S.O.L.

O tempo entre a preparação do palco e teste dos instrumentos do T.S.O.L. e o início de seu show foi o suficiente para que o Cine Joia ficasse muito bem ocupado por fãs, principalmente próximos ao palco. Foi o suficiente para criar, de uma vez, o clima californiano de um sábado à noite.

A situação ficou mais evidente com a subida dos membros da banda de Long Beach, Califórnia, cinco minutos mais cedo que o previsto. Mike Roche (baixo), Ron Emory (guitarra, vocal) e Antonio Val Hernandez (bateria) entraram primeiro, muito ovacionados. Porém, nada como na subida do icônico Jack Grisham (vocal) que, de smoking e calça social, desde o primeiro passo já no palco, se mostrou imponente com seu olhar fixo ao público e, principalmente, pelo caminhar de um lado para o outro na área central, à espera de soltar as mensagens mais diretas e poderosas das letras da banda.

“Sounds of Laughter” foi a primeira música das 21 selecionadas para aquela noite - sete delas, incluindo esta, sendo do clássico álbum de estreia “Dance With Me” (1981) -. Foi um aquecimento perfeito para a banda e para o público, que logo acendeu a chama do bate cabeça com uma roda ainda tímida, mas que cresceria (e muito) ao longo da noite.

A progressão dos ânimos veio com músicas como as bem cadenciadas “Give Me More”, do álbum “The Trigger Complex” (2017) e, sem pausas, “Terrible People”, do álbum “Disappear” (2001). O microfone de Jack Grisham chegou a falhar mais a partir da segunda faixa citada, porém foi rapidamente substituído por um roadie ainda no meio da faixa, o que alegrou ainda mais os fãs presentes.

Público e banda intensificaram as energias com o primeiro clássico do EP “T.S.O.L” (1981), a rápida e potente “Superficial Love”, que fez a parte frontal da pista “explodir” com um mosh mais intenso, em meio a uma letra altamente irônica e com críticas ao militarismo e às altas cúpulas militares dos EUA e seus privilégios. O clima ficou um pouco mais calmo com o Punk Rock mais leve de “Satellites”, que incluiu um bom solo de guitarra de Ron Emory.

O descanso rítmico foi necessário, uma vez que a chegada de “In My Head” e seu Hardcore Punk potente intensificaram a roda principal com direito a circle pit seguido de bate cabeça e um refrão amplamente cantado. “I’m Tired” veio com Ron Emory cantando trechos alternados com Jack, o que melhorou a dinâmica no palco e preparou o retorno de um público animado para “Love Story”, com uma linha forte de baixo, letra direta e poderosa e até mesmo outro pequeno solo de guitarra acompanhados do coro do público.

“Die For Me” deu sequência à onda de clássicos do T.S.O.L., desta vez encabeçada totalmente por Ron, que toca guitarra e canta enquanto Jack dá uma pausa no canto do palco, observando banda e público de forma altamente positiva. O guitarrista também cantou “80 Times” e inflamou a roda punk da frente da pista, que cresceu com a entrada de mais fãs a todo momento. O resultado foi a conversão completa do Cine Joia para uma casa de shows californiana, com direito a aclamações da galera ao final da faixa.

O auge total do show veio quando Jack Grisham voltou ao posto de vocalista, com os movimentos de um lado para outro, acompanhado das palhetadas iniciais de Mike Roche para “World War III”, que inflamaram ainda mais os adeptos ao bate cabeça do local e gerando um clima absurdo para a noite. A situação se manteve com “Abolish Government / Silent Majority”, medley que tanto fez Grisham cantar com mais intensidade, quanto fez o público cantar, a plenos pulmões, os versos imperativos da faixa.

“Property Is Theft” e “The Triangle” foram tocadas e mantiveram o poderio do Punk Rock do T.S.O.L. e deram mais destaque para as linhas de baixo de Mike, que também brilhou no início da poderosa “Fuck You Tough Guy”, a ponto de ser alvo dos pedidos de agradecimento e aplausos poderosos por parte do frontman da banda, amplamente respondidos pelo público. Ainda houve tempo para o show retomar com “Wash Away”.

Outro grande ponto do show veio na clássica “Dance With Me”, música que praticamente marcou a adesão do pogo na roda de bate cabeça, quando a faixa caiu para um ritmo um pouco mais lento. Tudo isso em meio a uma letra amplamente melancólica.

