domingo, 19 de janeiro de 2014

Entrevista: Sioux 66 – “Somos uma banda de Rock & Roll”


O ano de 2013 para o Heavy Metal e Hard Rock foi bem produtivo, bandas como Sepultura, Almah, Torture Squad, Hibria lançaram ótimos materiais, além de grupos que ainda estão engatando a primeira, mas que já mostram que pode ir muito longe. E é o caso da paulista banda Sioux 66, que em tão poucos anos de existência, já é considerada um dos nomes mais importantes do Hard Rock brasileiro. 

O baixista Fabio Bonnies e o guitarrista Bento Mello atenderam a equipe do Road To Metal para falar tudo sobre o primeiro disco da banda, "Diante do Inferno" e dos acontecimentos referente à banda no ano de 2013. 

Road to Metal: O Sioux 66 não é novidade pra quem gosta de acompanhar a cena Rock brasileira, mas em 2013 vocês lançaram o primeiro e um ótimo disco, chamado "Diante do Inferno". Antes de ele estar disposto no mercado, vocês conquistaram bastante espaço com o EP de quatro músicas. Qual é o segredo de vocês terem dado essa alavancada? É força do hábito ou foi questão de muita vontade por parte dos integrantes?

Fabio: Cara, acho que é uma soma de tudo. Desde quando a banda foi formada tínhamos esse ideal e quando a formação atual se consolidou nós conversamos e decidimos de primeira que lançaríamos um EP com quatro músicas até o final de 2012 e começamos a compor loucamente. Todo o resto, se é que pode se chamar assim, foi consequência de muito trabalho e empenho por parte de nós cinco. Nós somos uma unidade, uma gangue com cinco líderes, uma banda de verdade. Acho que esse é o segredo.

Bento: Sem a vontade de todos nada teria dado certo. Mas a maneira como trabalhamos o EP foi bem sucedida, acho que foi até melhor do que o esperado, porque com apenas quatro músicas a gente conseguiu fazer o nome da banda ficar conhecido no underground de São Paulo. Sem dúvida, isso deu um gás pra a gente acelerar o lançamento do disco.

"Estamos no caminho certo, foi o que senti a primeira vez que ouvi 'Diante do Inferno' pronto"

RtM: No segundo semestre de 2013, a banda lançou o primeiro disco de estúdio. Em tão pouco tempo de lançamento, o álbum já ganhou diversos elogios da mídia e do público, o que aconteceu também quando lançaram o EP em 2012. "Diante do Inferno" é um disco que está assegurando definitivamente um lugar no sol para banda?

Fabio: Acho que ainda é muito cedo para dizer. Nós lançamos "Diante do Inferno" em agosto de 2013 e ainda temos esse ano inteiro para trabalhar. Ainda precisamos fazer muito para conseguir um lugar definitivo ao sol. Às vezes o tempo fica meio nublado ainda, sabe? (risos). Mas estamos no caminho certo, foi o que senti a primeira vez que ouvi "Diante do Inferno" pronto. 

Bento: Com certeza o lugar ao sol ainda está muito longe, mas acho que o produto final do disco ficou muito bom. A gente quis fazer um disco forte que pudesse colocar o nosso nome num cenário maior. Mas é bom lembrar que é o nosso primeiro álbum, precisamos continuar compondo e já visar um novo trabalho. Acho que se continuarmos trabalhando nossas possibilidades de chegar a algum lugar aumentam. 

RtM: Em tão poucos anos de estrada, a banda mostra arranjos nos moldes de bandas gringas e composições muito bem elaboradas e cantadas em português, mas o que mais reparei no estilo de som do Sioux 66 é que vocês conseguem fazer músicas em português parecendo que está soando em inglês. Isso é uma das coisas que a banda aposta ou acontece naturalmente?

Fabio: Foi totalmente natural. Talvez soe assim por causa da forma que o instrumental é tocado, e o Igor é um cara incrível na hora de trabalhar para encaixar as letras. Ele sabe interpretar bem o sentimento que queremos passar com as músicas, aliando o que está escrito nas letras. Sou suspeito pra falar, mas acho o cara um gênio (risos). A maior parte do mérito nisso se deve a ele. Mas não há nada de aposta, desde a primeira vez que nós cinco nos reunimos e começamos a compor juntos foi assim.

Bento: Foi natural. A maneira como a gente compõe ajuda isso, porque acho que a gente deixa claro as nossas influências nas músicas e elas vêm, principalmente, de bandas americanas de Hard Rock. Poucas bandas tentam trabalhar um som mais pesado em português, mas acho que o Godoi encontrou um meio de escrever e cantar que soa bem. E temos uma química boa, acho que por isso parece tão natural.

RtM: A banda segue o Hard Rock como objetivo musical, mas o disco é cheio de variações, que passeia até pelo Heavy Metal, Punk e do Rock em geral. Pode considerar que vocês tem certo ecletismo na hora de trabalhar nas músicas?

