sábado, 15 de fevereiro de 2014

Entrevista - Torture Squad: Os Anos da Ditadura Militar Pelos Olhos do Power-Trio


Como parte dos 20 anos de existência, a banda Torture Squad vem promovendo a divulgação de seu novo álbum, “Esquadrão de Tortura”, o que marca a estreia da nova formação, agora como power-trio, formado por Amilcar, Castor e André Evaristo.   (READ THE ENGLISH VERSION HERE)

Já que o álbum é totalmente politizado e com letras falando sobre fatos durante a Ditadura Militar, o baterista Amilcar Christófaro atendeu a equipe do Road To Metal pra falar de como surgiu a ideia de fazer um álbum conceitual, além de outros assuntos relacionados com o novo trabalho.

Pra quem não liga muito pra política, é importante ler o que o Amilcar fala no finalzinho da entrevista, o que também foi um aprendizado rápido pra mim.

Road to Metal: Tendo 20 anos de estrada completados, o Torture Squad está vivendo um novo momento lançando o seu mais novo disco de estúdio, "Esquadrão de Tortura". Um marco na carreira, afinal este é o disco que marca estreia da banda como 'power-trio', além de ser o primeiro trabalho conceitual, despertando muita atenção bem antes de lançarem o álbum. Pra começar, como foi trabalhar o disco com apenas três integrantes?

AC: Basicamente é o modo tradicional da gente, que é de muitos ensaios. O André já veio entrando junto com a tradição de ensaios da banda. A gente não mudou absolutamente nada! Foi o André que se incorporou ao nosso método, que é o método tradicional de banda, onde a gente ensaia bastante, compõe e ensaia músicas que a gente toca nos shows. É dai que foi se construindo o nosso novo entrosamento. E com certeza o disco nasceu dessa forma, do jeito tradicional.     

Amilcar Christófaro
RtM: Neste novo álbum, o Torture Squad estreia um trabalho conceitual, abordando tudo o que aconteceu durante o período da Ditadura Militar aqui no Brasil. Escrever um álbum inteiro falando somente sobre esse assunto já vem desde cedo ou teve a influência de alguém que viveu aquela época e que, de alguma forma, achou interessante relatá-la no disco?

AC: A ideia não veio de influência de ninguém. Simplesmente pintou a ideia de falar sobre algo importante que, aliás, tem a ver com o nome da banda. Mas nem o nome do disco, que hoje é "Esquadrão de Tortura", pintou de prima. Foi uma coisa que foi rolando, as ideias foram vindo e escolhemos as melhores. E a ideia de falar sobre a ditadura já veio naturalmente, que já faz um tempo que pintou essa ideia. Nunca tínhamos feito um álbum conceitual. E, principalmente, é muita a primeira vez de muitas coisas nesse disco. A ideia pintou quando a gente ainda estava com a outra formação e, quando o Vitor saiu da banda, a ideia ficou mais enraizada. 

RtM: E especificamente quanto a parte lírica?

AC: As letras, que na época era o Vítor que ia escrever, pintou naturalmente pra gente fazer, principalmente pra mim. E eu curti demais fazer a pesquisa e entender mais sobre o assunto, porque antes eu sabia superficialmente sobre a época da ditadura. Com certeza eu não sei tudo porque são vinte anos de história, tanto que nas onze músicas citamos as partes mais significativas na época que se passou no regime militar. E no encarte fizemos questão de colocar resumos de cada música, porque na música a gente cita uma coisa e no resumo, a pessoa vai entender um pouco mais sobre aquilo que foi citado. E eu fiquei feliz de entender mais sobre o assunto, e de poder ter usado a minha música num assunto importante que aconteceu no nosso país. E fazer com que outras pessoas (pegando o nosso disco, lendo as letras e lendo os resumos), possam entender mais sobre o assunto. Fico feliz com essa possibilidade que a gente está tendo.


