sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Stoned Jesus – 25/10/2025 – Jai Club/SP

Stoned Jesus celebra 15 anos de banda com show impecável em São Paulo

Evento, que contou com abertura dos brasileiros do Pesta, fez parte da turnê latino-americana e marcou o retorno da banda ucraniana à capital paulista após oito anos

Oito anos se passaram desde a última vinda do Stoned Jesus, banda ucraniana de Stoner Metal e Doom Metal, ao Brasil. Desta vez, a apresentação em São Paulo, realizada no último dia 25 de outubro na Jai Club, localizada na Zona Sul, fez parte da “Latin American Tour 2025”, turnê que celebra os 15 anos de banda e, ao mesmo tempo, divulga o mais recente álbum do trio, “Songs to Sun”, lançado em 19 de setembro deste ano. A apresentação contou com a abertura da banda belo-horizontina Pesta e foi produzida pela Solid Music Entertainment e a Caveira Velha Produções.

A turnê em questão abrangeu, além de São Paulo, outras cinco cidades brasileiras: Rio de Janeiro (21), Porto Alegre (22), Florianópolis (23), Curitiba (24) e Belo Horizonte (26). A extensão se deu com Buenos Aires, na Argentina (28), Santiago, no Chile (29), e Cidade do México, no México (31). São Paulo, que foi a quinta da turnê, contou com uma Jai Club cheia desde a banda de abertura e que, no show principal, lotou a pista praticamente por um todo, deixando pouquíssimos espaços de circulação.

O Pesta, também em ritmo de divulgação de lançamento recente, o álbum “The Craft of Pain” (outubro de 2025), fez uma apresentação impactante, com quatro faixas consolidadas de seu repertório geral e duas do disco novo, sendo uma delas a estreante ao vivo. O quarteto foi amplamente elogiado pelo público, que viu um show impactante e muito bem executado pelos músicos por um todo.

Já o Stoned Jesus, que desta vez veio como atração principal, fez uma terceira passagem pela capital paulista digna de headliner, com um repertório de 11 músicas com todas as fases dos 15 anos de carreira da banda. Yurii Kononov, baterista que entrou no lugar de Dmitry Zinchenko em 2024, foi a novidade e teve impacto positivo ao vivo, dominando as faixas tanto nos ritmos mais lentos quanto nos mais intensos, parecendo um baterista de Heavy Metal e de Jazz ao mesmo tempo e em momentos distintos por conta da forma que toca no palco. Da mesma forma, o peso do baixo de Andrew, que também entrou para o Stoned Jesus em 2024, no lugar de Sid, foi notável em diversas faixas e ambientações 

Por último e não menos importante, o frontman Igor Sidorenko foi impecável em todos os momentos e funções possíveis: do vocal aos riffs e solos de guitarra, dos alertas engraçados para ajustes instrumentais às interações com os fãs na pista. Foi por conta dele que a galera ecoou coros líricos e das letras das músicas e, no melhor dos momentos, gerou um mosh pit no meio de uma Jai Club lotada, garantindo a diversão ainda maior de boa parte dos que participaram da roda. O susto que tomou na última música, “Electric Mistress”, ou certas exigências de som, iluminação e do pedido contra fumaças em geral, de nada mudou seu comportamento no palco, que garantiu, junto com os demais, uma noite memorável na capital paulista.


Pesta

A banda mineira de Stoner Metal e Doom Metal Pesta fez seu retorno a São Paulo após sete meses, quando abriram para o Pentagram junto com o Weedevil. O grupo, que se apresentou em quarteto, teve como fator novo o lançamento do terceiro álbum de estúdio, “The Craft of Pain” (2025), contando com duas das faixas - uma delas tocada ao vivo pela primeira vez - entre as seis tocadas na noite. 

Thiago Cruz (vocal), Marcos Resende (guitarra), Anderson Vaca (baixo) e Flávio Freitas (bateria) começaram pontualmente e, com uma Jai bem ocupada, começaram o show com “Moloch’s Children”, do álbum “Faith Bathed in Blood” (2019), e a estreia de “Mirror Maze”, do novo álbum - e que conta com participação do guitarrista Scott "Wino" Weinrich na versão de estúdio -, ao vivo. Enquanto a primeira teve um ritmo mais lento e sombrio, a segunda puxou um Stoned Metal mais agitado.

“Black Death”, do disco de estreia “Bring Out Your Dead” (2016), veio na sequência e agitou o público, seja pelo início marcado pela sequência de repetições do riff com três fortes batidas da bateria (que aumentaram na terceira vez), seja pelo ritmo envolvente no restante da faixa, com Thiago Cruz focando em um bom vocal lírico ao longo da faixa. A dobradinha do primeiro álbum se formou com “Words of a madman”, marcado por um bom refrão e a cadência suave e impactante dos músicos que foi o suficiente para puxar não só a atenção do público, como os primeiros balanços de cabeça da noite. 

O show prosseguiu após um pequeno discurso de agradecimento de Thiago, que reforçou o prazer que ele e a banda têm ao tocar em São Paulo. “Shadows of a Desire”, single do álbum mais recente do Pesta, veio com a mesma pegada sombria da sonoridade, com ritmo calmo ao longo da faixa e com uma aceleração de ritmo nos minutos finais, contando com bom solo de Marcos Resende. 

O guitarrista do Pesta também trouxe ótimas distorções da guitarra após o riff da última faixa da noite, “Witches’ Sabbath”, assim como outro bom solo dentro da faixa que apresentou um exemplo primordial da inspiração vocal e sonora em bandas de Doom Metal dos anos 1970 e 80. Foi com o poderio desta música, na reta final, que uma espécie de Jam aconteceu para finalizar o show e sacramentar uma abertura que trouxe os sinceros aplausos de um público que, seja pela primeira vez ou além da segunda, apreciou e se impactou positivamente com um grande nome do Doom  e do Stoner Metal nacional atual.

Stoned Jesus

A rápida configuração dos instrumentos do trio ucraniano deu a eles um tempo maior para a passagem de som no palco. Isso se deu principalmente pela adaptação que, aparentemente, foi feita no kit de bateria de Flávio Freitas, trazendo algumas adições de pratos que se adaptassem à sonoridade do Stoned Jesus.

Cada acorde testado era comemorado por um fã diferente na pista da Jai Club que, cada vez mais cheia, tinha poucos espaços de circulação que não fossem no corredor que direcionava aos banheiros. Fãs arriscaram alguma interação com a banda, com gritos esporádicos de “Jesus Chapado” ou elogios com palavrões (“f*da pra c*ralho!”, “Do c*ralho” e afins) aos testes da banda. A situação resultou em uma resposta mais que engraçada do vocalista Igor Sidorenko, que respondeu um deles: “Don't use that kind of language, or i’m gona ‘kick your c*zinho’” - “Não use esse tipo de linguagem, ou eu vou chutar o seu c*zinho”, em tradução livre.

