sábado, 21 de abril de 2012

Entrevista - SenandiomA: Cena Nordestina Em Alta



“Thrashers de Aracaju” isto define a banda SenandiomA que está em constante divulgação de seu segundo lançamento o EP “Order And Progress...Lies And Death!” (leia resenha aqui.) e também despontando na cena nordestina com seu Thrash Metal oitentista. Falamos com o baterista Zeca Oliveira que nos conta um pouco da história da banda, além dos planos futuros e da cena nacional. Com vocês SenandiomA Thrash:


RTM: Primeiramente gostaria de agradecer a todos da banda SenandiomA pela disponibilidade da entrevista e gostaria que você nos conta-se um pouco da trajetória da banda até seu momento atual.

Zeca Oliveira: E aí, Renato? Tudo certo, cara? Bem, antes de tudo, nós é que agradecemos pela oportunidade e pelo apoio constante que você e o “Road to Metal” nos dão. Muito obrigado mesmo.

Com relação a nossa trajetória, nos juntamos em 2003, quando tínhamos entre 15 e 16 anos. Um ano depois, mais especificamente em outubro de 2004, lançamos nosso primeiro material de estúdio, a demo intitulada "Welcome to War", que possui seis músicas. Daí começamos a fazer vários shows, com bandas como Violator, Headhunter D.C., Goreslave, etc. Em meados de 2006 eu deixei o baixo, que foi ocupado pelo Euler Neto, e fiquei somente nos vocais. Até que em 2007, por motivos diversos, a banda deu uma parada. Contudo, em 2010 retornamos com a formação original, compondo novas músicas no intuito de lançar um novo material. Entre julho/agosto de 2011 gravamos o EP "Order And Progress...Lies And Death!", que acabou sendo lançado em outubro do mesmo ano.


RTM: Uma curiosidade, qual é a origem do nome SenandiomA?

Zeca Oliveira: Essa é uma pergunta que quase todo mundo nos faz, até porque é normal já que o nome não é comum. Na verdade, quando resolvemos montar a banda, queríamos por um nome que não fosse clichê e não nos rotulasse entende? Não queríamos algo do tipo “Blood of num sei o que”, “Death num sei o que lá”... Daí o nome SenandiomA surgiu. Achamos que soava bem e que o nosso objetivo tinha sido atingido. A palavra tem só um significado: representa o nosso som e as nossas ideias.


RTM: Após o lançamento do EP “Order And Progress...Lies And Death!” vocês vêem em constante crescimento na cena underground, desde assessoria pela Wargods Press até diversos shows em seu estado incluindo alguns festivais, como está sendo esta bela recepção dos bangers para vocês?

Zeca Oliveira: Cara, nosso objetivo com a SenandiomA sempre foi o mais simples possível, sabe? Gostamos muito de Thrash, obviamente, e nos juntamos para tocar e nos divertir. Quando gravamos esse EP não imaginamos que a galera iria recebê-lo tão bem. Nós curtíamos o que estava sendo produzido e já bastava, entende? Daí, como você mesmo disse, as coisas foram acontecendo, o pessoal passou a nos chamar pra tocar e a recepção vem sendo realmente legal nos shows.


RTM: Como todos sabem a cena nordestina está em uma ascensão incrível, revelando diversas bandas de excelente qualidade para o meio metálico. Como é o reconhecimento destes talentos aí no nordeste? Existe algum tipo de apoio entre as bandas ou rola muita rivalidade?

Zeca Oliveira: Eu costumo dizer que as bandas brasileiras não ficam devendo nada às bandas gringas. Pelo contrário. Os caras lá fora tem muito mais estrutura pra gastar com produção e acesso mais fácil a melhores estúdios e ao mercado mundial. Ou seja, na verdade, eles é que ficam nos devendo. E, nesse contexto, as bandas nordestinas também estão inseridas. O nordeste realmente tem bandas muito boas. Nem me atrevo a citar nomes para não cometer injustiças (risos). Temos um prazer muito grande de termos criado vínculos, até de amizade mesmo, muito sinceros com camaradas baianos, alagoanos, paraibanos, enfim. Isso é muito positivo. Quando a cena cresce de conjunto, aí a coisa anda.  Ficamos mais fortes pra disputar espaço para o nosso som, nossa cultura. O Metal underground já é atacado por todos os lados. Já não somos muitos. Agora imagina se ficamos perdendo tempo disputando quem é o mais true? Quem é o mais extremo? Esse tipo de coisa não ajuda a cena a crescer. Só a joga mais e mais no gueto. Pra esse tipo de coisa, nem damos ibope. A SenandiomA tá aqui pra somar e não pra dividir.