RtM: Os discos anteriores da banda, contando com este mais recente, foram escritos e cantados em inglês, óbvio. Mas pela primeira fez, se não me engano, o Torture Squad é a primeira banda de Heavy Metal brasileira que lança um disco com letras inglês com o título em português. Se tratando de um fato histórico que aconteceu aqui no Brasil foi mais convencional em batizar o título do álbum em português do que em inglês?

AC: Eu também não sei se o Torture Squad é a primeira banda que canta em inglês, com o nome inglês e o título do disco em português. Não sei te falar se somos a primeira, mas com certeza é o primeiro da nossa discografia e da nossa carreira, onde todos os discos são com títulos em inglês e esse é o primeiro com o nome em português.

RtM: O "Esquadrão de Tortura" pode ser considerado mais um material pra quem quer estudar sobre a Ditadura Militar?

AC: Essa pergunta é bem legal! Eu considero que sim, o nosso novo disco é um material pra conhecer sobre a época da ditadura, porque fizemos um estudo sério e aprofundado. Pode não ser tão aprofundado quanto outras obras que falam desse assunto, mas com certeza uma pessoa pode conhecer alguma coisa com o disco e se aprofundar sobre o assunto através de algum livro ou em um link da internet. E o álbum serve sim para um estudo sobre o tema. 

RtM: Pesquisar sobre tudo o que aconteceu durante a Ditadura Militar não tem segredo, porque tem vários documentários, livros e reportagens que abordam sobre o tema. E também, é claro, tem vários artigos na internet e de professores de história que dão aula em escolas públicas. E já que eu citei essa parte didática, o professor Alexandre Rossi Carneiro lhe auxiliou sobre o assunto pra ajudar nas composições do disco. Ele foi a melhor escolha pra que tivessem um conhecimento mais a fundo? 

AC: Sobre o Alexandre Rossi posso falar que, pra gente, foi a escolha certa! Pode até ter outras pessoas que entendem mais sobre o assunto, mas ele foi a melhor escolha. E dentre as pessoas que a gente conhecia, ele foi a escolha obvia por ele ser fã da banda há muito tempo e da gente conhecer ele também. Quando o André entrou na banda não sabíamos que ele conhecia o Alexandre, mas ele já era amigo dele há muito tempo também.


RtM: Foi realmente a escolha certa!

AC: Naturalmente foi a melhor escolha que a gente pode ter. Ele montou um texto apontando acontecimentos da época do regime pra lado nenhum, porque esse era o nosso critério. O critério é narrar a história! E não precisa ser de esquerda e nem de direita pra você entender um assunto e formar a sua opinião. E essa é a nossa intenção com o disco, que as pessoas entendam mais sobre o que aconteceu, e que não precisa levantar bandeira de cor nenhuma para ter uma opinião. 

RtM: A capa, que foi desenhada e ilustrada pelo João Duarte, me chamou muita atenção pelos crânios, a cruz, o jornal, a coruja e o Cristo Redentor. Existe algum significado por trás desses cincos elementos postos na arte gráfica do álbum?

AC: Existem todos os significados, essa é a verdade (risos). O Cristo Redentor e o jornal é pra identificar que foi no Brasil. O Cristo Redentor é uma coisa universal, que qualquer um que vê já sabe que é no Brasil, e a gente fez questão de colocar o jornal usando uma expressão francesa falando "Coup D' Etat", que é "Golpe de Estado" em francês. Só que essa expressão é usada no mundo inteiro. Então qualquer pessoa que pegar o disco em qualquer lugar do mundo e ler: "1964 Brazilian - Coup D' Etat",  e ver o Cristo Redentor já vai saber do que o disco se trata, que é um golpe de estado no Brasil. E essas duas imagens foram justamente pra isso, que é pra facilitar a informação.


Os crânios são pra representar os mortos. E as cruzes atrás, se você reparar, tem cruz de tudo quanto é crença, porque naquela época ninguém estava a salvo da repressão e que qualquer um poderia receber.