Os testes seguiram até 20h30, contando até mesmo com trechos de músicas da banda mais extensos. Às 20h32, o show começou de fato, com os acordes calmos e simples de “Bright Like the Morning”, faixa do disco “Seven Thunders Roar”, que abriu o setlist de 11 faixas da turnê. Junto a Igor Sidorenko (vocal, guitarra), também estavam Andrew Rodin (vocal, baixo) e Yurii Kononov (bateria), que começaram a tocar aos poucos dentro da faixa e, numa questão de 2 minutos, entrelaçaram com o vocalista e guitarrista o ritmo introdutório da faixa, após pedidos de aumento do volume do microfone. E quando a música em questão foi para seu ritmo mais intenso, o público acompanhou fortemente com coros que ecoaram principalmente nos refrões da faixa.

O tom brincalhão de Igor reapareceu na música seguinte, "Porcelain”, que começou sob linhas de baixo de Andrew. No caso, um fã mais exaltado da parte da frente comemorou por mais tempo que os demais e o frontman do Stoned Jesus fingiu uma irritação e gesticulou tanto para que ele ficasse quieto, quanto apontando para o companheiro de banda para que o fã escutasse os acordes que ecoaram a Jai Club. A graça, claro, se converteu em risos rápidos das pessoas na pista, que francamente admiraram a progressão instrumental do trio. Yurii Kononov, como em diversos outros momentos do show, mostrou calma e precisão em suas linhas, principalmente com os pratos, o que ajudava no ambiente misterioso da primeira parte da música. Da mesma forma, nos momentos mais intensos, soube dosar pratos e caixas de forma primorosa.

“Shadowland” foi a primeira das duas faixas do mais recente álbum do Stoned Jesus, “Songs to Sun”, a tocar no setlist. Parte dos presentes na Jai Club começaram a balançar as cabeças desde o início da faixa e se envolveram no misto envolvente entre os riffs de Igor e o ritmo de Yurii, ora acompanhando a guitarra, ora com viradas poderosas e porradas nos pratos para a faixa. 

Em seguida, “Thessalia”, única faixa do álbum “Pilgrims” (2018), veio em seguida com uma proposta semelhante de início calmo, baseado na condução de Yurii e Andrew, porém rapidamente transitado para um ritmo mais agitado após o grito de “São Paulo, are You ready?”, ao estilo Korn, puxado por Igor e incrementado com a guitarra potente. Foi o suficiente para tirar alguns fãs do chão, que arriscaram pulos no mínimo espaço que tinham, assim como fez com que outros voltassem a balançar a cabeça com intensidade ao longo da faixa. Já “Thoughts and Prayers” veio na sequência, antecedida de um discurso de Igor em relação à guerra entre a Ucrânia, país de origem do trio, e a Rússia, e sobre como buscam arrecadações para os afetados no país do Leste Europeu. A faixa, referente ao álbum de 2023 “Father Light”, é justamente um clamor por esperança e resolução, ao mesmo tempo que uma crítica ao contexto de guerra, com ritmo que tem uma pequena pegada Blues Rock sem comprometer com a base Stoner e Doom da banda e que, na Jai Club, contou com coros líricos do público em determinados momentos e um ótimo solo por parte do guitarrista e vocalista do Stoned Jesus.

Igor também fez alguns alertas sobre a fumaça na Jai, por conta de possíveis pessoas que estavam fumando no local e quanto a como aquilo poderia prejudicá-lo. O pedido foi atendido e, aparentemente, foi um ponto que ajudou o vocalista e guitarrista a ficar mais à vontade durante o restante da apresentação, que prosseguiu com “Silkworm Confessions”, do álbum “The Harvest” (2015), numa das performances mais enérgicas da noite, encabeçada por um riff e ritmos potentes ao longo da faixa, mudanças de ritmo periódicas e uma tonalidade vocal “à la Ozzy” de Igor, que também colocou um chapéu de um fã pela primeira vez na noite. Ele também protagonizou uma regência lírica com as vozes do público, assim como teve, perto da reta final da música, um solo rápido e bem “palhetado” durante sua execução.

“Black Woods” foi amplamente comemorada após as primeiras notas tocadas por Igor Sidorenko. O músico chegou a tirar seus óculos - e não os colocou mais - para a faixa em questão. Quando o instrumental completo veio, múltiplas cabeças balançaram por toda a pista da Jai Club por todos os minutos do riff inicial e além dele. O líder do Stoned Jesus fez um solo poderoso no meio da faixa e conduziu muito bem a faixa, que só mudou de ambientação e ritmo nos três minutos finais, contando com os gritos de hey do público a pedido de Igor e, no final, com o poderio do pedal duplo e dos pratos de Yurii para um encerramento apoteótico. Ou o início do caos na Jai Club.

E este caos se deu justamente porque a faixa seguinte foi “Here Come the Robots”, outra do disco “The Harvest”, com ritmo agitado e contagiante o suficiente para diversas camadas de agitação da banda e do público presente no show: a comemoração generalizada a partir do riff, os pulos na sequência, o coro que ocorreu durante toda a letra e, principalmente, o mosh pit pedido por Sidorenko no meio para o final da faixa, executado por boa parte do público que estava entre a frente e o meio, além dos que também se deslocaram do fundo para o bate-cabeça. Teve espaço para isso? Teve, porém, comprometendo o corredor do canto da pista e, talvez, as leis da impenetrabilidade. De todo modo, o momento foi único e marcou o grande ápice da noite.

Os ânimos do público e da banda logo deram espaço para o silêncio pedido pelo frontman do Stoned Jesus e a calmaria dos acordes iniciais da também comemorada “I’m the Mountain”. Além destas linhas e do instrumental pesado ao longo da parte inicial, houve outro coro do público em cima da letra da música, com os primeiros versos ecoados sem o suporte do vocalista e com a ênfase nos versos que tinham o nome da música em destaque. Junto a isso, as variações de ritmo ao longo dos pouco mais de 13 minutos de música, contaram muito com a condução de Yurii Kononov e Andrew que, seja nos momentos mais calmos, seja nos mais intensos, foram grandes destaques junto aos solos e acordes gerais de Igor, de modo que a banda foi amplamente ovacionada ao final.

