quinta-feira, 1 de maio de 2025

Cobertura de Show: Savatage & Opeth – 21/04/2025 – Espaço Unimed/SP

Savatage e Opeth em São Paulo: uma noite histórica entre técnica, emoção e nostalgia

Na noite da última segunda-feira, 21 de abril, São Paulo recebeu mais um sideshow do Monsters of Rock — o segundo, após as apresentações solo de Judas Priest e Queensrÿche — reunindo duas bandas de peso: Opeth, responsável pela abertura, e o aguardado Savatage, em seu primeiro show solo desde 2003, em um encontro que ficou marcado tanto pela precisão musical quanto pela emoção que transbordou do palco para a plateia.


Opeth: um mergulho técnico e atmosférico pelo metal progressivo

Pontualmente às 19h30, o Opeth subiu ao palco para um público ainda em formação, mas já considerável. A abertura com" §1”, do seu trabalho mais recente The Last Will and Testament, empolgou imediatamente os fãs da banda, ainda que parte da audiência estivesse ali principalmente por conta do Savatage.

Na sequência, "Master's Apprentices", do clássico Deliverance (2002), fez o público alternar entre headbangings intensos e coros em uníssono, graças à sua combinação de vocais guturais e passagens limpas. Foi com "The Leper Affinity", do aclamado Blackwater Park (2001), que a banda conquistou até os desavisados: gritos entusiasmados ecoaram, e a plateia mergulhou de vez na apresentação.


Com uma execução impecável, o grupo — formado por Mikael Åkerfeldt (vocais e guitarra), Martin Axenrot (bateria), Martín Méndez (baixo), Fredrik Åkesson (guitarra) e Joakim Svalberg (teclados) — mostrou que não precisa de pirotecnias para prender a atenção: a técnica refinada de cada integrante é o grande espetáculo.

Mikael, como de costume, mesclou bom humor e sarcasmo entre as músicas. Após apresentar o tecladista, deu boas-vindas ao público e brincou: “Bem-vindos ao entretenimento da noite — Savatage. Mas antes, um pouco de death metal.” Também admitiu que alguns poderiam não gostar de seus gritos, arrancando risos antes de engatar "§7", outra faixa do último álbum, que teve a participação de Ian Anderson (Jethro Tull) em estúdio e que aqui foram auxiliados por um membro da equipe técnica.


Entre piadas, comparações com múmias e menções à idade da banda, Mikael chamou "In My Time of Need", pedida pelo público e entoada em coro, num dos momentos mais belos da noite. Um dos momentos mais bonitos do show veio quando a plateia cantou sozinha um dos refrões — cena de arrepiar.

O vocalista comentou sobre o Monsters of Rock, divertindo-se ao mencionar os colegas de festival como verdadeiros montros, mas que o Opeth seriam apenas os "gremlins do rock", além de mencionar sua confraternização com os membros do Europe.


Antes de "§3", mais uma do disco de 2024, Mikael alertou que o momento “estranho” no meio da faixa era intencional — avisou: “parece que estamos errando, mas é só porque mudamos a afinação no meio e depois afinamos de novo. Achamos que seria uma boa ideia...”.


A poderosa “Ghost of Perdition”, do álbum Ghost Reveries (2005), veio em seguida e foi acompanhada com empolgação pelos fãs. Após uma breve saída, a banda retornou para o bis com “Sorceress”, faixa-título do disco de 2016. O épico encerramento veio com "Deliverance", de mais de 14 minutos. Mikael, com ironia, disse nunca entender por que essa última ficou tão popular.


Mesmo com apenas nove músicas, o set foi robusto e consistente, agradando tanto os fãs devotos quanto os que aguardavam o headliner. O Opeth fez o que sabe melhor: entregou uma aula de musicalidade progressiva com carisma e personalidade.


Opeth – setlist: 

§1

Master's Apprentices

The Leper Affinity

§7

In My Time of Need

§3

Ghost of Perdition 

Bis

Sorceress

Deliverance


Savatage: o retorno triunfal de uma lenda

Às 21h30, os gritos unânimes confirmavam: Savatage estava de volta a São Paulo após décadas sem uma turnê solo. Desde 2003 a banda não fazia shows fora dos grandes festivais, e a noite prometia ser histórica para os fãs brasileiros. Com formação atual composta por Zak Stevens (vocais), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Johnny Lee Middleton (baixo), Jeff Plate (bateria) e dois tecladistas, o colombiano Paulo Cuevas e o americano Shawn McNair (informação via site Igor Miranda), o grupo entrou em cena com tudo, dando início ao set com “The Ocean”, que incluiu um trecho de “City Beneath the Surface” — um aceno direto às origens da banda.

