quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Agnostic Front: Os Ecos Eternos do Hardcore

Reign Phoenix Music (Imp.)

Os pioneiros do NYHC reafirmam sua força em um disco que transpira orgulho, resistência e autenticidade

Por Guilmer Silva

Mais de quarenta anos separam o Agnostic Front de seus primeiros dias nos porões de Nova York. Ainda assim, o espírito que moveu Roger Miret, Vinnie Stigma e companhia desde Victim in Pain (1984) segue intacto em Echoes In Eternity, novo álbum dos criadores do New York Hardcore. Longe de soar nostálgico ou cansado, o disco é um grito de resistência, um tributo à vida nas ruas, à irmandade hardcore e à própria história da banda.

Gravado com produção de Mike Dijan, o álbum captura a essência crua e suada dos primeiros tempos, mas com uma pegada atual e vigorosa. O resultado é um registro que equilibra o peso metálico de Cause for Alarm com a energia punk de United Blood, criando uma ponte entre passado e presente.

O álbum se inicia com “Way of War” abre o campo de batalha com guitarras em marcha militar, bateria seca e o vocal áspero de Miret comandando o ataque. Em menos de dois minutos, a banda prova que ainda sabe incendiar qualquer roda de mosh, em “You Say” mantém o pedal no máximo: punk direto, frenético e cheio de r aiva. O refrão gritado em coro é puro espírito CBGB, agressivo e libertador.

Em “Matter of Life & Death”, o grupo surpreende ao convidar Darryl McDaniels (Run-DMC). O groove é denso e urbano, lembrando o Biohazard dos anos 90. Um hino sobre sobrevivência e lealdade, duas marcas eternas do AF.

Já na faixa “Tears for Everyone” vem com pegada thrash e vocais duplos, evocando o Suicidal Tendencies da fase Lights… Camera… Revolution!, um petardo que mistura peso e caos. O álbum segue com “Divided” traz um inesperado solo de guitarra melódico e quase noventista. A canção fala sobre fragmentação social e pessoal, e o contraste entre melodia e brutalidade reforça essa mensagem.

Uma das faixas mais emocionantes é a “Sunday Matinee”, que é o coração do disco: uma homenagem nostálgica aos lendários shows de domingo no CBGB e Lower East Side. Dijan mantém a sujeira do hardcore viva, mas com produção moderna e vibrante. Enquanto isso a música “Turn Up the Volume” é puro combustível hardcore, lembrando o clássico Cause for Alarm (1986). Um refrão de arena que sintetiza a essência da banda: barulho, união e autenticidade.

O play é encerrado com uma pedrada, na rápida “Art of Silence”, com apenas 40 segundos, é uma explosão punk digna de Dead Kennedys e The Exploited,  caos puro, rápido e essencial.

As demais faixas, curtas, diretas e intensas, eguem o mesmo espírito. O disco é todo pautado pelo lema “força e lealdade”, e cada riff soa como um manifesto contra a apatia. Mesmo com cerca de 30 músicas, nenhuma soa desnecessária; cada uma captura uma emoção específica, um desabafo, uma fagulha de vida, uma cicatriz das ruas.

Há quem diga que o Agnostic Front se repete, mas essa é justamente a beleza do hardcore: não se trata de inovação técnica, e sim de honestidade. Echoes In Eternity é um reflexo fiel de uma banda que criou um som próprio e continua defendendo-o com unhas, dentes e coração.

Com "Echoes In Eternity", o Agnostic Front não tenta reinventar a roda, eles a mantêm girando, veloz e furiosa. É um disco que mistura fúria, experiência e paixão de uma forma que poucas bandas com mais de quatro décadas de estrada conseguem.

Cada faixa soa como um chamado à união, um lembrete de que o hardcore ainda pulsa nas ruas, nas cicatrizes e na alma de quem nunca desistiu. O Agnostic Front não apenas sobreviveu, eles ainda lideram o exército.

An Maes


terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Brujeria – 11/10/2025 – Fabrique Club/SP

Brujeria faz apresentação enérgica e celebra legados de Juan Brujo e Pinche Peach na capital Paulista

Apresentação, que fez parte da turnê em memória dos vocalistas que faleceram em 2024, contou com baixista do Carcass e filho de Juan Brujo

A Fabrique Club, localizada na Zona Oeste de São Paulo, recebeu, no último dia 11 de outubro, um dos shows mais especiais e simbólicos da banda de Deathgrind Brujeria, no que foi parte da sua 13ª passagem pelo Brasil. Desta vez, o grupo estadunidense (e com total alma mexicana) se apresentou como parte da turnê que celebrou a memória e o legado dos vocalistas Pinche Peach (1966-2024) e Juan Brujo (1968-2024), que faleceram em julho e setembro do ano passado, respectivamente, por complicações cardíacas.

O evento, produzido pela Estética Torta, não teve banda de abertura e contou com uma Fabrique Club consideravelmente cheia e com total energia por parte do público, que foi guiado pelos clássicos da banda em 17 faixas, com foco nos três primeiros discos: “Matando Güeros” (1993), “Raza Odiada” (1995) e “Brujerizmo” (2000), Houve, também, uma música do disco “Pocho Aztlán” (2016). 

O quarteto, que tinha como destaque as presenças de John Christopher Lepe (El Sativo) na bateria e de Jeff Walker (El Cynico), do Carcass, no baixo, foi enérgico ao longo de todo o show, seja na execução instrumental, seja no contato com o público, feito principalmente pelo vocalista Henry Sanchez (El Sangrón), que discursou, dançou, fez pequenas atuações e danças em determinadas e fez a “mediação” dos cigarros trazidos por parte dos fãs para os membros, antes de “Consejos Narcos”. Da mesma forma, Sangrón fez ótimas execuções vocais que firmaram o legado de Brujo e Peach naquela noite.

A sinergia entre banda e público gerou, nos pouco mais de 40 minutos de show, um ambiente que com certeza simulou o México e que tornou a noite mais especial. Por consequência, houve muitos coros e picos de intensidade por toda a pista e nos moshes abertos no centro dela.


