quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Skáld – 12/09/2025 – Carioca Club/SP

A noite de 12 de setembro de 2025 foi um momento especial para os fãs de folk em São Paulo. O palco do Carioca Club recebeu a estreia da banda francesa Skáld, acompanhada pela abertura do show feita pela banda paulistana Yön. A casa recebeu um público diverso, unido pela paixão por uma sonoridade que mistura história, espiritualidade e ancestralidade. O ambiente estava carregado de expectativa e vibração, com muitos fãs trajando roupas temáticas, contribuindo para uma atmosfera imersiva. 

A Yön abriu a noite com uma apresentação marcante. Formada por Aline Reis (voz e percussão), Bea Três (voz e violões), Carol Encanto (voz, percussão e guitarra), Janine Plis (voz, percussão e violão), Luana Carvalho (voz e percussão) e Silvia Lozano (voz e cello), o grupo mergulhou nas Eddas Poéticas e trouxe ao público sua interpretação única do folk nórdico. O ponto alto veio logo no início, quando apresentaram ao vivo I Riden Så, single lançado no mesmo dia, o segundo lançado por elas este ano. A recepção calorosa demonstrou a conexão profunda entre a banda e o público, que acompanhou cada batida e cada vocal com atenção quase ritualística. 

Na sequência já com o palco e o publico aquecidos, foi a vez do Skáld estrear em solo brasileiro. 

Criado em 2018 por Christophe Voisin-Boisvinet, o grupo é conhecido por cantar em nórdico antigo e explorar idiomas escandinavos, sempre com arranjos que dão vida às lendas vikings. A performance foi grandiosa, marcada pelo uso de instrumentos tradicionais como a nyckelharpa, talharpa e hurdy-gurdy, que transportaram os presentes diretamente para o universo das sagas. 


O show começou com uma apresentação bem ritualistica dos membros da banda entrando em silencio iniciando a introdução com a queima de um incenso feito no centro do palco e logo em seguida a apresentação da inicio com força em Odinn, criando de imediato uma atmosfera intensa. Ao longo da apresentação, clássicos como Yggdrasill, Mánin Liður e Ljósálfur deram ritmo à noite, mas foi em Ó Valhalla que o público explodiu em empolgação, cantando junto em uníssono e transformando a música em um verdadeiro hino coletivo. 


O setlist extenso incluiu ainda faixas como Fimbulvetr, Herr Mannelig e Gleipnir, encerrando a apresentação de forma grandiosa. 



A noite no Carioca Club consolidou-se como um encontro histórico para a cena folk no Brasil. O contraste entre a força emergente da Yön e a experiência internacional do Skáld mostrou a vitalidade do gênero. Para os fãs que estiveram presentes, foi mais do que um show: foi uma viagem no tempo, um mergulho nas tradições do norte e uma celebração da música como elo entre culturas e gerações.


Texto: João Viking

Fotos: Paula Cavalcante para o Heavy Metal Online e Metal no Papel 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Overload Brasil 

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Skáld – setlist:

Heiemo og Nykkjen

Ódinn

Yggdrasill

Hross

Mani Liour

Sækonungar

Ó Valhalla

Ljósálfur

Rún

Då månen sken

Fimbulvetr

Elverhøy

Níu

Hafgerðingar

Jörmungrund

Hinn mikli dreki

Draumakona

Troll Kalla Mik

Grótti

Her mannelig

Bis

Gleipnir

Cobertura de Show: Pestilence & Cancer – 10/09/2025 – Burning House/SP

Pestilence e Cancer estavam no radar de uma junção praticada há tempos atrás e que faz falta atualmente. Anunciado como "The True Faces of Death Latin America 2025", fizeram um encontro de uma geração que tinham essas bandas como desbravadoras de um jeito único tocar na cena Death Metal, e que por ventura, alguns encontros no Brasil e em São Paulo aconteceram e deixam saudades: Kreator e Destruction, Sadus e Obituary, Sodom e Nuclear Assault, entre os anos de 2000 e 2010, no qual estive presente em ambos. Desta vez, o Burning House foi o local a lotar a casa no meio de uma inevitável quarta feira de setembro para presenciar essas duas bandas clássicas do século passado juntas. 

Havia uma expectativa para banda de abertura desse show, até ser anunciado de forma muita honesta e merecida os caras que vem ralando desde 2016: Podridão

O trio fez as honras de abrir a noite após a turnê na Europa em julho, onde tocaram na edição de 2025 do Obscene Extreme Festival, na República Tcheca. O guitarrista Ivi “Rotten Flesh” fez estrada com Beyond the Grave há 25 anos atrás até chegar nesse projeto que varreu o território nacional nas turnês incansáveis, passando por mudanças na formação até consolidar-se como um dos nomes mais fortes que temos na cena em se tratando de Death Metal Old School com o apoio do Roldão da Kill Again, Brasilía/DF. 

A banda estava bem a vontade com palco e se destacou pela potência em que agride com afinações baixas, velocidade Repugnant Fat na bateria e os vocais de Putrid Dick. Tocaram no total nove sons, variando a fase de singles, músicas do split com Convulsive e aproveitaram o recém lançado Coffin of the Corrupted Dead (2025) – quarto álbum de estúdio – para tocar "Dissolved into Viscous Ruin". Destaque também para "Verminosis Faecalis", "Hurban Cannibalism" e "Cadaveric Impregnation".

O Cancer entrou em seguida e fez um show impecável. A formação com John Walker (vocal/guitarra), Robert Navajas (guitarra), Daniel Maganto (baixo) e Gabriel Valcázar (bateria), somado aos riffs do passado deixado por James Murphy (ex-Death, Obituary) trouxeram para o palco uma sonoridade muito equilibrada de timbres, fiel a mesma qualidade dos discos de estúdio daqueles clássicos imbatíveis dos anos 90, To the Gory End e Death Shall Rise. 


Mantendo a mesma cadência, técnica e peso, certamente foram os pontos mais altos da noite foram em "Into the Acid", "Tasteless In-cest", "Hung, Drawn and Quartered", "C.F.C." e "Death Shall Rise", que levantaram o público na pista. Destaque também para o álbum recente, Inverted World (2025), com "Enter the Gates", "Inverted World", "Amputate", "Covert Operations" e "Corrosive". Os vocais de Walker continuam brutais e está muito bem fisicamente, deixando aquela impessão da banda como um todo está se cuidando para ter mais longevidade nos palcos e no estúdio.

Pra fechar a quarta-feira, era a vez do Pestilence fazer sua parte e cumprir a missão da noite nostálgica. Mesmo com alguns ajustes no equipamento nas primeiras músicas, a banda acertou o som após a intro “In Omnibvs”, seguida de “Morbvs Propagationem”, do disco Exitivm (2021), já mostrando como a técnica e sincronia com o tempo do som e vocais são bem difíceis de executar ao vivo. 

O vocal de Patrick Mameli – único da formação original e com visual parecendo ter acabado de sair da academia – foi colocado a prova na clássica “Dehydrated” e “Chronic Infection”, músicas do disco Consvming Impvlse (1989), sustentando a agressividade do show até o final. A banda se soltou e Mameli agradecia já chamando o público a participar mais. Mandaram “Resurrection Macabre”, de 2009, puxando clássicos como “Out of the Body” – do consagrado clipe na MTV – e “Free Us From Temptation”, do disco Testimony of the Ancients (1991), foram algumas pedradas que segurou mais o público. Aos poucos, por conta do horário e do transporte público, o público foi deixando o local perto do Pestilece finalizar o repertório.