Fabio: Isso é fruto das nossas influências. Uma coisa que sempre temos em mente é de que não devemos nos limitar. Se alguém da banda chega e apresenta algo totalmente Heavy ou Punk, nós vamos trabalhar isso até que a gente fique satisfeito. Nos rotulam como Hard Rock, até mesmo porque nosso som realmente tem mais esse lado, mas eu prefiro dizer que somos uma banda de Rock'n'Roll.

Bento: Acho que sim. Concordo quando falam que somos uma banda de Hard Rock, até porque o Hard tem esse ecleticismo e acho que é natural a gente passear por outros estilos, mas sempre com a pegada e essência da banda.

RtM: Com as letras abordadas sobre a realidade atual, instrumental bem pesado/cadenciado e refrãos que já ficam grudados na cabeça, em especial as músicas "Mentiras", "Você Não Pode Me Salvar" e a faixa título, que considero as minhas preferidas. O trabalho desses conjuntos que eu citei é feito pensando na rápida assimilação do ouvinte e das músicas funcionarem bem ao vivo?

Fabio: Não pensamos em nada quando estamos compondo em conjunto, apenas vamos tocando, apresentando ideias, mexendo nelas e deixando rolar. Acho que se as músicas têm uma rápida assimilação do público é porque antes de sermos músicos nós somos fãs de Rock, então nós tocamos do jeito que gostamos. Em momento algum no processo eu paro para pensar como as pessoas vão se sentir ao ouvirem, mas se eu sou fã de Rock e faço esse tipo de música então sei que existem outras pessoas por aí que também vão gostar.

Bento: Somos fãs de Rock e isso é o mais importante. Então, quando estamos compondo, os primeiros críticos somos nós. Acho que os riffs e os refrãos são os aspectos que fazem o Rock ser o que ele é, então existe essa preocupação de trabalhar isso sempre da maneira que mais nos agrade.

RtM: Não deixou de escapar também as participações especiais, como a do guitarrista Andreas Kisser (Sepultura), na faixa "Uma Só Vez", e do Ariel Invasor (Invasores de Cérebro) interpretando um deputado no clipe para a faixa "Porcos". De onde tiveram a ideia de convidar os dois?

Fabio: Ainda não me caiu a ficha de que o Andreas tocou numa faixa do álbum da minha banda (risos). Quanto ao Ariel, quando nos reunimos com um dos diretores do clipe, o Rafael Pacheco, pensamos em alguns nomes e o do Ariel estava junto. Por sorte, ele é pai de um amigo meu e do diretor e isso facilitou o contato. Posso dizer sem dúvida que acertamos em convidá-lo. O cara é uma lenda do Punk nacional e tê-lo no clipe de uma música de protesto foi algo incrível. Sem contar que ele é um cara muito legal.

Bento: Foi muito especial ter esses caras trabalhando com a gente. Sou muito fã do Andreas e também sou amigo dele, então o convidei e, por sorte, enquanto a gente estava gravando o disco ele estava no mesmo estúdio com o projeto novo dele, o De La Tierra. Foi incrível vê-lo gravando e ter esse registro com o cara que é o principal guitarrista do Brasil.

"Somos fãs de Rock e isso é o mais importante"

RtM: Para a produção do disco vocês tiveram ao lado os experientes produtores Brendan Duffey e Adriano Daga do Norcal Studios, que já produziram grandes bandas Heavy Metal nacional. Como foi trabalhar com produtores que, se não engano, pegam poucas bandas de Hard Rock pra produzir?

Fabio: Eles conhecem Rock pesado em geral e sabem muito bem como tirar som de uma banda. Quando fomos ao Norcal pra conversar sobre a produção o Adriano mostrou algumas musicas de uma banda de Hard Rock que havia gravado lá, o Elixir Inc. Eu fiquei impressionado, o som tava perfeito e isso me fez querer trabalhar com eles. Foi ótimo ter sido produzido pelos dois, o Brendan e o Adriano têm uma forma de trabalhar impressionante e não param até que esteja perfeito. Mas em momento algum foram como aqueles produtores ditadores, eles souberam tirar o melhor de nós em cada sessão. Os dois entraram de cabeça no trabalho como se fossem membros da banda desde o começo, é só ouvir o disco e é possível perceber. Passei bons momentos no Norcal e me diverti muito e trabalhando sério ao mesmo tempo. Eles são ótimos.

Bento: Rolou uma química muito boa com eles, com certeza eles viraram grandes amigos. Na minha opinião, eles têm produzido os melhores discos de Hard/Heavy dos últimos tempos no Brasil, e a forma de trabalhar se encaixou perfeitamente no que queríamos. Então acho que não teve erro.