Zeca Oliveira nos conta sobre a cena nordestina que está em crescimento  constante.

RTM: Como está sendo a divulgação do EP “Order And Progress...Lies And Death!”?

Zeca Oliveira: Uma dura batalha, mas gratificante. Não temos selo, então se você quiser comprar uma cópia desse EP, só conseguirá entrando em contato direto com a gente. Isso dificulta bastante às coisas. Mas estamos fechando algumas parcerias de distribuição do EP pelo Brasil e internacionalmente também. Quanto aos shows, por hora, estamos focando no Nordeste por questões de estrutura. Já as críticas ao material, vindas de todo o Brasil, foram todas muito boas até agora. Recentemente, saiu uma resenha na Roadie Crew muito positiva também. Enfim, não tem moleza. Mas estamos satisfeitos com os resultados significativos que tivemos em apenas cinco meses de divulgação do EP.


RTM: Recentemente vocês tocaram no II Hammer Metal Festival, ao lado de uma das grandes bandas do cenário extremo nacional o Luxúria de LilithLuxúria de LillithLuxúria de LillithLuxúria de LillithLuxúria de LillithLuxúria de LillithLuxúria de Lillith, como foi para vocês participarem deste grande festival?

Zeca Oliveira: Para nós um show é a melhor parte de se ter uma banda. Tocar e ver que alguém tá curtindo aquilo é muito bom. Assim como o outro “Hammer”, foi muito legal, principalmente porque esse evento é feito por um cara que luta bastante pela cena, ou pelo que ainda existe dela, aqui do estado. O Plínio é de uma cidade bem pequena, chamada Simão Dias, mas mesmo assim, além dos problemas enfrentados por todo mundo que produz evento, ele faz o “Hammer” da melhor forma possível. É um guerreiro. Foi um prazer enorme, isso sem falar da turma do Luxúria. Uma galera sem frescuras, sabe? Muito gente boa. Além de fazer um sonzaço Thrash Black.


RTM: Gostaria que vocês falassem um pouco sobre o conceito das composições do EP e também sobre o conceito da parte gráfica que além de ter um ar cartunista muito bem humorado é muito caprichada.

Zeca Oliveira: “Democrashit”, uma das faixas desse EP, resume bem o conceito que o envolve. Um dos versos diz “... the real democracy will come with our fight...” ou seja, se queremos mudar alguma coisa na sociedade em que vivemos devemos ir à luta. Ficar parado assistindo ao telejornal e resmungando não vai resolver nada. Assim poderíamos resumir o conceito do EP. Não é um princípio nosso fazer exclusivamente som politizado, sabe? Gostamos de abordar outras temáticas também. Mas, copiando o grande ator do Teatro de Arena, Gianfrancesco Guarnieri, só vale a pena cantar nas trevas, se for para cantar as trevas. Ou seja, a música deve refletir o mundo ao nosso redor.

Bem, com relação à capa, durante a criação desse EP a gente procurou muito um cara bom de traço e achamos, através do Facebook, o Jansen Baracho. Ele tem um traço cartunista, o que nos agradou bastante já que não queríamos uma capa no padrão de uma porrada que tem por aí. Daí passamos o conceito do álbum para ele e saiu essa capa. Quando ele nos enviou achamos bem legal, pois passa a essência do EP, que é alertar as pessoas para os únicos papéis que as elites querem que a gente represente: trabalhar até morrer para sustentar os ricos, enquanto a gente continua pobre, e votar para que eles continuem no poder. É isso o que as elites chamam de "progresso". É essa a ordem que elas querem manter.


RTM: O Heavy Metal nacional em um geral está passando por um de seus momentos mais difíceis em termos de publico nos shows que na maioria das vezes são baixos e da vendagem dos materiais oficiais, como vocês lidam com essa adversidade?