Foi uma noite muito satisfatória, com casa cheia e público muito agradecido de viver uma oportunidade única que não acontecia há anos em São Paulo. Foi uma nostalgia, e o formato do evento só agregou o público e as bandas, fortalecendo e engrandecendo  mais uma vez o Burning House, casa de show que está no epicentro de bandas que gostamos de assistir, com pontualidade e ótima logistica de acesso no centro de SP.



Texto: Roberto "Bertz"


Edição/Revisão: Gabriel Arruda





Podridão – setlist:

Darkness Swallows the Light

Hurban Cannibalism

Dissolved into Viscous Ruin
 
Tomb of Repugnant Stench 

Bind, Torture, Kill

Chronic Gonorhea 

Regurgitate Hellish Maggots
 
Verminosis Faecalis 

Cadaveric Impregnation


Cancer – setlist:

Enter the Gates

Inverted World

Amputate

Into the Acid

Tasteless Incest

Ballcutter

Garrotte

Covert Operations

Corrosive

Hung, Drawn and Quartered

C.F.C.

Death Shall Rise


Pestilence – setlist:

In Omnibvs

Morbvs Propagationem

Dehydrated

Chronic Infection

Resurrection Macabre

Horror Detox

Out of the Body

Free Us From Temptation

Prophetic Revelations

Sinister

Devouring Frenzy

Sempiternvs

Deificvs

Blood

Land of Tears

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Timo Tolkki – 12/09/2025 – Rooftop Galeria do Rock/SP

O nome Timo Tolkki é um daqueles nomes que normalmente se dividem entre a parcela que o desconhece completamente e aqueles que não só o conhecem, como entendem sua importância para o que temos hoje do power metal melódico. Isso porque, juntando-se em 1985 ao Stratovarius, o guitarrista (que também desempenhou a função dos vocais nos primeiros anos) ajudou a sedimentar, pelos 23 anos seguintes, todo um subgênero, sendo creditado ao lado de grandes como o Helloween, como pertencente a esta primeira geração.

Riffs rápidos, melodiosos e cheios de personalidade sempre foram características do músico, que já figurou em listas entre os guitarristas mais rápidos do mundo, deixando sua clara marca pelo Stratovarius através dos anos, até sua saída em 2008. Mas engana-se quem pense que o mesmo fica “apenas” creditado às obras de sua banda passada, tendo construído distintos projetos como o Revolution Renaissance e o Avalon, projetos que trouxeram diferentes participações como Michael Kiske, Tobias Sammet, Russell Allen, Tony Kakko e por aí vai.

Tudo isso para dizer que, ao refletir sobre o nome do músico, é inegável o impacto e a ligação deste com sua antiga banda mais icônica, mas que o tempo e suas outras produções contribuíram também para o reconhecimento como essa figura celebrada pela sua contribuição e contínuo desenvolvimento para a cena do metal. E não é absurdo compreender também o quanto esta história não só é reconhecida, como celebrada pelo brasileiro, especialmente dada a ligação com o gênero.

Desta forma, uma passagem do artista pelo nosso solo parecia um momento oportuno para celebrar sua história e possibilitar o contato do público com essa figura, algo que, inicialmente, acabou por sofrer contratempos e frustrações, uma vez que a turnê marcada para meados de março havia sido cancelada devido a problemas de saúde enfrentados pelo músico, especialmente em sua luta contra a diabetes tipo 2, que traz diferentes desafios, incluindo de mobilidade.

Com o tempo e recuperado, a turnê que parecia não ocorrer ganhou novas datas e lugares, espalhada por treze cidades brasileiras, cobrindo do sul ao nordeste do país. Falando especificamente de São Paulo, o show ficou marcado para acontecer na emblemática e histórica Galeria do Rock, dentro de seu recente espaço Rooftop Galeria do Rock, promovendo não só uma experiência única pela vista, mas também uma proposta diferente que contou com open bar para os pagantes e uma estrutura que propiciava um momento mais íntimo.

A grata surpresa da noite se deu pela abertura, a cargo de um super time que contou com Gus Monsanto nos vocais, Cesário Filho na guitarra, Bruno Sá no teclado e backing, Cristiano Gavioli no baixo e Rodrigo Martinho na bateria. Digo surpresa pois, apesar dos nomes de Gus e Cesário serem creditados no flyer como “participação especial”, não havia se deixado claro que haveria uma apresentação completa previamente ao show, o que inclusive acabou confundindo algumas pessoas sobre os horários reais de seu início.

Pois, pouco após as 20h, horário programado para o início, subiam ao palco do Rooftop os músicos, em um clima realmente pouco usual: um público até então espalhado, sentado entre conversas e bebidas, que ia se enfileirando pelo espaço, onde, para além do palco, era possível contemplar a bela vista para os arranha-céus, prédios antigos e o movimento da cidade que nunca dorme.

O repertório foi instantaneamente bem aceito, inflamando o lugar à medida que gerava crescente aprovação. De Yngwie Malmsteen a Scorpions, Black Sabbath, Deep Purple, entre outros, a banda reunida foi esperta ao mesclar diversas músicas de grandes hits a lados B que não só passaram voando, como serviram para o público aquecer o vocal junto a Gus, que aproveitou também para intercalar músicas de seu projeto solo e álbum mais recente, lançado em 2024, Dandelions, trazendo Hipnotized e Unbroken, ambas marcantes, cheias de ginga, do mais puro hard n’ heavy, destacando-se pela voz potente e um pouco mais “rasgada”, que chama a atenção.

E quando o assunto é chamar a atenção, impossível não mencionar talvez o destaque da noite, Cesário Filho, pela impressionante velocidade das palhetadas e riffs em sua interpretação das músicas, que eram verdadeiramente de deixar o queixo cair. Aproveitaram também para tocar uma música do guitarrista, prestes a ser lançada, chamada Tarot Cards. Não havia uma pessoa que, passando ou simplesmente parada, não fosse hipnotizada pelo som e não tecesse um elogio à proeza do músico. Nesse sentido, os elogios são importantes a serem deixados também para Bruno Sá, em todo seu carisma e a boa parceria que fazia com Cesário, fosse nos solos de teclado ou nos momentos de “conversa” entre guitarra e teclados, que eram simplesmente divertidíssimos.

Cristiano não ficava para trás, junto a Rodrigo promovendo aquele peso, profundidade e constância que permitiram à banda como um todo se sobressair e se elevar em tamanhas músicas de grande relevância na história, mas deixando claro que, para além de uma banda reunida para interpretações, estávamos claramente vendo competentes e experientes músicos que, ainda que talvez inesperados para alguns (eu incluso), pareciam simplesmente a atração principal, deixando todos satisfeitos com a performance.

Mas, encerrada a apresentação, era o momento de nos lembrar de que ainda havia a grande estrela da noite, para nos conduzir aos primórdios do power metal através das eras douradas do Stratovarius. Pouco a pouco, o palco começou a ser montado novamente, onde subia o Galaxie, banda de apoio de Timo no Brasil, formada por amantes do Stratovarius que nomearam a banda justamente em homenagem, e que curiosamente mantém também um projeto voltado ao universo do rock japonês e célebres músicas de tokusatsus e animes, de nome Banda KameRider, formada por Chico Saga (vocais), George Rolim (baixo), Thiago Bruno (teclado) e Ge Costa (bateria). 

