sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Entrevista: Amazon - Ascendendo à uma Nova Era



Com o objetivo de buscar um diferencial em termos de produção no terceiro álbum do Amazon, além de dar mais alguns passos a frente, Renato Ângelo procurou a experiência de Amanda Somerville, que possui um respeitável conhecimento e competência em diversos estilos, e, praticamente ao natural, por indicação da própria, Sander Gommans também envolveu-se na produção.   (READ THE ENGLISH VERSION HERE)

Para muitos, o terceiro álbum de uma banda é o marco para mostrar se ela vai se firmar, vai consolidar sua personalidade, e o Amazon mostrou que, corroborando o trabalho consistente que vem apresentando desde seu debut (Victoria Regia - 2005), estão aí para marcar seu território, com um trabalho que podemos afirmar ser o melhor de sua carreira até aqui, com produção e músicas fortes, apresentando uma banda ainda mais segura e evidenciando suas potencialidades.

Conversamos com Renato para nos contar um pouco mais a respeito do álbum, do trabalho ao lado de Amanda e Sander, da mudança dele e Sabrina Todt (Vocal) para a Alemanha, e mais! Confira a seguir.


RtM: Para início de conversa, conte-nos como surgiu a ideia e a oportunidade de trabalhar com Sander Gommans e Amanda Somerville neste terceiro trabalho.
Renato: Quando comecei a trabalhar nas músicas para este álbum, eu decidi que queria alguma coisa diferente em termos de produção. Não queria que "Rise!" soasse como “o perfeito álbum de Symphonic Metal”. Esta foi a principal razão de eu ter procurado a Amanda. Como ela tem experiência em uma enorme variedade de estilos, eu achei que ela seria a pessoa ideal para trabalhar um álbum do Amazon. Ela foi muito receptiva à ideia de trabalhar conosco e de imediato sugeriu que a produção dos instrumentos ficasse a cargo do Sander, que traria ao trabalho o peso e coesão necessários. Ele, por sua vez, envolveu o Ivo van Dijk para a produção da bateria e de alguns arranjos de orquestra e o resultado está aí.

RtM: A Amanda trabalhou mais a parte de produção dos vocais, não é? Percebe-se que a Sabrina está utilizando ainda melhor suas características, estando mais segura e também em interpretações mais variadas. Como foi esse processo, e em que aspectos a Amanda mais contribuiu? Vi que a Amanda inclusive co-escreveu as letras, ou seja, envolveu-se bastante mesmo.
Renato: Tanto a Amanda quanto o Sander trabalharam conosco desde a pré-produção do material. A Amanda contribuiu em tantos aspectos que limitar o  principal a apenas um seria injusto. Ela trabalhou de forma intensa nas letras que escrevemos, nos detalhes das melodias e ficou responsável pela gravação e edição dos vocais. Preferimos trabalhar desta forma para que fosse possível não haver uma quebra no conceito das vozes do álbum, de forma que ela e a Sabrina pudessem confortavelmente atingir os resultados que imaginaram quando começaram a trabalhar as músicas.


RtM: Sendo que parte da banda está no Brasil, e vocês (Renato e Sabrina) na Alemanha, como foi o processo de composição e gravação?
Renato: Na verdade, durante o processo de gravação, ainda morávamos no Brasil. Viajamos para a Holanda para fazer a gravação das vozes em 2013, e a oportunidade da mudança surgiu posteriormente apenas. De qualquer forma, foi um processo totalmente diferente do que estávamos habituados, até porque tivemos que fazer toda a parte da pré-produção à distância com o Sander e a Amanda. Mas depois que a gente acostuma, é tranquilo. 

RtM: Sander e Amanda elogiaram bastante a paixão com que o Amazon trata sua música, dizendo que foi um fator que os motivou a trabalhar na produção de “Rise!” . Acredito que isso deve ter lhes dado ainda mais certeza que estavam no caminho certo, que era o momento de dar um passo, ou melhor, vários passos à frente e investir forte nesse terceiro trabalho.
Renato: Sem dúvida alguma o feedback positivo vindo de artistas de renome é algo que deixa qualquer músico satisfeito. Eu, pessoalmente fiquei bastante contente em receber esse retorno e em ler as notas divulgadas por ambos a nosso respeito à imprensa. De alguma forma, isso reflete exatamente o modo como o Amazon trabalha: fazendo o que gosta e o que quer. Toda banda assume riscos musicais e estéticos quando decide fazer música desta forma, sem se prender a fórmulas ou rótulos, e quando isso dá certo e uma pessoa de fora diz que você está conseguindo se expressar através da sua música, acho que a banda pode se considerar bem sucedida.