A coruja, que você citou, que bem que poderia ser, é uma águia (risos). Uma coisa, que aliás muita gente não sabe, foi a influência americana no golpe de estado do Brasil. E teve uma influência muito grande, principalmente com o Lincol Gordon, que era da embaixada americana aqui em São Paulo. Aliás eu tive uma grande referência sobre a influencia americana no golpe em um documentário chamado "O Dia Que Durou 21 Anos", que fala só sobre a influência americana no golpe. E isso era um fato muito importante que não poderia deixar de passar no disco, e colocamos justamente a águia pra representar isso.

RtM: Em se tratando de álbum conceitual e uma banda como o Torture Squad, tudo se encaixou perfeitamente! Até mesmo na data de lançamento vocês foram conceituais, que foi lançado no dia 15 de novembro de 2013, dia da Proclamação da República Brasileira. Isso foi uma maneira de celebrar a data fazendo uma reflexão escutando o disco?

AC: Todo mundo pode levar como quiser! Teve momentos na hora da gravação, quando o disco estava sendo feito, que conversamos com a gravadora em relação ao lançamento, onde a gente se pegava conversando sobre politica por causa do disco. E isso é muito legal, porque dá a oportunidade de quem conhece a banda e dos bangers que, talvez, não liguem muito pra politica. E eu entendo esse lado, porque a minha vida inteira foi pensando na banda e na minha música. 

A gente vai vendo que, naturalmente, temos que aprender um pouco de tudo. E a política, ela está muito inserida na nossa vida! Não podemos ficar vivendo e fazer de conta que a política não existe, porque tem que entender o que está acontecendo, até pra melhorar o que tem por vir. E dando a possibilidade com o nosso disco, eu fico extremamente feliz. Lançamos no dia da Proclamação da República foi por querer mesmo, que é uma data simbólica no país e do disco ter essa temática política. E eu acho que a data se encaixou com o lançamento.


RtM: Falando sobre a sonoridade do disco, a banda sempre seguiu uma linha Thrash Metal e Death Metal. Mas depois que o Vitor saiu e o André se tornou vocal, as novas músicas ficaram Thrash Metal e Heavy Metal, dividido no meio. Essas variações foram para deixar o André mais a vontade pra poder cantar?

AC: Não, porque a gente não compôs para o vocal dele. Na verdade isso é até normal fazer, mas só que as músicas já estavam sendo feitas e pintou dele cantar. Então ele foi meio que adaptando ao que a música é. E pra te falar a real, ele foi muito guerreiro! Daqui pra frente, talvez, até role dele se ligar que está fazendo um riff, que não está casando com a voz, ou que ele vai encaixar a voz de uma outra forma, porque o riff está sendo feito de uma outra forma. Mas, no disco, não teve esse pensamento. O disco foi ele colocar o vocal em cima e aprender a fazer. 

Então foi um desafio que ele adquiriu e foi dessa forma. Tem música mais cadenciada e tem música que é mais Thrash que não foi proposital por causa da voz dele ou porque ele está cantando e tocando, foi porque rolou naturalmente, mesmo. Eu estou muito feliz com a voz dele, que é um Thrash Metal rasgado, e a voz do Castor é um Death Metal old school. Então a gente tem o Death e o Thrash na voz, conseguimos trabalhar bem isso no primeiro disco com essas duas vozes. E, com certeza, eu acredito que dá até pra trabalhar mais, o que vai fazer crescer o entrosamento em relação a isso.

RtM: Neste novo disco existem várias participações, como a Sphaera Rock Orquestra, Rafael Augusto Lopes (ex-guitarrista da banda), Fernanda Lira (Nervosa), Paulinho Sorriso e Dino Verdade. Mas a participação que eu mais gostei foi a do João Gordo (Ratos de Porão), cantando a faixa "Pátria Livre". Como foi reunir todo esse pessoal pra participar do álbum?