Com tudo aparentemente ajustado, incluindo uma bandeja com três caipirinhas dispostas para o músico em sua cadeira, tivemos um breve discurso de Flavio, responsável pela agência e produtora Breakdown Media, comentando sobre os desafios enfrentados até aquele momento e até mais recentes, com uma queda sofrida por Timo, que o estava fazendo tocar sentado, tendo essa preocupação de transparência para com o público.

De longe, já era possível ver chegando a grande figura do músico que, após se sentar, entre os constantes gritos dos fãs, iniciou da melhor forma possível, com Hunting High and Low, principal “hino” do Stratovarius de seu álbum Infinite (1999), que em um primeiro momento, abafada pelo cantarolar do público em frenesi, escondeu as primeiras aparições do que viria a ser o grande vilão da noite: problemas técnicos.

Em Paradise e Cold Winter Nights, as coisas começaram a soar frustrantes, principalmente entre os próprios músicos e Timo, que comentava sobre problemas com os retornos, instrumentos cujo som simplesmente sumia e exigências técnicas que demandaram tempo para se entender o que estava ocorrendo, até pouco a pouco se chegar ao melhor possível para entregar uma apresentação satisfatória ao público, que, por sua vez, entre um mix de sentimentos, parecia bem compreensivo e solidário, especialmente a Tolkki, que se mostrava desconfortável com os imprevistos.

Vale a nota de que até então, não havíamos tido quaisquer problemas do tipo (vide a apresentação anterior) e muitos dos entraves e ajustes realizados ao longo da apresentação  aparentaram ser pedidos de Timo em relação ao seu próprio instrumento, fato este que em alguns momentos contou ainda com a ajuda de Cesário Filho para ajudar o guitarrista a deixar seu som o mais próximo de seu objetivo.

Curiosamente, em Stratosphere as coisas pareciam engrenar, onde o claro brilho e foco da apresentação estava na possibilidade de acompanhar o guitarrista fazendo sua arte em momentos que pareciam fazer desaparecer todo o resto. Houve espaço para surpresas também, como o retorno de Gus aos palcos para tocar duas músicas que fugiam do acervo do Stratovarius e batiam no do Revolution Renaissance, banda esta da qual Gus integrou, e revelou sobre aquele ser o primeiro encontro em 15 anos de ambos, fazendo daquele um momento cheio de significado para todos. Do repertório, fica o destaque para Age of Aquarius, autointitulada do álbum que traz esse lado mais progressivo e melódico do que um power propriamente dito, mas que, considerando a proposta do setlist, acabou dando um grande contraponto, com, claro, direito a um baita solo.

Houve sim, nesse meio tempo, mais alguns probleminhas aqui e ali, mas que não impediram o show de continuar, passando por outros hinos como Speed of Light e a música que fechou a noite, Black Diamond, no que, dentro da perspectiva do público, parecia satisfatório, mesmo que somado aos contratempos e à apresentação mais enxuta. Vale mencionar o próprio apoio da banda Galaxie que, a todo momento, buscou celebrar Timo, e parecia que a presença do mesmo os fazia entregar tudo de si para estar à altura da célebre obra do guitarrista.

Timo, do seu jeito, parecia também agradecer e interagir com o público, mesmo sendo mais reservado e se retirando assim que finalizada a apresentação. Aqui vale também comentar sobre o som que, apesar de ter encontrado seus desafios, quando em comparação à banda de abertura, ainda assim, pensando em um espaço aberto e de, em tese, zero eficiência em termos de propagação sonora, esteve muito bom ao longo da apresentação como um todo.

Ainda que marcado pelos desafios, colocado na balança o significado para o gênero e o legado incontestável, tivemos em primeira mão uma noite única na capital paulista, em que, para o futuro, fica guardada a expectativa de uma próxima vinda em que as estrelas se alinhem ainda mais e que o sentimento aparente seja exclusivamente o de satisfação.


Texto: Pedro Delgado (Rato de Show)

Fotos: Rita Zuini e Luciano Silva Rodrigues do Pega Essa Novidade

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 




Timo Tolkki – setlist: 

Hunting High and Low

Paradise 

Cold Winter Nights

Stratosphere 

Age of Aquarius

Speed of Light 

Black Diamond

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Green Day – 12/09/2025 – Ligga Arena/CWB

O show da banda californiana foi inacreditável e ficou para a história da capital paranaense.

Green Day finalmente chega à capital paranaense para o show da Saviors Tour 25, focada em seu novo álbum Saviors, lançado em 2024. Os fãs já estavam ansiosos, visto que a banda estadunidense não pisava em solo curitibano desde 2017, onde se apresentaram na Pedreira Paulo Leminski, com a Revolution Radio Tour. 

O Green Day desembarcou em Curitiba, após passarem alguns dias em São Paulo, eles tocaram no festival The Town, no dia 7 de setembro, então a banda teve um tempinho para esticar as pernas, passear e confraternizar em solo brazuca. Lembrando que foi uma pausa compulsória, já que a apresentação do grupo precisou ser cancelada no Rio de Janeiro, por conflitos de agenda com os jogos futebolísticos que estavam marcados no mesmo local.

Bom, mas chega de falatório, afinal como foi a passagem bombástica do Green Day por aqui? São tantos anos de estrada, desde sua formação em 1987 até hoje. São vários álbuns perfeitos ao longo dos anos, e também controversos, recheados de críticas sociais, que acompanharam todo o cenário mundial, principalmente dos Estados Unidos nestas últimas décadas. A tarefa é árdua, mas prazerosa, vamos lá! 

Primeiramente, faz se necessário mencionar a incrível banda até então pouco conhecida Bad Nerves, como convidados de abertura. Estou até este momento me perguntando como não conhecia esses garotos? 

Bad Nerves merece destaque para o talento, energia e simpatia, sem falar nas músicas bem estilo início dos anos 2000 com uma rebeldia Punk Rock estilo Sex Pistols, mas com uma pegada mais moderna, e é claro, um tanto politizada devido ao cenário global dos últimos anos. Além disso, também conseguem entregar aquele feeling romântico de riffs de guitarra chorosos e letras diretas, que por serem mais novos, conseguem transmitir com mais intensidade suas mensagens ao público. 

O Bad Nerves subiu ao palco na Ligga Arena por volta das 19:30 horas, pontualidade digna de uma banda inglesa. O sangue novo do rock inglês é formado por Bobby Nerves no vocal, Will Phillipson e George Berry nas guitarras, no baixo, Jonathan Poulton e finalmente nas baquetas, Samuel “Sam” Morley Tompson.

Apesar da enorme estrutura montada no Estádio da Arena, a banda conseguiu se posicionar muito bem, e inclusive, soube utilizar o artifício da passarela elevada, que saia do palco, fazendo uma divisão na pista geral. E é claro, quem foi esperto o suficiente, tratou de ficar por ali até o início dos shows.

O início foi enérgico e emotivo, o vocalista Bobby Nerves interagia bastante com o público, e também utilizava muito bem a passarela a seu favor, conversando com os fãs, com um português surpreendente, inclusive, ele disse que sua esposa era brasileira, portanto tudo explicado.