A pequena pausa que a banda deu, em direção ao camarim, foi rápida a ponto de os três integrantes voltarem após dois minutos, rumo ao bis. Os gritos do público ecoavam na Jai Club, com tentativas de puxar um coro em nome da banda e outros elogios. De todo modo, Igor, Yurii e Andrew logo iniciaram “Low” que, apesar de ter uma temática sensível e melancólica na letra, trouxe um ritmo de Stoner Metal poderoso e conciso o suficiente para levantar o público novamente. A faixa também teve um “momento Black Metal”, onde toda a sonoridade do trecho lembrava músicas do subgênero do Heavy Metal, com blast beats, e palhetadas rápidas, somadas a um grito estridente de Igor. O retorno para o ritmo Stoner se deu com uma boa condução de pedais de Yurii, nem muito rápidos, nem muito lentos, até os momentos finais da faixa.

“Electric Mistress” fechou a noite com mais um riff impactante, somado com um último “Are You ready?” conjunto de Igor e Andrew, desaguando em uma sonoridade contagiante da banda. Os versos do refrão, todos iniciados com o nome da faixa em questão, foram gritados pelo público. E essa dinâmica foi ainda mais explorada por Igor Sidorenko em dois momentos distintos da faixa, mais “parados”, em que ele contou até cinco antes de o público, em coro conjunto e intenso, gritar “Electric Mistress” e ele complementar com o restante dos versos. Tudo foi muito bem dinamizado e, quando voltou para o instrumental geral da banda na segunda vez, Sudorenko ainda tomou um susto por algo que aconteceu na parte da frente do palco - e que não deu para ver, precisamente, se envolveu apenas o equipamento e os pedais, ou se pode ter sido algo em relação a um fã das primeiras fileiras -, todavia se recompôs para um final com sonoridade explosiva e digna de um encerramento apoteótico.

As quase uma hora e 20 minutos de show do Stoned Jesus passaram muito rápido, mesmo com músicas que tinham mais de dez minutos. E isso tudo graças a um conjunto de fatores já citados que tornaram a apresentação memorável para os que esperaram tanto tempo pela volta da banda ao solo brasileiro: sonoridade impecável - mesmo com os mínimos problemas rapidamente corrigidos, sob a condução de Igor Sudorenko -, uma banda que executou todas as músicas de forma primorosa, o cuidado com os detalhes de cada membro e um público que, seja para cantar, aplaudir ou para moshar, entreteu e foi entretido da melhor forma junto ao trio. Foi uma apresentação digna de headliner de evento e que, com certeza, deixou o desejo por mais do Stoned Jesus em breve.


Texto: Tiago Pereira 


Edição/Revisão: Gabriel Arruda 



Pesta – setlist:

Moloch’s Children

Mirror Maze

Black Death

Words of a Madman

Shadows of a Desire

Witches’ Sabbath


Stoned Jesus – setlist:

Bright Like the Morning

Porcelain

Shadowland

Thessalia

Thoughts and Prayers

Silkworm Confessions

Black Woods

Here Comes the Robots

I'm the Mountain

Bis

Low

Electric Mistress

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Michale Graves – 31/10/2025 – Basement/CWB

Michale Graves em noite de Halloween!

Nesta sexta-feira, dia 31 de Outubro, noite de Halloween, Curitiba recebeu Michale Graves, lendário ex-vocalista do Misfits. O show faz parte da turnê “Something Wicked Tour 2025”, e chegou ao Brasil pela Caveira Velha Produções.

A expectativa para este show era grande, a notícia do “Sold Out” alguns dias antes do evento, aumentaram a curiosidade. Afinal, o local é um pouco mais intimista, sem espaço para área de pit, ou seguranças, deixando público e artista cara a cara. A noite prometia ser longa, afinal era esperado a execução na íntegra de “American Psycho” e "Famous Monsters”, clássicos álbuns do Misfits, da década de 90.

Ao chegar ao local, por volta das 19:50, que convém dizer, tem como referência o Cemitério Municipal da cidade. Coincidência? Para os mais empolgados, é apenas questão de localização mesmo, por tratar-se do Centro Histórico, reduto underground de bares e casas de show de pequeno porte. 

O evento não contou com banda de abertura, e seu início estava marcado para às 20:30. Por volta das 20 horas o interior do Basement já estava cheio, e ainda iria aumentar, visto que muitos estavam na área descoberta da casa, pois o calor estava complicado de aguentar. Ali já era visto que realmente haveria a lotação máxima esperada. 

Após um pequeno atraso, sobe ao palco o carismático Michale Graves e banda. A presença de palco do vocalista é impressionante, ocupa muito bem o espaço total do espaço. Inclusive ao verificar a quantidade de pessoas e o calor no local, fez questão de avisar para todos se respeitarem, e que, caso precisassem de ajuda era só pedir. Também solicitou à casa, para verificar se o público da frente precisava de água durante todo o show. Enfim, precauções importantes para a situação, e vindas da própria atração principal torna mais fácil o entendimento de alguns fãs mais rebeldes. Mas afinal, o que seria de um show de punk horror sem a rebeldia? 

Logo no início, já haviam todas punk e fãs sendo carregados até palco, para pularem novamente na sequência, Uma animação nunca vista no local. Inclusive o próprio Michael comentou que o público superou suas expectativas na empolgação. O calor humano era tanto que a maquiagem do vocalista quase derreteu por inteira, e também o fez abrir mão de seu famoso chapéu.

A apresentação inteira estava cheia de euforia, que se intensificava cada vez mais, só respirando entre as músicas, uma conversa ou outra com a platéia e uma sessão de autógrafos improvisada. A clássica “Dig up Her Bones” logo nos primeiros minutos foi fora de série, e na sequência somente loucura entre o público, tudo voava, cerveja, bonés e até os próprios fãs. O frenesi não tinha fim, “Punk Rock Is Dead”, todos cantando a plenos pulmões a maravilhosa “Scream!”, uma pausa para o romantismo com “Saturday Night”. E quando todos achavam que não podia melhorar, quase fechando a noite, os acordes de “War Pigs” surgiram para animação dos presentes. 

Por fim, pode-se dizer que foi uma noite insana na capital paranaense, com público fiel, enérgico, mas respeitoso. Michale Graves surpreendeu pela simpatia e carinho com os fãs, mas com muito profissionalismo. Merecendo assim, um lugar dentre os shows mais excepcionais do ano em Curitiba.


Texto: Paula Butter 


Edição/Revisão: Gabriel Arruda  





Michale Graves – setlist:

Abominable Dr. Phibes

American Psycho

Speak of the Devil

Walk Among Us

From Hell They Came

Dig Up Her Bones

Last Caress

Lost in Space

Shining

Crimson Ghost

Dust to Dust

Punk Rock Is Dead

Where Eagles Dare

Forbidden Zone

Scream!