Quarenta minutos de legado e de uma “Fabrique Mexicana”

As luzes da Fabrique apagaram momentaneamente às 19h55. No palco, apenas um tripé com um dos coletes de Juan Brujo e uma a cabeça que muito lembrava a da capa de “Matando Güeros”. E a iluminação voltou com três músicas introdutórias que transformaram o local em um verdadeiro ambiente mexicano para aquele show: “El Perro Negro”, do cantor e ator Antônio Aguilar (1919-2007); “El Rey”, de Vicente Fernández Jr. (1940-2021); e “Satanas”, de Publio Martínez. 

Eis que a gravação inicial de “Brujerizmo” começou a tocar, marcando a entrada dos membros do Brujeria. O primeiro foi El Sativo (bateria), filho de Juan Brujo, seguido de El Criminal (guitarra), El Cynico ou, simplesmente, Jeff Walker, do Carcass (baixo) e, por último, El Sangrón (vocal). Os últimos segundos de expectativa, somados com a euforia da entrada dos músicos e o riff de guitarra da faixa em questão foram os ingredientes essenciais para um boom de cantos e de pessoas na roda que se formou no centro da pista da Fabrique Club.

“El Desmadre” fechou a primeira dobradinha de um álbum, o “Brujerizmo” (2000), com toda a sonoridade Deathgrind poderosa proposta no álbum. Já “Hechando chingasos (Greñudos locos II)” trouxe os ânimos de volta à roda e ao bate-cabeça, que pelo ritmo de quem estava nela naquele momento, serviria facilmente como um exemplo de entropia. Esta dinâmica “aleatória” de parte dos fãs seguiu com a música “Anti-Castro”, faixa com críticas ao regime cubano e com destaques para pessoas que fugiam do país caribenho  em barcos de pneu, buscando uma nova vida em outros países como o México. A sonoridade brutal de Groove Metal e Deathgrind chegou com tudo em “Vayan Sin Miedo”, que gerou gritos eufóricos a partir do riff tocado por El Criminal e cadenciado por El Cínico (Jeff). Isso refletiu em um mosh pit mais insano na pista e com gritos em nome da faixa nos refrões. 

O Brujeria continuou a apresentação com uma sessão de críticas e reflexões sobre a questão imigratória e do tráfico na fronteira entre México e Estados Unidos, a partir das populares “La migra (Cruza la frontera II)” e “Ángel de la frontera”. Na segunda música, inclusive, El Sangrón, como de costume, chegou a se ajoelhar e gesticular para os céus, rezando e suplicando pelo anjo mencionado na faixa. 

A música “Chingo de Mecos” foi dedicada para as mulheres. Apesar do conteúdo explícito da letra, o maior destaque dos quase um minuto e 20 segundos da faixa foi a série de blast beats que El Sativo realizou de forma brutal na bateria, dando mais velocidade aos já rápidos riffs de guitarra tocados por El Criminal. “Christo de La Roca” veio em seguida, como uma espécie de “canto narrado” sobre um traficante que se autodenominou o “Cristo da cocaína”, além de potentes riffs e pedais duplos em momentos pontuais.

O quarteto se mostrou ainda mais animado em “Desperado”, com blast beats mais brutais após o primeiro minuto, além de uma dancinha feita por El Sangrón que também cativou o público. E tanto a banda quanto o público elevaram os ânimos novamente com “La Ley del Plomo”, com coros mais altos, um mosh totalmente insano e sonoridade poderosa da banda. Na sequência, a faixa “Colas de Rata” ainda teve o frontman do Brujeria simulando o uso de cocaína, na reta final.

Outras duas pedradas do álbum “Raza Odiada” foram tocadas antes da pequena pausa do show. A primeira, “Revolución”, foi a de maior teor político crítico do setlist, com os ataques ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) e seus governos nos anos 1990 e as referências elogiosas aos indígenas e ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), responsáveis pelos levantes em Chiapas. 

Já a segunda foi a clássica “Consejos Narcos”, iniciada após um discurso em memória de Juan Brujo e Pinche Peach e uma sessão rápida de tragos em cigarros de maconha oferecidos pelos fãs após o sinal de El Sangrón - destaque para El Sativo, que chegou a fumar dois de uma vez, - e aprovados pelos membros da banda. O ato prosseguiu em alguns momentos da música, encerrados pela frase “Marijuana siempre si”.

A rápida pausa veio após as várias garrafas de água jogadas por El Cynico (Jeff Walker). O retorno, para os dois últimos triunfos veio a partir do áudio que inicia “Raza Odiada (Pito Wilson)”, uma narração de Jello Biafra que interpreta Pete Wilson e que simula as falas racistas e anti-imigratórias do político em questão, sendo respondido com ataques e ironias por Juan Brujo até o ato final de “matá-lo”. Cada resposta de Juan era gritada pelo público até o início da faixa, já com a banda de volta ao palco, que mostrou um som impecável em todos os pontos possíveis, acompanhada por mais cantos do público.

O ato final veio com a incontestável “Matando Güeros”, iniciada após El Sangrón repetir, por várias vezes, a pergunta “Matando quê?”, como um chamado para que o público desse seu último gás na pista. E a situação ficou ainda mais inflamada com o riff de El Criminal e, principalmente, quando o vocalista do Brujeria trouxe um facão para performar a faixa. A partir disso, os cantos da música se tornaram ainda mais altos e a roda, menos intensa nas últimas músicas, voltou com tudo e com a maior energia possível naquela noite. A felicidade do público foi tamanha a ponto de emendar danças malucas no final, quando “Marijuana”, uma paródia de “Macarena”, do grupo Los del Rio, foi tocada tanto para a apresentação dos integrantes, quanto para a finalização do show, que contou com El Sativo, filho de Juan Brujo, sendo ovacionado e mostrando o colete de seu pai, presente no suporte ao centro do palco, por uma última vez naquela noite. 

Parte do público ainda ficou por mais tempo tempo para pedir autógrafos e disputar palhetas e baquetas dos integrantes do Brujeria, num ato que reforçou ainda mais a gratidão da banda e a admiração mútua entre eles e o público paulistano. A energia e os ânimos esbanjados no local, de alguma forma, também deram um ar que Juan Brujo e Pinche Peach estavam ali, em forma de espírito, para também celebrar um legado que ainda é mantido pela banda e por uma base de admiradores e fãs. E se depender de ambas as partes, existirá por muito tempo.


