domingo, 23 de setembro de 2012

Soulspell Act III - Hollow's Gathering: Em Algum Lugar Próximo da Perfeição




Alguns álbuns são realmente um prazer resenhar, ainda mais quando nos deparamos com trabalhos que trazem muita qualidade, apresentando dedicação e cuidados em todos os detalhes, o que pode tornar a tarefa mais fácil,  mesmo com a quantidade de detalhes que envolvem este ACT III, o que traz também uma responsabilidade grande, então, entre tantas qualidades e pontos positivos desse trabalho, é mais fácil iniciar esta matéria apontando dois "defeitos" que encontrei. Primeiro: Não consigo parar de ouvir o álbum, e segundo: Deixou-me com aquela vontade de "quero mais"! Sabe como é quando você está assistindo uma série, ou um filme empolgante, que deixa o final em suspenso?  (To visualize english version CLICK HERE)

Brincadeiras à parte, esta terceira parte da Metal Opera Soulspell, "Hollow's Gathering", apresenta, assim como ocorreu com os álbuns anteriores, uma evolução, principalmente devido ao talento das pessoas envolvidas e o entrosamento cada vez maior entre eles, destacando, claro, a dupla Heleno Vale e Tito Falaschi, responsáveis pela criação e produção, resultando num álbum, que percebe-se, foi concebido com muita dedicação, muito trabalho e cuidado, e, claro, com muito talento.


O próprio Heleno descreveu perfeita e resumidamente os dois primeiros atos: Act I: Legacy Of Honor, foi um álbum com velocidade e com uma certa ingenuidade; Act II: The Labyrinth Of Truths, a proposta já evoluiu, tendo esse álbum uma aura mais densa e misteriosa, com canções mais experimentais e diferentes. como a "The Verve", por exemplo, que é bem teatral e operística.
Quanto ao Act III, "Hollow's Gathering", é um álbum que se apresenta com músicas velozes, de certa forma, mais "acessível" (na medida certa), mais dinâmico, tentando reunir as melhores qualidades dos seus antecessores, mas também tenso e carregado de emoções, com o projeto dando mais passos à frente.

Quanto ao que desejava mudar com relação ao Act II, buscando deixar o álbum mais balanceado, distribuindo melhor as participações especiais, mantendo uma cadência, um clima, de forma a manter o nível, e, consequentemente, o interesse do ouvinte prendendo-o do início ao fim, acredito que Heleno conseguiu, pois, além dessa maior cumplicidade e experiência adquirida entre os envolvidos na produção, o que traz um nível cada vez mais alto nas composições, "Hollow's" é um álbum com mais velocidade, e, repetindo, com grande dinâmica, que deixa o ouvinte sem fôlego, e seus pouco mais de 55 minutos, passam rápidos demais!


Calcado principalmente no Power Metal Melódico e Prog Metal, com muita qualidade, mostrando que, se esse ou aquele estilo por vezes soam desgastados, é pura e simplesmente questão de competência e criatividade , o trabalho prima por refrãos e melodias ganchudas e irresistíveis, que já na primeira audição grudam na mente, e, acredito, que ele terá mais uma particularidade, que é a capacidade de prender a atenção do ouvinte mesmo que este não esteja familiarizado com o pacote todo, a história e os personagens, e, com certeza, despertará o interesse desses para que conheçam mais a fundo, buscando os dois atos anteriores.

Temos que ressaltar aqui, antes de tecer alguns comentários sobre as músicas, alguns pontos, como, mesmo que o álbum possa ser apreciado sem problemas sem que você esteja por dentro de toda a história, ou que seja o primeiro álbum do Soulspell que esteja ouvindo, é muito importante ler as letras, mergulhar na história, que está disponível no site oficial, conhecer os personagens, as pessoas envolvidas, dedicar várias audições (acredite, isso não vai ser problema algum, com certeza você vai querer ouvir o álbum muitas vezes!) a fim de desfrutar na totalidade esta obra , que, só pelo fato de ter sido idealizada e produzida no Brasil, já merece atenção, pois a história é envolvente e fascinante, levando o ouvinte a vivenciar a saga, incentivando a imaginação.


Outro ponto, é a quantidade de participações, destacando a quantidade de novos talentos, selecionados pelo segundo concurso de vocalistas, mostrando que temos muita gente de qualidade no Brasil, apenas esperando uma chance, e as participações internacionais, que vieram também em maior número, e o principal é que encarnaram os personagens e a história, tendo performances carregadas de emoção.