Saturday Night

Descending Angel

Hunting Humans

Resurrection

Pumpkin Head

Skulls

Fiend Club

When We Were Angels

Don't Open 'Til Doomsday

Bis 

Halloween

Hybrid Moments

Helena

War Pigs (Black Sabbath cover)

Payout: Acid Suspiria

 

Por Denis A. Lacerda

Nota: 08.0/10.0

Já faz um bom tempo do meu último encontro com a banda de Speed Metal PAYOUT! O ano era 2022 quando conheci o excelente EP "Tales from the Cactus Crypt" e de lá pra cá estava órfão de um material mais completo dos caras! “Acid Suspiria” ainda não é este tal material completo que me referi, mas é o Single do que virá a ser o seu debut álbum de inéditas! Não preciso nem dizer que a minha ansiedade está a mil por hora, porque realmente havia gostado muito do meu primeiro contato com o trio.

“Acid Suspiria” continua e evolui o que foi apresentado no material anterior. Se por um lado este fator é jogar no terreno seguro, agradando os seus fãs já convertidos, por outro pode não vir a agregar ouvintes que busquem por algum tipo de diferencial. Tudo em “Acid Suspiria” soa o mais tradicional possível, dentro de uma produção suja, rústica, porém completamente inteligível. Então, se você conhece o trabalho da PAYOUT, certamente vai continuar adorando os caras, porque está tudo dentro dos conformes e nos seus devidos lugares.

O novo disco dos caras sairá no primeiro semestre de 2026, através de uma das maiores gravadoras do país, a Eternal Hatred Records, do pessoal da MS Metal. Desta forma podemos esperar que o disco n ovo tenha uma amplificação enorme dentro da nossa cena! Já mencionei a minha ansiedade?! Pois é, ela continua a milhão por aqui!

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Primal Fear: Dominação Total

Reign Phoenix Music (Imp.)

Por Paula Butter

Mais um lançamento de Power Metal em destaque para 2025. Estamos falando do Primal Fear, uma banda com bastante tempo de estrada, em torno de 25 anos, e com ninguém menos do que Ralf Scheepers no comando. O tempo parece estar ao lado do vocalista, visto que sua voz está mais em forma do que nunca. Mas o que esperar de mais um lançamento do gênero? Após ouvir o álbum, as primeiras impressões são “tudo”! Mais uma vez, o Primal Fear entrega uma obra com qualidade, e claro, um toque de modernidade, sem comprometer o tradicional som da banda. 

No decorrer das 13 faixas do álbum “Domination” temos peso, melodias, sons épicos, letras motivadoras e gritos de liberdade e revolta. E claro, a voz de Ralf, inconfundível, tornando o Primal Fear único. 

Temos o single “The Hunter” bem característico da banda, mas com uma potência e dinâmica ainda maiores do que antes. Talvez seja a entrada dos novos integrantes, a guitarrista Thalía Bellazecca e o baterista André Hilgers, ou mesmo a experiência e técnica impecável dos integrantes, destaque também para Magnus Karlsson dando tudo de si. 

A fórmula do videoclipe e das letras não foge muito ao grito de revolta, que a maioria das bandas está exaltando atualmente, mas com aquele tempero secreto que só Ralf e companhia conseguem. 

Destaque para “I Am The Primal Fear” com pedais duplos rolando solto logo no início, já antecipadamente nos mostrando o que vem na sequência. Potência e vocais proeminentes, esta música entrega muito. Também considero uma pérola a faixa “Eden”, bem instrumental, com variedades de ritmos, o famoso suspiro, onde o bruto e o progressivo unem-se para formar algo único. 

Convém também falar sobre a alternância de ritmos durante a audição do álbum, tornando a experiência muito agradável para qualquer ouvinte. Importante citar “Tears of Fire”, canção mais tradicional, flertando com o hard rock oitentista. Temos “Heroes and Gods” com um tom bem estilo épico de Power Metal, com temas bem típicos do gênero, e inclusive com passagens bem pesadas, deixando-a muito peculiar. 

Fica impossível não citar todos os presentes, que “Domination” traz, então, mesmo deixando a escrita mais longa, vamos lá! A faixa “Scream”, deixa os vocais em segundo plano, espaço para os riffs e acordes mais elaborados, com um toque de Thrash Metal para completar o contexto da música. Já “The Dead Don’t Die” e “Crossfire” trazem um pouco mais de nostalgia, lembrando o início do Power Metal com pitadas do Metal tradicional. Inclusive esta última tem apelo forte para ser tocada ao vivo. 

Por fim, temos a excelente “March Boy March” com sons de início de batalhas e rituais e na sequência os riffs empolgantes e épicos. a obra fecha com uma balada sinfônica e vocais mais envolventes, e apesar da curta duração, tem seu posicionamento muito bem encaixado em todo o contexto da obra. A conclusão é inevitável, um presente de Natal antecipado para os fãs de longa data e para os novatos do gênero.

Heiko Roith


Entrevista - Primal Fear: Química Renovada

Heiko Roith

Por Amanda Misturini 

O Primal Fear vem passando por um ótimo momento na carreira, agora com uma nova formação que conta com a guitarrista Thalia Bellazecca, o baterista André Hilgers e o retorno do baixista Mat Sinner, que se recuperou de problemas de saúde. Recentemente, a banda finalizou a primeira parte da Domination World Tour, em divulgação ao novo álbum de mesmo nome, pela Europa. 

Durante essa pausa, o vocalista Ralf Scheepers conversou rapidamente com a Road To Metal. Na entrevista, ele falou sobre a expectativa de se apresentar no festival Bangers Open Air, que acontece em abril do ano que vem em São Paulo, relembrou experiências de visitas anteriores ao Brasil, comentou sobre a química entre os atuais integrantes, a chegada de Thalia e explicou o que o motiva a manter a banda ativa até hoje.


O Primal Fear vai voltar ao Brasil no próximo ano para o Bangers Open Air em São Paulo. Você pode contar aos fãs o que eles podem esperar do show e com o que vocês estão mais animados?

Ralf: A boa notícia é que estamos ensaiando essa apresentação há quatro semanas durante nossa turnê pela Europa, e estamos muito felizes porque o público tem recebido bem e ficado satisfeito com o que entregamos ao vivo. E o mesmo vai acontecer no Brasil, sabemos que o público da América do Sul é sempre muito animado e apaixonado (no bom sentido), então eles vão curtir ainda mais esse show. Como mencionei, tivemos um ótimo teste nessas semanas de ensaio, e isso foi excelente. Tenho certeza de que vocês vão gostar!

