Os mineiros do Drowned já são sinônimo de excelência no underground nacional, não só pelos seus lançamentos, mas sim pelo tempo que se mantém vivos na cena, sempre inovando e mostrando que se pode sim fazer Metal Extremo no Brasil. Tivemos o prazer de conversar com o vocalista Fernando Lima que nos conta sobre o momento atual da banda, algumas adversidades do passado e também sobre nossa cena. Com vocês o “quebra ossos” Fernando Lima:
RTM: Quando se fala em Metal mineiro é claro que os saudosos anos 80 nos remetem a memória. Mas atualmente que bandas vocês destacam para os bangers ouvirem vindos do histórico triangulo mineiro? E como vocês avaliam o papel da gravadora Cogumelo Records no desenvolvimento desta cena?
F. Lima: Com certeza a Cogumelo Records tem investido em bandas e dado uma boa condição para elas desenvolverem um bom trabalho. Nestes tempos de mudança da música isto é algo difícil de ver na cena Metal brasileira. Aqui realmente temos muitas bandas boas. Recomendo o Scourge, banda de Death Metal de Uberlândia; o Expurgo, banda de Grind aqui de BH; o In Nomine Belialis e o Defacer, Black Metal de BH; O Facínora, banda de Thrash Metal de BH também; Sarcasmo, banda de Death Metal aqui de BH e muitas outras... No interior de Minas também temos muitas bandas excelentes.
RTM: O álbum "Bio Violence" (2006) é um marco na carreira de vocês, e ele trouxe novos elementos para a já rica sonoridade da banda e essa tendência vem só sendo ampliada nos lançamentos recentes. Na visão do Drowned como foi essa evolução? E pelos fãs mais conservadores como foi à receptividade?
F. Lima: Na época, queríamos um álbum de Metal diferente do que já havíamos feito antes. Nós começamos a compor com este objetivo e tentamos soar o mais original possível. No final das contas, acho que desenvolvemos ainda mais a personalidade da banda e o “Belligerent”, apesar de ser muito mais agressivo e rápido que o “Bio-violence” tem as características do Drowned muito presentes. Alguns fãs mais acostumados com o som do “Bonegrinder” e do “Butchery Age” estranharam um pouco no início, mas logo foram se acostumando e embora não seja o preferido por estes fãs, tem seu valor na discografia.
RTM: É tradição da banda sempre disponibilizar alguns CDs e demos para o download no site de vocês. Prova disso é o novo lançamento da banda “Belligerent Part I” que está disponível no site para download. Bem, tomando essas atitudes, como vocês vêm à questão dos downloads ilegais? Até que ponto eles prejudicam a carreira das bandas?
F. Lima: Nós sempre gostamos de disponibilizar um material extra para nossos fãs. Muitas coisas não valem mais a pena serem lançadas em formato de CD como EP’s, demos e materiais de pré-produção. Eu não sei bem o que dizer com relação à pirataria ou downloads ilegais... Eu sempre compro CD ‘s das bandas que gosto. Eu gosto de ter o álbum. E acho que muitos fãs de Metal também gostam. Um exemplo disso é o nosso álbum “Belligerent part 1” que ficou 2 meses disponível para download gratuito no site oficial do Drowned, e mesmo assim muitas pessoas perguntaram se nós lançaríamos a versão física em CD. Recebemos até proposta de lançamento do álbum no exterior.
RTM: Uma pergunta que vocês já devem ter ouvido muitas vezes: por que lançar “Belligerent Part II” antes do “Belligerent Part I”? E quais as semelhanças e diferenças entre esses álbuns? Podemos considerar ambos como uma obra conceitual?
F. Lima: Quando fizemos o Belligerent, tínhamos músicas para fazer dois álbuns e chegamos à conclusão que não era viável soltar um álbum duplo, pois ficaria caro e mesmo que conseguíssemos excluir algumas músicas, um álbum de Death Metal de mais de uma hora ficaria cansativo, e como as músicas estavam em um bom nível, dividimos em duas partes. Decidimos lançar o “Belligerent Part II” primeiro porque achamos que os fãs deveriam ouvir estas músicas antes e não quisemos mudar a numeração depois que tudo estava definido. Isto também despertou curiosidade das pessoas e acho que aumentou a procura pela Part I. Um álbum complementa o outro e possuem a mesma ideia musical, mas as músicas são bem diferentes umas das outras. Pode-se dizer que é um trabalho conceitual... O tema principal é a máquina de guerra que o mundo se tornou ao longo do tempo. Somos partes desse maquinário e o dinheiro é o sangue que corre nas veias desta sociedade corrupta, cruel e sem valores a não serem os financeiros. Tudo é valido pelo dinheiro, até mesmo extermínio e invasões. Cada um de nós tem sua parcela de culpa nisso, por alimentar este capitalismo carniceiro e agindo sem pensar nos outros. Somos todos parte da engrenagem.
RTM: Ainda sobre o ultimo lançamento “Belligerent Part I”, ele foi lançado somente em formato virtual até o presente momento. Vocês pretendem lançá-lo em formato físico? E por que da decisão de disponibilizá-lo para download gratuito?
F. Lima: Sim, o CD deverá sair ainda este ano. Foi uma surpresa receber a proposta de lança-lo físico depois que ficou disponível para download por 2 meses no nosso site. A decisão de disponibilizar o “Belligerent Part I” para download gratuito foi porque queríamos que os fãs conhecessem o trabalho por inteiro.
RTM: Nos últimos anos tivemos muitas manifestações de músicos e da critica especializada “dando um puxão de orelha” nos headbangers devido à cena nacional não estar indo bem, e em muitos momentos tivemos declarações que foram polêmicas e até ofensiva para os fãs. O que vocês pensam a respeito?