Texto: Tiago Pereira 


Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta



Brujeria – setlist:

Brujerizmo

El desmadre

Hechando chingasos (Greñudos locos II)

Anti-Castro

Vayan sin miedo

La migra (Cruza la frontera II)

Ángel de la frontera

Chingo de mecos

Cristo de la roca

Desperado

La ley de plomo

Colas de rata

División del norte

Revolución

Consejos narcos

Bis 

Raza odiada (Pito Wilson)

Matando güeros

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Soulfly: Entre o Fogo e o Espírito

Shinigami Records (Nac.) / Nuclear Blast (Imp.)

Por Paula Butter

Enfim a oportunidade de apreciar o novo lançamento do Soufly, banda de longa data, fundada por Max Cavalera, após sua saída do Sepultura. É sempre uma expectativa boa, perceber os elementos característicos da banda, como parte da composição, bem como das letras, sempre muito bem trabalhadas e que refletem muito bem os ardores da humanidade. Max é sempre genial no que faz, talvez por isso o Soufly está na ativa a tanto tempo, sem contar alguns hiatos, claro, mas mesmo assim entrega, faz o dever de casa com maestria. 

Segundo o próprio vocalista, o álbum “Chama” é uma espécie de continuação do conceito apresentado em “Totem” de 2022. Inclusive já na música que dá nome ao álbum pode se perceber uma mistura de peso característico da banda, mas com riffs melódicos, seguindo uma linha mais instrumental do meio para o fim da canção. 

Destacam-se os elementos instrumentais, com solos de guitarras mais ao fundo, e objetos de percussão bem definidos e em destaque, contrastando com o peso dos vocais e o característico som Thrash e Groove Metal da banda. 

Com a finalidade de deixar as dicotomias mais claras dentre as dez faixas, destaco “No Pain = No Power”, quase um grito de guerra, “Favela/Dystopia” e a excelente “Nihilist”, dedicada a Lars Göran Petrov (ex-vocalista do Entombed, que nos deixou em 2021), como sendo as mais poderosas e pesadas do álbum, tanto nas letras quanto na música. Apesar da voz ter ficado um pouco em segundo plano, talvez propositalmente. Mas mesmo assim, dignas de serem cantadas em plenos pulmões ao vivo. 

Por outro lado, destaque para a mistura de ritmos e melodias em “Chama”, o single muito bem escolhido “Storm the Gates” digna do mainstream. Também convém citar os vocais em portugues, muito bem ritmados, na faixa “Always Was, Always Will Be”, esta última minha favorita do álbum. 

Para finalizar, as últimas canções fecham muito bem a obra, dando maior destaque ao instrumental e elementos ritualísticos culturais, com solos melodiosos de guitarra e diversidade de sons. A última canção, propriamente dita, lembra literalmente algo espiritual e complexo, deixando o ouvinte com um silêncio que lembra a noite, e nada mais. Uma obra impossível de ouvir apenas uma vez, e que vai agradar a todos os públicos do Heavy Metal. Para aqueles que não prestavam muita atenção a banda, chegou a hora de acordar!

Jim Louvau


Cobertura de Show: Skillet– 24/10/2025 – Audio/SP

A Audio, em São Paulo, viveu uma noite intensa na última sexta-feira (24), quando a banda cristã norte-americana Skillet subiu ao palco com a turnê Revolution. O público, que aguardava esse retorno há mais de dez anos, explodiu de euforia assim que soou o primeiro acorde.

Sem enrolação, a banda abriu o show com “Surviving the Game”, pegando todos de surpresa, pois muitos esperavam que o início fosse com “Showtime”, faixa que abre o novo álbum Revolution (2024). A partir daí, foi impossível respirar: riffs pesados, bateria precisa e vocais potentes fizeram o chão da Audio tremer.

Clássicos como “Hero”, “Awake and Alive” e, claro, “Monster” (o ponto alto da noite), incendiaram o público, que cantava cada verso em coro.

Um dos momentos mais emocionantes veio com “Never Surrender”, apresentada apenas com voz e piano, criando uma pausa sensível no meio da intensidade do setlist.

A sintonia entre banda e público crescia a cada música. Seth Morrison soltava solos de guitarra com precisão cirúrgica, enquanto Jen Ledger destruía na bateria e encantava com backing vocals arrepiantes. O clima era de celebração, daquelas em que se sente o poder da música em unir e levantar uma multidão.

Do novo álbum, apenas “Unpopular” entrou no set, mas com muita força, intercalando os grandes sucessos que todos esperavam. Celulares nas alturas, flashes cruzando o teto, cartazes, balões e um coro uníssono mostravam o quanto o público esperava por esse momento.

O Skillet entregou um show histórico e cheio de emoção, deixando um gostinho de “quero mais”. Que não seja preciso esperar mais dez anos para vê-los novamente em solo brasileiro.


Texto: Carlos Enriki

Fotos: Roberto Sant'Anna

Edição/Revisão: Gabriel Arruda / Aline Rojas


Realização: Numb Brasil Produções

Press: Catto Comunicação


Skillet – setlist:

Surviving the Game

Feel Invincible

Rise

Awake and Alive

Sick of It

Legendary

Ash in the Wind

Never Surrender

Whispers in the Dark

Lions

Those Nights

Hero

Not Gonna Die

Psycho in My Head

Comatose

Monster

Bis

The Resistance

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Battle Beast: Power Metal Com Força e Esperança

Shinigami Records (Nac.) / Nuclear Blast (Imp.)

Por Paula Butter

A banda Battle Beast pode ser considerada um exemplar do Power Metal atual, que sempre agradou, com constantes lançamentos, e apesar das mudanças em sua formação, sempre vai rumo ao contexto global do momento. E justamente em 2025, lança seu novo álbum Steelbound, trazendo força em um contexto atual de mudanças e conflitos bélicos. Entretanto, traz também mensagens de esperança e algumas alfinetadas políticas, como em “Twilight Cabaret”.

