sexta-feira, 17 de maio de 2013

Entrevista: Nervochaos - Em Constante Busca Pela Sonoridade Própria




Formada em 1996 e, contando o ao vivo "Live Rituals", tendo seis álbuns cultuados pelos seguidores do Metal Extremo, passagens bem sucedidas pelo exterior, são 17 anos ininterruptos de batalha, o que lhes dá respaldo para saber o que querem, quais os caminhos a tomar, e que fazer música extrema e a vida na estrada não é para qualquer um.

Prontos para, no mínimo mais 17 anos de Metal, a Nervochaos comemora uma nova fase, com o lançamento de "To The Death" pela tradicional Cogumelo Records e a solidez e entrosamento da nova formação. O baterista Edu Lane recebeu o Road para conversar sobre tudo isso e muito mais! Confira a seguir!


Road to Metal: Tanto no álbum "Battalions Of Hate", quanto no novo "To The Death", existem passagens mais cadenciadas e muito mais trabalhadas. Esse é o caminho para os futuros lançamentos da NervoChaos? E como a nova formação contribui para esse direcionamento musical cada vez mais apurado, porém sem perder mão da agressividade em si?

Edu Lane: Acredito que sim. Nós estamos na constante busca pela nossa sonoridade própria. Nós nunca quisermos ser a banda mais rápida ou mais gore do planeta, e sempre iremos permanecer fiéis as nossas raízes e a nossa proposta inicial. Não nos prendemos a rótulos pré-estipulados e conseguimos transitar livremente entre as diversas vertentes da música extrema.

Fazemos somente aquilo que gostamos sem nos preocupar em agradar um determinado segmento musical. Queremos sempre evoluir como banda e como músicos, e é algo natural esta evolução e esse amadurecimento. A nova formação esta bastante entrosada, sólida e com uma participação ativa de todos os integrantes no processo de composição, o que eu acredito ser extremamente positivo e contribui bastante para esta sonoridade mais trabalhada.


RtM: Confesso que assim que soube que a NervoChaos assinou com a Cogumelo Records meu primeiro pensamento foi: "até que enfim"! E para vocês, qual a sensação de estar no cast de uma das gravadoras mais significativas do Metal Extremo nacional? E qual a importância de um selo hoje em dia com essa era de downloads?

E.L.: Para nós é uma tremenda honra fazer parte do cast da Cogumelo. Todas as bandas que curtimos e que nos influenciam fizeram ou fazem parte da Cogumelo. A Cogumelo tem uma excelente distribuição, não só no Brasil, mas no exterior também. Tem sido muito bom trabalhar junto com eles e esperamos que essa parceria seja duradoura. A Cogumelo é a única gravadora nacional totalmente dedicada e focada na cena nacional, fazendo história há mais de 30 anos. Apesar de vivermos uma era de downloads e pirataria, acredito que é essencial para uma banda ter o apoio de uma boa gravadora.


RtM: Para algumas pessoas, o título "To The Death" pode remeter diretamente ao Death Metal, porém desde sua formação o NervoChaos sempre passeou por vários estilos da música extrema. Se fosse necessário encaixar a sonoridade de vocês em um estilo, qual seria? E qual a ligação da banda com a temática do satanismo: ideologia ou apenas tema lírico?

E.L.: Como mencionei anteriormente, nós nunca nos prendemos a rótulos pré-estipulados e sempre tivemos liberdade de passear pelas diversas vertentes da música extrema, mas sem deixarmos de ser fieis a nossa proposta inicial e as nossas raízes. Se tivermos que rotular a nossa sonoridade, diria que somos uma banda de música extrema. O título do novo CD é uma declaração que iremos permanecer nesta banda e com esta proposta até o fim. É muito interessante ver e saber as diferentes interpretações de nossas letras e títulos de CD. Não há espaço para modismos nessa banda e a nossa temática sempre teve conteúdo satânico, obscuro e anticristão. Eu não tenho isso como apenas tema lírico.



RtM: Realmente a safra de música extrema no Brasil está muito boa. Na visão de vocês que estão na batalha há muito tempo, o que falta para o fortalecimento de uma cena no Brasil?