Logo na sequência, “Welcome” aqueceu os ânimos, seguida de “Jesus Saves”, recebida com entusiasmo. Zak saudou os fãs com um simpático “Olá, como vai? Faz barulho aí!” em português, arrancando aplausos e risos. Na introdução da próxima faixa, o vocalista acabou se atrapalhando ao anunciar “The Wake of Magellan”, mas a banda acabou tocando “Sirens” — clássico absoluto do primeiro álbum, que fez a plateia vibrar ainda mais.

O show seguiu com a rara “Another Way”, do álbum The Wake of Magellan, uma pérola para os fãs mais devotos, já que a música não vinha sendo executada ao vivo desde 2015. Após ela, aí sim veio “The Wake of Magellan”, dessa vez anunciada por Zak “Aqui está uma música que prometi a vocês há muito tempo!” e tocada corretamente — uma retificação bem-humorada e bem recebida.

Com tudo nos eixos, veio a sequência matadora com “Strange Wings” e “Taunting Cobras”, ambas com ótima resposta do público. Zak parecia surpreso com a energia da plateia, especialmente na segunda, e sorria visivelmente satisfeito. A intensidade aumentou com “Turns to Me”, mantendo o nível lá no alto.

A emocionante “Dead Winter Dead” veio na sequência, criando um clima mais contemplativo antes de dar espaço à instrumental “The Storm” (com solo de guitarra estendido), que funcionou como uma ponte para a linda “Handful of Rain” — cantada em coro pelo público do início ao fim, num dos momentos mais tocantes do show. O instrumental é um destaque à parte. Não apenas tudo parecia estar sendo executado perfeitamente como também os músicos estavam realmente se divertindo.

Logo depois, veio a épica “Chance”, com projeções de diversas bandeiras e relógios, até culminar na bandeira do Brasil estampada com o logo da banda no telão, arrancando aplausos e gritos da plateia. É muito satisfatorio ver os integrantes interagindo entre si, brincando e sorrindo. Mostra que eles estão felizes em estar de volta aos palcos e, sortudos são os brasileiros por receberem os primeiros shows do retorno. “Aqui vai algo legal…” antecedeu “This is the Time (1990)”, seguida por “Gutter Ballet”, que teve inclusive seus arranjos instrumentais entoados por fãs emocionados.

Quando “Edge of Thorns” começou, muitos já percebiam que o final se aproximava. Mas ainda havia mais. A densa e poderosa “The Hourglass”, também do The Wake of Magellan, preparou o público para o momento mais emocionante da noite: “Believe” foi apresentada como um tributo com a participação de Jon Oliva no telão — apesar de um pequeno atraso na exibição da imagem. 

Durante a música, a banda e Jon se alternaram, com o grupo entrando após o primeiro refrão e culminando em um ápice emocionante, onde todos tocavam e cantavam juntos. A performance também serviu como uma homenagem a Criss Oliva, falecido em 1993, que recebeu aplausos calorosos do público enquanto fotos suas eram exibidas no telão.

Sem pausa longa, o encore veio com “Power of the Night”, que levantou ainda mais os ânimos, culminando no grandioso encerramento com “Hall of the Mountain King”, clássico incontestável que pôs fim a uma noite inesquecível para todos os presentes.

Se no show do Monsters a banda já entregou um grande show, parece que a atmosfera mais intimista os deixou ainda mais à vontade. Acredito que a conexão de um público que está (em sua maioria) exclusivamente para ver a banda, faz toda a diferença na entrega. Poder presenciar a execução de músicas que não eram tocadas há 10, 20 anos é realmente um privilégio.

Após uma noite intensa e memorável, ficou claro que tanto o Opeth quanto o Savatage entregaram performances à altura de suas trajetórias. O encontro dessas duas potências do metal em uma mesma noite foi um presente para os fãs brasileiros — especialmente para aqueles que ainda estavam em clima de euforia após o Monsters of Rock.

Ambas as bandas seguem agora com apresentações em outros países da América Latina, levando seus shows para públicos igualmente apaixonados. No meio do ano, partem para a aguardada turnê europeia, que inclui participações em alguns dos maiores festivais do continente. Um momento especial na carreira de duas bandas que, mesmo com estilos distintos, compartilham a mesma devoção pela música e pelos fãs.