Cabe mencionar também, a interação e os pulos simultâneos dos músicos, que formavam uma coreografia digna de estalar os olhos dos mais desanimados de plantão. Apesar do local estar cheio, com cerca de 33 mil pessoas, segundo a produtora do evento, os telões eram grandes e bem posicionados, não deixando ninguém de fora do espetáculo. Os destaque ficam para as músicas mais conhecidas do grupo, como Plastic Rebel, Radio Punk, Can´t Be Mine, You've Got the Nerve e Dreaming. O espírito rebelde do punk está mais vivo do que nunca!

Green Day promove encontro de gerações em Curitiba

Finalmente, a ansiedade do público indo às alturas, por volta das às 21 horas, Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt, Trè Cool e companhia adentram ao palco. Mas não sem antes cumprirem alguns ritos costumeiros no início de cada apresentação. Inclusive, uma destas introduções, cito como um dos momentos mais emocionantes da noite, todos os presentes cantando Bohemian Rhapsody do Queen em uníssono. Após as lágrimas, veio o famoso coelho dançando Blitzkrieg Bop para quebrar a melancolia e dar início ao show propriamente dito.

O início não poderia ser outro, junto com os primeiros acordes de American Idiot, clássico que dá o nome e faz parte de um dos álbuns mais famosos musicalmente e com as letras mais impactantes do grupo. O chão já começa a tremer, era uma sinergia de pulos e pulsos em riste. Foi o começo de um espetáculo histórico, que, claramente, uniu pelo menos três gerações de público, inclusive, havia famílias inteiras assistindo ao show. Fato este, que só bandas do calibre de Green Day conseguem proporcionar. 

Acorde por acorde, clássicos em sequência, uma emoção diferente emergia a cada momento, a revolta quanto às injustiças sociais, o ato de chorar por um amor perdido, outra para celebrar a união e as loucuras de adolescentes. Além do foco nos álbuns principais, a banda abriu espaço para as ótimas Dilemma, hit instantâneo e a fofa, mas nem tanto, Bobby Sox presentes no álbum Savior. 

Entretanto, nem de rosas vive o mundo, e fez se necessário a execução da nova e crítica One Eyed Bastard, um recado de que o rock está vendo tudo e vai continuar reagindo.  Outro momento com uma pausa séria, o discurso de Billie Joe, que disse tudo e mais um pouco sobre as questões atuais, e também pediu ao público que deixassem os celulares de lado por alguns momentos, para olhar uns aos outros, para sermos mais humanos e menos máquinas, para viver os momentos felizes. E é claro não deixou esquecermos que temos armas de destruição em massa sob nossas cabeças. Recado dado, “toca o barco”, Church on Sunday, a profunda Minority, outro acerto, Brain Stew. Também desfilou pela Arena, a quase balada 21 Guns.

Impossível não apreciar o setlist que o grupo trouxe à Curitiba, foi bem completo, não faltaram as músicas novas e muito menos os clássicos. Em Jesus Of Suburbia muitos já não escondiam os arrepios e ver e ouvir este clássico ao vivo, abraçavam amigos, filhos, esposas, namoradas, isso tudo que o ser humano satisfeito faz. Tiveram Basket Case, She, When I Come Around, St. Jimmy, Holiday e inúmeras mais.

Quando você já viu muitos shows na vida, e acha que é tudo do mesmo jeito, ela ainda dá um jeito de te tirar da sua zona de conforto, ou furar a “bolha” do curitibano (já informo: sou curitibana orgulhosa nascida e criada na terra das Araucárias). E por aí foram, as baladas regadas à lágrimas, uma belíssima Wake Me Up When September Ends em sintonia com o calendário. Mas lindo mesmo, foram os papéis picados jogados aos montes em cima do público, ainda por cima com pequenos desenhos de zumbis e a chamada da turnê. Além, lógico de um balão inflável “Bad Year”, durante a execução da música When I Come Around, imperdível! 

Ressalto também o cuidado e profissionalismo com a pirotecnia utilizada no palco, muito bem controlada, elegante e um espetáculo à parte, adicionado às cores e luzes piscantes, harmonizando com os semblantes dos músicos emocionados escancarados nos telões. E foram canções que deram a trilha sonora da vida, com momentos que passaram diante dos olhos de muitos quarentões, que certamente vislumbraram seus velhos skates com silvertape e pistas improvisadas nas ruas da vizinhança.

Por fim, o famoso “sextoouu” do dia 12 de setembro de 2025, proporcionou novas amizades, histórias infames, pessoas desconhecidas relembrando a vida e tomando novas decisões com relação ao futuro. Também fui presenteada com palavras amigas e sábias em um momento em que precisava. 

Inclusive deixo aqui registrado, meu episódio de lágrimas insistentes escorrendo pelo meu rosto, durante a execução da faixa Good Riddance. Esta música me acompanhou em viagens de aventura, e até hoje aperta meu peito de tempos em tempos. Por outro lado, esta composição encontrou um espaço especial no coração do meu filho mais velho, de nove anos, que elegeu esta canção como “Nossa música de ninar”, pela beleza que acalma e ao mesmo tempo lhe traz “A tal da nostalgia”, em suas jovens palavras.

Importa falar aqui, que durante o show houveram infinitos momentos a serem descritos nesta resenha, como a mulher de laranja que subiu ao palco, Billie Joe enrolado na bandeira do Brasil, e assim por diante. Mas faço das palavras da banda, as minhas, o importante mesmo é conseguir passar aos leitores a sensação de ter estado lá, as mil emoções que somos capazes de sentir quando trata-se do amor à música. Peço desculpas, se me excedi, mas acredito que precisamos de mais palavras com significado, sem fórmulas prontas, facilmente acessíveis por inteligência artificial, precisamos ser mais humanos.

Considerações acerca do evento e organização

A Ligga Arena é um local ótimo para shows, por ter sido reformada, possui muitos banheiros, várias áreas com acessibilidade, saídas de emergência de fácil acesso, equipe treinada em grande número e agilidade, em casos de emergência. Fiação e cabos em locais seguros, pessoas treinadas com todas as informações para sanar dúvidas. 

Local central da cidade de Curitiba, arborizado, com opções externas de comidas simples a lanches gourmet. Ponto negativo para a locomoção de que precisou de Táxi ou Uber, os valores estavam exorbitantes. O transporte público encontrava-se muito cheio, mas nada que um pouco de paciência não resolva.

Em sua estrutura arquitetônica, a Arena do Athlético Paranaense possui um teto com arestas retráteis, que desta vez encontravam-se fechadas. Uma particularidade minha e acredito que de muitas pessoas é a importância de se ter o céu como testemunha, em concertos musicais. Mas devido ao mau tempo, e a quantidade de equipamentos, a ação foi necessária.

Faz-se necessário aqui um adendo para a área da inovação em serviços ao consumidor em eventos musicais. As parcerias entre organizadoras e produtoras começaram a olhar para os nichos e focar no conforto e praticidade daquele determinado público, principalmente os fãs de Rock, sempre rotulados como fáceis de agradar. Finalmente perceberam que os jovens, viraram adultos consumidores. A seguir alguns exemplos, do que falei, presentes na The Savior Tour 25 - Green Day

Primeiramente, com relação ao frio que fazia naquela noite, e convenhamos, a cerveja gelada não era muito convidativa (Agora pasmem, no valor de 22 reais/ 350ml). Mas nem tudo são dissabores, e finalmente haviam opções variadas à famosa cerveja no copo, como por exemplo, incríveis opções de vinhos e espumantes para esquentar o corpo com estilo, além claro de comidinhas muito saborosas em embalagens primorosas, além de um serviço de garçom “leva e traz” para quem estava guardando um lugar mais a frente. 

