terça-feira, 10 de abril de 2012

Entrevista - Expurgo: Grindcore Destruidor



Destruidor!!! Esse é o melhor sinônimo para descrever a sonoridade criada por esse grupo vindo de Minas Gerais. O Expurgo vem a passos largos somando vitórias e massacrando ouvidos com seu Grind extremamente violento e com grandes críticas sociais, lembrando os melhores momentos de ofensas sonoras como Napalm Death, Terrorizer entre outros.


Toda essa potencialidade elevaram o grupo a grande revelação do Metal Extremo nacional sendo que seu primeiro trabalho “Burial Ground” (confira nossa resenha aqui) só comprova esse fato. Por isso mesmo que o Road To Metal foi trocar uma ideia com esses maníacos da "podreira" com vocês Expurgo.



RTM: Hail Expurgo! Em primeiro lugar estamos muito agradecidos de poder trocar uma ideia com vocês. Vamos começar nosso bate papo voltando um pouco no tempo. A base do Expurgo vem de outro grupo o Putrifocinctor. Conte-nos um pouco como esse grupo foi formado e como se deu o processo de transição para o Expurgo?

Egon: O prazer é nosso de poder trocar umas palavras aqui no Road To Metal! Vida longa ao trampo de vocês e valeu pelo apoio. Bom, o Phil e eu tocávamos nessa banda de Grindcore daqui de Belo Horizonte chamada Putrifocinctor, que iniciou as atividades em 1997 ou 1998, não lembro direito. Gravamos um CD-R demo e tocamos pra caramba com essa banda, porém quando foi em 2001 ela acabou, mas a vontade de tocar Grind ainda continuava. No meio disso ai, a gente conheceu o Anderson, e ele resolveu assumir a batera, enquanto um amigo nosso de longa data pegou o baixo, que no caso é o Bruno. Quando foi em 2003 o Expurgo estava formado e torando o Grind nos ouvidos da galera! Atualmente o Bruno não está mais com a gente, e em seu lugar entrou o Leandro, um grande amigo nosso.


RTM: “Burial Ground” impressiona em vários aspectos, além da qualidade das composições vocês conseguiram manter o som sujo que é característico do Grindcore aliado a uma sonoridade bastante audível. Como foi o clima na hora da gravação e que cuidados vocês tiveram para atingir tal resultado?

Egon: Nós gravamos no estúdio dos parceiros do Eminence aqui em BH, Alan e Zé Baleia. Com certeza a idéia era manter o som podrão, porém com uma audição legal. Foi um trabalho intenso até se chegar a este resultado, desde a gravação, passando pela mixagem e até a masterização. O clima de trampo foi muito bom, descontraído, sem pressão. Acho que por isso o resultado foi legal, tem a pegada brutal do Grind e o cuidado necessário pra tornar o som audível, sem perder a essência.


RTM: A arte gráfica do CD é um primor. Qual o artista por trás dela? E qual mensagem ela transmite com aqueles zumbis bem no centro da cidade? Seria um reflexo da nossa sociedade?

Egon: Nós curtimos bastante também o trampo da arte de todo o encarte na verdade, que ficou a cargo da direção do Fernando Camacho da Black Hole Productions. A arte da capa do “Burial Ground” é de um gringo chamado Anderson L.A., que já trabalha com o Camacho há algum tempo e possui trabalhos artísticos em CD´S de bandas do underground como Amen Corner e Clawn. A proposta do desenho é exatamente um reflexo da nossa sociedade, que está podre e corroída e parece que as pessoas não se atentam para este fato. Toda a opressão que sofremos no cotidiano nos torna escravos do sistema, verdadeiros zumbis que ficam vagando em meio ao caos social que nós mesmos criamos.


RTM: A banda apresenta musicas em inglês e algumas em português. Existe intenções de em lançamentos futuros adotar a lingua patria ou essa variação de idiomas ira ser constante?

Egon: Na verdade não nos prendemos muito a essa coisa de que língua usar nas letras. Temos letras em português e inglês porque achamos as duas muito boas para se escrever. Quando gravamos “Burial Ground”, o Camacho solicitou que escrevêssemos letras em inglês, e como não temos problemas quanto a isso, mandamos bala. Para futuros lançamentos vamos continuar com a mesma linha, usando a língua que estiver a fim de usar no momento da composição das músicas.


RTM: Citando ainda a parte temática a banda sabe dosar duras críticas sociais à elementos mais gore e até mesmo um pouco de humor acido. De onde vem a inspiração para letras como “Purging the Phlegm”?