É inegável o talento da vocalista Noora Louhimo, já há bastante tempo na banda, que brilha em praticamente todas as faixas. Os riffs e pedais duplos voltados para o Hard Rock ainda estão muito presentes, ganham destaque na primeira música “The Burning  within”, que vem precedida da introdução estilo épico, que lembra muito a abertura da série televisiva “Game of Thrones”. Na sequência das faixas podemos perceber muita modernidade no som, com o uso, nada moderado, de sintetizadores, vocais fortes e melódicos, nada que desabone as composições. Inclusive este é o tipo de álbum que não dá vontade de apertar a pausa ou, para alguns dedos nervosos, acelerar para a próxima música.

Destaque para os solos de guitarras em “Blood of Heroes”, bem como na letra, que se encaixa perfeitamente na melodia. E é claro, é preciso falar do flerte com a música dos anos 80, que no caso de algumas faixas, como a própria “Steelbound” e “Angel of Midnight”, e se encaixam perfeitamente em um daqueles clássicos filmes da época, como a trilha sonora de “Streets Of Fire”, em português “Ruas de fogo”, de 1984. 

No quesito mais tradicional, destaque para a excelente “Last Goodbye”, que traz uma pegada bem na linha Metal/Hard Rock. De fato, todas as faixas são irresistíveis e mantêm um tempo de duração relativamente curto, que entrega dinamismo e ritmo acelerado, como se fosse um espelho do mundo atual.

Por fim, a fórmula Power Metal moderno do Battle Beast está cada vez mais consolidada e atraente para os ouvidos, com um material de qualidade, porém sem grandes pretensões, além de divertir e agradar aos fãs do gênero. 

Jarmo Katila



quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Entrevista - Peter118: O Punk Rock Internacional Para Brasileiro Ouvir

 

1. Olá Bruno. Obrigado pela sua gentileza em nos atender. Parabéns pelo lançamento do álbum “Rolling Stone”, pois o material ficou de primeira…

Muito obrigado! É um prazer enorme poder compartilhar um pouco mais sobre o que está por trás desse trabalho. “Rolling Stone” é um álbum que representa uma nova fase para o Peter118 e carrega bastante da nossa identidade musical e mensagem. Foi feito com muita paixão, honestidade e propósito, e ver que está sendo bem recebido nos deixa extremamente felizes.

2. Como você pode descrever o trabalho na composição deste tipo de sonoridade?

A composição nasceu de forma muito natural. Nosso objetivo era unir a energia crua do punk com melodias marcantes e letras que realmente comunicassem algo. A gente cresceu ouvindo punk britânico clássico e bandas dos EUA também, e quis trazer essa fusão para o nosso som, mas sempre mantendo a nossa essência. É um som direto, com riffs simples porém poderosos, refrões fortes e aquela pegada punk que não tenta agradar a todos, mas fala com quem precisa ouvir.

3. Eu escutei o material diversas vezes e, só após várias tentativas, consegui captar parte das suas ideias. Os fãs têm sentido este tipo de dificuldade também?

Acho que isso depende muito de quem está ouvindo. Por mais que a sonoridade seja punk e acessível, há várias camadas no nosso som — desde a mensagem das letras até a forma como estruturamos as músicas. Alguns fãs se conectam de imediato, outros precisam ouvir algumas vezes para captar toda a profundidade. E isso é algo positivo pra nós, porque significa que o álbum tem conteúdo e pode ser redescoberto a cada audição.

4. Existem planos para o lançamento de “Rolling Stone” no Brasil, no formato físico? Tivemos contato até agora, apenas o formato digital…

No momento não temos planos para um lançamento físico no Brasil. Hoje o streaming nos permite alcançar pessoas em qualquer parte do mundo de forma imediata e acessível, e todas as faixas já estão disponíveis nas principais plataformas digitais. Claro que, no futuro, podemos considerar versões físicas especiais, mas agora nosso foco é expandir ainda mais o alcance digital do álbum.

5. Adorei o fato de trabalharem com o inglês, mas isso não pode vir a atrapalhar vocês no mercado brasileiro?

Na verdade, acreditamos que é o contrário. Somos uma banda britânica e o inglês é a nossa língua principal — e isso também nos ajuda a alcançar públicos de diferentes países. Temos ouvintes não só no Reino Unido, mas também em vários países da Europa e no Japão, por exemplo. Cantar em inglês torna nossa música mais acessível globalmente e ajuda a espalhar nossa mensagem para muito além de uma única região.

6. Como estão rolando os shows em suporte ao disco? A aceitação está sendo positiva?

Está sendo incrível. Os shows têm tido uma energia muito forte e a resposta do público tem superado nossas expectativas. Temos participado de eventos importantes no Reino Unido, como o Slam Dunk Festival, e fizemos duas turnês pelos Estados Unidos com a The Extreme Tour. Também tivemos destaque em rádios como a Kerrang! no Reino Unido e em programas apresentados por nomes lendários como Rodney Bingenheimer em Los Angeles. Tudo isso mostra que o público está realmente se conectando com o álbum.

7. Quem assinou a capa do CD? Qual a intenção dela e como ela se conecta com o título?

A capa foi idealizada pela própria banda. A ideia era representar visualmente o conceito de “Rolling Stone”, que pra nós fala de movimento, de não parar, de estar sempre evoluindo. A arte reflete esse espírito de seguir em frente, continuar criando e levando nossa mensagem adiante, independentemente dos obstáculos.

8. “Rolling Stone” foi todo produzido pela banda, confere? Foi satisfatório seguirem por este caminho?

Sim, todo o processo de produção foi feito por nós, e isso nos deu liberdade total para experimentar e moldar cada detalhe do som exatamente como queríamos. É claro que é mais trabalhoso, mas ao mesmo tempo é extremamente recompensador, porque o resultado final reflete 100% a nossa visão artística. E isso é algo muito importante pra nós como banda punk: manter o controle criativo sobre o que fazemos.

9. Imagino que já estejam trabalhando em novas composições. Se sim, como está se dando o processo e como ele está soando?

Sim, estamos escrevendo novas músicas e explorando ideias para os próximos lançamentos. O processo continua sendo bastante colaborativo e natural — começamos com riffs e melodias simples e vamos construindo em cima disso. O novo material traz ainda mais energia e peso, mas sem perder a essência melódica e a mensagem que sempre buscamos passar. Estamos empolgados com o que está por vir.

