Formada no final da década de 1960, o Uriah Heep se destacou como um dos grandes nomes do Heavy Rock – termo utilizado antes de ser substituído por Heavy Metal. Nos anos 1970, período em que ganhou fama, o grupo lançou álbuns marcantes como Look at Yourself, Demons and Wizards, The Magician’s Birthday e Sweet Freedom. Embora nunca tenha alcançado o mesmo nível de reconhecimento de nomes como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin, o Uriah Heep ocupa um papel fundamental na história do Rock e, após 55 anos de carreira, continua influente até os dias de hoje.
Sob a liderança do guitarrista Mick Box (único membro que está desde o começo de tudo), a banda retornou ao Brasil para uma série de cinco shows em abril, passando por Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte. As apresentações, que também ocorreram em outros países da América Latina, fazem parte da The Magician’s Farewell Tour, que, como o nome indica, marca a despedida do grupo das grandes turnês. Apesar disso, o vocalista Bernie Shaw e os demais integrantes – Dave Rimmer (baixo), Russell Gilbrook (bateria) e Phil Lanzon (teclados) – já adiantaram que a banda pretende continuar compondo novas músicas e realizando shows pontuais, descartando qualquer possibilidade de encerramento definitivo.
A noite começou por volta das 20h53 com a apresentação da Allen Key, banda que recentemente integrou o line-up da última edição do Lollapalooza. Com um set de cerca de 40 minutos, o grupo – formado por Karina Menasce (vocal), Pedro Fornari e Victor Anselmo (guitarras) – apresentou músicas de seu único álbum, The Last Rhino. Entre os destaques, a empolgante “Straw House” e a melódica “Illusionism”, ambas recebidas com entusiasmo pelo ainda tímido público. A Allen Key também mostrou alguns singles do próximo álbum, ainda sem previsão de lançamento, como “Sleepless” e “Death From Above”, que surpreendeu com um início mais intimista antes de ganhar peso. Para encerrar com estilo, a banda apresentou a inédita “Get In Line”.
Apesar da diferença sonora em relação à atração principal, a Allen Key conseguiu aquecer e conquistar o público que chegou cedo. Com fortes influências de Hard Rock e Heavy Metal, o grupo recebeu elogios não apenas pelas composições, mas também pela presença de palco. Karina Menasce, como sempre, se destacou com uma performance magnética e vocalizações precisas. Foi, sem dúvida, mais uma abertura memorável na trajetória da banda, que já dividiu o palco com nomes como Angra, Tarja Turunen e Roland Grapow.
Allen Key – setlist:
Granted
Apathy
Straw House
Illusionism
Sleepless
Death From Above
Easy Prey
Get in Line
Com a arte da nova turnê projetada ao fundo e os equipamentos prontos, o Uriah Heep subiu ao palco pontualmente às 22h, abrindo o show com a poderosa “Grazed by Heaven”, do álbum Living the Dream (2018). O repertório de 14 músicas teve como foco os clássicos da década de 1970, mas incluiu também faixas mais recentes, como duas do disco Chaos & Colour (2023): “Save Me Tonight” – impactante, mesmo com o volume da guitarra de Mick um pouco baixo – e a vigorosa “Overload”, que encerrou essa primeira trinca com maestria.
Os clássicos vieram cedo. “Shadows of Grief”, do álbum Look at Yourself – “o disco do espelho grande”, como brincou Bernie – evidenciou a técnica apurada da banda, especialmente do tecladista Phil Lanzon, ovacionado logo nas primeiras notas. A seguir, “Stealin” levantou o público, que cantou em uníssono cada verso, deixando Bernie impressionado: “Que coral temos aqui esta noite!”.
Quem já viu o Uriah Heep ao vivo sabe que Bernie Shaw, prestes a completar 40 anos de banda, tem uma presença de palco cativante e uma empatia contagiante. Entre uma música e outra, ele interage com o público e faz questão de valorizar os seus colegas de badna. Durante a apresentação de “Hurricane”, por exemplo, destacou o baterista Russell Gilbrook, responsável pela composição da faixa, e ainda fez piada sobre o seu kit de bateria.
A partir da metade do setlist, a banda mergulhou de vez nos clássicos. “The Wizard” emocionou o público logo nos primeiros acordes, marcando o primeiro ponto alto da noite. Na sequência, “Sweet Lorraine” trouxe um clima mais descontraído – “é sobre uma mulher que adora festas”, explicou Mick Box. Já “Free ‘n’ Easy” trouxe a energia crua do Heavy Metal dos anos 70, com Bernie chamando Mick à frente do palco para executar os riffs, colocando a casa abaixo.
Mick Box, que merecia estar entre os maiores guitarristas do Classic Rock, brilhou especialmente em “The Magician’s Birthday”. Com cerca de 10 minutos de duração, a música tem uma parte instrumental impressionante, culminando em mais um ponto alto da noite. Antes do tradicional bis, a banda ainda presenteou o público com duas joias: a poderosa “Gypsy” e a deslumbrante “July Morning”, que levou todos à catarse com o público cantando junto os característicos ‘la, la’ do refrão.
Sem demora, a banda retornou ao palco com a intensa “Sunrise” e finalizou a noite com a empolgante “Easy Livin’”, hit que costuma fechar as apresentações da banda. Um clássico que muitos já ouviram sem saber que é do Uriah Heep.
O show durou cerca de uma hora e meia, curto para alguns fãs que sentiram falta de músicas como “Lady in Black”, “Look at Yourself” e “Return to Fantasy”, que mais uma vez ficou só no desejo. Afinal, são 55 anos de história e um catalogo de 26 álbuns, o que torna qualquer setlist um desafio. Ainda assim, quem esteve no Tokio Marine Hall no último dia 11 de abril presenciou uma apresentação memorável de uma banda que ajudou a moldar os alicerces do Heavy Metal.
Realização: Top Link Music
Uriah Heep – setlist:
Grazed by Heaven
Save Me Tonight
Overload
Shadows of Grief
Stealin'
Hurricane
The Wizard
Sweet Lorraine
Free 'n' Easy
The Magician's Birthday
Gypsy
July Morning
Bis
Sunrise
Easy Livin
Nenhum comentário:
Postar um comentário