Zeca Oliveira: Concordo contigo de que vivemos um período de adversidades. Mas a dificuldade de vendas, particularmente, nos atinge pouco porque não temos a intenção de tirar grana. Não tiramos o nosso sustento disso. Mas, cara, estou envolvido com o underground desde um pouco antes da banda surgir e posso te dizer com toda certeza: não há público mais volátil do que o público banger. Hoje está assim, mas amanhã os shows podem lotar novamente. Com certeza você também já foi testemunha dessas variações de maré. E quem tentar achar um bom motivo para isso provavelmente não irá encontrar.


RTM: E ainda falando sobre a cena nacional, o que vocês pensam a respeito sobre as declarações polemicas de certos músicos para mídia dizendo que a cena está morta.

Zeca Oliveira: Nas últimas décadas, já ecoaram várias profecias de morte do Metal, morte do Rock etc. Mas eles estão aí. Talvez não tão firmes, nem tão fortes. Mas estão. No final da década de 1970, dizia-se que o Punk tinha matado o Metal. Mas o Metal se reinventou. Surgiu o Thrash e outros novos estilos. E certamente seguiremos nos reinventando.

Claro que existe o grande perigo dessa renovação, que é o de cair na lógica da música de mercado. E essa armadilha não é pequena. Particularmente, somos da linha “eu aceito o argumento, mas não me altere o Thrash tanto assim” (risos). Mas é inevitável: sempre trazemos timbres novos, linhas harmônicas novas etc. Isso é quase “natural”, afinal de contas, ninguém se banha no mesmo rio duas vezes, nem faz o mesmo som duas vezes. Isso é muito positivo. Eu acho o novo álbum do Krisiun um grande exemplo de como é possível se renovar, mas continuar com raízes sólidas. Inovar é preciso. Assim como a turma da Bay Área inovou nos anos oitenta, mas pegando carona no Speed do Motorhead. Assim como o Judas Priest foi pioneiro, mas com a mesma atmosfera pesada do aço inglês que deu origem ao Black Sabbath.

A música de mercado, as infiltrações das igrejas, através dessa coisa bizarra chamada White Metal, enfim. Não falta quem trabalhe para esvaziar e esquartejar o Metal. Mas, enquanto existir injustiça social, opressão ideológica, juventude, guitarras e garagens, ainda existirá Heavy Metal. É isso o que eu penso. Ainda tenho esperança.


RTM: A SenandiomA já tem previsão de quando lançará seu 1° álbum?

Zeca Oliveira: Temos um planejamento de lançar um novo material em 2013. Já estamos até compondo. Se vai ser um full ou um novo EP, vai depender da estrutura financeira que a gente conseguir montar até lá. Mas vontade é o que não falta de parir o primeiro álbum.


RTM: Se tratando de sonoridade, na SenandiomA temos o melhor do Thrash Metal anos 80 aliado a uma veia crossover, quais são as principais influências da banda?

Zeca Oliveira: Primeiro, agradeço o apoio. Realmente a nossa praia é o Thrash oitentista. Acho que quem ouve o nosso som pode notar muita influência de Slayer, Exodus, Metallica, Sepultura. Muita gente destaca também essa veia crossover. Curtimos muito D.R.I. e tal.  Mas confesso que, ao menos conscientemente, não tínhamos a intenção de levar isso ao nosso som. Talvez ele tenha ido parar lá via Gama Bomb, Municipal Waste e outras bandas mais novas de Thrash que ouvimos bastante e também têm essa pegada. Gostamos muito do resultado.


RTM: E quais são os planos para este ano?

Zeca Oliveira: Agora o lance é divulgar o “Oder And Progress... Lies And Death”. Estamos priorizando os shows no Nordeste, que tem um público muito receptivo e fiel e algumas cenas de peso. Outra linha prioritária para este ano são as parcerias para distribuição do EP no Brasil e no exterior.  Enfim, seguir com um plano de divulgação planejado para aproveitar ao máximo as nossas possibilidades. Mas, antes de tudo, o nosso plano é seguir nos divertindo. Porque antes de Renato, Robson, Cabeça e eu sermos uma banda, somos grandes amigos.


RTM: Em nome da equipe Road To Metal gostaria de agradecer a vocês por está ótima entrevista e o espaço final é de vocês.

Zeca Oliveira: Só temos que agradecer ao Road To Metal por todo o apoio. Esperamos nos encontrar mais vezes por essa estrada chamada Metal.



Entrevista por: Renato Sanson
Edição/Revisão: Renato Sanson
Fotos: SenandiomA


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Assessoria: Wargods Press






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