“Low Low Low”, apesar de ser uma faixa do recente álbum “A-Side Grafitti” (2024), foi bem recebida e cantada pelo público, dentro do ritmo e sonoridade mais “alegres”. Em seguida, veio “I Wanted to See You”, com acordes lentos, porém impactantes.

Jack Grisham fez questão de discursar e agradecer pelos 36 anos de banda e pelo acompanhamento dos fãs nessa caminhada. Um setlist foi entregue para um fã da frente antes de o clima, por uma última vez no show do T.S.O.L., elevar ao máximo com a chegada de “Code Blue”, com mosh poderoso, stage dives pela primeira vez na noite e coros dos que não estavam na parte caótica da pista. “Red Shadows” encerrou a noite, consolidando um clima alegre e poderoso que ainda teria uma continuidade mais absurda, mas que deu ao T.S.O.L. a garantia de que o público brasileiro ama a banda e valoriza o pioneirismo deles na cena californiana.

Adolescents

Um ponto interessante da pausa antes do show final da noite foi o “esvaziamento repentino” da pista, com grande parte das pessoas ou indo aos banheiros, ou para os bares do local. Isso deixou a parte baixa fácil para chegar mais próximo do palco. A situação durou alguns minutos e, aos poucos, o ambiente voltou a ficar cheio, assim como o restante da pista do Cine Joia. 

Certo foi que o tempo de descanso foi suficiente para um “caos organizado” ainda maior para encerrar o evento. E esse clima começou logo às 20h59, com o fim da playlist que foi reproduzida e a subida dos integrantes do Adolescents.

Mike Cambra (bateria), Brad Logan (baixo), Ian Taylor (guitarra rítmica), Dan Root (guitarra principal) e o lendário Tony Reflex (vocal) subiram pontualmente ao palco. E ficou a curiosidade: assim como Jack Grisham, Tony estava bem diferente do que anos atrás - no caso dele, muito magro -. Mas a aparência virou um detalhe ínfimo a partir do momento em que o show começou e ele, junto à banda, soltou 23 faixas poderosas - com direito a um medley 2 em 1 - para inflamar o público.

E assim como o T.S.O.L., os membros do Adolescents trouxeram muitas faixas do álbum de estreia que, no caso da banda de Fullerton, Califórnia, é o autointitulado de 1981. E “L.A. Girl” foi a grande abertura que, logo de cara, inflamou completamente a parte frontal da pista com um mosh imediato e até mesmo os primeiros stage dives na parte baixa do palco.

A impressão positiva de Tony Reflex veio na frase gritada ao final da primeira faixa: “São Paulo, What The F*ck???”. O público retribuiu a reação positiva com mais energia a partir de faixas como “Monolith at the Mountlake Terrace”, do álbum “La Vendetta…” (2014), e “Escape From Planet Fuck”, do disco “Manifest Density” (2016), que intensificaram ainda mais a roda e a expandiu da esquerda para a direita, na visão do público, na parte frontal.

O Medley “Who Is Who / Self Destruct” tornou o ambiente ainda mais caótico no Cine Joia, dobrando a quantidade de stage dives que levaram pessoas do palco até o fundo da pista, em certos momentos. A situação seguiu em “Brats in Battalions”, outro clássico da banda do segundo álbum, de mesmo nome, de 1987.

“Forever Summer” e “5150 or Fight” trouxeram um pouco do Hardcore Punk da banda com sonoridade moderna e rápida. Tudo o que o público ama para bater cabeça intensamente. Houve, ainda, uma volta ao repertório dos anos 2000 com “Lockdown America”.

O retorno do setlist aos clássicos veio com “Word Attack”, mantendo o clima intenso e agradável para os fãs presentes mesmo em uma velocidade maior no ritmo da faixa. Já em “Lockdown America”, até mesmo fãs mulheres arriscaram stage dives que, vendo do elevado da pista, foram totalmente respeitosos por parte de quem ajudou, tornando a situação ainda mais universal no show.

“Rip It Up” provou que a galera estava incansável na noite, assim como a banda, que seguia enérgica. No caso desta faixa, o baixista Brad Logan se destacou tanto pelo ritmo alto e potente de suas notas, quanto pela finalização por meio de tapas nas cordas. Em seguida, veio mais um clássico do primeiro álbum, “Things Start Moving”, que teve um começo escalado e que foi fator proveitoso para que a roda se abrisse e, quando a faixa chegasse ao ponto instrumental completo, todos pulassem como um verdadeiro tsunami de pessoas, convertendo a energia em outro mosh imparável na parte frontal da pista.