Paula Cavalcante

Legal! Em 2006, no festival Live ’n’ Louder em São Paulo, Roy-Z tocou com vocês no palco. Você se lembra daquele dia? Como foi tocar com ele e lidar com os problemas técnicos?

Ralf: Quem tocou com a gente? Acho que não me lembro...

O Roy Z esteve no palco com vocês.

Ralf: Quem é Roy Z?

Roy Z é guitarrista e produtor.

Ralf: Ah, Roy Z! Na época, foi só uma questão de acústica, mas o que realmente lembro foi do backstage, quando o David Lee Roth apareceu sorridente cumprimentando todo mundo, essa foi a parte mais engraçada. Quanto aos problemas técnicos, eles aconteceram no começo do show, como costuma acontecer em muitos festivais, com cabos e equipamentos sendo ajustados. Mas no final, nos divertimos bastante. Foi um set compacto de 30 ou 40 minutos, mas o importante é que conseguimos aproveitar o momento. E a presença do Roy Z no palco foi ótima!

Paula Cavalcante

A banda passou por várias mudanças na formação ao longo dos anos. Isso aconteceu por questões de agenda, motivos pessoais ou ambos? As decisões foram suas ou vocês conversaram bastante com o Mat Sinner?

Ralf: Sim. Às vezes as pessoas simplesmente escolhem caminhos diferentes. Houve dois integrantes que não se davam mais bem entre si, e eu acabei ficando no meio dessa situação porque já tinha feito turnê com eles na América do Sul um ano antes também. Foi uma decisão difícil pra mim, mas era algo que precisávamos fazer.

No final das contas, continuei trabalhando com meu parceiro e amigo Mat Sinner [baixo], que voltou a fazer parte da banda conosco. Como já falei antes, estamos entregando tudo o que prometemos, e é ótimo tê-lo de volta no palco, cantando e tocando ao meu lado, além de ser meu parceiro na banda. Algumas decisões difíceis precisam ser tomadas às vezes, e eu passei por isso com ele.

Agora todo mundo está na mesma sintonia, indo na mesma direção. Isso é ótimo! Essa união é resultado de tudo isso.

Em entrevistas anteriores, você comentou que trazer a Thalia [Bellazecca, guitarra] para a banda foi uma escolha corajosa. Olhando para trás, qual foi a maior surpresa ou a melhor recompensa dessa decisão?

Ralf: Quer dizer, se você assiste aos shows ao vivo ou até aos ensaios no estúdio, já dá pra perceber como eles melhoraram bastante ao longo do tempo. Toda a equipe está tocando cada vez mais afinada. Mesmo antes de entrarem na banda, já era bom, mas a precisão nas guitarras rápidas tocadas em dupla é realmente impressionante. 

E quando você vê isso no palco, com eles sorrindo e balançando a cabeça ao som do heavy metal, fica ainda mais legal. É uma combinação excelente para a banda, tanto pela técnica quanto pela presença no palco.

Paula Cavalcante

Desde que a Thalia entrou na banda, você tem percebido mais fãs mulheres nos shows?

Ralf: Mais familiares, na verdade... Quero dizer, sim, houve um aumento no número de pessoas vindo às apresentações. Uma parte delas já era fã antes, mas também estamos recebendo muitas pessoas novas, cada vez mais crianças assistindo às nossas apresentações, o que é ótimo. 

Não é só por causa da Thalia, isso ajuda bastante, claro, mas no final das contas também lançamos um álbum muito bom, e acho que esse é o principal motivo pelo qual o público vem aos nossos shows.

Thalia é uma inspiração como mulher negra numa cena do metal dominada principalmente por homens brancos. Como os fãs reagiram quando ela entrou na banda?

Ralf: Houve algumas reações negativas, mas foram bem poucas, tipo 1%, algo como 'ah, por que uma mulher agora?', especialmente vindo dos Estados Unidos. E nós não ligamos pra cor, raça ou qualquer outra coisa; somos apenas seres humanos, isso é o mais importante. 

Quando a química funciona entre nós assim como funciona agora, não tem relação com nacionalidade ou cor da pele. E, como eu disse, 99% foi totalmente positivo. Sempre vai ter alguém reclamando de alguma coisa, mas no fim das contas a gente não liga.

Paula Cavalcante

Qual mensagem você gostaria de deixar para os fãs brasileiros que amam a banda e vão assistir ao show no Bangers Open Air?

Ralf: Estamos muito ansiosos para voltar aí. Eu estive aí há dois anos e agora já está na hora de retornar novamente, com a nova equipe e para mim mesmo, mas também uma nova velha equipe: Mat [Sinner, baixo] e Magnus [Karlsson, guitarra] - com quem já toquei antes - comigo novamente, além do André [Hilgers, bateria] também. 

Já estamos há quatro ou cinco semanas na estrada juntos e tudo está indo muito bem. O motor está a todo vapor, por assim dizer. Isso dá uma base sólida pra chegar ao Brasil e dar tudo de nós. Estamos realmente ansiosos pelas reações de vocês. É sempre incrível tocar no Brasil, nós nos divertimos demais aí. Então todo mundo está super empolgado!

Por fim, o Primal Fear completa 28 anos este ano. Olhando pra trás, quais momentos foram mais especiais pra você? O que te mantém animado pra continuar?

Ralf: No final das contas, Amanda, tudo acontece passo a passo. Cada álbum leva ao próximo e sempre tem histórias por trás da gravação, como os álbuns foram feitos e como trabalhamos juntos como equipe. É claro que tem os shows ao vivo, como o Wacken, Graspop e também os shows em clubes menores. 

Todo esse contexto é muito especial, e é exatamente por isso que faço isso: estar na frente das pessoas, tocando nossa música e me divertindo com tudo isso. Viajar nem sempre é fácil: cansaço, jet lag e noites mal dormidas faz parte do percurso. No fim das contas, o que realmente importa é o show e a música, essa é sempre a parte mais legal. Tenho certeza de que vai ser incrível voltar a tocar no Brasil. novamente.




quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Shark Metal Fest: Movimentando a Cena no Litoral Gaúcho

 


O litoral norte do Rio Grande do Sul está sempre cheio durante a temporada de verão — bares lotados, praias tomadas por gente e todos curtindo suas tão esperadas férias. Mas o que acontece na noite da cidade, especialmente na cena underground do rock e do metal? É isso que o Shark Metal procura responder. 

Há muitos anos a cena da cidade vem minguando. Não posso dizer que ela era inexistente, pois sempre houve pessoas correndo atrás para mantê-la viva. O cenário rock/metal de Imbé e Tramandaí mudou quando o Joe’s Pub Rock encerrou suas atividades em 2013. 