RtM: Falando nisso, do elogio quanto a paixão com que o Amazon apresenta em sua música, acredito que o feeling, a música que soa orgânica, é sempre o diferencial, pois vemos muitas bandas muito parecidas uma com as outras, fora que se utiliza demais da tecnologia e “truques” de estúdio, soando frias.  O que vocês pensam a respeito disso, e o que fazer para não cair nas  “armadilhas” e se diferenciar no cenário?
Renato: O Amazon faz o que dá vontade, escreve as músicas de forma não planejada. O que você ouve no nosso álbum é o que temos vontade de tocar. Não temos o objetivo de ser comerciais, a obrigação de lançar um álbum que obedece essa ou aquela regra. Claro que houve e sempre há uma preocupação com a qualidade do álbum. Queremos ouvir algo que nos dê satisfação na hora de apertar o play, mas paramos por aí. O Amazon começa pela música, não pela obrigação de lançar um disco.


RtM: E o que o título “Rise!” significa para vocês?
Renato: RISE! tem tudo a ver com o momento atual da banda. Acreditamos que este novo álbum é um divisor de águas para o Amazon, pois o modo como ele foi feito permitiu chegarmos a um resultado que soa “maior” que os anteriores. Até porque o trabalho envolveu uma equipe significativamente maior de vários lugares do mundo: trabalhamos com 3 produtores, além da equipe do estúdio Republica do Som de Campinas e da Ísis, que fez a arte gráfica. Então RISE! traduz bem essa ascensão do Amazon na direção dos objetivos pessoais de cada um e  também como banda.

RtM: Falando sobre a sonoridade de “Rise!”, senti uma banda muito madura, realmente pronta para fazer frente a quaisquer bandas, seja no Brasil ou no exterior. Músicas com melodia, dramaticidade, que acredito, irão agradar fãs das fases mais antigas de gente como Nightwish. Inclusive o próprio Sander citou que o Amazon agradaria em cheio fãs de Nightwish e After Forever. O que você me diz dessa afirmação e quais as principais diferenças que você apontaria entre os primeiros trabalhos e “Rise!”?
Renato: São duas realidades totalmente diferentes. O Nature’s Last Ride, por exemplo, tem diversas músicas das quais eu gosto muito, mas foi todo gravado no nosso homestudio. Foi feito pra ser um album de baixo custo, era o que podiamos fazer naquele momento. O RISE!, além da produção, traz a experiência de 14 anos de Amazon. Quanto ao aspecto “oldschool”, acho que isso sempre vai ser uma característica do que escrevemos. 

Apesar de eu, particularmente, gostar de algumas bandas com uma sonoridade mais moderna também, ainda acredito na forma antiga de fazer música não descartável, de fazer albuns que não são substituídos pelos posteriores. Ainda acredito na necessidade de se filtrar quais músicas vão pro album e quais não, mesmo que atualmente seja barato e fácil gravar 150 músicas. Acho que é melhor fazer um album legal com 10 músicas do que 2 álbuns medianos com 20. E acho que é daí que vem esta impressão que o Sander teve ao ouvir o Amazon.


RtM: “Ball of Vanities” abre o álbum já de forma bombástica, sendo uma excelente escolha, e acredito que já mostra ao ouvinte características marcantes do Amazon, ou seja, um trabalho forte, com melodias marcantes e cativantes, bem produzido, e uniforme, que prende o ouvinte até o fim. Inclusive, se não me engano é a primeira música de “Rise!” que vocês apresentaram ao público. Gostaria que vocês comentassem mais sobre ela e o que sentiram da reação dos fãs?
Renato: Desde a primeira vez que tocamos a Ball of Vanities ao vivo, sentimos uma empatia muito forte do público por ela. De alguma forma, ela se conecta às pessoas. Além disso, o Ivo deu um “trato”  na orquestração da introdução que gostamos bastante, então acabamos achando que ela era uma boa opção para primeira faixa.

RtM: Faixas que também, apesar de eu ter curtido o álbum como um todo, me chamaram uma atenção maior foram “Suicide Note” e “Three Lives”, inclusive pelas letras. Gostaria que vocês falassem um pouco mais a respeito delas.
Renato: A Suicide Note surgiu de uma ideia da Sabrina. Ela provavelmente é a música mais “obscura” do album, e também está sendo bastante elogiada tanto ao vivo como pela imprensa especializada.  A Three Lives teve a letra escrita pelo Danilo, nosso antigo baixista, que por motivos pessoais não pode mais atender às atividades da banda mas continua trabalhando em parceria conosco nas composições. Pessoalmente eu acho ambas bastante interessantes por terem essas características tanto da Sabrina quanto do Danilo, que quem acompanha a banda desde o início pode notar claramente ao ouvi-las.