Egon: Essa música é muito interessante porque ela foi escrita para a participação especial do nosso amigo André Luiz do Offal. Tanto é que essa letra foi escrita por ele, como uma forma de ele contribuir para a composição desse som mesmo. A ideia dessa letra aí é meio que unir os nomes Expurgo e Lymphatic Phlegm (outra banda do André) e saiu àquilo que está lá. Só maluquice.


RTM: Possuindo na sua formação dois vocalistas Egon e Philipe (guitarrista), como vocês decidem as partes dos vocais alternados? Já que estamos falando em composições, a parte temática é dividida por toda a banda ou algum membro em especial executa essa função?

Egon: Os vocais são alternados na maioria das vezes, mas a maior parte dos vocais é executada por mim mesmo. Mas eu acho que a participação do Phil nos vocais soma muito para o som do Expurgo porque deixa a coisa mais barulhenta, mais gritada. Quanto à questão temática, o que posso dizer é que não somos uma banda que se prende à questão de temas, simplesmente abordamos aquilo que queremos falar no momento de composição dos sons, sem ficarmos nos prendendo em algum tema em especial. Todos ajudam nesse processo aí do que vamos abordar o Anderson sempre tem ótimas ideias, no entanto a contribuição é de todos.


RTM: Sem dúvida alguma tocar Metal no Brasil é coisa para guerreiros e ainda mais quando se envereda para estilos mais extremos como o Grind. Quais são as maiores dificuldades que vocês encontram na carreira até agora? E na opinião de vocês o cenário irá mudar para melhor ou a tendência é só piorar?

Egon: Carreira é algo engraçado (risos). Não existe carreira nesse meio em que tocamos apenas disposição pra tocar e determinação pra fazer um som que por muitos é negligenciado por diversos fatores. Com certeza as dificuldades são muitas, como falta de grana, de tempo às vezes, de apoio de algumas pessoas que fingem fazer parte do underground, mas que estão nessa simplesmente pra tirar uma onda. Enfim, existem muitas dificuldades, mas com certeza todas são superadas quando rolam shows com bons amigos, a galera agitando e a possibilidade de fazer troca de materiais e fazer novas amizades e elos com pessoas diferentes. Sou otimista com relação ao cenário underground, porque mesmo que hoje estejamos enfrentando muitos problemas como a internet (que “virtualizou” muito a relação das pessoas), a escassez de público nos shows e queda de vendagem de materiais, existe muitas bandas boas surgindo, e muitas bandas já consolidadas fazendo ótimos trabalhos ainda. Ou seja, tem muita gente mantendo vivo o underground, mas com certeza já não é mais aquilo que foi antigamente. Só quem viveu aquilo sabe do que estou falando.


RTM: Minas Gerais sem dúvida tem o seu nome calcado no Metal nacional. Vocês que vivem mais ativamente o underground dessa região, quais são as bandas além do Expurgo que estão ai na batalha e merecem destaque por parte dos bangers?

Egon: Putz, falar de Metal mineiro é sempre complicado, porque tem muita coisa acontecendo aqui. É claro que destaco as já consagradas Chakal, Witchammer, Sextrash, que estão na ativa até hoje. Da mesma forma temos a leva de Metal Extremo como o pessoal do Pathologic Noise, Preceptor, Drowned, Sarcasmo. No Grindcore o pessoal do Mata Borrão faz um trampo digno de nota, e tem bandas novas como o pessoal do Martiryzer, Tormento, Colt 45, cada uma no seu estilo que me agrada bastante em termos de som pesado no geral.


RTM: Depois da excelente repercussão de ”Burial ground” existe alguma pressão envolvendo o segundo trabalho? Pois ele sempre tem a árdua missão de ser tão bom quanto o primeiro e ainda por cima confirmar a banda no cenário.

Egon: Estamos com algumas idéias para músicas novas, mas que provavelmente irão sair em alguns splits que temos agendados aí pra frente. Não rola pressão nenhuma nesse sentido, ou melhor, não nos sentimos pressionados. A gente se junta e compõe os sons que curtimos ouvir, fazendo a desgraceira comer solta. Por isso nos sentimos tranquilos quanto a isso, porque fazemos som com garra, com a pressão que a gente curte ouvir. Acho que primeiro temos que agradar a nós mesmos, fazendo um som sincero primeiro pra gente, o resto é conseqüência dessa sinceridade colocada nas músicas.


RTM: Caçando algumas informações sobre a banda descobri que vocês tinham planos de lançar um split. Como anda as negociações? Existe prazo para o lançamento do mesmo?

Egon: Como falei, não é um split somente, e sim splits. O plano de split que você viu é com o Intestinal Infection da Alemanhã, mas estamos com este projeto parado, pois nosso camarada Ralf do IxIx está se recuperando de um tratamento forte contra o câncer. Parece que vai rolar um 4 way com o pessoal do Subcut, Necrose e Feculent Goretomb, além de uns planos de splits com uns peso-pesados do Grindcore nacional e mundial aí. Assim que as coisas se concretizarem mais, estaremos divulgando nos nossos canais de comunicação.