AC: Antes de o João Gordo ser convidado, a música já estava feita. No começo ela tinha letra e tudo, mas depois ela passou a ser instrumental, até que chegou a ideia da gente colocar só uma estrofe numa hora, que é a parte mais Hardcore da música. E sempre que toquei essa música, eu levava como uma singela homenagem ao Ratos de Porão por ser Hardcore. E nessa parte entrou uma estrofe de uma carta que o Carlos Marighella mandou ao ex-partido dele, porque ele tinha ideias mais radicais em relação do combate do regime militar.

João Gordo, vocalista do lendário Ratos de Porão
E aí foi passando o tempo e pensamos: "E se a gente chamasse o João? Ia ser animal!", até que eu liguei pra ele, ele aceitou e ficamos que nem uns moleques, loucos e felizes da vida, porque no Ratos de Porão estão alguns dos nossos heróis! Sepultura, Krisiun e Korzus, também são bandas que fizeram história pra gente, porque elas representam muito. E só pra terminar sobre o João, acho que caiu como uma luva mesmo. É um momento de protesto na letra, e ele cantando, como sempre fez com o Ratos, caiu como uma luva, principalmente nessa época que é o Hardcore da música, onde que eu sempre pensei no Ratos de Porão. E foi impressionante ele cantando nessa parte, que foi muito especial.

RtM: E quanto as outras participações?

AC: As outras participações rolaram naturalmente. Tem uma música no disco, chamada "Architecture Of Pain", que tem um momento que fica baixo e batera, que me remeteu muito a música latina. E ai eu pensei em colocar instrumentos de música lática, com o Ganza, Queixada e até o Meia Lua, mas só que numa mix bem baixa só pra dar um molho, o que não descaracteriza em nada. E ao em vez de eu gravar, eu pensei... 'Por quê eu gravar se eu posso chamar alguns amigos que são batera e que poderiam participar do disco'? E foi isso que eu pensei. E aí que chamei o Paulinho Sorriso, que é um batera de samba-rock, e que temos um grande contato com a Orion Cymbals. O Dino Verdade eu tenho um grande contato com ele, admiro como batera e como empreendedor, porque ele é o dono do "Bateras Beat".

A ideia da Sphaera Rock Orquestra, de fazer o quarteto de cordas, só foi de fazer um tchello e um violino na "Conspiracy Of Silence", que é uma parte mais Death Metal, onde que eu imaginei essas cordas junto com o riff. E no final eles compuseram pra um quarteto e ficou animal! Foram dois violinos, uma viola e um violoncelo. Eles gravaram pra "Conspiracy Of Silence" e "For The Countless Dead", que é uma música instrumental e uma das partes mais importantes do disco, onde a gente deixa uma pergunta nor ar, de falar que teve esse lado e teve outro. Mas como o preço não é muito alto, o que quê você acha? Então pra quem escuta o disco e pra quem lê as letras é pra ter a opinião própria.

Fernanda Lira (ao centro) da Nervosa, também teve participação destacada no álbum
RtM: E a participação da Fernanda, da Nervosa, e do Rafael, ex-guitarrista do Torture?

AC:A Fernanda da Nervosa gravou uma narração na "For The Countless Dead", que eu acho a mais importante do disco, como acabei de falar. Tem uma narração em inglês e outra em português, quem gravou a em português foi o Tommy Moriello, da Crash Bang, e que também trabalha pra gente. A inglês foi a Fernanda Lira, da Nervosa, que também gravou os vocais para uma música do Coroner, a "Divene Step". Aliás a gente tem 11 músicas no disco, mas a gente gravou 17 e que sobrou seis pra ir trabalhando aos poucos.

E tem a participação do Rafael, que eu achei genial. Foi o Castor que teve a ideia dele fazer o solo na "Wardance", que na verdade é um solo que a gente compôs junto na época que ele estava na banda. O solo é a composição dele, mas o riff e a base a gente compôs junto. E a gente achou demais ele estar no disco tocando com uma melodia que ele mesmo compôs.

As participações foram muito especiais! Ficamos muito contentes de ter todo mundo no disco, algo que a gente guardará com muito carinho.