Mas apesar de todos os momentos caóticos citados, talvez nada tenha sido melhor do que na poderosa, aclamada e amplamente cantada “Amoeba”. Desde as primeiras notas, a pista do Cine Joia se tornou ainda mais um pandemônio com a expansão de seu tamanho e, principalmente, a presença de uma criança, que estava na área reservada, no stage dive, sendo carregada por várias vezes de forma respeitosa. Foi o ponto máximo da noite, ainda mais com a garantia de que o responsável (pai ou mãe) estava atento, pois ele rapidamente voltava para o ponto inicial e voltava a pular do palco, contando também com a segurança de quem o carregava. A faixa em si, claro, foi alegria pura e ainda contou com bom solo de guitarra na parte final.

Músicas também clássicas do Adolescents, como “OC Confidential”, “Losing Battle” e “Let It Go”, vieram para manter a energia da banda e do público no alto. Houve, também, a reprodução de “Class War”, cover do D.O.A., com riff poderoso e prova do conhecimento do público ao cantar a faixa. Tony ainda teve um momento para reforçar sua felicidade em se apresentar novamente em São Paulo.

Mais faixas dos anos 80 vieram para descansar um pouco a galera incansável da pista, como “No Way” e “Welcome to Reality”. Na segunda faixa citada, já era possível ver o garoto do stage dive sentado no degrau inferior do palco, quieto e prestando atenção na apresentação da banda, principalmente de Tony Reflex, que volta e meia fez questão de interagir com ele. 

“Just Because” trouxe os ânimos de volta, ainda mais pela dedicatória negativa da faixa, por Tony, para Donald Trump, o chamando de “Puto” em Espanhol - o álbum desta faixa, “Cropduster” (2018), tem muitas faixas e até a capa em críticas ao presidente dos EUA que, após perder o pleito de 2020, voltou a comandar o país a partir de 2024.

“Kids of the Black Hole”, “Cropduster”, “Wrecking Crew” vieram como pavimento para a reta final do show, mas sem deixar que a peteca do ânimo do público caísse, uma vez que a roda se manteve intensa. O gran finale veio com “Do the Eddie”, que virou praticamente um chamado para vários stage dives, incluindo um fã que subiu até o palco e arriscou pular dali (com sucesso). A loucura generalizada fez até mesmo com que alguns fãs tentassem interações e cantassem com Tony. Na parte baixa, o bate cabeça foi intenso pela última vez. Tudo isso com um frontman amplamente impressionado com o poderio brasileiro.

Todos os fãs que presenciaram dois dos panteões do Punk Rock californiano se lembrarão muitas vezes dessa noite. Mas ninguém lembrará mais que o garoto da frente do palco que, além de participar dos stage dives e waves de forma introdutória ao Punk e ao Rock em geral, ainda se lembrará dos presentes que recebeu dos fãs do Adolescents: baquetas, setlist, palheta e aplausos.

A noite memorável muito provavelmente faz com que o público espere por mais uma vinda de T.S.O.L. e Adolescents, juntos ou não, para o Brasil, torcendo para que a noite em questão não tenha sido a última de um deles no nosso país. De todo modo, será memorável para as bandas que, mesmo com os cancelamentos em outras cidades antes da turnê, têm a segurança de que São Paulo é uma cidade perfeita para mais noites californianas como essa.

Texto: Tiago Pereira 

Fotos: Raíssa Correa para o RaroZine 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: NDP Live

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


T.S.O.L. – setlist:

Sounds of Laughter

Give Me More

Terrible People

Superficial Love

Satellites

In My Head

I’m Tired

Love Story

Die For Me

80 Times

World War III

Abolish Government / Silent Majority

Property Is Theft

The Triangle

Fuck You Tough Guy

Wash Away

Dance With Me

Low Low Low

I Wanted to See You

Code Blue

Red Shadows


Adolescents – setlist:

L.A. Girl

Monolith at the Mountlake Terrace

Escape From Planet Fuck

Who Is Who / Self Destruct

Brats in Battalions

Forever Summer

Word Attack

Lockdown America

Rip It Up

Things Start Moving

Amoeba

OC Confidential

Losing Battle

Let It Go

Class War (cover de D.O.A.)

No Way

Welcome to Reality

Just Because

Kids of the Black Hole

Cropduster

Wrecking Crew

Do the Eddie