Lendária banda lança álbum relembrando a Ditadura Militar |
Depois de 3 anos, o Torture Squad nos presenteia com mais um importante álbum do cenário underground brasileiro. “Esquadrão de Tortura” (2013) também nos brinda com o primeiro play da banda com sua nova formação. E é justamente com a formação que a banda mais sofreu nesses últimos anos, com as constantes trocas. Primeiro a saída do guitarrista Augusto Lopes em 2011 e mais recentemente, o frontman da banda, Vitor Rodrigues, que decidiu seguir outros caminhos. Foi assim que André Evaristo assumiu as guitarras e posteriormente também assumindo a responsabilidades pelos vocais da banda após a saída do Vitor para formar sua banda, o Voodoopriest. Assim, completando o trio, os sempre guerreiros Castor (baixo e backing vocals) e Amílcar Christófaro (bateria e backing vocals), membros originais desde o clássico “Shivering” (1998).
Mas o que trataremos aqui é sobre música pesada, e isso esse trio sabe fazer muito bem. O antigo Death Metal que era executado pela outrora formação, agora tem um som calçado no Thrash metal bem marcado pelo andamento do disco. Há a certeza que principalmente os fãs mais antigos irão “chiar” de alguma maneira, mas decorrente às mudanças, a banda se apresenta poderosa e cativante.
Como trio, formação estreia em estúdio com aguardado álbum "Esquadrão de Tortura" |
O disco nos apresenta uma das histórias mais triste de todo o mundo, a Ditadura Militar brasileira, algo nunca antes dessa maneira apresentado em uma música pesada. Conflitos políticos pelo poder eram frequentes na época, e até intervenção estadunidense interferiram na política brasileira, para o Golpe de Estado de 1964 do então presidente João Goulart, morto pouco tempo depois, cujo medo dos EUA era o crescimento da ideologia comunista nas Américas, em plena Guerra Fria. A morte do Jango até hoje ainda não está totalmente esclarecida, tanto que há poucos meses seu corpo acabou sendo exumado para um estudo mais aprofundado.
Indo ao que interessa de fato, a bolachinha já começa com “No Escape From Hell”, que de início mostra toda a sede por música pesada que a banda está. Iniciando com o pé no acelerador e já entrando com o poderoso vocal de Evaristo, Amílcar despeja potência em seus tambores e o ouvinte já começa com o pescoço a milhão. A música conta como João Goulart foi retirado do poder e para evitar uma guerra civil, o então presidente desiste de um novo movimento e assim é declarada vaga a presidência da república. As guitarras presente nessa música são precisas e com um riff que é difícil de tirar da cabeça por horas, marcado por um baixo rápido e também preciso. Belo início de trabalhos.
“Puxe o gatilho”, ou melhor, “Pull the Trigger”. Aqui o pé afunda ainda mais no acelerador e emenda até uns curtos blast beast. Mais uma vez o riff é a área central da música e o que vale muito destaque aqui é a bateria do Sr. Amílcar, que desfila técnica e precisão, considerado um dos melhores bateristas do país. Aqui a música nos conta sobre a justificativa dos militares em relação ao golpe e envolvendo eventos marcantes na época, como a morte do revolucionário Che Guevara até a Marcha dos Cem Mil. Marcante!
A única música cantada totalmente em português, “Pátria Livre” possui uma longa introdução, mas deixando claro, sem em nenhum momento cansativa, pois a alternância de ritmos nela cria um suspense para seu início. Levadas cadenciadas e bumbos duplos preenchem os poucos mais de 2 minutos e meio de intro, aclamando por “head bang”. A participação especial do sempre revoltado João Gordo dos Ratos de Porão dá um toque muito especial à música, que novamente tem um cozinha extremamente técnica. Aqui, Carlos Marighella, um dos principais líderes contra o regime é destacado. Mais um destaque do disco.
Álbum conceitual foi construído com base no histórico período da Ditadura Militar brasileira |
Na sequência, Evaristo volta aos vocais com “Wardance”, com uma levada mais cadenciada, dando descansos aos ouvintes. A música nos conta a história da batalha entre alunos da Universidade de São Paulo contra os alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, simpatizantes do regime militar, em pleno centro de São Paulo, cujos primeiros procuravam angariar recursos para o Congresso da União Nacional dos Estudantes. O riff de guitarra nessa música impressiona pela levada, e surgem novamente alguns blast beats de Amílcar e seguido por um rápido solo de Evaristo.
A próxima inicia-se com um trecho de um discurso de 1964, sobre o ato institucional que visava derrubar o presidente, com finalidade de preservar a revolução de março, com o apoio dos membros do Conselho de Segurança Nacional. Assim, logo em seguida começa uma avalanche de riffs e bumbos, alcançando o ápice do disco. Uma das melhores faixas, com a presença de Castor bem mais destacada com seu instrumento, e complementando com seus backing vocals juntamente com Amílcar. Grande música!
Com uma introdução de gritos de uma multidão, lá vem mais uma vez Amílcar despejando blast beats e esgoelando sua bateria. “Never Surrender” ou, nunca se renda, traz na história vários grupos revolucionários como o CORRENTE e o COLINA, junto com a história de Charles Elbrick e Criméia Alice Schmidt de Almeida, hoje reconhecida pela Justiça Brasileira, com uma das primeiras pessoas a sofrerem tortura por parte dos militares brasileiros. A bateria é destaque na faixa, com quebradas de tempo e alternando em momentos velozes e mais cadenciados, com uma ótima performance de vocal de Evaristo. Ao final da música, um violão com um solo de guitarra curto para acalmar os ânimos de toda a pancadaria.
