Com o objetivo de buscar um diferencial em termos de produção no terceiro álbum do Amazon, além de dar mais alguns passos a frente, Renato Ângelo procurou a experiência de Amanda Somerville, que possui um respeitável conhecimento e competência em diversos estilos, e, praticamente ao natural, por indicação da própria, Sander Gommans também envolveu-se na produção. (READ THE ENGLISH VERSION HERE)
Para muitos, o terceiro álbum de uma banda é o marco para mostrar se ela vai se firmar, vai consolidar sua personalidade, e o Amazon mostrou que, corroborando o trabalho consistente que vem apresentando desde seu debut (Victoria Regia - 2005), estão aí para marcar seu território, com um trabalho que podemos afirmar ser o melhor de sua carreira até aqui, com produção e músicas fortes, apresentando uma banda ainda mais segura e evidenciando suas potencialidades.
Conversamos com Renato para nos contar um pouco mais a respeito do álbum, do trabalho ao lado de Amanda e Sander, da mudança dele e Sabrina Todt (Vocal) para a Alemanha, e mais! Confira a seguir.
RtM: Para início de conversa,
conte-nos como surgiu a ideia e a oportunidade de trabalhar com Sander Gommans
e Amanda Somerville neste terceiro trabalho.
Renato: Quando comecei a trabalhar nas
músicas para este álbum, eu decidi que queria alguma coisa diferente em termos
de produção. Não queria que "Rise!" soasse como “o perfeito álbum de Symphonic Metal”. Esta foi a principal razão de eu ter procurado a Amanda. Como ela tem
experiência em uma enorme variedade de estilos, eu achei que ela seria a pessoa
ideal para trabalhar um álbum do Amazon. Ela foi muito receptiva à ideia de
trabalhar conosco e de imediato sugeriu que a produção dos instrumentos ficasse
a cargo do Sander, que traria ao trabalho o peso e coesão necessários. Ele, por
sua vez, envolveu o Ivo van Dijk para a produção da bateria e de alguns
arranjos de orquestra e o resultado está aí.
RtM: A Amanda trabalhou mais a parte
de produção dos vocais, não é? Percebe-se que a Sabrina está utilizando ainda
melhor suas características, estando mais segura e também em interpretações
mais variadas. Como foi esse processo, e em que aspectos a Amanda mais
contribuiu? Vi que a Amanda inclusive co-escreveu as letras, ou seja,
envolveu-se bastante mesmo.
Renato: Tanto a Amanda quanto o Sander
trabalharam conosco desde a pré-produção do material. A Amanda contribuiu em
tantos aspectos que limitar o principal
a apenas um seria injusto. Ela trabalhou de forma intensa nas letras que
escrevemos, nos detalhes das melodias e ficou responsável pela gravação e
edição dos vocais. Preferimos trabalhar desta forma para que fosse possível não
haver uma quebra no conceito das vozes do álbum, de forma que ela e a Sabrina
pudessem confortavelmente atingir os resultados que imaginaram quando começaram
a trabalhar as músicas.
RtM: Sendo que parte da banda está no
Brasil, e vocês (Renato e Sabrina) na Alemanha, como foi o processo de
composição e gravação?
Renato: Na verdade, durante o processo
de gravação, ainda morávamos no Brasil. Viajamos para a Holanda para fazer a
gravação das vozes em 2013, e a oportunidade da mudança surgiu posteriormente
apenas. De qualquer forma, foi um processo totalmente diferente do que
estávamos habituados, até porque tivemos que fazer toda a parte da pré-produção
à distância com o Sander e a Amanda. Mas depois que a gente acostuma, é
tranquilo.
Renato: Sem dúvida alguma o feedback
positivo vindo de artistas de renome é algo que deixa qualquer músico
satisfeito. Eu, pessoalmente fiquei bastante contente em receber esse retorno e
em ler as notas divulgadas por ambos a nosso respeito à imprensa. De alguma
forma, isso reflete exatamente o modo como o Amazon trabalha: fazendo o que
gosta e o que quer. Toda banda assume riscos musicais e estéticos quando decide
fazer música desta forma, sem se prender a fórmulas ou rótulos, e quando isso
dá certo e uma pessoa de fora diz que você está conseguindo se expressar
através da sua música, acho que a banda pode se considerar bem sucedida.