RtM: A produção mais uma vez foi assinada pelo Brendan Duffey e o Adriano Daga no Norcal Studio. Hoje o Norcal sendo um dos melhores estúdios que se tem pra gravar, e com bastante banda boa saindo de lá com ótimos discos, se tornou a melhor opção para gravar o novo disco?

AC: Eu acredito que sim, porque com certeza eles são um dos melhores produtores de Heavy Metal que tem aqui no Brasil. O Brasil está começando a ficar com muitos peritos e muitos produtores que já sabem do que se trata o Heavy Metal, o que no passado, talvez não muito distante não tivesse, mas hoje tem. Tem o Pompeu e o Heros no Mr. Som, o Ciero na Tribos... São produtores que trabalham com esse tipo de som há muito tempo, que sabem a linguagem e que sabem do que se está falando.

E o Brendan e o Adriano com certeza são bem fortes no quesito produção de Heavy Metal. E a gente está bem feliz com o resultado final do disco, porque ele é muito verdadeiro com o som que eu consegui na batera e do som que a gente pegou na guitarra. E quando digo verdadeiro, todos os nossos discos são, mas eu acho que esse consegue passar realmente o som que sai do ensaio, pra passar para a gravação do disco.


RtM: Ano passado você recebeu o convite de fazer participação do novo DVD do Angra, o "Angels Cry - 20th Anniversary Tour", executando a música "Evil Warning". O registro também teve participações da Tarja Turunen, Uli John Roth e do pessoal do Família Lima. Agrega-te muito esses convites que são feitos pra você, como também foi com o Sepultura em 2011?

AC: Com certeza, porque a gente está falando de bandas monstruosas. O Sepultura, não tem o que falar! O Angra também é gigantesco no que eles fazem. Eles têm uma gama de fãs nervosíssima! Talvez muitos fãs de Metal melódico que não conheciam o Death e o Thrash do Torture Squad, o DVD fez chegar o som da banda até eles. 

E com certeza agrega muito! E pra mim agrega em vários segmentos, como por exemplo, eu tive o prazer de ser chamado pra gravar um cover do "Brutal Truth", do CD novo do Oligarquia, que é uma banda contemporrânea e que está no underground a mais de 20 anos. Eles vão fazer um disco só de covers pra demonstrar as influências da banda. E em todos os lados agrega, porque o nome da minha banda está chegando a lugares que talvez não chegasse. E eu fico muito feliz com os convites.

RtM: Falando mais uma vez sobre o novo álbum, como você compara o "Esquadrão de Tortura" com a realidade atual de hoje?

AC: Na última música fizemos a questão de finalizar a história da ditadura, que acabou em 1985, mas foi em 1988 que promulgou a norma constitucional, que no papel e pelas leis tinha acabado a Ditadura Militar. A democracia na verdade tinha voltado, o que se torna uma interrogação. A eleição que veio após a ditadura foi a do Collor e do Lula, onde tinha o lance da Rede Globo se infiltrando nos debates e que, isso, foi comprovado. Tentaram manipular a cabeça do povo dizendo que o Collor era o melhor. Mas esse nepotismo continua na política, com os filhos, com a família Sarney, com o ACM... Ou seja, a ditadura acabou, mas talvez ela continue de outra forma. Não digo em relação à repressão, mas eu digo com aquele jeito antigo de se pensar. 


Não digo que a ditadura teve isso, mas eu acho o que pegou mesmo naquela época foi o lance da repressão e do golpe, dizendo que o João Goulart era um comunista e tal. Era uma coisa que nasceu errada e que só podiam acontecer coisas erradas, essa é a visão que eu tenho. E hoje, mesmo com a democracia, eu acho que rola muita picaretagem com essa coisa do querer ganhar mais e de passar por valores normais pro ser humano, que é a coisa de você ser honesto e de ganhar o que é seu por direito. Mesmo estando o pote de ouro no seu lado e não é seu você não tem que pegar, porque é de alguém. Mas eu não sei... O Brasil sempre vive essa coisa do jeitinho brasileiro, dessa coisa de dar-se um jeito e da coisa do que eu possa dar uma melhorada aqui. E isso enche o saco! E é muito revoltante, porque é isso que não deixa o país ir pra frente.