Atualmente, no ponto em que estão as coisas, (no caso a escassez do poder aquisitivo brasileiro e o novo foco em experiências) não vale mais a pena arcar com os valores supervalorizados que se cobram por cervejas comuns e refrigerantes em shows de grande porte. Além disso, é preferível ter mais opções com valores diferenciados (para quem pode, claro), e para os viciados em shows, um copo de água com gás é mais do que suficiente. E, sim, muitos curitibanos bebem vinho e apreciam uma boa degustação. Espero que a moda pegue! Lembrando claro, da colisão divertida de idades naquela noite, comento isto para justificar o fato da presença do vinho. No último ponto, ressalto que a água estava sendo distribuída gratuitamente e à vontade, na forma de copos plásticos.

Finalmente, fiz uma comparação mental, no caso foi real mesmo, de estar sentada na grade de um show em 1996, passando sede e insolação, sendo ignorada pelos ambulantes, sem dinheiro para um pacote de Doritos. Decorridos alguns anos, agora em 2025, estou sentada na grade também de um show de rock, mas com garçons me atendendo e pessoas limpando o chão. Fiquem com suas conclusões, meus colegas headbangers dos anos 90!

Prometo que não vou comentar as taxas abusivas de conveniência na venda de ingressos. Muito Obrigada por lerem esta resenha até o final! Viva ao Rock N’Roll!



Fotos: Alan Ferreira 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Move Concerts

Press: Midiorama


Green Day – setlist:

American Idiot

Holiday

Know Your Enemy

Boulevard of Broken Dreams

One Eyed Bastard

Revolution Radio

Church on Sunday

Longview

Welcome to Paradise

Hitchin' a Ride

Brain Stew

St. Jimmy

Dilemma

21 Guns

Minority

Basket Case

When I Come Around

Letterbomb

Wake Me Up When September Ends

Jesus of Suburbia

Bobby Sox

Good Riddance (Time of Your Life)

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Behemoth: Entre a Revolta e a Reinvenção

Por Pedro Delgado (Rato de Show)

O mês de maio deste ano foi marcado por diversos lançamentos aguardados no mundo do metal, entre Ghost Bath, Rivers of Nihil, …And Oceans, The Callous Daoboys, Bury Tomorrow, dentre outros. Mas talvez nenhum tenha sido tão aguardado dentro do veio do metal extremo quanto The Shit Ov God, simbólico 13º álbum de estúdio dos pecaminosos do Behemoth.

Mestres do blackened death metal, os poloneses vêm há mais de três décadas causando todo tipo de incômodo e polêmica, seja entre a comunidade cristã e as pessoas em geral, seja dentro da própria comunidade do metal, entre críticos, haters e uma legião de fãs que acompanha fielmente o incansável trabalho liderado por Adam “Nergal” Darski e sua trupe: Orion (baixo), Inferno (bateria) e Seth (guitarra) nas apresentações ao vivo.

Sobre “ao vivo”, vale lembrar que a banda chega a São Paulo neste próximo dia 28 de setembro trazendo a turnê The Unholy Trinity, junto aos mestres do death metal, o Deicide, e o projeto solo do polonês, Nidhogg. A passagem ocorre no Terra SP, e os ingressos podem ser adquiridos clicando aqui.

O sucessor de Opvs Cvntra Naturem (2022) veio com um desafio estético, uma vez que a banda é possivelmente a que mais consegue aplicar um senso comercial à sua identidade visual, tornando cada trabalho do Behemoth algo perturbadoramente belo e apelativo. No entanto, para muitos olhos (e ouvidos), havia uma expectativa sonora, vindo de um álbum que dividiu opiniões e que, para muitos, não trouxe nada de impactante em contrapartida a um acervo passado de renome.

Um mal que, invariavelmente, as grandes bandas acabam por sofrer ao longo de sua carreira, recorrentemente sendo aprisionadas em suas próprias obras de outrora, especialmente quando estas são consideradas o magnus opus, como é o caso, por exemplo, de The Satanist (2014). Neste ponto, The Shit Ov God já chegou enfrentando, num primeiro olhar, as críticas ao seu conceito, que, sendo o bom e velho antagonismo aos dogmas cristãos, parecia vir na forma de uma revolta juvenil pela maneira com que o título se encarrega.

Escolhas artísticas à parte, vale o destaque para a arte da capa que logo de cara surpreende (em não surpreender) pela mistura entre uma crueza e uma beleza que, até mesmo através de sua tipografia, consegue tornar harmônico um nome tão desarmônico. A segunda surpresa ao olhar para a obra se dá em sua duração: oito músicas que mal totalizam 40 minutos, algo que imediatamente faz pensar sobre os direcionamentos e sentidos sonoros que serão tocados a cada faixa.

Iniciando com The Shadow Elite, a primeira impressão é de algo afiado, agressivo e direto, quintessencialmente Behemoth, com aquele refrão chiclete que é praticamente possível visualizar um ensandecido público berrando a todo pulmão: “We are the shadow elite / Nós somos a elite das sombras”.

Aqui, vale o destaque para o trabalho de bateria de Inferno, trazendo todo o peso e ritmo com um toque etéreo e dissonante puxado pelas guitarras. Um começo forte, um começo marcante e um já conhecido, uma vez que a faixa representa um dos três singles lançados previamente. Na sequência, Sowing Salt é revelada, dando um leve gosto de que talvez a banda tenha algumas surpresas prontas: um som mais visceral, com guitarras rápidas dando agilidade e dinamismo, despontando ainda em gritos infernais de Nergal junto a um belo solo. Menos comercial, especialmente quando comparada à anterior e às duas seguintes: The Shit Ov God e Lvciferaeon.

Para quem dificilmente não teve um primeiro contato com The Shit Ov God antes do lançamento do álbum, seus primeiros segundos podem soar perturbadoramente hipnotizantes. Isso porque, diferentemente das duas primeiras músicas, os primeiros 8 segundos, contendo apenas a voz de Nergal em plena agoniante fúria, constroem perfeitamente toda a tensão do grande autointitulado que certamente é o hino do disco. Curiosamente, a música mais acessível, simplesmente tudo nela parece grudar: do refrão aos riffs e batidas, é aquela música feita para você se pegar cantarolando aleatoriamente, sendo também a soma do que os críticos mais ferrenhos da banda exatamente expressam seu incômodo sobre.

Neste mesmo eixo, Lvciferaeon, terceiro e último single lançado, acaba por desempenhar um papel levemente semelhante, talvez uma mescla entre os outros dois singles. Você tem novamente essa fórmula chiclete e da tensão, somadas a uma agressividade e melodia em um crescente solo. Com isso, tão rápido chegamos à metade do álbum e à sensação de um trabalho que parece repetir as fórmulas daquilo que dá certo e que vem dando destaque e alcance para o Behemoth a nível global, mas que justamente parece ser o que deixa um fã mais exigente insatisfeito. Mas é precisamente em seu lado B que o álbum realmente se revela e onde as coisas começam a ficar verdadeiramente interessantes.