10. Novamente parabéns pelo trabalho e vida longa ao PETER118…

Muito obrigado pelo apoio e pelas palavras! É muito gratificante ver que nosso trabalho está chegando a tantas pessoas. O Peter118 está só começando — temos muitos planos, novas músicas e turnês a caminho. Vida longa ao punk e obrigado por caminhar conosco nessa jornada!

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Entrevista - Grave Digger: O Ceifador Nunca Descansa

Jens Howorka

Por Amanda Misturini

O Grave Digger, neste ano de 2025, comemora 45 anos de carreira. Sob a liderança do vocalista Chris Boltendahl, a banda ajudou a moldar a cena do metal germânico ao lado de nomes como Running Wild, Accept e Helloween, com suas guitarras pesadas, vocais potentes e letras que abordam temas como mitologia, guerras, morte e diversos aspectos históricos. Entre os álbuns mais cultuados pelos fãs está o disco de estreia Heavy Metal Breakdown (1984), um marco do heavy metal alemão naquela época. 

Atualmente com uma nova formação, o grupo retorna ao Brasil no próximo mês de novembro para quatro apresentações em diferentes capitais. A poucas semanas de desembarcar no país, Chris Boltendahl conversou com a Road To Metal em um breve bate-papo que você confere a seguir:

A banda está em uma nova fase com mudanças na formação. Como essa renovação impactou o som e a energia do Grave Digger no palco e no estúdio?

Chris Boltendahl: Foi um impacto muito bom, porque o Tobias Kasten é o novo guitarrista e ele também é um grande fã de heavy metal e ama o Grave Digger. Ele consegue apresentar o som que nós amamos. Estamos, mais ou menos, de volta ao som característico da banda. Somos guitarra, baixo, bateria e vocal, não usamos mais teclados no palco. Então, sim, é heavy metal puro. E com o Tobias, estamos de volta a esse tipo de som. 

Nayara Sabino

Sobre o teclado, eu tenho uma pergunta a respeito disso. Por muitos anos, o Reaper - interpretado pelo ex-tecladista Katzenburg -, foi uma presença marcante nos shows ao vivo do Grave Digger, dando à banda uma identidade visual única e sombria. O que levou vocês a pararem de incluir esse personagem nas performances recentes? Vocês sentem falta desse elemento teatral no palco?

Chris Boltendahl: Há uma razão bem simples para isso. O Reaper não é o baterista (risos). O H.P. Katzenburg saiu da banda em 2014, porque passou a se dedicar bastante ao teatro e não queria mais fazer turnês. Por isso, o técnico de palco e o roadie de bateria, Marcus Kniep, entrou para a banda como tecladista e também interpretava o mascote Reaper. 

Quando o Stefan Arnold saiu da banda, lembramos que o Marcus também é um ótimo baterista. Então ele assumiu a bateria, e o Reaper desapareceu (risos). Agora usamos o Reaper apenas nas capas, mas ao vivo estamos sem teclados. Está sendo muito divertido tocar novamente como um quarteto.

Nayara Sabino

Como funciona o processo de composição com a sua esposa, e quanto essa parceria influencia o som atual do Grave Digger?

Chris Boltendahl: O Tobias tem, mais ou menos, a mesma visão que eu sobre como a banda deve soar. Quando começamos a criar uma música, eu passo algumas ideias para ele e ele volta com suas ideias de guitarra, então eu digo 'hey, a letra da música vai por este caminho, e este é o título'. Aí criamos tudo como se fosse um jogo de Tetris, vamos colocando peça por peça e no final, no topo, temos uma nova música do Grave Digger. 

Temos uma boa parceria na composição, é muito divertido. No momento, estamos criando algumas músicas novas para o próximo álbum e, até agora, está ficando um pouco diferente do último. Não será um álbum conceitual, mas, musicalmente, terá um som um pouco diferente, e não de um jeito ruim. 

Nayara Sabino

O Grave Digger tocou pela primeira vez no Brasil em 1997. Quais são as suas lembranças mais marcantes dessa experiência? E como você vê a evolução do público brasileiro desde então?

Chris Boltendahl: 1997 foi divertido, porque estávamos lá com o Rage. Tocamos dois shows em São Paulo e um em Buenos Aires. Lembro que o promotor organizou tudo muito bem para as bandas, mas esqueceu de fazer a divulgação (risos). Acho que, na primeira noite, havia cerca de 300 pessoas, e na segunda, por volta de 600. 

Ele acabou perdendo muito dinheiro, porque trazer duas bandas para o Brasil, com hotel, voos e tudo mais, custava bastante. Fico realmente sentido por ele, mas foi um erro dele não fazer nenhuma promoção. Mas, para as bandas, foi ótimo, porque era a primeira vez de ambas na América do Sul. Nos divertimos muito, e acho que os shows foram muito bons, sim.

Nayara Sabino

A capa do novo álbum, Bond Collector (2025) - assim como os singles lançados anteriormente -, chamou atenção por terem sido criadas com o uso de inteligência artificial, um contraste marcante em relação às capas anteriores feitas por ilustradores. O que motivou essa escolha? E qual você considera ser a principal diferença desse processo em comparação com as formas de arte tradicionais que acompanharam a trajetória do Grave Digger?

Chris Boltendahl: O engraçado é que a maioria dos artistas, hoje em dia, também usa inteligência artificial. Para mim, um cara das antigas, foi tipo 'ah, existe uma nova ferramenta, chama-se IA'. Então eu estava sentado no computador, abri um programa com IA e comecei a testar: 'ok, o Reaper está em um trono, há alguns pássaros, árvores, um castelo ao fundo...', e aí surgiu a primeira capa. Eu olhei e pensei 'uau, isso está ótimo! Vamos fazer a próxima.' E é como se você ficasse viciado nisso, criando capas e mais capas. Fiz isso por dois dias, oito horas por dia, e no final eu tinha umas 600 capas (risos). Mas a única que realmente se destacou foi a que acabamos usando. Eu pensei 'ah, essa combina perfeitamente com a música.' 

Nem parei pra pensar no que as pessoas iam achar sobre o uso de IA ou algo assim. Então entreguei o material para a gravadora, e aí veio uma tempestade de críticas (risos). Mas eu sou um cara honesto e disse: 'sim, usei IA.' Agora nós já terminamos o novo álbum, e ele foi, ou está sendo feito novamente por um ilustrador. 

