Após o feriado do Dia do Trabalhador, o Memorial da América Latina foi palco de mais uma edição do festival de música pesada mais importante do Brasil e da América Latina. Se você pensou no Summer Breeze, é compreensível. No entanto, devido ao fim da parceria com os organizadores alemães, o festival agora atende por outro nome: Bangers Open Air. Apesar da mudança, a proposta continua a mesma: quatro palcos, mais de 50 atrações e uma variedade de atividades que abrangem desde gastronomia, tatuagem, cultura geek, entre outras coisas. Tudo isso ao longo de três dias intensos, não deixando nada a desejar em comparação aos grandes eventos europeus.
Para não dizer que não houve mudanças em relação às edições passadas, as únicas que pude notar foram na entrada do lounge, agora controlada por QR Code e reconhecimento facial por meio de catracas, a fim de evitar a entrada de penetras e fraudes. Outra novidade, que achei a mais legal, foi a liberação gratuita para crianças de até 10 anos. Em todos os dias, vi várias curtindo as diversas atrações ao lado dos pais, tios e avós, sob um calor escaldante, assim como no ano passado. Apesar dessas pequenas mudanças, o padrão geral do festival permaneceu o mesmo, com algumas melhorias pontuais aqui e ali.
Com os palcos Sun e Waves desativados, o primeiro dia contou shows apenas nos palcos Ice e Hot Stage, um contraste em relação ao ano passado, que teve uma programação mais extensa, mas com público reduzido por ser um dia útil. Neste ano, a organização manteve uma escala menor, provavelmente ciente de que muitos headbangers ainda estariam cumprindo seus compromissos profissionais. Mesmo com a primeira apresentação marcada para as 15h10, o público começou a chegar em peso após o fim do expediente. Quem teve a sorte e a proeza de comparecer ao chamado "Warm-Up", uma espécie de aquecimento para os outros dois dias de festival, pôde assistir a shows acima da média.
Infelizmente, não consegui ver o Kissin' Dynamite, banda pela qual eu estava ansioso para ver. Segundo comentários e relatos de amigos que assistiram, os alemães entregaram um ótimo show, como já era de se esperar tratando-se de uma das melhores bandas de Hard Rock da atualidade. Fica aqui o pedido para que voltem em uma futura edição, desta vez com tempo suficiente para poder vê-lo.
Kissin' Dynamite – setlist:
Back With a Bang
DNA
No One Dies a Virgin
I've Got the Fire
My Monster
The Devil Is a Woman
Not the End of the Road
You're Not Alone
Raise Your Glass
Logo em seguida, foi a vez das meninas da Dogma, banda que rapidamente caiu nas graças dos brasileiros, subirem ao palco. Como muitos já sabem, as integrantes mantêm suas identidades em segredo, apostando em um visual enigmático: todas vestidas como freiras, com um toque sensual, que certamente provoca reações intensas, inclusive de católicos e até mesmo evangélicos mais conservadores.
Assim como no ano passado, a banda entregou um show sensacional, mostrando que sua performance cresce ainda mais em um palco amplo e bem produzido. Embora alguns tenham reclamado da qualidade do som, muitos ficaram encantados com o hard n’ heavy praticado pelo grupo e com as faixas do, até agora, único disco lançado em 2023, como “Bare to the Bones”, “Make Us Proud”, a pesada “Pleasure From Pain” e a já clássica “Father I Haven Sinned”. As novidades ficaram por conta do cover de “Like a Prayer”, da rainha do pop Madonna, e da nova faixa “Banned”.
Dogma – setlist:
Forbidden Zone
My First Peak
Made Her Mine
Banned
Like a Prayer (Madonna cover)
Bare to the Bones
Make Us Proud
Pleasure From Pain
Father I Have Sinned
The Dark Messiah
Depois, no palco vizinho, era a vez de conferir os veteranos do Armored Saint, uma das bandas mais subestimadas da história do Heavy Metal e que merecia muito mais reconhecimento. Diferente do show anterior, a banda teve uma recepção mais discreta, com o público sendo em sua maioria composto pelos fãs fiéis. Outro detalhe importante é que o Armored Saint não tem o hábito de visitar o Brasil com frequência. Inclusive, esse foi o primeiro de apenas dois shows que a banda realizou neste ano, já que eles vão focar na gravação do novo álbum. Isso foi o que o baterista Gonzo Sandoval explicou em uma entrevista que nos concedeu.
Quem estava ansioso para vê-los acabou se decepcionando um pouco não pela performance – por sinal, muito boa –, e sim pela qualidade do som, que não melhorou em nenhum momento. Independentemente desse problema técnico, John Bush (vocal), os irmãos Gonzo e Phil Sandoval (bateria e guitarra, respectivamente), Joey Vera (baixo) e Jeff Duncan (guitarra) entregaram o melhor de si em pérolas como “March Of The Saint”, “Last Train Home”, “Can U Believer” – com John descendo do palco e cantando perto da galera – e “Reign Of Fire”, que fizeram a alegria dos fãs.
Armored Saint – setlist:
March of the Saint
End of the Attention Span
Raising Fear
Long Before I Die
The Pillar
Last Train Home
Left Hook From Right Field
Standing on the Shoulders of Giants
Win Hands Down
Can U Deliver
Reign of Fire
Após a Signing Session com as meninas do Dogma, corri para conferir os dinamarqueses do Pretty Maids, que finalmente fizeram sua estreia no Brasil após 40 anos.