RtM: Falando nisso, do elogio quanto a
paixão com que o Amazon apresenta em sua música, acredito que o feeling, a
música que soa orgânica, é sempre o diferencial, pois vemos muitas bandas muito
parecidas uma com as outras, fora que se utiliza demais da tecnologia e
“truques” de estúdio, soando frias. O
que vocês pensam a respeito disso, e o que fazer para não cair nas “armadilhas” e se diferenciar no cenário?
Renato: O Amazon faz o que dá vontade,
escreve as músicas de forma não planejada. O que você ouve no nosso álbum é o
que temos vontade de tocar. Não temos o objetivo de ser comerciais, a obrigação
de lançar um álbum que obedece essa ou aquela regra. Claro que houve e sempre
há uma preocupação com a qualidade do álbum. Queremos ouvir algo que nos dê
satisfação na hora de apertar o play, mas paramos por aí. O Amazon começa pela
música, não pela obrigação de lançar um disco.
RtM: E o que o título “Rise!” significa
para vocês?
Renato: RISE! tem tudo a ver com o
momento atual da banda. Acreditamos que este novo álbum é um divisor de águas
para o Amazon, pois o modo como ele foi feito permitiu chegarmos a um resultado
que soa “maior” que os anteriores. Até porque o trabalho envolveu uma equipe
significativamente maior de vários lugares do mundo: trabalhamos com 3
produtores, além da equipe do estúdio Republica do Som de Campinas e da Ísis,
que fez a arte gráfica. Então RISE! traduz bem essa ascensão do Amazon na
direção dos objetivos pessoais de cada um e
também como banda.
RtM: Falando sobre a sonoridade de
“Rise!”, senti uma banda muito madura, realmente pronta para fazer frente a
quaisquer bandas, seja no Brasil ou no exterior. Músicas com melodia,
dramaticidade, que acredito, irão agradar fãs das fases mais antigas de gente
como Nightwish. Inclusive o próprio Sander citou que o Amazon agradaria em
cheio fãs de Nightwish e After Forever. O que você me diz dessa afirmação e
quais as principais diferenças que você apontaria entre os primeiros trabalhos
e “Rise!”?
Renato: São duas realidades totalmente
diferentes. O Nature’s Last Ride, por exemplo, tem diversas músicas das quais
eu gosto muito, mas foi todo gravado no nosso homestudio. Foi feito pra ser um
album de baixo custo, era o que podiamos fazer naquele momento. O RISE!, além
da produção, traz a experiência de 14 anos de Amazon. Quanto ao aspecto
“oldschool”, acho que isso sempre vai ser uma característica do que escrevemos.
Apesar de eu, particularmente, gostar de algumas bandas com uma sonoridade mais
moderna também, ainda acredito na forma antiga de fazer música não descartável,
de fazer albuns que não são substituídos pelos posteriores. Ainda acredito na
necessidade de se filtrar quais músicas vão pro album e quais não, mesmo que
atualmente seja barato e fácil gravar 150 músicas. Acho que é melhor fazer um
album legal com 10 músicas do que 2 álbuns medianos com 20. E acho que é daí
que vem esta impressão que o Sander teve ao ouvir o Amazon.
RtM: “Ball of Vanities” abre o álbum
já de forma bombástica, sendo uma excelente escolha, e acredito que já mostra
ao ouvinte características marcantes do Amazon, ou seja, um trabalho forte, com
melodias marcantes e cativantes, bem produzido, e uniforme, que prende o
ouvinte até o fim. Inclusive, se não me engano é a primeira música de “Rise!”
que vocês apresentaram ao público. Gostaria que vocês comentassem mais sobre
ela e o que sentiram da reação dos fãs?
Renato: Desde a primeira vez que
tocamos a Ball of Vanities ao vivo, sentimos uma empatia muito forte do público
por ela. De alguma forma, ela se conecta às pessoas. Além disso, o Ivo deu um
“trato” na orquestração da introdução
que gostamos bastante, então acabamos achando que ela era uma boa opção para
primeira faixa.
RtM: Faixas que também, apesar de eu
ter curtido o álbum como um todo, me chamaram uma atenção maior foram “Suicide
Note” e “Three Lives”, inclusive pelas letras. Gostaria que vocês falassem um
pouco mais a respeito delas.
Renato: A Suicide Note surgiu de uma ideia
da Sabrina. Ela provavelmente é a música mais “obscura” do album, e também está
sendo bastante elogiada tanto ao vivo como pela imprensa especializada. A Three Lives teve a letra escrita pelo
Danilo, nosso antigo baixista, que por motivos pessoais não pode mais atender
às atividades da banda mas continua trabalhando em parceria conosco nas
composições. Pessoalmente eu acho ambas bastante interessantes por terem essas
características tanto da Sabrina quanto do Danilo, que quem acompanha a banda
desde o início pode notar claramente ao ouvi-las.