Eu sei que as pessoas podem usar ferramentas de IA para analisar e descobrir se uma capa foi feita com inteligência artificial, mas, com a nova, isso não será possível. É 0% IA, é pintura mesmo. Ela também é bem diferente da última, mas ainda falta um ano para vocês poderem vê-la (risos).

Nayara Sabino

Nesta turnê especial de 45º aniversário, o que os fãs da América Latina podem esperar do setlist? Vocês vão focar mais nos lançamentos recentes, como Bond Collector, ou será uma jornada completa pela história do Grave Digger?

Chris Boltendahl: Não será uma jornada completa, vamos deixar de fora todos os álbuns que fizemos com o Axel Ritt. Tocaremos principalmente músicas dos anos 80 e 90, além de faixas do início, como do álbum "Heavy Metal Breakdown" (1984), "The Reaper" (1993), "Tunes of War" (1994) e assim por diante. Também incluiremos duas ou três músicas do álbum Bond Collector. Então, é um setlist muito bom! Já apresentamos esse repertório aqui na Alemanha e em outros países neste ano, e o público adorou!

Nayara Sabino

Ótimo! E a última pergunta de hoje: estou usando uma camiseta da banda Hellway Train, que é de Belo Horizonte e uma das maiores bandas de heavy metal do Brasil atualmente. Eles serão a banda de abertura para o Grave Digger em Curitiba. Qual é a sua opinião sobre o heavy metal brasileiro, ou sobre o heavy metal moderno em geral, e como você vê sua evolução nos dias de hoje?

Chris Boltendahl: Não estou tão familiarizado com o heavy metal moderno. Conheço várias bandas que tentam trazer de volta o espírito dos anos 80, bandas novas que não nasceram nos anos 80, mas que tentam tocar músicas daquele período. Isso é bem engraçado, porque eu penso que, para realmente transmitir o espírito dos anos 80, você precisa ter nascido naquela época (risos). 

De qualquer forma, existem muitas bandas divertidas, e também a Hellway Train. Vou ter que ouvi-los quando a entrevista acabar. Acho que será ótimo ter bandas brasileiras conosco na turnê. A maior que conheço do Brasil é o Sepultura, mas também conheço o Angra. Acho que essas são todas as bandas brasileiras que conheço. Então, farei algumas experiências durante a turnê para descobrir como soam as bandas.

SERVIÇO BRASÍLIA

Data: 11/11/2025 – terça-feira

Horário: 18h

Local: Toinha Brasil Show

Endereço: SOF Sul Quadra 9 SN, Conjunto A – Guará, Brasília – DF

Classificação etária: 18 anos

Venda: https://101tickets.com.br/events/details/Grave-Digger-e-Ambush-em-Brasilia


SERVIÇO CURITIBA

Data: 11/11/2025 – quarta-feira

Horário: 18h

Local: Tork n’ Roll

Endereço: Av. Mal. Floriano Peixoto, 1695 – Rebouças, Curitiba – PR

Classificação etária: 18 anos

Venda: https://101tickets.com.br/events/details/Grave-Digger-e-Ambush-em-Curitiba


SERVIÇO SÃO PAULO

Data: 14/11/2025 – sexta-feira

Local: Carioca Club

Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, 2899 – Pinheiros, São Paulo – SP

Venda: https://uhuu.com/


SERVIÇO LIMEIRA

Data: 15/11/2025 – sábado

Local: Mirage

Endereço: Av. Prof. Joaquim de Michieli, 755 – Jardim Esmeralda, Limeira – SP

Venda: https://www.circleofinfinityproducoes.com/gravedigger/

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Cobertura de Show: The Dead South – 18/10/2025 – Tork N' Roll/CWB

Noite de sábado em Curitiba, que prometia ser diferente. Afinal, o tão aguardado show dos canadense do The Dead South estava na cidade. A turnê foi uma realização da Powerline Music & Books, Sellout Tours e Áldea Produções. Inclusive, o dia ficou cravado na agenda, 18 de Outubro de 2025, no Tork N’ Roll, local excepcional para shows em Curitiba. Mesmo com a chuva constante, antes das 19 horas já havia uma fila considerável no local. 

Além da atração principal, o público curitibano estava em peso para prestigiar a Hillbilly Rawhide, banda de country rock de Curitiba. Portanto, assim que as portas do local abriram, já haviam muitas pessoas em frente ao palco, animadas por conseguir um lugar privilegiado para assistir ao evento. Entretanto, nas laterais ainda havia lugares vagos, para aqueles que gostam de ficar frente a frente com as bandas, mesmo que tenham alguns equipamentos atrapalhando a visão completa. 

Hillbilly Rawhide subiu ao palco pontualmente às 20 horas, com a casa quase cheia. Lembrando que a banda possui 23 anos de carreira e é responsável por várias músicas que já moram na cultura do público brasileiro. Nada mais justo serem a banda para abrir para o The Dead South, a atração principal da noite. O grupo começou animado, contagiando o público, e muitos já cantando junto os clássicos da banda, como “O Enxofre e a Cachaça”, “A Balada do Homem Morto” e o ponto alto do show “Uma Cerveja, Uma Cachaça E Um Remedinho”, hino antigo de muitos ali presentes. 

É sempre um presente quando a noite já começa com simpatia e aquela nostalgia que só quem conhece sabe. Após os agradecimentos ao público, a banda encerra sua apresentação sendo ovacionada por todos.

A organização do local estava muito bem feita, com bebidas e comidas ao agrado de todos. A pausa entre bandas foi curta, mas tempo suficiente para uma volta no local, que também conta com lojas de camisetas, adega, tatuagem, mais parecendo uma praça de alimentação com uma estação central com chopp e com grande diversidade de drinks e rótulos. O público presente era formado por muitos fãs caracterizados com o estilo das bandas, foi um verdadeiro desfile de estilo, todos muito bem arrumados no estilo Folk e Velho Oeste que caracteriza o The Dead South.

Finalmente, com vinte minutos para o início do show, a movimentação nos bastidores era alta, muita organização na hora de posicionar os instrumentos próximos ao palco, que um comentário à parte, eram uma obra de arte. O único incômodo na espera, para os presentes mais a frente do palco, foi o calor, que apesar da noite fresca e chuvosa, estava quase insuportável. Mas nada que estragasse a espera, afinal, diante de tantas pessoas, os sistemas de ar condicionados não deram conta do recado. 