E só para mencionar alguns dos nomes (Veja Lista Completa Aqui), temos Daísa Munhoz, excelente vocalista, que cresce a cada lançamento, uma das grandes "descobertas" do projeto, participando desde o Act I, no papel da princesa Judith, mais jovens talentos como Gui Antonioli e o surpreendente Jefferson Albert; vocalistas experientes e que estão os melhores do Brasil, como Mário Pastore, Leandro Caçoilo, Carlos Zema, Iuri Sanson e Nando Fernandes; instrumentistas não menos talentosos e experientes, como Marco Lambert, Fábio Laguna, Gabriel Mangioni e Rodolfo Pagoto, além de convidados internacionais como Amanda Somerville, Tim Ripper Owens, Blaze Bayley e Matt Smith!


Quanto as participações, é certo que muitos, assim como nos álbuns anteriores, terão sua preferências, e até  reclamarão por alguma ausência, ou até mesmo por uma participação maior de algum nome, mas é mais que louvável a oportunidade que o projeto deu para muito talentos, sejam novos ou mais experientes na cena, mostrarem seu trabalho, muitas vezes desconhecido de um público maior.

Só um pequeno resumo sobre a história até aqui, antes de comentar as faixas deste ACT III: A saga gira principalmente em torno de Tobit, Judith e seu filho Timo,além dos grandes vilões da saga, Samael, o príncipe dos demônios e Hollow, o dragão, a criatura mais temível da história, o guardião do Labirinto das verdades. No Act I - Legacy of Honor, Tobit recebe a visita do anjo Arlim, que lhe revela os motivos das visões que este tinha, contando sobre o dom especial que o jovem possuía, que é a vivência através das eras, narrando a ele as histórias de sua oito vidas passadas, passando pela era do Faraó Ramsés II, a queda de Tróia e segunda guerra mundial, no final Tobi tem de decidir entre seguir com Arlim para o paraíso ou continuar na terra, e um bilhete de Judith, contando que eles teriam um filho, o faz decidir por ficar na terra.


Deste ponto começa o Act II - Labirynth of Truths, Tobit e sua família vivem uma vida normal, até que novas visões o atormentam, e um dia, na floresta, é aprisionado na arca do tempo, de onde somente pode assistir a tudo sem poder interferir, e vê uma cópia sua tomar seu lugar, um impostor ao lado de sua família.Preso nessa dimensão atemporal, chamada a Fonte de Amon, a única maneira de escapar era através do labirinto das verdades. Timo começa a perceber algo estranho em seu "pai", descobre o diário de Judith e lê sobre os acontecimentos da vida de Tobit e sua infância, foge para a floresta de incantus, levando o diário de sua mãe, pela primeira vez percebendo que não era um humano comum. Seu amigo imaginário Olaff, o encaminha à árvore morta, a única entidade que poderia responder todas suas perguntas.

Aqui começa o Act III, com a faixa "Hollow's Gathering", com o dragão (Carlos Zema) convocando uma reunião interdimensional entre os demônios e líderes de cada dimensão para avaliar de quem foi o descuido de permitir a entrada de um humano no Labirinto das Verdades. A música começa com uma surpresa, que é  o chamado da sereia Sybil (Lígia Ishitani), a partir daí, em seus mais de nove minutos, a música é um perfeito exemplo de Opera Metal, provavelmente a canção mais complexa deste álbum, trazendo um turbilhão de emoções, muitas variações, corais brilhantes, com muita tensão e performances fantásticas, destacando os vocalistas Daísa, Ishitani, Victor Emeka, e Pastore (numa aparição curta, porém brilhante), além dos teclados e orquestrações do grande Fábio Laguna.


"A Rescue Into Storm", é o momento em que Timo sente que há algo errado e volta para sua casa, chegando tarde demais, a encontra pegando fogo e sua mãe foi morta por Samael, que a recepcionará no inferno. O nível se mantém altíssimo, climática e tensa, grande refrão, destacando as belas melodias com harmônicos e as linhas de baixo de mais um convidado internacional, Markus Grosskopf (Helloween), os arranjos orquestrais e a performance arrasadora de Nando Fernandes (Samael).

"To Crawl or to Fly", não deixa o ouvinte recuperar o fôlego, com melodias vocais lindíssimas, tem uma aura muito especial, contando com performances maravilhosas de Amanda Sommerville, Daísa Munhoz, Manu Saggioro e Matt Smith (Theocracy),  destacando as orquestrações também muito bonitas. Conta o momento em que Judith acorda na outra vida e tem que tomar uma decisão proposta pela serpente e pelo falcão. Rastejar como a cobra ou voar como o falcão? Esta música pretende nos fazer refletir sobre que nem tudo que nos ensinam está correto, e que nem todas as escolhas são óbvias. Uma trinca inicial mais que perfeita!