Novamente deixando sua marca, as batidas frenéticas de Inferno, somadas à dissonância das guitarras de Seth e Nergal, trazem To Drown the Sun in Wine. A música é puramente uma pauleira do começo ao fim, com pouco espaço para respiro, e, nestes poucos momentos, ainda somos levados a toda uma tensão construída, que finaliza em um coro abafado pela voz agonizante de Androniki Skoula, mezzo-soprano no que parece ser o início de uma colaboração que não surpreenderia se ocorresse novamente.

Nomen Barbarvm, sexta faixa, chega então de forma rústica e cavernosa, com direito a coros em hebraico e uma música cheia de melodia, com um eu-lírico poético, contestador e dual. Destaque também para as linhas graves de baixo de Orion e talvez o solo mais marcante do álbum, refletindo o quanto neste segmento o Behemoth parece fazer um aceno ao passado, brincando e adicionando camadas e texturas para além daquilo que sabe dar certo.

Elementos estes que persistem em O Venvs, Come!, música que já inicia em uma doce e metalizada melodia, sendo também a maior do álbum. Mais contida, cadenciada, porém crescendo com o tempo, um som quase ritualístico que a cada estrofe ganha espaço, com elementos de corais que certamente fazem desta a música mais maquiavelicamente “tranquila”, porém longe de ser menos impactante.

E tão rapidamente chegamos a Avgvr (The Dread Vvltvre), faixa de encerramento, música mais recente até a data desta resenha a ganhar seu videoclipe e também a música com mais “v”’s em seu título. Fantasmagórica e atmosférica, parece trazer diferentes elementos de outras faixas, fazendo de si quase que uma ópera infernal. Destaque mais uma vez para a participação de Androniki, que, em sua sutileza, eleva a música, assim como as linhas de baixo. Temos várias camadas ao longo da faixa, que aos poucos se silenciam até restarem as vozes agonizantes junto a acordes limpos, quebrados pelo derradeiro momento da última crescente que finaliza o álbum ao som de um violão que, junto ao fade out e à chegada de seu silêncio, parece colocar a obra em perspectiva e convidar o ouvinte à reflexão.

Um álbum que certamente tem seu lado comercial, mas que ao mesmo tempo parece buscar fazer um aceno a uma era passada. O Behemoth mostra que ainda há algumas cartas em sua manga e que é possível, sim, explorar e revisitar elementos, deixando o indagamento sobre qual poderia ser o caminho a seguir. Sim, o álbum não é um The Satanist, mas certamente se mostra marcante, de uma banda que continua a pregar seu evangelho macabro e a tentar assumir a difícil missão de se reinventar e soar fresca dentro de uma temática explorada há mais de três décadas. Dificilmente a parte que mais salta aos olhos deverá ser vista em palco, mas com certeza será uma ótima adição aos próximos setlists.

E, aproveitando, é válida a lembrança novamente de que o Behemoth desembarca no Brasil ainda neste mês de setembro com sua turnê The Unholy Trinity, junto aos convidados Deicide (EUA) e Nidhogg (POL), preparando-se para trazer toda a fúria aos palcos brasileiros, que concentram uma grande legião de fãs por todo o país, em promoção ao seu novo álbum, The Shit Ov God.

Confira abaixo mais informações sobre as datas e locais.


SERVIÇO – BEHEMOTH

Behemoth/Deicide/Nidhogg em Curitiba/PR

Data: 19/09/2025 (sexta-feira)

Abertura da casa: 18h00

Local: Tork ‘n Roll – Av. Mal. Floriano Peixoto, 1695 – Rebouças, Curitiba

Ingressos: https://fastix.com.br/events/behemoth-e-deicide-curitiba


Behemoth/Deicide/Nidhogg em Brasília/DF

Data: 21/09/2025 (domingo)

Abertura da casa: 18h

Local: Toinha Brasil Show – SOF Sul Q.09 Conj. A Lote 05/08, 71215-246 Guará, Brasília-DF

Ingressos: https://fastix.com.br/events/behemoth-e-deicide-brasilia


Behemoth/Deicide/Nidhogg em Belo Horizonte/MG

Data: 23/09/2025 (terça-feira)

Abertura da casa: 18h

Local: Mister Rock – Av. Tereza Cristina, 295 – Prado, Belo Horizonte – MG

Ingressos: https://fastix.com.br/events/behemoth-e-deicide-belo-horizonte


Behemoth/Deicide/Nidhogg no Rio de Janeiro/RJ

Data: 26/09/2025 (sexta-feira)

Abertura da casa: 18h

Local: Sacadura 154 – R. Sacadura Cabral, 154 – Rio de Janeiro – RJ

Ingressos: https://fastix.com.br/events/behemoth-e-deicide-rio-de-janeiro


Behemoth/Deicide/Nidhogg em São Paulo/SP

Data: 28/09/2025 (domingo)

Abertura da casa: 18h

Local: Terra SP – Av. Salim Antônio Curiati, 160 – São Paulo

Ingressos: https://fastix.com.br/events/behemoth-e-deicide-sao-paulo

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Fabiano Negri & Bebê Diabo: Uma Distopia Sonora Com Peso e Identidade

Por Guilherme Freires

O famoso cantor de rock pesado brasileiro, compositor e multi-instrumentista Fabiano Negri, junto com sua banda Bebe Diabo, lançou em 3 de julho de 2025 seu mais novo trabalho, o álbum chamado “The Outlaw’s Journey”, que traz 10 músicas e foi lançado pelo selo Records DK.

Fabiano tem uma carreira sólida no cenário do rock nacional, com mais de 30 anos de experiência. Sua banda, Bebe Diabo, foi nomeada em homenagem a uma lenda urbana de São Paulo dos anos 70.

A formação da banda inclui Fabiano Negri no vocal, André Pereira e Igor Russo nas guitarras, Tomás Manieri na bateria e seu filho, Ian Absurd, no baixo.

O álbum apresenta uma sonoridade madura e natural, sem exageros, misturando hard rock, heavy metal e blues rock, com fortes influências de bandas dos anos 70 como Black Sabbath, Ozzy Osbourne e Guns N’ Roses.

As primeiras quatro faixas do disco formam a “The Outlaw’s Journey Suite” e contam uma história pós-apocalíptica distópica. Nesse universo, a sociedade é marcada por desigualdade, caos e opressão extrema. Surge o líder rebelde Keck Spergman, que inspira uma revolta contra uma elite privilegiada que vive às custas do sofrimento alheio. A narrativa mostra sua ascensão, as influências sobre os oprimidos e os ecos de seus discursos após a revolta.

A produção, mixagem e masterização ficaram por conta de Rick Parma, no estúdio Meato, em Campinas/SP. Já a arte da capa foi criada pelo próprio Fabiano Negri.

A faixa “Dust and Sorrow” abre o álbum com riffs pesados de guitarra, bateria marcante e um groove forte no baixo. O destaque fica para a interpretação poderosa de Fabiano no vocal. A música tem um clima bem hard rock, com solos incríveis de guitarra.

“The Goat, The Machine Gun and The Jackal” começa com uma introdução de guitarra que lembra algumas músicas do Guns N’ Roses, acompanhada por uma bateria marcada no ximbal e no cowbell. Os riffs e solos hipnotizantes de guitarra também chamam atenção.

“Winds That Show Our Real Nature” é uma música mais tranquila e cadenciada, com uma vibe relaxada. Tem um solo de guitarra harmonioso no meio da faixa, riffs crus que combinam com o groove do baixo e o ritmo da bateria, além do vocal bonito.