Mas tudo foi contornado, quando às 21:15 em ponto, a banda The Dead South subiu ao palco. E com animação de estreante, os músicos mostraram sorrisos e simpatia para com os fãs presentes. A formação atual da banda conta com Nate Hilts nos vocais principais, violão e bandolim, Scott Pringle no violão, bandolim e também vocais, Colton Crawford no banjo e Danny Kenyon no violoncelo e vocais. Apesar das mudanças da formação, os músicos mostraram total sincronia nas músicas, apesar de uma certa postura mais contida no começo do show. Mas é comum para muitas bandas, uma certa  demora para mostrar se a vontade ao palco e fazer a conexão emocional com a platéia. 

Impossível não mencionar a perfeição com a qual as canções foram executadas, inclusive a questão da timidez, foi totalmente esquecida após trinta minutos de apresentação. Grande parte culpa do público, que aplaudia sem parar cada vez que um dos músicos mostrava seu talento naqueles instrumentos tão hipnotizantes. Para aqueles que não estavam acostumados com o gênero musical, foi uma virada radical, mas de uma maneira positiva, os comentários gerais eram a respeito de como se faz música de verdade.

E não faltaram pontos fortes, pois a animação só aumentava, à medida que os clássicos da banda eram executados, “20 Mile Jump”, “That Bastard Son”, “Time for Crawlin’”, entre outras. E dificilmente pude presenciar o Tork N’Roll tão cheio de pessoas dançando e cantando. Casais comemorando com os pés em movimento, amigos fazendo rodinhas dançantes. Tudo foi um show, durante a execução das músicas “A Little Devil” e a famosa “In Hell I´ll Be In Good Company” o lugar ferveu e já não se achava mais ninguém parado naquela noite.

No final, uma pausa e o encerramento da noite com honras, com a execução de “Travellin’ Man” e “Banjo Odyssey”. A conclusão foi que os canadenses do The Dead South vão deixar saudades, com seu rock, bluegrass, folk, enfim, uma experiência musical e imersiva única.


Texto: Paula Butter

Fotos: Vladimir Silverio

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Agência Powerline / Sellout Tours / Aldeia Produções

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


The Dead South setlist 

Snake Man Pt. 2

20 Mile Jump

Son of Ambrose

Boots

Yours To Keep

Time for Crawlin'

The Recap

Father John

That Bastard Son

Black Lung

A Little Devil

Broken Cowboy

In Hell I’ll Be in Good Company

Honey You

Bis

Clemency

Completely, Sweetly

Travellin’ Man

Banjo Odyssey

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Exodus – 09/10/2025 – Carioca Club/SP

Algumas pessoas, inclusive amigos próximos, sempre fazem aquela pergunta: "Ué, você já viu essa banda antes, por que vai de novo?". Sinceramente, acho esse questionamento totalmente fútil e sem noção. Em tempos de tantas perdas e com bandas que marcaram nossa vida deixando de fazer turnês e shows ao vivo, temos mais é que aproveitar todas as oportunidades de vê-las enquanto ainda podemos. 

E foi exatamente isso que eu fiz: lá fui eu, mais uma vez, ver o Exodus ao vivo. Um ano após sua participação no festival Summer Breeze, agora sob o selo do Bangers Open Air, a banda retornou a São Paulo para mais uma apresentação, daquelas impossíveis de descrever em palavras.

Assim como nas outras vezes em que fizeram shows solo no Brasil, o local escolhido para receber os thrashers da Bay Area foi o Carioca Club. Próxima a uma estação de metrô, a casa é palco dos principais shows de heavy metal e rock em São Paulo nos últimos 10 ou 15 anos. 

O público compareceu em peso, mesmo sendo uma quinta-feira, o que já era esperado desde o anúncio em julho. Se não esgotou, faltou pouco, pois mal dava para se mover no recinto de tanta gente que tinha. Nos dias que antecederam o show, a organização já vinha alertando que restavam apenas poucos ingressos, refletindo exatamente no que foi ditou a pouco. 

Vale sempre destacar a importância da logística de horários, especialmente nos dias de hoje, em que está cada vez mais raro ver produtoras e casas de shows respeitarem os horários anunciados. Atrasos grotescos têm se tornado comuns e afetam diretamente o público, que muitas vezes depende do transporte público para voltar para casa com segurança. 

Nesse sentido, a LivinStage, em parceria com a Honorsounds, merece elogios. Tudo foi respeitado, desde a abertura das portas até o início, demonstrando total profissionalismo e comprometimento.

Como é comum em shows de bandas consagradas, a noite contou com uma banda de abertura local, e a escolhida para essa missão foi o Throw Me To The Wolves. Sim, o nome é um pouco complicado, mas ao menos foge do padrão genérico de muitos nomes atuais. 

Na ativa desde 2023, o grupo apresenta uma sonoridade bem diferente da atração principal, com um death metal moderno, técnico e com melodia. Em cerca de meia hora de apresentação, tocaram faixas do recém-lançado (e primeiro) álbum Days of Retribution. O som, no geral, estava satisfatório, apesar de alguns problemas técnicos, principalmente no bumbo da bateria, que ficou inaudível em certos momentos.

Nada disso, porém, comprometeu o brilho do show e o desempenho dos integrantes, com destaque para o vocalista Diogo Nunes, que entregou vocais raivosos e intensos, e o guitarrista Guilherme Calegari, que comandou os riffs pesados com segurança. 

A casa já estava consideravelmente cheia para recebê-los. Parte do público já conhecia o trabalho da banda e até os havia visto em outras ocasiões; outros ainda não tinham tanto contato com o som do grupo, o que resultou em uma recepção um pouco tímida. Ainda assim, foi uma ótima oportunidade para conhece-los, pois trata-se de uma banda promissora, que ainda vai dar muito o que falar.

O único ponto negativo ficou por conta da iluminação, muitas vezes escura demais, o que dificultou o trabalho dos fotógrafos. Tirando isso, uma excelente apresentação, à altura do papel de banda de abertura.