Esse pub lendário recebeu diversas bandas locais, incluindo a banda de sleaze do meu irmão — a saudosa Beijo Sangrento. 

Beijo Sangrento 

Além de apadrinhar bandas da região, o Joe’s também recebeu grandes nomes da cena brasileira, entre eles Matanza, TNT, Wander Wildner e muitos outros que marcaram a geração que viveu o período em que a cena do litoral pulsava vida. Alguns bares ainda tentaram manter o rock ativo na região, mas nenhum vingou por muito tempo. 

Matanza

Com o fim do Joe’s, o silêncio tomou conta das noites regadas a hard rock em Imbé e Tramandaí. As bandas locais se dispersaram e o público, sem ter para onde ir, acabou se distanciando. Parecia o fim da cena — até para mim, que cresci na cidade e vi tudo acontecer de perto. 

Mas agora uma nova era surge para reviver essa cena moribunda: a Shark Metal Produtora, idealizada por Werner, filho do criador do nosso tão saudoso Joe’s. A Shark nasceu com o propósito de dar voz às bandas de metal do litoral norte gaúcho. 


“No início, a ideia era apadrinhar o metal, que sempre foi a raiz da nossa história. Mas logo percebi que o problema era muito maior: o rock, em todas as suas vertentes, estava sem espaço no litoral”, conta Werner. 

E foi assim que o projeto se expandiu. O que era apenas um pequeno festival de metal transformou-se em um movimento que abraça toda a diversidade do rock da região — e agora vai além dela. 

O desafio sempre foi enfrentar a falta de palcos e conquistar um público que, embora pequeno, demonstra cada vez mais sede por música autoral e shows ao vivo. 

Wander Wildner 

“A ideia nunca foi apenas organizar eventos. A Shark Metal quer dar ao rock do litoral o mesmo reconhecimento que ele tem nas grandes cidades”, afirma Werner. 

No 5º Esquenta Shark, realizado no dia 30 de agosto de 2025, pude ver uma galera realmente empenhada em reviver essa cena: bandas empolgadas no palco e um público numeroso! Fiquei surpresa ao perceber que a todo momento chegava mais gente para curtir as apresentações — e extremamente feliz por ver minha tão querida cidade renascendo das cinzas. 

Vera Loca

O evento aconteceu no Marlboro Rock Bar (confira fotos abaixo na sequência da matéria), um lugar acolhedor e cheio de gente querida, que abriu espaço para que a cena voltasse a acontecer. Essa edição contou com as bandas Belatona (de Capão da Canoa), Leeway (de Tramandaí), Piratas Siderais (de Imbé) e Polares (de Caará). Entre uma apresentação e outra, havia expositores, tatuadores e artistas dos mais diversos estilos compartilhando sua arte com o público. 


                  E Já Tem Evento Marcado! 

Os próximos eventos do Shark já têm data marcada: no dia 1º de novembro, acontece o Especial de Halloween, com as bandas Billie the Cat, Polares, Vampiros Tropicais e Los Ratones, além do DJ Revolt, projeto paralelo do já conhecido DJ React. 


E no dia 15 de novembro, será realizado o Shark Festival Multicultural, com o apoio da Prefeitura Municipal de Imbé — um evento que reunirá bandas, DJs, expositores, artistas locais, sorteios, piercings, tatuagens e gastronomia. 


Mais do que festivais, os eventos organizados pela Shark Metal se tornaram encontros da cena alternativa underground do litoral. Além das bandas, o público encontra expositores, tatuadores, artistas plásticos e ilustradores, todos reunidos em torno de uma mesma energia: a de manter viva a arte independente e fortalecer a identidade rock/metal da região. 

A cada edição, o Shark Metal mostra que o rock ainda pulsa nas areias do litoral norte. O que se vê é um público fiel, disposto a reconstruir uma cena que parecia perdida. 


Agora, eu, Mellissa, irmã do guitarrista da Beijo Sangrento, me junto a equipe para trazer bandas que conheci ao longo de 7 anos morando fora. Eu e Werner éramos apenas crianças quando o Joe’s reinava, mas isso nunca saiu da memória — como meu irmão sofrendo para solar uma guitarra e tentar impressionar as guriazinhas com sua banda de sleaze. 


Hoje, uma nova geração de músicos e público surge, trazendo consigo a certeza de que o espírito do Joe’s Pub Rock continua vivo — agora sob uma nova forma, mais diversa, vibrante e pesada do que nunca.

Texto: Melissa Freitas 
Fotos: Arquivo Shark


Contatos:
sharkmprodutora@gmail.com
mellissadefreitas@hotmail.com

Agnostic Front: Os Ecos Eternos do Hardcore

Reign Phoenix Music (Imp.)

Os pioneiros do NYHC reafirmam sua força em um disco que transpira orgulho, resistência e autenticidade

Por Guilmer Silva

Mais de quarenta anos separam o Agnostic Front de seus primeiros dias nos porões de Nova York. Ainda assim, o espírito que moveu Roger Miret, Vinnie Stigma e companhia desde Victim in Pain (1984) segue intacto em Echoes In Eternity, novo álbum dos criadores do New York Hardcore. Longe de soar nostálgico ou cansado, o disco é um grito de resistência, um tributo à vida nas ruas, à irmandade hardcore e à própria história da banda.

Gravado com produção de Mike Dijan, o álbum captura a essência crua e suada dos primeiros tempos, mas com uma pegada atual e vigorosa. O resultado é um registro que equilibra o peso metálico de Cause for Alarm com a energia punk de United Blood, criando uma ponte entre passado e presente.

O álbum se inicia com “Way of War” abre o campo de batalha com guitarras em marcha militar, bateria seca e o vocal áspero de Miret comandando o ataque. Em menos de dois minutos, a banda prova que ainda sabe incendiar qualquer roda de mosh, em “You Say” mantém o pedal no máximo: punk direto, frenético e cheio de r aiva. O refrão gritado em coro é puro espírito CBGB, agressivo e libertador.

Em “Matter of Life & Death”, o grupo surpreende ao convidar Darryl McDaniels (Run-DMC). O groove é denso e urbano, lembrando o Biohazard dos anos 90. Um hino sobre sobrevivência e lealdade, duas marcas eternas do AF.

Já na faixa “Tears for Everyone” vem com pegada thrash e vocais duplos, evocando o Suicidal Tendencies da fase Lights… Camera… Revolution!, um petardo que mistura peso e caos. O álbum segue com “Divided” traz um inesperado solo de guitarra melódico e quase noventista. A canção fala sobre fragmentação social e pessoal, e o contraste entre melodia e brutalidade reforça essa mensagem.