RtM: “The Path” também me chamou logo
a atenção, com uma melodia de teclado bem marcante, partes com riffs pesados,
climática, e foi uma que me lembrou
bastante o Nightwish dos primeiros álbuns.
Renato: É, de fato não é segredo que eu
gosto bastante da primeira era do Nightwish e do metal dos anos 80 e 90, então
em algum lugar no álbum essas referências iam acabar aparecendo.
RtM:“New Horizons” se diferencia também pelas
variações, com nuances do Prog Metal e Simphonic Metal, alternando partes
agressivas com outras mais climáticas, destacando a bela e variada
interpretação de Sabrina. Acredito que deve ter sido uma das que mais vocês
trabalharam em estúdio. Gostaria que vocês comentassem também sobre ela e a
inspiração da letra.
Renato: A New Horizons mistura um pouco
de tudo que o Amazon já fez. Ela tem um peso enorme em certas partes, um vocal
bastante melodioso e riffs progressivos e modernos, mas ao ouvir com atenção,
verá que aqueles “blasts” que são uma característica do Amazon desde a primeira
demo de “Growing” estão lá. Sobre as letras, cada um interpreta de uma forma,
mas uma pequena dica a respeito: a Sabrina estava assistindo um seriado
bastante famoso de TV quando a escreveu. J
RtM: E se vocês fossem escolher suas
canções favoritas do álbum, quais seriam e por quê?
Renato: O Rise é um álbum curto, tem em
torno de 50 minutos, então é difícil de escolher. Apenas pra citar uma eu
escolheria a Prisoners of the Sea, que a banda toda gosta muito de tocar ao
vivo.
RtM: E como está a vida aí na
Alemanha? Quais as grandes diferenças que vocês sentiram, seja em termos
culturais no dia a dia e no que diz respeito ao trabalho com a música?
Renato: É mais ou menos como mudar pra
outro planeta. A realidade e a rotina se alteram de forma tão brutal que a
gente tem que reaprender tudo, como criança. Mas a grande maioria dos aspectos é
bastante positiva. O trabalho diário não toma tanto tempo na vida das pessoas
aqui, o que nos deixa com mais tempo para nos dedicarmos à música. Além disso,
não há o stress diário que vivemos aí, então acabamos sendo pessoas mais
produtivas. E claro, há a diferença enorme de preço das coisas, principalmente
eletrônicos, instrumentos musicais, equipamentos de estúdio e etc, o que faz
com que os custos de fazer música aqui sejam significativamente menores.
RtM: E como estão os contatos e
perspectivas para lançamento do álbum no Brasil, Europa e demais mercados?
Recentemente vocês assinaram com a Ravenheart não é?
Renato: A previsão é que o lançamento
mundial ocorra em 08 de Dezembro, pela Ravenheart. O álbum será disponibilizado
tanto na versão física quanto na digital.
RtM: Bom, obrigado a vocês pela
atenção e ficamos realmente contentes com os resultados que vocês alcançaram em
termos musicais, temos certeza que o álbum será muito bem sucedido e abrirá
muitas novas portas! Eu que acompanho a banda desde o princípio, estou bem
empolgado! Sucesso pessoal, e fica o espaço para a sua mensagem final aos fãs!
Renato: Agradecemos o Road to Metal e
você pelo apoio de sempre J e pelo espaço
disponibilizado para o Amazon. Esperamos que todo mundo curta o álbum, e que
as bandas de rock e metal continuem produzindo material de qualidade. Faça
música! Sempre! Não abra mão do que gosta de fazer porque alguém te disse que
não vai vender, que não tem futuro, que você gasta demais com isso. Ser músico
é viver A música, não viver DE música. Não importa se você toca pra dez mil
pessoas ou no seu quarto. E quando alguém te questionar sobre a sua escolha de
fazer música ao invés de alguma outra coisa chata mas mais “normal”,
“politicamente correta” ou que esteja na moda, ou perguntar se você vai
continuar vivendo da fantasia, responda o seguinte:
Entrevista: Carlos Garcia
Edição: 002
Fotos: Divulgação e arquivo da banda
Formação:
Sabrina Todt - Vocals, Flute
Renato Angelo - Guitars, Keyboards, Programming
Marcos Frassão - Drums, Percussion
André Pedral – Bass
Danilo Angelo - Compositions
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