RtM: “The Path” também me chamou logo a atenção, com uma melodia de teclado bem marcante, partes com riffs pesados, climática,  e foi uma que me lembrou bastante o Nightwish dos primeiros álbuns.
Renato: É, de fato não é segredo que eu gosto bastante da primeira era do Nightwish e do metal dos anos 80 e 90, então em algum lugar no álbum essas referências iam acabar aparecendo.

RtM:“New Horizons” se diferencia também pelas variações, com nuances do Prog Metal e Simphonic Metal, alternando partes agressivas com outras mais climáticas, destacando a bela e variada interpretação de Sabrina. Acredito que deve ter sido uma das que mais vocês trabalharam em estúdio. Gostaria que vocês comentassem também sobre ela e a inspiração da letra.
Renato: A New Horizons mistura um pouco de tudo que o Amazon já fez. Ela tem um peso enorme em certas partes, um vocal bastante melodioso e riffs progressivos e modernos, mas ao ouvir com atenção, verá que aqueles “blasts” que são uma característica do Amazon desde a primeira demo de “Growing” estão lá. Sobre as letras, cada um interpreta de uma forma, mas uma pequena dica a respeito: a Sabrina estava assistindo um seriado bastante famoso de TV quando a escreveu. J


RtM: E se vocês fossem escolher suas canções favoritas do álbum, quais seriam e por quê?
Renato: O Rise é um álbum curto, tem em torno de 50 minutos, então é difícil de escolher. Apenas pra citar uma eu escolheria a Prisoners of the Sea, que a banda toda gosta muito de tocar ao vivo.

RtM: E como está a vida aí na Alemanha? Quais as grandes diferenças que vocês sentiram, seja em termos culturais no dia a dia e no que diz respeito ao trabalho com a música?
Renato: É mais ou menos como mudar pra outro planeta. A realidade e a rotina se alteram de forma tão brutal que a gente tem que reaprender tudo, como criança. Mas a grande maioria dos aspectos é bastante positiva. O trabalho diário não toma tanto tempo na vida das pessoas aqui, o que nos deixa com mais tempo para nos dedicarmos à música. Além disso, não há o stress diário que vivemos aí, então acabamos sendo pessoas mais produtivas. E claro, há a diferença enorme de preço das coisas, principalmente eletrônicos, instrumentos musicais, equipamentos de estúdio e etc, o que faz com que os custos de fazer música aqui sejam significativamente menores.


RtM: E como estão os contatos e perspectivas para lançamento do álbum no Brasil, Europa e demais mercados? Recentemente vocês assinaram com a Ravenheart não é?
Renato: A previsão é que o lançamento mundial ocorra em 08 de Dezembro, pela Ravenheart. O álbum será disponibilizado tanto na versão física quanto na digital.

RtM: Bom, obrigado a vocês pela atenção e ficamos realmente contentes com os resultados que vocês alcançaram em termos musicais, temos certeza que o álbum será muito bem sucedido e abrirá muitas novas portas! Eu que acompanho a banda desde o princípio, estou bem empolgado! Sucesso pessoal, e fica o espaço para a sua mensagem final aos fãs!
Renato: Agradecemos o Road to Metal e você pelo apoio de sempre J e pelo espaço disponibilizado para o Amazon. Esperamos que todo mundo curta o álbum, e que as bandas de rock e metal continuem produzindo material de qualidade. Faça música! Sempre! Não abra mão do que gosta de fazer porque alguém te disse que não vai vender, que não tem futuro, que você gasta demais com isso. Ser músico é viver A música, não viver DE música. Não importa se você toca pra dez mil pessoas ou no seu quarto. E quando alguém te questionar sobre a sua escolha de fazer música ao invés de alguma outra coisa chata mas mais “normal”, “politicamente correta” ou que esteja na moda, ou perguntar se você vai continuar vivendo da fantasia, responda o seguinte:

- Quando eu era criança, meu sonho era ser músico, e hoje eu sou músico. E você que queria ser astronauta ou jogador de futebol e agora é bancário?   (Entrevistador: "Bah, além do site também trabalho em banco, só o jornalismo não deu pra pagar as contas heheheeh, mas continuo sonhando!" - Risos!-)


Entrevista: Carlos Garcia
Edição: 002
Fotos: Divulgação e arquivo da banda


Formação:
Sabrina Todt - Vocals, Flute
Renato Angelo - Guitars, Keyboards, Programming
Marcos Frassão - Drums, Percussion
André Pedral – Bass 


Danilo Angelo - Compositions



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