Devidamente aquecidos, restava apenas aguardar as grandes estrelas da noite. Muitos dos presentes já sabiam o que esperar do setlist, anunciado de forma clara pelo backdrop com a arte do Bonded by Blood. Lançado em abril de 1985, o disco ajudou a definir o caráter do thrash metal e, mesmo após 40 anos, continua soando atemporal e influenciando novas gerações. 

Tudo isso fez ainda mais sentido quando, pontualmente às 21h, a banda entrou, em alto e bom som (como deve ser um show do Exodus), com a clássica faixa-título e a explosiva “Exodus”, que rapidamente empolgaram a multidão espremida na pista, onde mal se conseguia dar um passo ou fazer qualquer movimento. Melhor início como esse impossível. 

Quem já teve a chance de ver o Exodus ao vivo sabe exatamente como é a experiência. Sabe aquele famoso ditado “onde o filho chora e a mãe não vê?” Pois é, é bem isso. 

A cada música anunciada, o público reagia com fervor, celebrando e exaltando cada faixa como um hino. A sequência com “And Then There Were None” (com o tradicional “ô, ô, ô” entoado pela plateia), “A Lesson in Violence” e “Metal Command” traduziu perfeitamente essa energia. 

Apesar de essas músicas já serem matadoras por si só, o impacto não seria o mesmo sem a competência de Gary Holt (o melhor guitarrista de thrash metal da história, sem exagero), Lee Altus (guitarra), Tom Hunting (bateria), Steve Brogden (baixo, substituindo temporariamente Jack Gibson por conta de um problema familiar) e Rob Dukes (vocal). 

Aliás, falando no Rob, que mais uma vez vem substituindo Steve “Zetro” Souza com excelência, foi o que mais interagiu com o público e incendiando ainda mais a atmosfera do show.

Mas, claro, o show não ficou restrito somente no celebrado álbum. A partir da metade do set, a banda resgatou faixas de discos posteriores, além de algumas surpresas que nem chegaram a ser tocadas no show da Argentina. 

A primeira delas foi a excelente “Iconoclasm”, única representante da fase com Rob Dukes, retirada do álbum The Atrocity Exhibition: Exhibit A (2007), e com o brasileiro Gerson Polo assumindo o baixo. Ele permaneceu no palco também em “Blacklist”, que já vinha sendo executada na turnê, e em “Fabulous Disaster”, outra surpresa inesperada no set.

Essas duas renderam os momentos mais marcantes da noite, engrossando ainda mais o caldo e elevando o vapor que vinha da roda no centro da pista. Em “Blacklist”, aconteceu a cena mais divertida do show: Rob e Steve seguraram e tocaram a guitarra de Gary Holt enquanto ele tomava uma cerveja – sem álcool, claro, já que ele está sóbrio há bastante tempo. 

Já “Fabulous Disaster” foi recebida com todos os tipos de palavrões imagináveis pela plateia. E, pessoalmente, esse foi o momento mais afetivo para mim também, já que essa música faz parte do primeiro disco, de mesmo nome, que ouvi do Exodus.

Com uma breve melodia de Gary Holt e Tom Hunting brincando com a plateia, como se estivessem regendo uma orquestra, “No Love” regressou ao Bonded by Blood com estilo e com a mesma performance impecável que marcou o início do show, ou seja, impecável. “Deliver Us to Evil”, dedicada ao lendário Paul Baloff, foi antecedida por uma breve apresentação da banda e emendada com a clássica “Piranha”, que já foi regravada por diversas bandas, entre elas o Sepultura. 

A execução contou novamente com a participação de Fábio Seterval, vocalista do Funeral Blood (tributo ao Exodus). Para quem assistiu ao show anterior da banda no Summer Breeze, a lembrança veio de imediato. Um detalhe curioso em Piranha foi a iluminação. Em boa parte, o palco ficou bem escuro. Não se sabe se foi de propósito ou por erro técnico, mas tudo voltou ao normal no final da canção.

Antes de encerrar o show – e, consequentemente, o álbum – a banda preparou uma trinca destruidora com “Brain Dead”, “Impaler” e “The Toxic Waltz”. Um fato interessante sobre “Impaler”, que muita gente ainda desconhece, é que ela foi composta por Kirk Hammett (hoje no Metallica) durante seu tempo no Exodus. 

O riff principal, inclusive, foi reaproveitado em “Trapped Under Ice”, faixa do Metallica no álbum Ride the Lightning (1984). Em “The Toxic Waltz”, rolou a “pegadinha do malandro”: a cada vez que a banda anunciava a música, eles fingiam que iam sair do palco ou tocavam os riffs de “Raining Blood” (Slayer) e “Motorbreath” (Metallica), arrancando risadas da plateia com a brincadeira.

E, como não poderia faltar, o encerramento bombástico veio com “Strike of the Beast”, acompanhada do clássico “Olê, olê, olê, Exodus!” entoado pela plateia e replicado pela guitarra de Gary Holt. Um final à altura de uma noite inesquecível.

Nem todas as bandas gostam de fazer turnês comemorativas centradas em um álbum específico. Afinal, esse tipo de show costuma deixar de lado outras músicas importantes da carreira. 

Mas, no caso de Bonded by Blood, a proposta foi mais do que justa, sendo uma oportunidade única de ouvir o disco sendo executado ao vivo ao invés da versão regravada (Let There Be Blood), que considero o maior erro da história da banda.

E falando da banda, trata-se de um ponto fora da curva. Sempre defendo que eles mereciam muito mais reconhecimento do que algumas bandas que compõem o chamado “Big 4” do thrash metal americano. Infelizmente, alguns atrasos e circunstâncias acabaram impedindo o grupo de alcançar esse mesmo patamar de sucesso.

No fim das contas, assistir a um show do Exodus só aumenta a vontade de vê-los novamente. É uma daquelas bandas pelas quais eu pagaria ingresso quantas vezes fosse necessário. Agora, resta aguardar o novo álbum, previsto para o ano que vem.

Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Roberto Sant'Anna


Realização: LivinStage / Honorsounds

Press: Hoffman & O' Brian


Exodus – setlist:

Bonded by Blood

Exodus

And Then There Were None

A Lesson in Violence

Metal Command

Iconoclasm

Blacklist

Fabulous Disaster

No Love

Deliver Us to Evil

Piranha

Brain Dead

Impaler

The Toxic Waltz

Strike of the Beast