"Anymore", que já é conhecida de alguns através do single virtual, é uma balada emocional, guiada por violão e voz, num dueto emocionante de Manu Saggioro e Daísa, contando o momento que o diário falante de Judith percebe que sua dona não está mais viva. É a lamentação do diário e as últimas palavras de Judith escritas nele.

"Adrian's Call", vem alternando velocidade com partes com riffs mais marcados, além de texturas bem interessantes nos teclados. É a parte onde uma seita tenta conquistar a maioria dos seres especiais para Hollow, a convocação de Adrian, que consegue fugir ao chamado. Destaco aqui as performances dos experientes Pastore e Caçoilo e dos novos talentos, Daísa Muhoz, que vem conquistando cada vez mais admiradores desde o Act I,  Gui Antonioli, que foi um dos vencedores do primeiro concurso, e já possui um currículo invejável, e Emeka, em mais uma bela participação, mais um talento descoberto pelo projeto.

Daísa (Judith) e Manuela (O Diário Falante de Judith), protagonizam um belo dueto em "Anymore"
"Change the Tide", também é bem veloz e dinâmica, é a parte onde Judith tenta barganhar com Caronte (Mike Vescera) para tentar voltar a terra e cuidar de Timo ("Let me guide him forever, is a sole to drop enough to change the tide?). Grande refrão, esta canção possui um dos refrãos mais marcantes do álbum.

"Echoes from Hell" é uma vinheta, onde Samael narra sua relação com a seita citada anteriormente.


"The Keeper's Game", traz como destaque Blaze Bayley, o guardião que Timo (aqui interpretado por mais um dos novos talentos, Pedro Campos) deve enfrentar para chegar a sagrada árvore morta, a fim de buscar a salvação para seu pai. Vale ressaltar a grande performance do ex-Iron e os solos de teclado e guitarra, além do clima todo especial dos teclados no refrão, aliás, menção com méritos ao trabalho efetuado por Gabriel Mangioni, brilhante. Sendo que ainda cuidou das orquestrações (menos as orquestrações da faixa título, que foram feitas pelo Fábio Laguna).

"The Dead Tree", tem uma levada rapidíssima nos bumbos, mesclando o Power e o Prog, destacando novamente os teclados, que dão um molho todo especial, aliando o Progressivo clássico, com linhas mais modernas, e, lógico, os vocais de Tim "Ripper" Owens (que faz o papel da árvore sagrada), também numa bela participação, e mais uma performance muito boa de Pedro. Muitos elementos que transformam esta faixa num dos destaques, num álbum cheio de pontos altos. Nesta parte Timo chega até a árvore, e para entendê-la, tem de sair de sua forma humana e usar seu espírito, a fim de se comunicar com o ser mais inteligente das dimensões.


"The Whispers Inside" termina o álbum, nos dando chance de recuperar o fôlego. Esta balada tem uma atmosfera de despedida, contando o momento que Judith resolve criar um novo diário, Yared , interpretado por Michel Souza, num lindo dueto de vozes e piano, com Amanda Somerville (Wayna, a fênix). E no finalzinho, a deixa para o próximo ato.

Impossível descrever tantos detalhes e tantas participações, com os músicos colocando muita vontade e feeling, realmente encarnando os personagens e dando o clima que as músicas e a história pedem. O álbum acaba e dá vontade de ouvir de novo, além daquele sentimento que falei no início, aquela vontade de "quero mais". Um álbum realmente muito forte, e sim, acredito que é também mais "acessível", mas de maneira alguma a qualidade ficou prejudicada, apresentando mais experiência, e nos deixando a certeza que ainda teremos muito mais (Heleno planeja 7 partes), e isto também depende de nós, fãs e amantes do Metal e da boa música, afinal, projetos como este merecem ser apreciados e apoiados!

Dizemos que a perfeição não existe, então digo que este álbum chegou bem perto dela, sendo que o que considero mais importante na música, é a sinceridade, honestidade, sentimento e as emoções  que ela é capaz de transmitir, e nestes quesitos, o Soulspell alcançou as notas máximas! 

Carlos Garcia



Lançamento oficial no Brasil em 19 de outubro, adquira o seu na pré-venda diretamente no site oficial:
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