F. Lima: O Brasil no que diz respeito às bandas, está na melhor fase. Elas estão produzindo álbuns cada vez melhores com produções de boa qualidade. A audiência em shows é que é o problema... Parece que grande parte dos fãs de Metal no Brasil não gosta de Metal feito aqui. E isso é inexplicável... Quando fizemos nossa tour Europeia, o organizador que colocava no cartaz um destaque dizendo que o Drowned é uma banda brasileira ou colocava uma bandeira do Brasil, os shows eram insanos, bem cheios. As pessoas queriam ver a banda do Brasil porque para os europeus, Metal do Brasil é sinônimo de Metal de qualidade, Metal de personalidade.
RTM: O Drowned ao longo de sua carreira sempre enfrentou alguns problemas com estabilidade na formação e até mesmo com o grave acidente automobilístico que Marcos Amorim (guitarra) sofreu no ano 2000 bem na tour de divulgação do 1° álbum “Bonegrinder”. Porém, ao meio destes problemas, sempre se manteve forte o trio Fernando Lima (vocal), Marcos Amorim (guitarra) e Beto Loureiro (bateria) desde sua formação. Como é para vocês darem continuidade neste excelente trabalho com a banda ao meio de tantas adversidades?
F. Lima: Ter uma banda de Metal é algo que você realmente tem que gostar e o convívio tem que ser o melhor possível entre os músicos. As pessoas que estão em uma banda precisam estar com o pensamento focado no mesmo objetivo. Todos que passaram pela banda, durante seu tempo de permanência, estavam bem sintonizados conosco e somaram forças neste período. Isto foi importante para o Drowned prosseguir. O retorno do Rafael à banda foi muito bom, pois ele já conhece bem como funciona a banda. Na época saiu por motivos pessoais e pôde retornar agora no baixo. O Drowned é sempre motivo de muito orgulho para nós, pois conseguimos muitas coisas nesses anos todos de banda e nossa carreira é bem sólida.
RTM: Vocês sempre tiveram a chance de fazer turnês fora do país para divulgação dos álbuns, com isso vocês criaram uma base solida de fãs. Nos dias de hoje até que ponto é importante divulgar seu material lá fora?
F. Lima: É importante porque quanto mais pessoas conhecem a banda, mais a banda vai crescendo e se tornando popular entre o underground. Acho bom fazer turnês e tocar o máximo que conseguir. É a melhor maneira de divulgar o trabalho. Tocar no exterior é importante, pois além de tocar para outro público e, adquirimos experiência. As turnês na Europa têm shows quase todos os dias. É viajar e tocar a maioria do tempo. Às vezes temos alguns day-off’s e fazemos algum turismo, mas no geral é ralação... rs...
RTM: Desde o 1° álbum o Drowned sempre contou com a parceria da gravadora Cogumelo Records, como surgiu o convite para entrar no cast da Cogumelo?
F. Lima: Em meados de 1998, começamos a ensaiar com mais empenho e fazer músicas. Nosso objetivo era gravar uma demo e divulgar a banda ao máximo. Em 1999 saiu a demo Where Dark And Light Divide e começamos divulgar e fazer shows. Estávamos em um pique alucinante e conseguimos vender mais de 2000 demos sem contar as que distribuímos e as que as pessoas copiavam e distribuíam para nós. Foi a partir daí que a Cogumelo se interessou pela banda e nos convidou para gravar o Bonegrinder em 2001.
RTM: Voltando um pouco ao passado, no ano de 2005 vocês se apresentaram em um dos maiores festivais de música do país, o “Porão Do Rock” em Brasília, para cerca de 30 mil pessoas. Como foi esta apresentação para vocês? E quais os benefícios que trouxeram a banda?
F.Lima: Foi um show diferente e muito positivo para nós, tanto por tocar para mais de 30 mil pessoas quanto pela produção que era muito profissional. Com este show foi possível mostrar nosso trabalho para muitas pessoas que não nos conhecia ou só conhecia de nome. Os grandes festivais que não priorizam o Metal em seu cast têm estas vantagens... Nós subimos ao palco para alinhar o equipamento e o som enquanto uma banda, não me lembro qual, estava no meio de sua apresentação. Quando começamos, vimos aquele mar de pessoas para nos ver. Foi muito louco... Nunca tínhamos tocado para tanta gente!
RTM: O ano de 2012 começou a mil com grandes lançamentos tanto na parte nacional e internacional. Quais bandas o Drowned recomenda para os bangers ficarem de olho neste ano?
F. Lima: Pelo que eu já ouvi dos lançamentos, o novo Toxic Holocaust “Conjure and Comand” ficou muito bom. O Unearthly “Flagellum Dei”, o Desecrated Sphere “The Unmasking Reality”, o Vulcano “Drowning in Blood” e o ByWar “Abduction” são ótimos lançamentos. Estou ouvindo também o Split “Burial Dreams” das bandas The Black Coffins e Infamous Glory.
RTM: O que podemos esperar da banda para ano de 2012?
F. Lima: Este será o ano de divulgar a banda, fazer muitos shows. Esperamos rodar bastante pelo Brasil antes de fazer a tour fora do país. Quem quiser agendar show com o Drowned é só entrar em contato pelo email drowned@drowned.com.br.
RTM: Bom, gostaria de agradecer em nome de toda equipe Road To Metal por esta bela entrevista e deixo o espaço final a você.
F. Lima: Eu é que agradeço pelo apoio que o Road To Metal sempre deu ao Drowned e a todas as bandas brasileiras.
Aos fãs, espero ver vocês em breve nos shows. Apoiem as bandas nacionais!!!
Entrevista: Luiz Harley Caires e Renato Sanson
Introdução: Renato Sanson
Revisão & Edição: Eduardo Cadore e Renato Sanson
Fotos: Divulgação
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