“In the Slaughterhouse”, nome bem sugestivo para a época, inicia com blast beats e já coloca pescoços a “banguear”. Com momentos de extrema velocidade, é marcado pelo baixo marcante de Castor. Conhecido como “Anos de Chumbo” é o período mais sangrento da ditadura, que é expresso aqui. Com uma levada mais “tranquila”, com muitas quebradas de tempo na bateria, possui aqui também um ótimo solo de baixo de Castor, que marca a música após o curto solo de Evaristo. Interessantíssima, pela alternada do restante do disco.
“Conspiracy of Silence” nos conta a história da atual Serra dos Martírios, esta que foi palco de uma queima de arquivo, a qual a Guerrilha do Araguaia foi exterminada e apagada junto com documentos e acampamentos. A guerrilha estava motivada pelas vitórias da Revoluções Cubana e Chinesa, para assim lutar pela revolução socialista no país. É a segunda mais longa do disco e apresenta elementos até mesmo de hardcore em sua composição, porém baseada no Thrash Metal costumeiro.
Amilcar mostrando, mais uma vez, por que é um dos melhores bateristas brasileiros |
“Nothing to Declare” já inicia com paulada. Umas das mais rápidas do disco, aqui tudo é rápido, bateria, guitarra e baixo, sem baixar o ânimo um minuto sequer. Em partes mais lentas ou mais rápidas, Amílcar nos demonstra o tamanho de sua capacidade técnica, incrível! Aqui a banda nos conta como as pessoas que morriam em seções de tortura eram declaradas mortas. Para esconder e até mesmo intimidar a população, eram produzidos relatórios falsos de autópsias inconclusivas e suicídios. Vladimir Herzog ficou conhecido como símbolo da luta pela democracia, após ser encontrado pendurado em sua cela declarado suicida, porém com fatos provando o contrário. Marcava-se 10 anos de poder dos militares.
A próxima, “For the Countless Dead (In Memoriam)” é uma espécie de vinheta para introduzir a faixa mais longa do disco. Aqui é uma homenagem aos cerca de 400 mil torturados e mais de 100 mil mortos na Operação Condor (Carcará, no Brasil), operação cuja teve aliança entre as ditaduras chilenas, argentina, uruguaia e paraguaia, plano secreto para o extermínio de pessoas contra o regime.
Em poucos anos de banda, Evaristo assumiu as guitarras e, após a saída de Rodrigues, também os vocais |
Contendo uma bela introdução, “Fear to the World” demora mais de 2 minutos para realmente entrar com uma pedrada bem no meio da cara. Pesada e com um ótimo riff, uma das melhores do disco, tem um vocal poderoso de Evaristo, praticamente proclamada a democracia do país. A única música escrita por Amílcar e Evaristo juntos, fala da criação de novos partidos e o início da democracia do Brasil após a ditadura, através do descontentamento que políticos brasileiros estavam tendo em relação aos rumos que o país estava tomando. Assim, Tancredo Neves, falecido dia antes de assumir, é eleito presidente e com a promulgação da Constituição de 1988, é decretado o fim da Ditadura Militar. Contendo um ótimo solo de Evaristo, é digna do encerramento do álbum.
A faixa bônus, “A Soul in Hell” é uma regravação de um antigo clássico, que apesar de ter ficado interessante na voz de Evaristo, não chega perto da agressividade de Vitor Rodrigues, cuja vocalização se encaixa perfeitamente.
Nosso redator (centro) com amigos e Evaristo (penúltimo à dir.) no Zoombie Ritual Fest 2013 (Rio Negrinho/SC) |
Chegando ao fim desse ótimo disco que marca uma nova era na vida do Torture Squad. É claro que haverá um tempo para que todos se acostumem com o vocal de Evaristo, visto a mudança e por ter sido o primeiro player do nosso camarada. Coloque o disco para rodar, aperte em “Repeat” e entenda porque esse é um dos melhores álbuns lançados em 2013 e o tamanho da grandiosidade da banda, a qual eu tive o prazer de conversar no festival Zoombie Ritual e ainda ganhar um autógrafo de cada um no encarte do disco que na oportunidade adquiri. Capa que causa impacto, porém muito bem confeccionada, completando todo o conjunto da obra.
Indispensável em qualquer coleção que se preze. Vida longa ao “novo” Torture Squad!
Texto: André Luiz Sauer
Edição/revisão: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação
Banda: Torture Squad
Álbum: Esquadrão de Tortura
Ano: 2013
País: Brasil
Tipo: Thrash Metal
Gravadora: Substancial Musica
Tracklist
01 - No Escape From Hell
02 - Pull The Trigger
03 - Pátria Livre
04 - Wardance
05 - Archtectur Of Pain
06 - Never Surrender
07 - In The Slaughterhouse
08 - Conspiracy Of Silence
09 - Nothing To Declare
10 - For The Countless Dead
11 - Fear To The World
12 - A Soul In Hell (Bonus Track)
Formação
Castor (Baixo e Backing Vocals)
Amílcar Christófaro (Bateria e Percussão)
André Evaristo (Vocal e Guitarra)
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Um comentário:
História é um dos temas que o Metal sempre discorreu com excelência. Banda Foda. Acertaram em cheio.
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