Texto: Jessica Tahnne Valentim


Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Mercury Concerts

Press: Catto Comunicação


Savatage – setlist: 

The Ocean (com snippet de "City Beneath the Surface")

Welcome

Jesus Saves

Sirens

Another Way (primeira vez desde 2015)

The Wake of Magellan

Strange Wings (primeira vez desde 2002)

Taunting Cobras (primeira vez desde 1998)

Turns to Me (primeira vez desde 2015)

Dead Winter Dead

The Storm (introdução estendida de solo de guitarra; primeira vez desde 2015)

Handful of Rain

Chance

This Is the Time (1990) (primeira vez desde 2002)

Gutter Ballet

Edge of Thorns

The Hourglass (primeira vez desde 2002)

Believe 

Bis

Power of the Night (primeira vez desde 2003)

Hall of the Mountain King

Cobertura de Show: Judas Priest & Queensrÿche – 20/04/2025 – Vibra/SP

Judas Priest e Queensrÿche no Vibra São Paulo: Uma noite histórica de Heavy Metal

No dia seguinte ao Monsters of Rock, São Paulo foi novamente palco de um encontro épico de titãs do heavy metal. No Vibra São Paulo, a Mercury Concerts apresentou duas potências do gênero: Queensrÿche e Judas Priest, em performances que, mesmo após o intenso festival, provaram que o metal nunca descansa — e o público também não.


Queensrÿche: técnica, carisma e uma voz que impressiona

Pontualmente às 19h, com “The Mob Rules”, do Black Sabbath, tocando no som mecânico, o Queensrÿche subiu ao palco abrindo com a clássica “Queen of the Reich”, repetindo a escolha da noite anterior no festival. Em seguida, a faixa-título do aclamado Operation: Mindcrime foi recebida com entusiasmo, com o público cantando em uníssono.

Sem pausas, a sequência seguiu com “Walk in the Shadows”, com a banda — formada por Todd La Torre (vocais), Michael Wilton e Mike Stone (guitarras), Casey Grillo (bateria) e Eddie Jackson (baixo) — demonstrando entrosamento absoluto.

“Breaking the Silence” surgiu como grata surpresa no set, já que não havia sido tocada no Monsters. Aqui, cabe um destaque especial: Todd La Torre entregou uma performance vocal irrepreensível, com potência e precisão.

Em “I Don’t Believe in Love”, no entanto, o grito inicial soou um tanto artificial, com indícios de playback. Ainda assim, a recepção foi calorosa — é um dos maiores sucessos da banda. Em um momento de interação, Todd pediu que as luzes fossem acesas para ver o público e perguntou quem estava vendo o Queensrÿche ao vivo pela primeira vez. Saudou os fãs e também prestou respeito ao “poderoso Judas Priest”, atração principal da noite.

Na sequência, “Warning” manteve o ritmo elevado e “The Lady Wore Black”, que também não estava presente no set do Monsters, trouxe uma chuva de celulares em gravação, marcando um dos pontos altos da apresentação. A semelhança do timbre de Todd com o de Geoff Tate em sua juventude é realmente impressionante.

“The Needle Lies” trouxe de volta o peso do Operation: Mindcrime. A esperada sequência “The Mission” e “Nightrider” foi substituída por um momento intimista em que Todd convidou o guitarrista ao centro do palco e puxou o público para cantar “Take Hold of the Flame”.

Com “Empire”, a banda encaminhou-se para a reta final. Durante a faixa, Todd apresentou os membros da formação. “Screaming in Digital” (do Rage for Order) e a poderosa “Eyes of a Stranger” fecharam a impecável apresentação, deixando um gostinho de quero mais. O Queensrÿche segue em turnê na América Latina com shows no Chile e na Argentina, e torcemos por um retorno breve ao Brasil.


Queensrÿche – setlist:

Queen of the Reich

Operation: Mindcrime

Walk in the Shadows

Breaking the Silence

I Don't Believe in Love

Warning

The Lady Wore Black

The Needle Lies

Take Hold of the Flame

Empire

Screaming in Digital

Eyes of a Stranger





Judas Priest: uma aula de Heavy Metal ao vivo

Quando os primeiros acordes de “War Pigs” do Black Sabbath ecoaram no som ambiente, era claro que o momento do Judas Priest se aproximava. Após a introdução da tour “Clarionissa” tocar, o hino “Panic Attack”, do último trabalho da banda, Invincible Shield, deu início ao espetáculo com impacto: o pano caiu e a banda já estava a postos, sendo recebida por gritos eufóricos.