Uma das faixas mais emocionantes é a “Sunday Matinee”, que é o coração do disco: uma homenagem nostálgica aos lendários shows de domingo no CBGB e Lower East Side. Dijan mantém a sujeira do hardcore viva, mas com produção moderna e vibrante. Enquanto isso a música “Turn Up the Volume” é puro combustível hardcore, lembrando o clássico Cause for Alarm (1986). Um refrão de arena que sintetiza a essência da banda: barulho, união e autenticidade.

O play é encerrado com uma pedrada, na rápida “Art of Silence”, com apenas 40 segundos, é uma explosão punk digna de Dead Kennedys e The Exploited,  caos puro, rápido e essencial.

As demais faixas, curtas, diretas e intensas, eguem o mesmo espírito. O disco é todo pautado pelo lema “força e lealdade”, e cada riff soa como um manifesto contra a apatia. Mesmo com cerca de 30 músicas, nenhuma soa desnecessária; cada uma captura uma emoção específica, um desabafo, uma fagulha de vida, uma cicatriz das ruas.

Há quem diga que o Agnostic Front se repete, mas essa é justamente a beleza do hardcore: não se trata de inovação técnica, e sim de honestidade. Echoes In Eternity é um reflexo fiel de uma banda que criou um som próprio e continua defendendo-o com unhas, dentes e coração.

Com "Echoes In Eternity", o Agnostic Front não tenta reinventar a roda, eles a mantêm girando, veloz e furiosa. É um disco que mistura fúria, experiência e paixão de uma forma que poucas bandas com mais de quatro décadas de estrada conseguem.

Cada faixa soa como um chamado à união, um lembrete de que o hardcore ainda pulsa nas ruas, nas cicatrizes e na alma de quem nunca desistiu. O Agnostic Front não apenas sobreviveu, eles ainda lideram o exército.

An Maes


quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Tropa de Shock: Four Seasons of Darkness

 

Por Denis A. Lacerda

Nota: 08.0/10.0

Que grande alegria ter em mãos um novo título destes paulistas incansáveis do TROPA DE SHOCK. Os caras estão por aí desde o final dos anos oitenta, quando ainda faziam um Hard Rock com fortes referências ao Pop Rock brazuka, antes de mergulhar de cabeça para o Heavy Metal Tradicional e que nunca mais se arriscou sair. É verdadeiramente uma história linda e que muito me lembra a dos canadenses do Anvil, tendo em vista que a amizade do baterista Marcio Minetto e do vocalista Don, seguramente, passa dos trinta anos! Sempre juntos e misturados (risos).

"Four Seasons of Darkness" é mais ousado, mais moderno e, por conseguinte mais pesado do que pode ser conferido na discografia do quinteto. Muito disso deve-se ao enxerto de elementos vindos do Metalcore e Modern Metal, que acabaram por enriquecer uma proposta que já poderia dar seus ares de cansaço. Sábia decisão e que permitiu que o ouvinte interaja com a banda sob uma nova ótica, garantindo uma experiência renovadora em sua mais terna essência. "Virus of Fall" é o meu destaque, justamente por apresentar as novas facetas nos vovôs do Metal nacional! Vigorosa e sui generis, a canção entrou no meu top 10 de mais ouvidas no Spotify, desde que a descobri através do pessoal da MS Metal, atual gravadora do Tropa.

Don é um primor, sempre linkado ao seu estilo único de canto, mas agora dando uma piscadela de leve para a molecada, com linhas que se encaixaram perfeitamente ao novo viés mais de vanguarda. Marcio, por sua voz, se mostrou mais seguro e consistente aqui! Uma verdadeira mão de pedra e não estou falando do baiano Popó Freitas (risos). Ou seja, para qualquer álbum da banda funcionar, essa dupla precisa estar bem conectada e para a felicidade geral da nação, estão mais interligados do que nunca, meus amigos!

"Four Seasons of Darkness" é um frescor de vitalidade e que demonstra que o TROPA DE SHOCK continua relevante e agora mais atuante do que nunca, com uma turnê brasileira extensa prometida para 2026. Se os dinossauros passarem pela sua cidade, não perca tempo e vá bater continência aos caras, porque eles merecem demais!

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Brujeria – 11/10/2025 – Fabrique Club/SP

Brujeria faz apresentação enérgica e celebra legados de Juan Brujo e Pinche Peach na capital Paulista

Apresentação, que fez parte da turnê em memória dos vocalistas que faleceram em 2024, contou com baixista do Carcass e filho de Juan Brujo

A Fabrique Club, localizada na Zona Oeste de São Paulo, recebeu, no último dia 11 de outubro, um dos shows mais especiais e simbólicos da banda de Deathgrind Brujeria, no que foi parte da sua 13ª passagem pelo Brasil. Desta vez, o grupo estadunidense (e com total alma mexicana) se apresentou como parte da turnê que celebrou a memória e o legado dos vocalistas Pinche Peach (1966-2024) e Juan Brujo (1968-2024), que faleceram em julho e setembro do ano passado, respectivamente, por complicações cardíacas.

O evento, produzido pela Estética Torta, não teve banda de abertura e contou com uma Fabrique Club consideravelmente cheia e com total energia por parte do público, que foi guiado pelos clássicos da banda em 17 faixas, com foco nos três primeiros discos: “Matando Güeros” (1993), “Raza Odiada” (1995) e “Brujerizmo” (2000), Houve, também, uma música do disco “Pocho Aztlán” (2016). 

O quarteto, que tinha como destaque as presenças de John Christopher Lepe (El Sativo) na bateria e de Jeff Walker (El Cynico), do Carcass, no baixo, foi enérgico ao longo de todo o show, seja na execução instrumental, seja no contato com o público, feito principalmente pelo vocalista Henry Sanchez (El Sangrón), que discursou, dançou, fez pequenas atuações e danças em determinadas e fez a “mediação” dos cigarros trazidos por parte dos fãs para os membros, antes de “Consejos Narcos”. Da mesma forma, Sangrón fez ótimas execuções vocais que firmaram o legado de Brujo e Peach naquela noite.

A sinergia entre banda e público gerou, nos pouco mais de 40 minutos de show, um ambiente que com certeza simulou o México e que tornou a noite mais especial. Por consequência, houve muitos coros e picos de intensidade por toda a pista e nos moshes abertos no centro dela.