Durante toda a apresentação, dava para perceber a alegria de Ronnie Atkins (vocal), Ken Hammer (guitarra), Rene Shades (baixo), Allan Tschicaja (bateria) e Chris Laney (teclado/guitarra) por finalmente tocarem no país. Ronnie, em especial, chamava a atenção. Mesmo após anos enfrentando um tratamento contra o câncer, o vocalista continua com uma potência vocal impressionante, além de demonstrar muita interação entre as músicas.
Infelizmente, não consegui ver as três primeiras músicas, mas cheguei a tempo de ver e ouvir “Red, Hot and Heavy”, uma das faixas mais conhecidas da banda, a qual resume bem sua proposta musical, que é um hard n’ heavy contagiante. Me surpreendeu positivamente a sequência de músicas do álbum Pandemonium com “I.N.V.U.” – com Ronnie brincando com o público fazendo os “ô ô ô” e “yeah, yeah” –, “Little Drops of Heaven” e a própria “Pandemonium”, que agitaram a noite de forma impactante.
A trinca final ficou por conta da balada “Please Don't Leave Me”, originalmente composta pelo saudoso John Sykes e que trouxe um momento de respiro antes das indispensáveis “Future World” e “Love Games”, que colocaram o ponto final nessa estreia memorável, com o público vibrando a cada verso e riff. Torcemos para que essa visita não tenha sido única, pois ficou claro o quanto os brasileiros gostam da banda e ansiavam por essa vinda.
Pretty Maids – setlist:
Mother of All Lies
Kingmaker
Rodeo
Back to Back
Red, Hot and Heavy
Pandemonium
I.N.V.U.
Little Drops of Heaven
Please Don't Leave Me
Future World
Love Games
O penúltimo show do primeiro dia ficou por conta de ninguém menos que Doro Pesch. Com uma carreira que ultrapassa quatro décadas, a vocalista alemã continua mantendo uma presença firme e uma dedicação incondicional ao Heavy Metal. Ao subir ao palco com “Rule the Ruins” e “Earthshaker Rock” – sucessos de sua época de Warlock –, Doro prova que a coroa de Rainha do Metal não lhe foi dada por acaso. Ao lado de sua banda, ela ainda empolgou o público com faixas de sua fase solo, como “Time for Justice” e “Raise Your Fist in the Air”.
Os pontos altos da apresentação ficaram por conta de “Für Immer”, momento em que Doro se cobriu com a bandeira do Brasil, e de “Fire in the Sky”, onde o guitarrista brasileiro Bill Hudson saudou seus compatriotas antes de iniciar a música, composta por ele especialmente para Doro.
No encerramento, a cantora prestou uma homenagem ao Judas Priest com “Breaking the Law”, que começou de uma maneira mais melódica, mas logo retomou seu formato clássico, fazendo com que rodas se formassem próximas ao palco. “All We Are”, considerada um verdadeiro hino pelos fãs e por todo headbanger que se preze, encerrou a participação da majestade do metal em clima de celebração, resultando, sem dúvidas, no melhor show do dia.
Doro – setlist:
I Rule the Ruins
Earthshaker Rock
Burning the Witches
Hellbound
Fight for Rock
Time for Justice
Raise Your Fist in the Air
Metal Racer
Für immer
Fire in the Sky
Breaking the Law (Judas Priest cover)
All We Are
Para encerrar este maravilhoso dia de aquecimento, o Hot Stage recebeu Glenn Hughes, uma lenda do rock que dispensa apresentações. Seus trabalhos icônicos ao longo da carreira falam por si. O vocalista, considerado por muitos como “the voice of rock”, tem um carinho especial pelo Brasil, tendo se apresentado aqui diversas vezes, embora poucas em festivais. Sua estreia em festivais brasileiros ocorreu no Monsters of Rock de 1998. E agora, após tantos anos, ele retorna a um festival de mesma magnitude no Brasil.
Apesar dos 73 anos e dos desafios que enfrentou no passado com drogas e álcool, o músico inglês continua com a voz em excelente forma. É perceptível alguma mudança de tom em certos momentos, mas um artista de sua idade ainda interpretar canções da fase em que integrou o Deep Purple ao lado de David Coverdale é impressionante.
O repertório da noite focou nas fases MK III e MK IV do Deep Purple, com apenas oito músicas, provavelmente devido ao tempo de encerramento do festival. Clássicos como "Stormbringer", "Mistreated", "Sail Away" e "You Fool No One" incendiaram o público, com solos de guitarra, bateria e improvisos que remetiam à atmosfera do lendário California Jam, realizado em 6 de abril de 1974. As músicas mais aguardadas ficaram para o final: a envolvente “You Keep On Moving” e a radiofônica “Burn”, encerrando esse belo dia de aquecimento e pronto para encarar a vasta maratona do dia de seguinte.
Texto: Gabriel Arruda
Fotos: Edu Lawless
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Consulado do Rock
Press: Agência Taga
Glenn Hughes – setlist:
Stormbringer
Might Just Take Your Life
Sail Away
You Fool No One
Mistreated
Gettin' Tighter
You Keep On Moving
Burn
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