RTM: Uma pergunta que vocês já devem ter ouvido muitas vezes, mas vale a pena perguntar: o que diabos quer dizer "Regurfecontovoremintocegues"? (Nota do Editor: 26° faixa do álbum "Burial Ground").

Egon: Esse nome é foda né! (risos) Isso foi uma doidera da época do Putrifocinctor que eu e o Phil criamos. Não quer dizer nada na verdade, é apenas uma palavra bizarra que montamos e que resolvemos usar pra faixa noise que tem no “Burial Ground” de mesmo nome. Cada um pode dar pra ele o sentido que quiser, pra mim ela tem vários significados. Hahahha...


RTM: Uma curiosidade: vocês conhecem a banda de Grind Kurasakuasa? Pergunto isto por que rola no Youtube a banda executando um cover de “Blast of Truth" (primeira faixa de “Burial Ground”). E a propósito, o CD foi distribuído em outros países? Existem propostas para a banda se apresentar fora do País?

Egon: O pessoal dessa banda entrou em contato com a gente pedindo permissão pra tocar a “Blast of Truth”. Sei que eles inclusive gravaram ela em estúdio. A gente achou foda pra caralho; são coisas que só o underground te proporciona: ter uns malucos lá do outro lado do mundo tocando sua música. Achamos isso muito foda. Pra mim em especial eu tiro chapéu pra quem toca Grind/Punk/Metal extremo de maneira geral em países como a Indonésia e Malásia porque isso lá é uma verdadeira resistência contra formas absurdas de dominação. Existe um fundamentalismo extremo por parte do islamismo naquela área, o que é muito triste, pois o cerceamento às liberdades de expressão naqueles países é algo digno de teocracias extremistas. Quanto aos materiais, sei que o “Burial Ground” foi distribuído em outros países graças à algumas trocas feitas entre a Black Hole Productions e selos gringos. Fora isso, temos split-tapes e outros formatos sendo distribuídos fora do Brasil, que foram lançados por selos italianos, franceses e da própria Malásia inclusive. Convites para tocarmos fora do país já recebemos alguns, no entanto o que falta é grana e uma organização dos horários dos 4 integrantes da banda, já que cada um trabalha em uma área diferente. Mas já temos planos futuros de umas viagens fora do país.



RTM: Recentemente a turnê do Exuhmed no Brasil foi cancelada, porém o Aborted confirmou o show e vocês foram a banda de abertura. Como surgiu essa oportunidade? E como foi para vocês este show?

Egon: A oportunidade para tocar com o Aborted e Exhumed surgiu a partir de contatos com o João da Cogumelo Records aqui de BH. Ele disse que já estava cogitando o Expurgo para fazer a abertura desse show e nós topamos na hora. Uma pena o Exhumed não vir tocar, porém tocar com Aborted foi uma grande satisfação porque curtimos muito o som dos belgas. Estavamos com uma boa perspectiva para este show, já que é um dos grandes nomes do Death Metal mundial que está tocando no Brasil.


RTM: Se tratando de shows, como é o Expurgo em cima dos palcos e quando teremos a chance de presenciar o massacre Grind de vocês aqui no sul?

Egon: Curtimos tocar dando sangue. Nosso som tem bastante energia ao vivo e gostamos de interagir sobremaneira com a galera. Sempre damos um gás fudido, buscando tocar da maneira mais extrema possível. Eu mesmo sempre saio com alguns hematomas pelo corpo e às vezes salpicado de sangue (risos). Tocamos no Sul recentemente, no festival da Black Hole, ao lado das bandas da gravadora: Offal, Flesh Grinder e Clawn. Foi um festival muito foda, a galera que compareceu quebrou tudo, o som das outras bandas foi arrematador. Show que ficou guardado na memória. Esperamos em breve poder voltar ao Sul, pois curtimos muito tocar por aí. Estamos abertos a convites dos produtores.


RTM: Para finalizar, gostariam de deixar algum recado para os leitores do Road to Metal?

Egon: Gostaria de agradecer ao Road To Metal pela oportunidade do espaço na entrevista, e agradecer também quem leu até aqui. Continuem dando apoio ao Metal nacional e às bandas nacionais. Comprem materiais, compareçam nos shows, adquiram zines, articule-se de alguma maneira. Não fique só com a bunda sentado esperando um “salvador” para o Metal. Essas coisas não existem!!!


Entrevista: Luiz Harley Caires
Edição & Revisão: Renato Sanson
Fotos: Divulgação

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