A faixa título “The Outlaw’s Journey” inicia com a condenação do personagem Keck Spergman. A música tem uma pegada épica com um solo de guitarra ao estilo velho oeste. O som é pesado, com bateria marcante e um groove forte no baixo. O destaque fica para a letra e a interpretação intensa de Fabiano.

“Empty Heart” é uma música mais lenta, puxada para o blues rock com uma atmosfera de saloon do Velho Oeste. Tem bateria marcada, riffs em escala e um groove gostoso no baixo. Também se destaca o acompanhamento de teclado ao fundo em alguns trechos e um solo de guitarra hipnotizante.

“Wiseman” começa com um ritmo animado e logo revela influências do estilo insano do próprio Fabiano. Tem riffs e solos incríveis na guitarra, um groove gostoso no baixo e bateria bem marcada. O vocal lembra bastante o jeito do Ozzy Osbourne em uma interpretação cheia de energia.

“Something’s Going Wrong” é uma faixa mais cadenciada, com solos intensos na guitarra, bateria marcada e um groove envolvente no baixo. As vozes que acompanham Fabiano também se destacam pelos agudos impressionantes.

“Imperfection” inicia suavemente com um belo solo de guitarra e um vocal tranquilo. A música tem uma batida cadenciada na bateria e grooves suaves no baixo, transmitindo uma vibe emocional.

“Ballad of a Lazy Man” traz influências claras do Black Sabbath e Ozzy Osbourne. É uma faixa bem hard rock, com solos de guitarra incríveis, bateria marcada e um groove excelente no baixo. Fabiano entrega uma interpretação sensacional que lembra os vocais do próprio Ozzy.

A última música do álbum é “27”, que faz referência ao “Clube dos 27”. Com influências visíveis do Guns N’ Roses, ela traz solos marcantes na guitarra, bateria e baixo bem cadenciados e uma vibe mais tranquila. O vocal também se destaca bastante.

“The Outlaw’s Journey” é um álbum conceitual incrível, com uma sonoridade madura e natural, além de um trabalho técnico impecável. É altamente recomendado para quem gosta de hard rock e blues rock.

O álbum está disponível em todas as plataformas digitais como YouTube, Spotify e Deezer, além de ter versão física para compra.


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Documentário de Aquiles Priester sobre turnê com Thomas Lang é exibido em São Paulo

Por Gabriel Arruda

Aquiles Priester é um dos músicos mais conhecidos e bem-sucedidos na história do heavy metal no Brasil. Sua dedicação à bateria e sua determinação o levaram a conquistar muitos feitos, como aparecer em capas de revistas importantes, incluindo a Modern Drummer, além de receber diversos prêmios de melhor baterista do mundo. Mesmo com uma carreira sólida, Aquiles continua compartilhando suas experiências e sua trajetória com fãs de todo o país.

Um exemplo disso foi a turnê de workshops que ele realizou em fevereiro deste ano, ao lado do baterista austríaco Thomas Lang. Essa turnê virou um documentário chamado Perto Demais, dirigido pelo também baterista e videomaker Thiago Bagues.

O filme foi exibido no último dia 9 de setembro, terça-feira, na Galeria Olido, no centro de São Paulo, bem perto da famosa Galeria do Rock, que é um símbolo cultural da cidade. A sessão tinha lugares limitados e os ingressos esgotaram rapidamente. Estiveram presentes fãs, músicos, jornalistas e, claro, Aquiles Priester, junto com toda a equipe que participou da turnê, que percorreu mais de 6.400 km pelas principais regiões do Brasil e foi recebida com muito carinho pelo público antes mesmo da exibição.

Com cerca de uma hora e meia de duração, Perto Demais mostra de forma clara, sem filtros, como foi a rotina intensa de dois músicos e uma equipe de seis profissionais durante uma turnê longa, com vinte shows seguidos, sem dias de descanso ou pausas mínimas. O documentário revela que a vida de quem vive (ou quer viver) da música não é fácil. Para quem pensa que esse universo é só glamour e ostentação, o filme mostra o contrário: a pressão constante para entregar o melhor resultado, mesmo diante de erros, imprevistos e obstáculos, faz parte do dia a dia. Ainda assim, a mensagem que fica é de esperança: mesmo com dificuldades, vale a pena persistir e acreditar nos seus sonhos.

Alguns detalhes do documentário merecem destaque e podem servir de exemplo na vida pessoal e profissional de qualquer pessoa. No caso do Aquiles, que lidera tudo nos bastidores da turnê, fica claro o quanto ele é responsável e sabe lidar com situações inesperadas, desde cuidar da logística até controlar as finanças (sabendo exatamente o quanto pode gastar), além de se preocupar e apoiar sua equipe constantemente. Sem essas pessoas ao seu lado, nada funcionária. Essa postura humana e empática na liderança é algo que muitas organizações poderiam aprender. Afinal, quando um membro da equipe não está bem, todo mundo sente o impacto.

Outro ponto importante do filme é o carinho especial que Aquiles tem pelos seus fãs, que ele considera uma extensão da própria carreira. Ao final de cada show, ele faz questão de atender todo mundo e tirar fotos com quem estiver presente. Um momento muito emocionante do documentário é quando ele demonstra seu afeto por Bibi Batera, que sempre o chamava de "tio", e por Leonardo Camargo, que o acompanhava desde criança e levado pelos pais aos workshows. Anos depois, Leonardo voltou a um evento, novamente com os pais, e recebeu um reconhecimento emocionante do próprio Aquiles, agora como baterista da cantora Ana Castela, um dos grandes nomes do sertanejo atual.

Para Thomas Lang, essa turnê foi uma das melhores experiências da sua carreira – talvez a melhor. Durante os vinte dias na estrada, o baterista austríaco mostrou prazer em conhecer os diferentes lugares por onde passou, com muita humildade e aceitando todas as condições impostas sem reclamar. E estamos falando de alguém que já tocou com artistas como George Michael e Bonnie Tyler. Uma frase marcante dele no filme é: "Você não precisa ter talento. Se tiver vontade de fazer algo, basta trabalhar duro para conseguir, porque todo mundo é capaz de fazer alguma coisa."

Resumindo, Perto Demais não só tem uma ótima qualidade de imagem e som – mérito do Thiago Bagues, que conhece bem o trabalho do Aquiles e narra partes da história –, mas também mostra que tudo tem um preço alto quando buscamos aquilo que realmente queremos. Mas se formos persistentes no que nos propomos a fazer, a recompensa vem de forma gratificante. Aos 57 anos, Aquiles ainda busca novos desafios, inspira pessoas por onde passa e prova que “onde há vontade, há um caminho”. Essa frase sempre acompanhou sua vida e encerra o filme deixando uma mensagem de motivação para enfrentar os obstáculos do dia a dia.

Agradecimentos aos Thiago Rahal Mauro, da TRM Press, pelo convite!

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Entrevista: Revengin - Mais Pessoal, Obscuro e Visceral!

 


Entrevista por: Raquel de Avelar e Caco Garcia 
Fotos: Divulgação e Arquivo da Banda

Formada em 2007, no Rio de Janeiro, a Revengin se consolidou no cenário do Metal brasileiro com uma proposta que combina peso, melodia e letras reflexivas. 