Quarenta minutos de legado e de uma “Fabrique Mexicana”

As luzes da Fabrique apagaram momentaneamente às 19h55. No palco, apenas um tripé com um dos coletes de Juan Brujo e uma a cabeça que muito lembrava a da capa de “Matando Güeros”. E a iluminação voltou com três músicas introdutórias que transformaram o local em um verdadeiro ambiente mexicano para aquele show: “El Perro Negro”, do cantor e ator Antônio Aguilar (1919-2007); “El Rey”, de Vicente Fernández Jr. (1940-2021); e “Satanas”, de Publio Martínez. 

Eis que a gravação inicial de “Brujerizmo” começou a tocar, marcando a entrada dos membros do Brujeria. O primeiro foi El Sativo (bateria), filho de Juan Brujo, seguido de El Criminal (guitarra), El Cynico ou, simplesmente, Jeff Walker, do Carcass (baixo) e, por último, El Sangrón (vocal). Os últimos segundos de expectativa, somados com a euforia da entrada dos músicos e o riff de guitarra da faixa em questão foram os ingredientes essenciais para um boom de cantos e de pessoas na roda que se formou no centro da pista da Fabrique Club.

“El Desmadre” fechou a primeira dobradinha de um álbum, o “Brujerizmo” (2000), com toda a sonoridade Deathgrind poderosa proposta no álbum. Já “Hechando chingasos (Greñudos locos II)” trouxe os ânimos de volta à roda e ao bate-cabeça, que pelo ritmo de quem estava nela naquele momento, serviria facilmente como um exemplo de entropia. Esta dinâmica “aleatória” de parte dos fãs seguiu com a música “Anti-Castro”, faixa com críticas ao regime cubano e com destaques para pessoas que fugiam do país caribenho  em barcos de pneu, buscando uma nova vida em outros países como o México. A sonoridade brutal de Groove Metal e Deathgrind chegou com tudo em “Vayan Sin Miedo”, que gerou gritos eufóricos a partir do riff tocado por El Criminal e cadenciado por El Cínico (Jeff). Isso refletiu em um mosh pit mais insano na pista e com gritos em nome da faixa nos refrões. 

O Brujeria continuou a apresentação com uma sessão de críticas e reflexões sobre a questão imigratória e do tráfico na fronteira entre México e Estados Unidos, a partir das populares “La migra (Cruza la frontera II)” e “Ángel de la frontera”. Na segunda música, inclusive, El Sangrón, como de costume, chegou a se ajoelhar e gesticular para os céus, rezando e suplicando pelo anjo mencionado na faixa. 

A música “Chingo de Mecos” foi dedicada para as mulheres. Apesar do conteúdo explícito da letra, o maior destaque dos quase um minuto e 20 segundos da faixa foi a série de blast beats que El Sativo realizou de forma brutal na bateria, dando mais velocidade aos já rápidos riffs de guitarra tocados por El Criminal. “Christo de La Roca” veio em seguida, como uma espécie de “canto narrado” sobre um traficante que se autodenominou o “Cristo da cocaína”, além de potentes riffs e pedais duplos em momentos pontuais.

O quarteto se mostrou ainda mais animado em “Desperado”, com blast beats mais brutais após o primeiro minuto, além de uma dancinha feita por El Sangrón que também cativou o público. E tanto a banda quanto o público elevaram os ânimos novamente com “La Ley del Plomo”, com coros mais altos, um mosh totalmente insano e sonoridade poderosa da banda. Na sequência, a faixa “Colas de Rata” ainda teve o frontman do Brujeria simulando o uso de cocaína, na reta final.

Outras duas pedradas do álbum “Raza Odiada” foram tocadas antes da pequena pausa do show. A primeira, “Revolución”, foi a de maior teor político crítico do setlist, com os ataques ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) e seus governos nos anos 1990 e as referências elogiosas aos indígenas e ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), responsáveis pelos levantes em Chiapas. 

Já a segunda foi a clássica “Consejos Narcos”, iniciada após um discurso em memória de Juan Brujo e Pinche Peach e uma sessão rápida de tragos em cigarros de maconha oferecidos pelos fãs após o sinal de El Sangrón - destaque para El Sativo, que chegou a fumar dois de uma vez, - e aprovados pelos membros da banda. O ato prosseguiu em alguns momentos da música, encerrados pela frase “Marijuana siempre si”.

A rápida pausa veio após as várias garrafas de água jogadas por El Cynico (Jeff Walker). O retorno, para os dois últimos triunfos veio a partir do áudio que inicia “Raza Odiada (Pito Wilson)”, uma narração de Jello Biafra que interpreta Pete Wilson e que simula as falas racistas e anti-imigratórias do político em questão, sendo respondido com ataques e ironias por Juan Brujo até o ato final de “matá-lo”. Cada resposta de Juan era gritada pelo público até o início da faixa, já com a banda de volta ao palco, que mostrou um som impecável em todos os pontos possíveis, acompanhada por mais cantos do público.

O ato final veio com a incontestável “Matando Güeros”, iniciada após El Sangrón repetir, por várias vezes, a pergunta “Matando quê?”, como um chamado para que o público desse seu último gás na pista. E a situação ficou ainda mais inflamada com o riff de El Criminal e, principalmente, quando o vocalista do Brujeria trouxe um facão para performar a faixa. A partir disso, os cantos da música se tornaram ainda mais altos e a roda, menos intensa nas últimas músicas, voltou com tudo e com a maior energia possível naquela noite. A felicidade do público foi tamanha a ponto de emendar danças malucas no final, quando “Marijuana”, uma paródia de “Macarena”, do grupo Los del Rio, foi tocada tanto para a apresentação dos integrantes, quanto para a finalização do show, que contou com El Sativo, filho de Juan Brujo, sendo ovacionado e mostrando o colete de seu pai, presente no suporte ao centro do palco, por uma última vez naquela noite. 

Parte do público ainda ficou por mais tempo tempo para pedir autógrafos e disputar palhetas e baquetas dos integrantes do Brujeria, num ato que reforçou ainda mais a gratidão da banda e a admiração mútua entre eles e o público paulistano. A energia e os ânimos esbanjados no local, de alguma forma, também deram um ar que Juan Brujo e Pinche Peach estavam ali, em forma de espírito, para também celebrar um legado que ainda é mantido pela banda e por uma base de admiradores e fãs. E se depender de ambas as partes, existirá por muito tempo.


Texto: Tiago Pereira 


Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta



Brujeria – setlist:

Brujerizmo

El desmadre

Hechando chingasos (Greñudos locos II)

Anti-Castro

Vayan sin miedo

La migra (Cruza la frontera II)

Ángel de la frontera

Chingo de mecos

Cristo de la roca

Desperado

La ley de plomo

Colas de rata

División del norte

Revolución

Consejos narcos

Bis 

Raza odiada (Pito Wilson)

Matando güeros