RtM: O famoso jeitinho e aquela ideia de sempre tirar uma vantagem em tudo!

AC: E é exatamente essa cabeça que tem na política hoje. E isso um dia tem que mudar! E eu acredito muito nas pessoas do bem, junto com as novas gerações, com a criançada que está sendo educada pelos próprios pais, que já sabem o que precisa pra que mude isso, que já as eduquem hoje para que, quando chegar lá e tiver o poder nas mãos, já saber o que fazer. E eu acho que acabou aquela repreensão duríssima que tinha na ditatura. Pode ter uma repressão ainda, mas talvez não seja com tanto afinco quanto antes. Só esse lance da política já me perturba de uma forma muito grande. Eu acredito que isso está me influenciando tanto que, as músicas do próximo disco, virão mais politizadas. E com certeza o próximo disco vai vir uma coisa de a gente falar realmente o que a gente acha hoje, com as letras mais realistas. 

O gaúcho João Goulart (conhecido popularmente como "Jango"), 24º presidente
Nós que somos do bem e fazemos as coisas na honestidade, toda notícia de político é 99% de pilantragem. Você não tem em quem confiar! E vendo as entrevistas do João Goulart no Youtube, eu sinto uma verdade no olhar dele que eu não sinto nos políticos de hoje. E independente de bandeira e de cor, não tem mais essa de partido! Tem que ter honestidade e hombridade, porque você tem que ver o valor na pessoa, mesmo. E quando eu via as entrevistas do João Goulart, eu senti uma verdade muito grande no que ele falava. É claro que eu não vivi a época, às vezes as pessoas que me vêem falando acham que estou errado, mas eu estou falando do feedback que eu tive de tudo o que eu vi. 

RtM: Depende do ponto de vista e até o grau de conhecimento de cada um sobre o assunto, penso eu.

AC: Eu não vi mentira, eu vi um cara simples querendo o bem pro país. E via com honestidade no olhar, que é uma coisa que eu não vejo nos políticos de hoje. Às vezes o pessoal fica esperando acontecer alguma coisa pior, do tipo começar a matarem uns políticos e jogar nas valas e neguinho começar a perceber que está ficando feio pra quem mata, rouba e para quem não está nem ai pro povo. E o povo precisa mesmo acordar, de um jeito, que o país ainda não viu. E uma coisa dura tem que acontecer pra todos, que é pra coisa recomeçar de um jeito que fique tudo bem.


RtM: Para encerrar, quais são os planos do Torture Squad para esse ano de 2014? Pode pintar um DVD ou CD ao vivo?

AC: Pode sim, principalmente no final da turnê do disco. Não sabemos onde e não sabemos quando ainda, o que a gente sabe é que queremos gravar um DVD mais pro final, mesmo. Não digo que no final do ano ou começo do ano que vem, mas como a gente já tem tocado bastantes músicas, queremos pegar a banda ainda mais quente. E vamos tocar o máximo que puder pra divulgar o disco, já temos planos pra fazermos uma turnê aqui no Brasil, que a Agencia Sob Controle vai marcar tudo pra gente. Estamos tentando pra fazer essa tour antes da Copa, porque com certeza vai parar tudo. E depois da Copa, ou durante, temos planos da gente também ir pra Europa. E tudo isso está sendo trabalhado. Enquanto isso, estamos fazendo nossos shows esporádicos, mesmo.

RtM: Muito obrigado pela entrevista! Deixo o espaço liberado pra você dizer qualquer coisa para os leitores.

AC: Um grande abraço para todos os bangers que acompanham o Road To Metal! Foi um prazer essa conversa com vocês. E força para as bandas brasileiras e pra cena Metal brasileira. 

Entrevista: Gabriel Arruda
Revisão/edição: Carlos Garcia/Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal da Banda
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