A banda lançou em 2009 o EP “Synergy Through The Ashes”, que abriu caminho para o primeiro álbum completo em 2012, "Cymatics”, o qual também foi lançado na Europa em 2014 pelo selo Secret Service, e no mesmo ano a banda fez sua primeira tour no exterior.

Após turnês e participações em importantes festivais, como o Rock in Rio em 2022, e já com um outro EP lançado, o grupo lançou em abril deste ano o seu segundo full-lenght, “Dark Dogma Embrace”, sob o selo europeu Wormhole Death Records”, álbum que aprofunda ainda mais a sonoridade da banda e traz novas camadas à sua identidade musical. 

Nesta entrevista, a vocalista Bruna Rocha, uma das fundadoras da banda, fala sobre a trajetória construída até aqui, detalhes sobre o novo trabalho e planos para o futuro.




RtM: Passaram-se 12 anos entre “Cymatics” e “Dark Dogma Embrace”. O que vocês consideram que foram as maiores mudanças na sonoridade da banda de lá para cá?
Bruna: O “Cymatics” foi surgindo conforme íamos gravando, foi um álbum bastante experimental em todos os sentidos. Hoje estamos mais maduros não apenas pelo tempo, mas também musicalmente e quanto à direção que queremos tomar.

 Já o “Dark Dogma Embrace" acredito que seja um álbum mais visceral, mais obscuro e com elementos modernos agregados às orquestrações, que sempre foram a base de nossas composições. Outra diferença está no vocal, que explora outras “regiões” além do lírico.



RtM: Prosseguindo sobre o novo álbum, quais são as temáticas centrais que vocês buscaram abordar nas músicas? Alguma faixa em especial carrega um significado mais profundo ou pessoal para a banda?
Bruna: O "Dark Dogma Embrace" é, de forma geral, um álbum mais pessoal, que explora sentimentos que muitas vezes tentamos esconder ou ignorar. O maior exemplo disso é a faixa "Wish You the Same but Worse". Ela é visceral e traduz exatamente o que queríamos transmitir.


RtM: As letras do Revengin sempre parecem carregar uma atmosfera intensa e ao mesmo tempo reflexiva. Como vocês trabalham a construção lírica das músicas?
Bruna: Geralmente eu componho as letras, e elas sempre têm a ver com algo que estou pensando ou sentindo. O mesmo acontece com a orquestração: os instrumentos escolhidos, os momentos em que entram ou se destacam — tudo isso faz parte da expressão desses sentimentos.


RtM: A Revengin já tem 17 anos de carreira. O que vocês consideram como os maiores momentos da banda?
Bruna: Temos alguns… Nossa primeira vez na Europa, quando fomos praticamente com a cara e a coragem após um convite de uma pessoa que nos assistiu em um evento na Maré. Os shows na Argentina também foram marcantes, pois estavam entre os primeiros liberados após o lockdown. Claro, o convite para o Rock in Rio e, agora, o lançamento de “Dark Dogma Embrace”.


RtM: E sobre a participação no Rock in Rio, como foi a experiência? Existe algum festival que vocês consideram o festival dos sonhos?
Bruna: Foi totalmente inesperado. Recebi uma ligação da produção enquanto estava dando aula — nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. Foi do nada. Para nós, foi um verdadeiro “intensivão” em todos os sentidos, principalmente sobre o que significa ser profissional. E, sim, o festival dos nossos sonhos é o Wacken.


RtM: A Revengin é considerada por muitos uma banda de Symphonic Metal, mas vocês já disseram em outras entrevistas que a sonoridade vai além do sinfônico. Vocês acham que, no fim das contas, tantos subgêneros dentro do metal atrapalham mais do que ajudam na hora de o público conhecer novas bandas?
Bruna: Acredito que sim. Essa necessidade de nichar acaba, muitas vezes, criando uma separação — e até um certo preconceito. Isso faz com que ótimas bandas não sejam conhecidas justamente por estarem “presas” a um estilo. Isso acontece com a gente. 

Quando tocamos, às vezes há pessoas que dizem não gostar de “metal sinfônico”, mas acabam nos escutando e se surpreendem. Já ouvimos muitas vezes frases como: “Não gosto de metal sinfônico, mas curti muito o som de vocês”, e essas pessoas inclusive acabam comprando nosso material.


RtM: Agora que a banda assinou com um selo italiano, existe alguma previsão de uma nova turnê internacional? O que muda agora que vocês fazem parte da WormHole Death Records? Quais são os planos para o futuro?
Bruna: Sim! Acabamos de finalizar a primeira parte da turnê nacional com o "Dark Dogma Embrace". Em outubro vamos para a Europa. Fazer parte de uma gravadora nos tira da zona de conforto em todos os sentidos, estamos aprendendo muito todos os dias.

 Após a turnê europeia, o plano é iniciar a produção do próximo álbum, que já está praticamente todo composto, tanto em músicas quanto em temática. Muitas novidades estão a caminho.


RtM;E como tem sido a resposta do público internacional ao trabalho de vocês?
Bruna: Tem nos surpreendido bastante. Para nós é muito gratificante, porque o “Dark Dogma Embrace" é um álbum importante e arriscado, uma verdadeira virada de chave. Receber ótimas críticas de fora nos faz perceber que todo o esforço valeu a pena. 

Somos uma banda brasileira, onde o Metal ainda não é culturalmente reconhecido. Então, ver esse retorno internacional nos mostra que estamos no caminho certo — e, ao mesmo tempo, aumenta nossa responsabilidade.


RtM: E quanto ao cenário nacional do Metal e da música alternativa: como vocês avaliam o espaço para bandas independentes como o Revengin hoje no Brasil?
Bruna: Percebemos uma movimentação em prol das novas bandas de metal, ainda que de forma tímida. Poderíamos estar muito mais avançados, já que o público brasileiro para o estilo é grande. Não entendemos por que o Metal não é incentivado como acontece com o samba, o funk e outros gêneros.

 Por outro lado, vemos grupos e iniciativas trabalhando para promover o metal, e esse número vem crescendo. Quanto mais apoiamos novas bandas, mais incentivo o estilo recebe. Isso gera mais consumo, mais festivais e mais espaço. Eu mesma escuto muitas bandas nacionais, até porque também sou produtora e incentivadora do Metal autoral, especialmente das novas gerações.



RtM: Com o avanço das redes sociais e das plataformas de streaming, quais têm sido os maiores desafios e oportunidades para a banda em termos de divulgação e alcance do público?
Bruna: Esse é, sem dúvida, um dos maiores desafios atuais. Somos de uma época em que as pessoas conheciam a banda pelos shows, de boca em boca. Hoje, com a internet, tudo acontece mais rápido. Existe a necessidade constante de produzir material novo, com qualidade, e isso exige tempo e investimento.

 Apesar das plataformas oferecerem um alcance maior, a divulgação não é necessariamente mais fácil, pois precisamos lidar com algoritmos e impulsionamentos pagos. O “jabá” mudou de forma. Para bandas independentes, ainda é difícil alcançar o público esperado sem investimento em tráfego pago. Então, precisamos produzir cada vez mais e melhor, até conquistar uma entrega orgânica consistente.


RtM: Agradecemos pelo tempo para nos conceder esta entrevista. Parabéns pelos anos de trabalho e dedicação — que muitas conquistas venham nessa nova fase.
Bruna: Nós que agradecemos muito pelo espaço e pela oportunidade de falar sobre nós e nosso trabalho.


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Agradecimentos: JZ Press