E.L.:Ser underground não é aceitar qualquer coisa, não é ser tosco e sim é viver plenamente este estilo de vida. Infelizmente, no Brasil, ainda há uma visão errada do que é ser underground e muitas vezes nos deparamos com o descaso de produtores locais e com prática não saudáveis. A mudança que desejamos deve partir de nós mesmos e o Brasil é certamente um dos mais importantes berços da música extrema mundial. Há dificuldades como em qualquer lugar do planeta, talvez algumas vezes um pouco mais especifica em alguns pontos, mas acredito estarmos caminhando para um maior fortalecimento.


RtM: “Quarrel in Hell" trazia uma lista de convidados ilustres, agora "To The Death" repete a dose. Essas parcerias são pensadas ou surgem espontaneamente  E alguma vez já rolou algum estresse com algum músico convidado?


E.L.: Nada é por acaso e todas as participações que tivemos em nossos CDs foram planejadas cautelosamente. É uma forma de presentear os nossos fãs com algo especial e único e essa sempre foi a nossa intenção. Nunca tivemos nenhum problema com os convidados, até porque, convidamos músicos que são nossos amigos e que tem afinidade com a nossa proposta e com a banda. Houveram convidados que não puderam participar, tanto no 'Quarrel in Hell' como no 'To The Death', mas mais por uma questão de incompatibilidade de agenda.



RtM: A parte gráfica é um elemento bastante importante, até mesmo para chamar atenção àqueles que não conhecem a banda. Em “To the Death” vocês deram um passo além, ao terem como responsável pela capa o ilustre artista internacional Joe Petagno. Ele teve total liberdade para cria-la, ou vocês passaram as informações de como a desejavam? Conte um pouco sobre esse processo.

E.L.: Sempre sonhei em ter algum trabalho nosso com a arte do Joe Petagno e para o novo CD resolvi arriscar. Entrei em contato com ele e ele prontamente me respondeu dizendo que tinha interesse em fazer o trabalho conosco e que havia gostado da banda e da nossa sonoridade. Demos total liberdade para ele no processo de criação, enviamos as letras e o título do novo CD, e ele criou a arte em cima disto. Ficamos totalmente satisfeitos com o resultado final, até porque é algo bem orgânico (pois o Joe não utiliza computador para criação de suas artes) e casou por inteiro com a proposta deste novo CD.


RtM: A banda já tem uma certa experiência em shows pelo exterior. Como são as condições que vocês encontram, em termos de estrutura em geral (locais dos shows, equipamentos, hospedagem, transporte)? Muitas bandas comentam que, várias vezes, não traz um retorno e muitos acabam se aventurando, tocando em locais e condições precárias apenas para dizer que tocaram no exterior.

E.L.: No geral tivemos boas experiências tocando no exterior. Sempre há uma ou outra dificuldade mas a cultura no exterior trata o underground de forma bem mais adequada do que aqui no Brasil. Nunca tivemos problemas com transporte ou equipamentos, pois sempre viajamos com um backline e um transporte próprio (ou seja não é fornecido pelo organizador local), mas já enfrentamos alguns problemas com hospedagem (o que as vezes enfrentamos por aqui também) e/ou cancelamento de datas. Nenhuma banda tem 100% de garantia de que não encontrará problemas ou dificuldades em uma turnê, seja no Brasil ou no exterior, mas é possível reduzir bastante esse risco. Estamos sempre aprendendo e evoluindo com essas experiências.



RtM: Ainda sobre essas experiências lá fora, vocês devem ter muitas histórias curiosas. Poderia contar alguma? E calote? Já levaram algum lá fora, ou entraram em alguma roubada, tipo prometerem algo e depois vocês chegarem ao local e as coisas não eram bem as combinadas?

E.L.: É verdade, existem muitas histórias destas turnês, algumas engraçadas, muitas boas e outras ruins, mas é sempre um aprendizado onde assimilamos as coisas positivas e procuramos aprender e crescer com os erros e as coisas negativas que rolaram.

Nunca tomamos um calote financeiro no exterior, mas já enfrentamos roubadas do tipo cancelarem um show quando chegamos na cidade ou do local de hospedagem não ser o que havia sido combinado. Estar numa banda e em turnê é bem mais difícil do que parece e certamente não é algo para qualquer pessoa.


RtM: Edu, recentemente você publicou um comunicado encerrando as atividades da Tumba Records. Nos conte um pouco mais sobre o por que de encerrar as atividades da produtora? Você acredita que o Metal no Brasil tende à se profissionalizar ou cair no "ostracismo"?