"Muitas bandas gravam e depois se perdem no que fazer ao lançar"

RtM: Depois que o disco ficou pronto, a banda ainda não tinha nenhum selo assinado. E dai veio o convite de ser a primeira banda do cast da Wikimetal Music. Foi importante o convite deles para que a banda tivesse um produto final de qualidade?

Fabio: Veja bem, quando nós assinamos com eles o produto final já estava pronto em nossas mãos: músicas, capa, encarte e tudo mais. O Wikimetal foi muito importante na fase que veio depois, que foi a do lançamento. Muitas bandas gravam e depois se perdem no que fazer ao lançar. O Wikimetal apareceu na hora certa pra gente e isso foi e tem sido muito importante para o desenvolvimento do nosso trabalho.

Bento: E foi muito legal o fato de eles estarem começando assim como nós, acho que isso foi fundamental pra trabalharmos juntos e tentarmos fazer o maior barulho possível.

RtM: Tirando o lançamento do primeiro disco da banda, o que era o primeiro objetivo a ser feito, vocês tiveram a honra em poder participar da batalha das bandas no Sweden Rock Festival e de uma pré-seleção pra tocar no Monsters Of Rock. Infelizmente vocês não conseguiram ganhar ambas, mas ajudaram a expandir o trabalho de vocês para diversos cantos. Isso ajudou vocês de alguma forma?

Fabio: O nosso objetivo desde o começo sempre foi o mesmo. A possibilidade de tocar no Sweden foi algo que apareceu no nosso caminho logo após termos lançado o EP e nós caímos de cabeça. Na época nós não tínhamos o apoio de quase ninguém e, de repente, vimos uma quantidade enorme de pessoas que gostavam da nossa música incentivando a banda e votando loucamente. Ali percebemos que tínhamos conquistado o apoio de quem precisávamos de verdade: o público. E foi muito importante porque isso ajudou em tudo que veio depois. Houve uma grande expansão do nome da banda. Com o Monsters foi menor porque o tempo de campanha foi mais curto, mas ajudou bastante, também.

Bento: O lance do Sweden ajudou muito, e veio num momento muito bom porque ajudou a manter o nome em evidência num momento em que a gente não tinha muito mais o que fazer com o nosso single 'Outro Lado'. Era o momento que a gente já estava pensando na gravação do disco e a repercussão trouxe muita gente pro nosso lado e nosso público cresceu bastante, então foi perfeito entrar no estúdio com esse clima. E foi bem legal que até quem fica com um pé atrás por causa do lance das letras em português abriu o olho e viu que a produção de um dos maiores festivais de Rock do mundo viu qualidade no nosso som. E o Monsters foi legal porque mostrou porque veio logo depois do lançamento do disco e a repercussão também foi muito boa e abriu algumas portas para nós.



RtM: Muitos já sabem que o Hard Rock não é valorizado aqui no Brasil. Várias bandas tentaram conseguir espaço, mas por ironia e pessimismo se perderam no caminho. E hoje a Sioux 66 é vista como aposta para que isso acabe de uma vez e de que possam surgir mais bandas neste gênero. Isto de certa forma causa pressão e, ao mesmo tempo, orgulho?

Fabio: Não. Na verdade eu nunca penso nisso desta forma. Prefiro deixar isso para os fãs e imprensa. Nós já temos muitas pressões internas que fazem querer sempre mais e trabalhar para isso, mas sempre visando o nosso som. Tem muitas outras bandas de Hard Rock nacional fazendo um trabalho incrível. Se estivermos entre elas e isso ajudar a termos uma cena cada vez mais forte, ótimo. Afinal, nós tocamos Rock pelo Rock.

Bento: Não acho que exista uma pressão, mas, sem dúvida, é o nosso objetivo conseguir essa valorização e trabalhamos buscando isso. E eu fico feliz de ver que estão surgindo várias bandas seguindo esse estilo. Não digo que rola um orgulho por ser considerado uma aposta, mas dá a boa sensação que o trabalho está no caminho certo.

RtM: Antes de encerrar, quais são planos da banda para esse ano de 2014?

Bento: Basicamente tocar por todos os cantos possíveis, trabalhar mais um single do disco "Diante do Inferno" e continuar compondo para, quem sabe no fim do ano, a gente planejar o próximo álbum.

RtM: Muito obrigado pela atenção! Deixo o espaço aberto para as considerações finais.

Bento: Valeu Gabriel pela entrevista! Eu queria agradecer todos os fãs que apoiaram a gente em 2013, que foi cheio de conquistas, e pedir pra que esse ano o apoio seja igual, porque isso que dá a vontade de trabalhar cada vez mais! 

Entrevista: Gabriel Arruda 
Revisão/Edição: Eduardo Cadore 
Fotos: Divulgação/Arquivo pessoal da banda 

Agradecimento: Ricardo Batalha (editor-chefe da revista Roadie Crew e diretor da Brasil Music Press) 

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Site Oficial


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