Sem dar respiro, emendaram com o clássico “You’ve Got Another Thing Comin’”, que levou o público ao delírio com pulos e coros. Rob Halford aplaudiu o público e, após saudar a plateia com um “Vocês estão prontos?”, puxou “Rapid Fire”, que abriu uma roda que permaneceu acesa por boa parte do show.

Na sequência, veio a inevitável “Breaking the Law”, que provocou um dos momentos mais emocionantes da noite: o público cantando as linhas de guitarra durante os trechos instrumentais. Um verdadeiro espetáculo de devoção.

A dobradinha “Riding on the Wind” e “Love Bites” manteve o nível lá no alto, com direito a trechos da letra e imagens do filme Nosferatu nos telões. “Devil’s Child” manteve a performance afiada da banda, que impressiona pela entrega e vitalidade após décadas de estrada.

Uma grata surpresa foi “Saints in Hell”, ausente do set no festival. Com visuais infernais e iluminação vermelha, o clima foi perfeito. Ainda que parte do público demonstrasse cansaço, possivelmente reflexo do dia anterior, a força dos clássicos reenergizava os presentes. Vale destacar: é sempre louvável ver fãs casuais comparecendo e, quem sabe, se tornando novos seguidores fiéis da banda.

Pequenos deslizes de Faulkner na guitarra passaram quase despercebidos — e, na verdade, reforçam a autenticidade de uma banda que ainda toca “na raça”, sem cliques ou backing tracks excessivos. Há, talvez, algum uso pontual de delay nos vocais de Halford, mas nada que comprometesse.

“Crown of Horns” trouxe mais um destaque do novo álbum, com Scott Travis literalmente “brincando” com as baquetas entre as batidas. A clássica “Sinner” reacendeu a roda entre os fãs old school.

“Turbo Lover” foi acompanhada por um verdadeiro mar de celulares e por um coro impressionante do público. Em seguida, Halford sentou-se em um banquinho improvisado e, em tom de conversa, agradeceu pela presença de todos e celebrou a longevidade da banda. Ao mencionar os álbuns do Judas - com exceção daqueles que contam com Ripper Owens nos vocais -, foi saudado com entusiasmo a cada nome citado, culminando na execução de “Invincible Shield”, com o icônico tridente da banda descendo do alto do palco.

“Victim of Changes” manteve a intensidade, com Scott Travis brilhando em cada virada. Em um momento lúdico, Halford brincou com o público, em um “duelo” vocal à la Freddie Mercury. Após agradecer, o grupo executou “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)”, cover do Fleetwood Mac que há muito já ganhou identidade própria com o Priest.

Ao se encaminhar para o fim, veio o momento mais esperado: Scott Travis saudou o público e perguntou o que todos queriam ouvir. A resposta foi unânime: “Painkiller”. Com uma introdução explosiva, foi o ápice da noite, um dos momentos mais intensos do heavy metal ao vivo.

Para o bis, a introdução de “The Hellion” já entregava o que seguiria: “Electric Eye”, mais um clássico absoluto. O som de motores antecipava “Hell Bent for Leather”, com Halford em sua tradicional Harley no palco.

A noite foi encerrada com “Living After Midnight”, colocando um ponto final em uma aula de heavy metal, com presença de palco, técnica, e, acima de tudo, paixão pelo que fazem. O Judas Priest mostrou que continua no topo — e que ali deve permanecer por muito tempo. A imagem final dos telões trazia a frase: “The Priest Will be Back” (O Priest retornará), e assim esperamos ansiosamente.









Texto: Jessica Tahnne Valentim

Fotos: Ricardo Matsukawa

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Mercury Concerts

Press: Catto Comunicação


Judas Priest – setlist:

Clarionissa (Tour Intro) - *no som mecânico

Panic Attack

You've Got Another Thing Comin'

Rapid Fire

Breaking the Law

Riding on the Wind

Love Bites

Devil's Child

Saints in Hell

Crown of Horns

Sinner

Turbo Lover

Invincible Shield

Victim of Changes

The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (Fleetwood Mac cover)

Painkiller 

Bis

The Hellion

Electric Eye

Hell Bent for Leather

Living After Midnight