E.L.: Após 17 anos agendando shows e turnês pelo Brasil e pela América Latina conclui o meu ciclo. Todos os objetivos traçados foram atingidos e percebi que era o momento certo para encerrar as atividades da Tumba. O Metal no Brasil já se profissionalizou bastante e torço para que continue nesse caminho e evolua ainda mais.

RtM: É inevitável entrarmos num ponto polêmico. Muito desconforto foi gerado, especialmente entre os headbangers gaúchos, com algumas postagens entendidas como ofensivas de um membro da banda em relação à tragédia em Santa Maria/RS. Queremos dizer que foi muito digno e respeitoso por parte do Edu Lane se manifestar contra tal comportamento e por ter lembrado que já tocaram na cidade algumas vezes. Sabemos que na cena extrema do Brasil temos certos radicalismos (muitos músicos geram comentários polêmicos nas redes sociais). Como é, para você, Edu, como líder do grupo, quando o nome da banda pode ficar associado à um comentário infeliz de um integrante? Qual a linha divisora entre o comportamento individual/pessoal de um membro e o nome da banda como um todo?

E.L.: Realmente foi um fato muito infeliz o comentário feito por ele sobre o assunto de Santa Maria/RS. Por isso resolvi publicar no site da banda uma nota sobre o acontecido e deixar claro a posição da banda sobre o assunto. A banda atualmente é composta por 4 pessoas e todos nós temos os mesmos direitos e as mesmas obrigações dentro dela. Sou uma pessoa de mente aberta e com bastante bom senso, mas a partir do momento que um integrante começa a interferir na política da banda ou no bom andamento dela, eu me sinto na obrigação de intervir, justamente para não ficar associando coisas que batem de frente com a proposta e a postura que adotamos. 

Somos todos brasileiros e temos muito orgulho disso. Não somos (e nem nunca fomos) uma banda política ou com preconceito de qualquer tipo. É claro que existem diferenças de opiniões e de pensamentos entre os integrantes da banda e trato isso como algo positivo e benéfico, mas não posso compactuar quando é algo totalmente fora da nossa linha de pensamento e da nossa postura, como por exemplo foi o comentário feito. Todos nós somos passiveis de erro e isso faz parte da natureza humana, mas quando isso acontece, o que eu espero é que haja o reconhecimento e a compreensão do erro cometido para que o mesmo não se repita e haja uma evolução, uma melhora. Se isso não ocorre com a franqueza e a sinceridade necessária, foi invadida a linha divisora entre o comportamento individual de um membro e a banda como um todo.

RtM: Um dos argumentos mais presentes de crítica ao Metal nacional, sobretudo por pessoas de fora da cena, é de que as bandas cantam em inglês e não na língua materna. Levando em consideração que vocês cantam em inglês, qual a opinião do NervoChaos sobre tal argumento e sobre bandas que cantam em português, algumas inclusive usando esse argumento de “obrigação” de cantar em português? E vocês visam o mercado externo ou é uma questão de estética musical?

E.L.: Não acredito que seja uma obrigação cantar em sua língua materna. Acho louvável e bem interessante o trabalho que algumas bandas fazem e isso não impede que elas atinjam o mercado no exterior. A nossa proposta nunca foi cantar em português e formatamos a nossa estética musical em cima da língua inglesa. Desde o inicio vejo bandas vindas de países como a Alemanha, Suécia, Holanda, Bélgica, Noruega, Japão, México, Colômbia, Brasil, e etc...cantando em inglês e algumas outras em sua língua materna. Acredito que tudo depende da proposta inicial da banda e da estética musical adotada. Fodam-se os dogmas do Metal, faça o que tu queres pois há de ser tudo da Lei.


RtM: Sabendo que a banda está em pleno processo de divulgação do novo álbum, gostaríamos de agradecer pelo tempo dispendido e deixamos o espaço final para uma última mensagem da banda ao público.

E.L.: Muito obrigado pela excelente entrevista, pelo espaço cedido e pelo apoio dado ao NervoChaos. Para saber mais sobre a banda visitem: www.nervochaos.com.br  Vejo vocês na estrada! To the death!


Por: Carlos/Eduardo/Fernanda/Harley


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