Capa do Disco "Machine Head" |
Hoje em dia são inúmeros os recursos disponíveis em termos de equipamentos para produção de um álbum, porém, nada adianta sem o tal feeling, e o abuso da tecnologia, que inclusive serve para mascarar defeitos e limitações, muitas vezes é utilizado tão exageradamente que torna a música plástica, sem vida, e ainda faz parecer que muitos soem praticamente iguais, mesmos timbres...clones!
Certeza absoluta que muitos que gravam CDs hoje, não sairiam "das caixas" em tempos em que os dinossauros começavam a dominar a terra! Sim, gravar álbuns em condições adversas, praticamente ao vivo, com pegada, alma, música orgânica, com feeling, por gente que realmente sabia tocar seus instrumentos.
Será que tinham em mente o clássico absoluto que gravariam? |
Vamos lá, aos fatos:
- Em Dezembro de 1971, o Deep Purple partiu rumo a Suíça, para gravar o seu sexto álbum de estúdio, sucessor de "Fireball", e o terceiro com a MK II. Por que na Suíça? Por recomendação dos seus contadores e advogados, a fim de ter menos despesas com impostos, resolveram então gravar fora da Inglaterra;
E o som não pode parar... |
- O Purple faria shows nos EUA no final de 71, porém, devido a Ian Gillan ter contraído hepatite, os shows foram cancelados, então, tudo conspirou para Montreaux;
- Enquanto esperava a recuperação de Gillan, e aproveitando tempo disponibilizado pelo cancelamento dos shows nos EUA, Ritchie Blackmore começou a escrever alguma coisa, e foram nascendo "Space Truckin'" e "Smoke on the Water";
- Martin Birch, foi escolhido para ser o engenheiro de som. Nome que virou lenda, produzindo e trabalhando como engenheiro de som, além do Purple, grandes álbuns de bandas como Blue Öyster Cult, Black Sabbath, Jeff Beck, Faces, Iron Maiden, Rainbow e Fleetwood Mac, pra citar alguns;
Ruínas do Mountreaux Casino |
- O famoso estúdio móvel dos Rolling Stones, que foi locado pelo Purple para utilização do equipamento, também estava estacionado no local;
- A banda e mais alguns amigos e membros da equipe, terminaram aquela noite do show de Zappa, à beira de um lago próximo, assistindo o casino queimar, e preocupados com o estúdio móvel dos Stones, que estava estacionado perto do casino, que acabou sendo "tostado";
- Sem condições de usar o Casino, e após o insucesso no teatro local "The |Pavillion", devido a reclamação dos vizinhos, o que levou a polícia a tirá-los do lugar, a solução foi o Grand Hotel, pelo distância de qualquer vizinho, e em pleno inverno, o que facilitou de estar meio deserto, então a banda se enfurnou nos corredores, utilizando colchões e cobertores como isolação, até conseguir o som ideal nas sessões;
- Tudo foi feito ao vivo, sem overdubs, o que se ouviu no álbum, não foi retocado posteriormente;
- "Never Before", foi a faixa que a banda apostou que seria a ideal para o primeiro single, sentindo que teria um apelo comercial, porém, não foi o que ocorreu, e provavelmente é uma das menos lembradas;
- Por outro lado, "When a Blind Man Cries", faixa adorada pelos fãs, e muito presente nas apresentações ao vivo, não entrou no álbum, e é porque Blackmore não gostava dela, simplesmente;
- E "Smoke on the Water" não estava prevista para entrar no álbum, mas após mostrarem para Claude Nobs (fundador do festival de Montreaux), este disse que aquilo era incrível e tinha que estar no álbum, e se não bastasse (veja que interessante, como estava escrita a história desse clássico), os Warners (donos da gravadora do Purple na época) convenceram a banda que "Smoke on the Water" deveria ser o single, e que "Never Before", que era a escolhida pela banda, não teria o mesmo potencial. Foram lançados singles com as duas faixas, e sabemos que os Warners entendiam de negócios!;
- Em "Space Truckin'", Gillan lembra que a banda pensou que seria moderno viver na era espacial, então a ideia de ser um "caminhoneiro espacial", como oposto de um caminhoneiro terreno, era interessante;
- E sobre o riff de "Space Truckin'", Blackmore disse que o lembrava o tema da série "Batman", dos anos 60;
Estúdio Móvel dos Stones |
- A grande abertura, com "Highway Star", e seu famoso solo, já impressionam de cara, e é uma das melhores aberturas de todos os tempos, e sobre o solo, Blackmore confessa que talvez tenha sido o único solo que ele trabalhou em cima, pois sempre foi muito espontâneo com seus solos;
- A banda levou três semanas para concluir as gravações, fazendo praticamente tudo em um take...menos Ian Paice, que perfeccionista, conforme relatou Blackmore em documentário, tocava 10 takes ou mais...e quando Ritchie e Lord largavam seus instrumentos, Paice ainda ficava insistindo por só mais um take!
- Em 25 de março de 1972, "Machine Head" foi lançado, atingindo o primeiro lugar nas paradas britânicas na primeira semana, permanecendo no top 40 por cerca de 20 semanas;
- Nos EUA, chegou ao sétimo lugar, ficando nas paradas por cerca de dois anos;
- Estima-se que o álbum, nos seus 40 anos de vida, já ganhou mais de 50 versões em vinil;
Um pouquinho de uma história cheia de curiosidades, desde o inusitado "estúdio" nos corredores do Grand Hotel de Montreaux, até a história das faixas que o compõe e todos os personagens envolvidos. Para saber mais, recomendo o documentário "Deep Purple - The Making of Machine Head (Eagle Rock DVD - 2002) e Deu vontade de ouvir o álbum agora!
Um pouco de ar puro após a correria. |
Texto: Carlos "Caco" Garcia
Edição, Revisão e Pitacos: Nanda Vidotto
Fontes: Memória, "DVD The Making Of Machine Head", "Classic Rock Magazine Archives"
Track list do vinil original:
Side one
1. "Highway Star" 6:05
2. "Maybe I'm a Leo" 4:51
3. "Pictures of Home" 5:03
4. "Never Before" 3:56
Side two
5. "Smoke on the Water" 5:40
6. "Lazy" 7:19
7. "Space Truckin'" 4:31
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